- História do Batismo no Brasil
- De uma carta, enviada do Brasil para Portugal, falando dos índios que encontraram por aqui: “Gente boa! Pena que não são batizados!” Ou seja: sem batismo a pessoa é condenada!
- Os índios tinham os seus ritos próprios de iniciação para proteger a vida da criança. Estes ritos se misturaram com os ritos da Igreja.
- No começo havia muito pouca preparação. Havia gente que se batizava duas ou três vezes. A partir de 1549, começa a formação das aldeias pelos padres Jesuitas.
- Em torno de 1600, a metade dos índios já tinha morrido por motivo de doenças, provocadas pelo contato com os brancos. Havia pagé que “desbatizava” as crianças! Achavam que podia ser motivo de morte. Daí, a preocupação do missionário em mostrar que o batismo era para dar um bem, e não para dar a morte!
- Na mente de muitos índios, o batismo era associado com morte e com entrega aos brancos. A lei vinda de Portugal exigia que o senhor do engenho batizasse os negros. Havia negros marcados com fogo para mostrar que eram batizados.
- A história do batismo no Brasil tem suas contradições. Mesmo assim, apesar de tudo, os negros e índios souberam transformar o sinal de morte em sinal de vida. Souberam fazer com que o batismo se tornasse sinal de cidadania e sinal de gente. O batismo tornou-se um sinal de poder participar de irmandades e de poder participar das festas. O Batismo, apesar de tudo, transformou-se em sinal de vida e de liberdade, de dignidade, de consciência nova de gente e de filho de Deus. Buscando o batismo, o povo buscava uma coisa boa e positiva!
- Se quisermos renovar a pastoral do batismo, não basta conversar sobre o batismo, mas temos que ver o que o povo vive e vê no batismo; o que o povo deseja e busca no Batismo. Quem precisa ser batizada é a igreja. Ela deve renovar-se e descobrir o sentido do batismo a partir do povo, com uma visão mais positiva e mais simpática para o povo!
- A renovação do Vaticano II e de Medellin
- O Concílio Vaticano II pede uma preparação dos pais e padrinhos para que possam participar melhor da celebração do batismo
- A Assembléia dos bispos de Medellin (1968) constata que 90% dos povos da América Latina buscam o batismo, mas não o conhecem nem o praticam. Aí disseram: quando o povo vem para batizar, vamos aproveitar para explicar melhor o que vem a ser o batismo. Os bispos uniram a catequese à preparação para a celebração do batismo.
- Quando começaram a crescer as Comunidades Eclesiais de Base, surgiu o costume de acentuar também a participação. Quando o pessoal das comunidades vinha pedir o batismo para os filhos, a preparação para o sacramento insistia muito no dever de os pais e padrinhos participarem da vida da Comunidade. Assim, junto com a preparação para celebração e a catequese, começa a insistência na participação, e na necessidade de voltar para a Igreja e de começar a participar, inclusive, dos movimentos populares.
- O Concílio Vaticano II, porém, pedia e pede, em primeiro lugar, que haja preparação para a celebração das cerimônia do Batismo.
- Os motivos que levam o povo a buscar o batismo
- Os motivos que levam o povo a pedir o batismo para os filhos são variados:
* por causa da tradição.
* para ser cristão: “Sem batismo está faltando algo. Não basta nascer!”
* para não chorar
* para não ter mau olhado e não ser vítima
* para poder ter a festa do batismo que é a festa do nascimento, da vida nova
* para homenagear o padrinho
* para dar um bem para a criança
* para garantir a vida depois da morte e não ser alma penada
* para tirar o pecado
* e vários outros
- Estas motivações são válidas, mas são incompletas. Elas não tem ligação com Jesus. Jesus é central na nossa fé. O povo não tem claro que o batismo está ligado a Jesus. Não sabe que está ligado com a Morte e Ressurreição de Jesus.
- Na realidade, mesmo sem saber, o povo já está vivendo o mistério da morte ressurreição de Jesus. Sua a vida é uma luta sem fim, de manhã até à noite! É a páscoa de Jesus acontecendo no dia a dia. Esta vida já é batismal. Sem o saber, o povo já participa da morte e ressurreição de Jesus. Jesus já está no centro da vida do povo. Ele mesmo diz: “Quando você ajudou aquele pobre,era eu!”
