1. História do Batismo no Brasil
  2. De uma carta, enviada do Brasil para Portugal, falando dos índios que encontraram por aqui: “Gente boa! Pena que não são batizados!” Ou seja: sem batismo a pessoa é condenada!
  3. Os índios tinham os seus ritos próprios de iniciação para proteger a vida da criança. Estes ritos se misturaram com os ritos da Igreja.
  4. No começo havia muito pouca preparação. Havia gente que se batizava duas ou três vezes. A partir de 1549, começa a formação das aldeias pelos padres Jesuitas.
  5. Em torno de 1600, a metade dos índios já tinha morrido por motivo de doenças, provocadas pelo contato com os brancos. Havia pagé que “desbatizava” as crianças! Achavam que podia ser motivo de morte. Daí, a preocupação do missionário em mostrar que o batismo era para dar um bem, e não para dar a morte!
  6. Na mente de muitos índios, o batismo era associado com morte e com entrega aos brancos. A lei vinda de Portugal exigia que o senhor do engenho batizasse os negros. Havia negros marcados com fogo para mostrar que eram batizados.
  7. A história do batismo no Brasil tem suas contradições. Mesmo assim, apesar de tudo, os negros e índios souberam transformar o sinal de morte em sinal de vida. Souberam fazer com que o batismo se tornasse sinal de cidadania e sinal de gente. O batismo tornou-se um sinal de poder participar de irmandades e de poder partici­par das festas. O Batismo, apesar de tudo, transformou-se em sinal de vida e de liberdade, de dignidade, de consciência nova de gente e de filho de Deus. Buscando o batismo, o povo buscava uma coisa boa e positiva!
  8. Se quisermos renovar a pastoral do batismo, não basta conversar sobre o batismo, mas temos que ver o que o povo vive e vê no batismo; o que o povo deseja e busca no Batismo. Quem precisa ser batizada é a igreja. Ela deve renovar-se e descobrir o sentido do batismo a partir do povo, com uma visão mais positiva e mais simpática para o povo!
  9. A renovação do Vaticano II e de Medellin
  10. O Concílio Vaticano II pede uma preparação dos pais e padrinhos para que possam participar melhor da celebração do batismo
  11. A Assembléia dos bispos de Medellin (1968) constata que 90% dos povos da América Latina buscam o batismo, mas não o conhecem nem o praticam. Aí disseram: quando o povo vem para batizar, vamos aproveitar para explicar melhor o que vem a ser o batismo. Os bispos uniram a catequese à preparação para a celebração do batismo.
  12. Quando começaram a crescer as Comunidades Eclesiais de Base, surgiu o costume de acentuar também a participação. Quando o pessoal das comunidades vinha pedir o batismo para os filhos, a preparação para o sacramento insistia muito no dever de os pais e padrinhos participarem da vida da Comunidade. Assim, junto com a preparação para celebração e a catequese, começa a insistência na participação, e na necessidade de voltar para a Igreja e de começar a participar, inclusive, dos movimentos populares.
  13. O Concílio Vaticano II, porém, pedia e pede, em primeiro lugar, que haja preparação para a celebração das cerimônia do Batismo.
  14. Os motivos que levam o povo a buscar o batismo
  15. Os motivos que levam o povo a pedir o batismo para os filhos são variados:

*  por causa da tradição.

*  para ser cristão: “Sem batismo está faltando algo. Não basta nascer!”

