Dom Jaime Vieira Rocha

Arcebispo de Natal (RN)

 

A ternura que recebemos de nossas mães é um sinal da ternura de Deus direcionada aos homens e mulheres. É uma ternura que embeleza, que anima e alegra. Deus mesmo agiu na história de seu povo, realizando para aquelas mulheres que não podiam ter filhos, a graça da maternidade. E em todos os casos em que o fez sempre relacionou com seu plano de revelação e de salvação. Na verdade, é assim que podemos olhar e entender a maternidade: ela se enquadra no grande plano de Deus – criação, vida em comunhão, salvação e plenitude. Deus não traz à vida nenhum ser que viva errante nas estradas do mundo, quase como se fossem seres que não tivessem a razão de ser. Pelo contrário, a atitude de Deus em criar se realiza dentro de uma experiência de amor, onde chamar à vida o que não existe é sempre para uma existência de comunhão, de amor e de plenitude. Até afirmamos, também, que os outros seres, irracionais, são criados por gesto de amor da parte de nosso Deus!

Todos os seres humanos, independentemente de qualquer que seja a particularidade, estão envolvidos pelo amor e beneplácito divinos. E mais, Deus ainda faz com que participem, como colaboradores de sua obra, os mesmos que ele criou. Por isso, homens e mulheres são como que “co-criadores”, isto é, parceiros de Deus na obra da criação.

Na dinâmica dessa colaboração estão as mulheres, e nomeadamente, aquelas que vivem a graça da maternidade. Certamente, o entendimento não é de exclusão, ou seja, pensamos as mães e deixamos de lado os pais. Na verdade, não podemos esquecer que se trata de entender o ser humano, que foi criado por Deus, à sua imagem e semelhança, como ser de relação. Uma relação cujo primeiro e fundamental sentido encontra-se no universo da gestação, obra de Deus e colaboração do homem e da mulher.

Com esse belo sentido, humano, antropológico e religioso, somos chamados a comemorar, domingo próximo, o Dia das Mães.  Claro, não podemos esquecer as tantas mães que passam necessidades, a que sofrem porque cuidam sozinhas de seus filhos, aquelas que são maltratadas pelo machismo e pelo flagelo e chaga do feminicídio, e as tantas mães que perderam seus filhos ou mesmo morreram por causa da pandemia que nos assola. Hoje, mas do que nos tempos passados, somos convidados, e isso, com base na nossa fé, a reconhecer o quanto Deus realiza na nossa vida e ter confiança que o que correspondemos, precisamente tendo presente que não conseguimos a perfeição, mas que buscamos e tentamos nos voltar sempre para Deus, tudo é, não só assumido por Ele, mas levado, por causa do sacrifício redentor de seu Filho e pela presença amorosa e curadora de seu Espirito, ao perfeito cumprimento.

Quando pensamos nas mães nosso coração se emociona e se eleva a ponto de desejar sempre que elas sejam felizes. Nunca será demais louvar e engrandecer o nosso bom Deus, que não só quis dar para seu Filho uma mãe, a Virgem de Nazaré, mas até mesmo se apresentou comparando-se a uma mãe. É célebre o texto do profeta Isaías, onde Deus assume, em sumo grau, a ternura da mãe: “Sião vinha dizendo: ‘O SENHOR me abandonou, o SENHOR esqueceu-se de mim!’. Acaso uma mulher esquece o seu neném, ou o amor ao filho de suas entranhas? Mesmo que alguma se esqueça, eu de ti jamais me esquecerei! ” (Is 49,14-15). E ainda, lembremos de uma palavra tão doce e cheia de ternura do Papa João Paulo I, que afirmou:

“Também nós, que nos encontramos aqui, temos os mesmos sentimentos; somos objecto, da parte de Deus, dum amor que não se apaga. Sabemos que tem os olhos sempre abertos para nos ver, mesmo quando parece que é de noite. Ele é papá; mais ainda, é mãe. Não quer fazer-nos mal, só nos quer fazer bem, a todos, Os filhos, se por acaso estão doentes, possuem um título a mais para serem amados pela mãe. Também nós, se por acaso estamos doentes de maldade, fora do caminho, temos um título a mais para que o Senhor nos ame” (JOÃO PAULO I. Angelus, 10 de setembro de 1978).

Assim, queridos filhos e filhas, no dia das mães, não deixem de agradecer ao bom Deus pela sua existência. Não deixem de dar ou mandar um beijo para dias mães, não deixem de rezar por elas, ou ainda, não esqueçam que, as que já não estão aqui na terra, estão olhando por vocês de junto de Deus, no céu. E isso, precisamente porque, enquanto elas viveram aqui junto a vocês, elas não viveram ou não tiveram outra razão de ser senão amar, doar-se e gastar-se por cada um de seus filhos e filhas. E cremos: quando já amor, quando a vida e doada, ela se torna vida plena, pois quando amamos, estamos no coração de Deus, o qual plenitude de vida. Fonte: https://www.cnbb.org.br