*  para não chorar

*  para não ter mau olhado e não ser vítima

*  para poder ter a festa do batismo que é a festa do nascimento, da vida nova

*  para homenagear o padrinho

*  para dar um bem para a criança

*  para garantir a vida depois da morte e não ser alma penada

*  para tirar o pecado

*  e vários outros

  1. Estas motivações são válidas, mas são incompletas. Elas não tem ligação com Jesus. Jesus é central na nossa fé. O povo não tem claro que o batismo está ligado a Jesus. Não sabe que está ligado com a Morte e Ressurreição de Jesus.
  2. Na realidade, mesmo sem saber, o povo já está vivendo o mistério da morte ressurreição de Jesus. Sua a vida é uma luta sem fim, de manhã até à noite! É a páscoa de Jesus acontecendo no dia a dia. Esta vida já é batismal. Sem o saber, o povo já participa da morte e ressurreição de Jesus. Jesus já está no centro da vida do povo. Ele mesmo diz: “Quando você ajudou aquele pobre,era eu!”
  3. Hoje, quem traz Jesus de volta para o centro das atenções do povo, são os evangé­licos que pregam todos os dias no rádio. Falam de Jesus o tempo todo. “Jesus vai voltar!” Por isso, muita gente está levando criança para receber uma bênção nos crentes.
  4. O povo não sabe explicar bem, mas ele tem suas intuições de fé. O mistério de Deus, de Jesus, já está acontecendo em sua vida. O grande desafio nosso é fazer com que o povo descubra esta riqueza que ele possui e vive sem saber. Como revelar e comunicar esta riqueza, como partilhar esta experiência? Esta é a tarefa básica da PASTORAL DO BATISMO!
  5. As tarefas da Pastoral do Batismo
  6. A pastoral do batismo deve evangelizar pelo diálogo. Um ponto importante é: dialogar e partilhar com as pessoas para que descubram o mistério de Deus e de Jesus, presente em sua vida. Pois o povo também tem Deus e tem o Espírito de Deus. Este diálogo deve partir dos sentimentos que o povo tem, dos interesses deles. Deve partir do lugar onde a pessoa está.
  7. Para isto é importante tentar descobrir o sentido das intuições e metáforas que o povo usa. Por exemplo, o povo diz: “A criança é dada por Deus!” - “Deus é o doador da vida!”  -  “A criança é fraca e ameaçada, mas Deus defende a vida dela!” Com outras palavras, Deus está bem presente na vida dos pais e também das crianças. A nós da pastoral, cabe revelar que este Deus é o Deus de Jesus!
  8. Esta maneira de pensar combina com alguns pontos fundamentais da nossa fé e com alguns pontos fundamentais do próprio batismo:

*  Deus é o defensor da vida, sob todos os seus aspectos

*  O batismo consagra a vida e a coloca na mão de Deus

*  A alegria dos pais de poder devolver a Deus o que dele receberam

*  O batismo confirma a dignidade da criança como gente e filho da Deus

*  O batismo é o momento para revelar o nome da criança

*  O nascimento e o batismo ajudam a superar inimizades e unificam a família

*  Em torno da criança e do seu batismo, a família se humaniza

*  O batismo confirma a fé dos pais e dos avós (a tradição é positiva)

*  O batismo aproxima da Igreja que é católica, universal

  1. O que deve ser aprofundado
  2. Foi feito um cochicho com a pergunta: o que deve ser mais aporfundado. A resposta do pessoal reflete os problemas e as dificuldades da prática:

*  Preparação, quanto tempo?

*  Hora da inscrição

*  Variedade das religiões cristãs que tem batismo

*  Ligar pastoral do batismo com pastoral familiar

*  Pos-batismo ou pré-batismo: o que é mais importante?

*  Preparação mais personalizada

*  Batizar na mesma paróquia, sim ou não?

*  Isto significa uma volta ao sacramentalismo?

*  Como unir acolhimento e exigências?

*  Pastoral do batismo e catequese

*  O óleo no batismo é só para o sacerdote?

*  Batizar e continuar na Igreja, como fazer?

*  Visão mais ecumênica do batismo

*  As normas de batismo na Diocese de Itaguaí

*  Pastoral de conjunto na Diocese

  1. Reflexão do Padre Domingos
  2. A partir do resultado do cochichco, o padre Domingos refletiu sobre a fé dos pais de dos padrinhos, sobre as exigências que fazemos, e sobre a participação.
  3. Ele fez duas constatações muito importantes:
  4. a) A maior parte dos pais e padrinhos não participa.
  5. b) A pastoral do batismo não trouxe o pessoal de volta para a Igreja.
  6. Pais e padrinhos praticam a religião do jeito deles, não do nosso jeito. A prática deles, apesar de diferente, tem coisas boas. Por exemplo, revela uma confiança grande em Deus; uma atenção às pessoas com sentimento de justiça que acolhe os marginalizados; vão à igreja não por obrigação, mas sim quando o coração pede. Apesar de não praticar, eles se sentem ligados à Igreja Católica.
  7. Aí surge a questão: “Se o jeito deles também é bom, então o que estou fazendo na comunidade? Que sentido ainda tem eu me esforçar tanto?” Padre Domingos respondeu: Participar mais ativamente na comunidade é um dom, é vocação, é missão! No tempo de Jesus só havia doze pessoas na comunidade e depois mais setenta e dois! Doze e setenta e dois para todos! Na comunidade vivemos a religião a favor e em serviço de TODOS! Mas nem todos precisam estar na comunidade!
  8. Baseado nisso, ele distinguiu dois tipos de pastoral:
  9. a) Pastoral da fé: testemunhar a fé gratuitamente
  10. b) Pastoral do discipulato: atrair outros para participar.
  11. A comunidade anuncia gratuitamente a Boa Nova de Deus para todos, sem esperar retorno. Ela também se preocupa em fazer discípulos que possam continuar a tarefa da comunidade. Em qual das duas pastorais devemos situar a pastoral do batismo?
  12. Objetivo da pastoral do Batismo
  13. A pastoral do batismo pertence à pastoral da fé e não à pastoral do discipulato. A pastoral do batismo não é para atrair mais gente para dentro da comunidade, nem para levar as pessoas a participar mais da igreja. Ela existe para anunciar gratui­tamente a Boa Nova de Deus
  14. Temos que superar a idéia de que só vive o batismo aquele que participa ativamente na comunidade. Uma coisa é o batismo de adulto, que deve ter muitas exigências. Outra coisa é o batismo de criança. A teologia do Batismo que está no NT é de batismo de adultos. O batismo que nós administramos é batismo de criança. O batismo de criança deve ressaltar antes de tudo o dom gratuito de Deus para esta criança!
  15. A pastoral do batismo não pode ser motivo para discriminar os não-participantes. Nem pode ser para dificultar o acesso ao batismo. Nem para levar a pessoa à parti­cipar mais na comunidade. Nem deve ser usada para para falar sobre os sacramen­tos, nem para aumentar o conhecimento da doutrina da Igreja.
  16. O Objetivo principal da pastoral do batismo é este: ACENDER, REANIMAR, INTENSIFICAR A FÉ dos pais e padrinhos

         Acender, quando apagou!

         reanimar, quando está fraca!

         intensificar, quando está viva!

  1. Isto exige que conheçamos a vida de fé da família que pede o batismo. A fé que se exige para o batismo, não precisa ser uma fé perfeita. Basta que seja uma fé inicial, disposta a crescer. Fé não é sinônimo de participação na comunidade!
  2. Sobre o Batismo das Crianças
  3. Qual o significado da batismo das crianças? Como fazê-lo e o que fazer? O Batismo é sinal do amor de Deus na vida daquela criança. Mesmo havendo deficiência da nossa parte, o amor de Deus é maior do que a nossa deficiência! Por isso, o Batismo das crianças deve ser facilitado cada vez mais. Na América Latina, nunca pode ser negado o batismo aos pobres. Deveríamos criar dificuldade com o batismo dos ricos, isto sim!
  4. Devemos encontrar uma maneira de levar o batismo a todas as crianças, como sinal do Reino de Deus que chegou para todos, independente do merecimento nosso. Deve­mos levar o batismo com menos rancor, e muito mais como Boa Nova do amor de Deus para aquela criança. Este aspecto da Boa Nova do amor de Deus deve transparecer na celebração. Devemos ligar a intuição de fé do povo com a fé da Igreja e com o evangelho.
  5. O objetivo principal da pastoral do batismo não é conseguir a participação dos pais e dos padrinhos na comunidade. O objetivo principal é celebrar o amor gratuito de Deus para com esta criança! Isto não significa banalizar o Batismo. Pelo contrário! Mas é celebrar a chegada do Reino de Deus. Fazendo uma boa preparação para a celebração e fazendo uma boa e bonita celebração, muita gente vai despertar e querer participar. Exigindo menos, se consegue mais! Batismo de adulto, este sim, exige uma longa e profunda preparação.
  6. Então vamos cair de novo no cacramentalismo? Não! Na medida em que se exige me­nos, vamos ganhar mais. Fazendo uma boa celebração do batismo estamos evangeli­zando. Bem celebrado, o sacramento do batismo anima a fé. Todos os símbolos do batismo contribuem para isto:

         *  cruz                                    |  Estes símbolos expressam vida nova,

         *  óleo                                    |  expressam o mistério de Deus na vida,

         *..luz                                                      |  expressam a caminhada de Jesus,

         *  roupa nova                                      |  expressam a comunidade.

  1. No começo da igreja, o Padrinho era aquele que introduzia o batizando na fé. Era o “introdutor na fé”. Ou seja, a comunidade indicava alguém para acompanhar a pessoa ou a família. Este acompanhante era o laço entre a comunidade e a família. Hoje, além do padrinho que o povo indica, a comunidade poderia indicar alguém para ir acompanhando a família, mostrando interesse.
  2. A tendência atual é dar menos importância às palestras e insistir num acompa­nhamento mais personalizado em forma de diálogo, sem ter um conteúdo especial, mas com a preocupação de rezar a vida da criança e da família.
  3. Depois da celebração do batismo, voltar a visitar a família, de vez em quando, e rezar com ela o que se viveu na celebração do batismo, explicitando assim todo o seu conteudo para a vida da família e da criança. Até o vídeo do batismo pode ajudar na evangelização!
  4. Sugestões concretas vindas dos grupos
  5. Foi feito um trabalho de grupo com a seguinte pergunta: “Que meios concretos podemos adotar para acender, reanimar e intensificar a fé dos pais?” Padre Domingos pediu que, na discussão, tivêssemos bem presente que nós da equipe somos apenas colaboradores. Os pais é que são os principais responsáveis. No plenário, vieram as seguintes sugestões:
  6. Parati: Devemos acentuar mais o aspecto do batismo como bênção de Deus para a criança. O batismo é um momento importante de contato entre a Comunidade Cristã e a grande massa batizada. Devemos usar bem este momento. Um bom contato se faz muito melhor por meio do diálogo do que por meio de uma palestra. As Comunidades são o lugar por exclelência onde Cristo está vivo como Boa Nova de Deus
  7. Itaguaí: Devemos ajudar a buscar as raízes no contato com as pessoas. Usar de muito carinho, caso por caso. Usar de mais ardor e em grupos menores. Rezar e celebrar mais as datas que marcam a vida da família.
  8. Jacuacanga: Devemos visitar as famílias que pedem o batismo para a criança e aproximar-nos delas. Procurar re-inventar o “Introdutor da fé”, tentando unir pastoral familiar com a pastoral do batismo, de tal modo que haja contato antes, durante e depois da celebração.
  9. Angra dos Reis: Dialogar e ouvir mais as pessoas. Insistir mais nas visitas. Na celebração devemos usando mais e melhor os símbolos. Sobretudo devemos cuidar melhor do acolhimento.
  10. Não consegui tomar nota das respostas das outras paróquias ou municípios. No breve debate, apareceu uma sugestão muito útil de como usar melhor os símbolos:

               *  Uma pia batismal bem bonita e visível e não uma bacia de plástico.

               *  Um Círio grande e vistoso e não um toco de vela.

               *  Um recipiente digno para o óleo e não uma latinha.

  1. Complementações finais do Padre Domingos.
  2. Depois que os grupos das paróquias relataram suas conclusões, padre Domingos fez umas considerações finais, insistindo sobretudo em alguns pontos bem concretos de como preparar melhor o pessoal para a celebração do Batismo. Não consegui tomar nota de tudo, mas ele disse que tudo está no livrinho que escreveu e que pode ser adquirido
  3. Ele acentuou a importância da celebração como algo que tem grande valor em si mesmo para o anúncio da Boa Nova de Deus. Disse que a gente não deve querer explicar demais o rito, mas sim celebrá-los de tal maneira que o rito fale por si mesmo. Deve ser uma celebração de alegria e de ressurreição que possa trazer paz ao coração. Ele disse que não se deve insistir demais no moralismo e na res­ponsa­bilidade. Celebrar sobretudo o dom e a graça de Deus que geram responsabilidade por si mesma!.
  4. Algumas sugestões concretas de como preparar melhorar a celebração:
  5. Não é necessário que tudo seja feito dentro de uma única celebração. Pode-se aproveitar de uma celebração dominical para apresentar a criança à Assembléia.
  6. O pedido de batismo: “O que vocês pedem?...” também pode ser feito antes, em outra ocasião.
  7. Em alguns lugares criaram um rito de acolhimento das gestantes, como prepara­ção remota para o batismo.
  8. Nas celebrações dominicais rezar pelas crianças que vão ser batizadas, dizer os nomes dos pais e da criança que vai ser batizada.
  9. Usar as bênçãos para abençoar as famílias que se preparam para o batismo: usar hinos, orações e bênçãos na preparação. Que tudo seja bem orante!
  10. Rezar com eles, por ex., o salmo 23: “O Senhor é meu pastor” e comentá-lo.
  11. Toques e bênçãos para a criança. Rito “Effata!”...
  12. É importante que a preparação seja mais personalizada, menos na linha de aula e de curso; que a família sinta e experimente que alguém se preocupe com ela e com a criança; reza por ela e pela criança.
  13. Conteúdos básicos da teologia do Batismo a partir do NT

*  A Boa Nova de Deus se revela no Batismo das Crianças

*  Pontos importantes que podem ser acentuados na celebração através dos símbo­los:

  1. passar pela água: água abundante, que possa significar o mergulho na morte e na ressurreição de Jesus (cf. Rom 6)
  2. banho de purificação: o batismo traz o perdão dos pecados e a comunhão com Deus; a misericórdia de Deus já está aí, o perdão já está garantido para o futuro da criança.
  3. a luz de Cristo: a iluminação trazida pela participação na morte e ressurrei­ção de Jesus, que ilumina a vida da gente
  4. ser batizado no Espírito Santo: expresso na invocação, na alegria e no canto.
  5. o novo nascimento: a vida nova de Deus expressa pelo batismo une a criança a Jesus que é a fonte de vida nova

 

Bibliografia

  1. Procurando novos caminhos para a pastoral do batismo de crianças: 1ª parte: É da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Foi feito pelo Padre Domingos
  2. Número 125 da revista de Liturgia traz um artigo do Padre Domingos sobre como preparar a celebração do Batismo