- Hoje, quem traz Jesus de volta para o centro das atenções do povo, são os evangélicos que pregam todos os dias no rádio. Falam de Jesus o tempo todo. “Jesus vai voltar!” Por isso, muita gente está levando criança para receber uma bênção nos crentes.
- O povo não sabe explicar bem, mas ele tem suas intuições de fé. O mistério de Deus, de Jesus, já está acontecendo em sua vida. O grande desafio nosso é fazer com que o povo descubra esta riqueza que ele possui e vive sem saber. Como revelar e comunicar esta riqueza, como partilhar esta experiência? Esta é a tarefa básica da PASTORAL DO BATISMO!
- As tarefas da Pastoral do Batismo
- A pastoral do batismo deve evangelizar pelo diálogo. Um ponto importante é: dialogar e partilhar com as pessoas para que descubram o mistério de Deus e de Jesus, presente em sua vida. Pois o povo também tem Deus e tem o Espírito de Deus. Este diálogo deve partir dos sentimentos que o povo tem, dos interesses deles. Deve partir do lugar onde a pessoa está.
- Para isto é importante tentar descobrir o sentido das intuições e metáforas que o povo usa. Por exemplo, o povo diz: “A criança é dada por Deus!” - “Deus é o doador da vida!” - “A criança é fraca e ameaçada, mas Deus defende a vida dela!” Com outras palavras, Deus está bem presente na vida dos pais e também das crianças. A nós da pastoral, cabe revelar que este Deus é o Deus de Jesus!
- Esta maneira de pensar combina com alguns pontos fundamentais da nossa fé e com alguns pontos fundamentais do próprio batismo:
* Deus é o defensor da vida, sob todos os seus aspectos
* O batismo consagra a vida e a coloca na mão de Deus
* A alegria dos pais de poder devolver a Deus o que dele receberam
* O batismo confirma a dignidade da criança como gente e filho da Deus
* O batismo é o momento para revelar o nome da criança
* O nascimento e o batismo ajudam a superar inimizades e unificam a família
* Em torno da criança e do seu batismo, a família se humaniza
* O batismo confirma a fé dos pais e dos avós (a tradição é positiva)
* O batismo aproxima da Igreja que é católica, universal
- O que deve ser aprofundado
- Foi feito um cochicho com a pergunta: o que deve ser mais aporfundado. A resposta do pessoal reflete os problemas e as dificuldades da prática:
* Preparação, quanto tempo?
* Hora da inscrição
* Variedade das religiões cristãs que tem batismo
* Ligar pastoral do batismo com pastoral familiar
* Pos-batismo ou pré-batismo: o que é mais importante?
* Preparação mais personalizada
* Batizar na mesma paróquia, sim ou não?
* Isto significa uma volta ao sacramentalismo?
* Como unir acolhimento e exigências?
* Pastoral do batismo e catequese
* O óleo no batismo é só para o sacerdote?
* Batizar e continuar na Igreja, como fazer?
* Visão mais ecumênica do batismo
* As normas de batismo na Diocese de Itaguaí
* Pastoral de conjunto na Diocese
- Reflexão do Padre Domingos
- A partir do resultado do cochichco, o padre Domingos refletiu sobre a fé dos pais de dos padrinhos, sobre as exigências que fazemos, e sobre a participação.
- Ele fez duas constatações muito importantes:
- a) A maior parte dos pais e padrinhos não participa.
- b) A pastoral do batismo não trouxe o pessoal de volta para a Igreja.
- Pais e padrinhos praticam a religião do jeito deles, não do nosso jeito. A prática deles, apesar de diferente, tem coisas boas. Por exemplo, revela uma confiança grande em Deus; uma atenção às pessoas com sentimento de justiça que acolhe os marginalizados; vão à igreja não por obrigação, mas sim quando o coração pede. Apesar de não praticar, eles se sentem ligados à Igreja Católica.
- Aí surge a questão: “Se o jeito deles também é bom, então o que estou fazendo na comunidade? Que sentido ainda tem eu me esforçar tanto?” Padre Domingos respondeu: Participar mais ativamente na comunidade é um dom, é vocação, é missão! No tempo de Jesus só havia doze pessoas na comunidade e depois mais setenta e dois! Doze e setenta e dois para todos! Na comunidade vivemos a religião a favor e em serviço de TODOS! Mas nem todos precisam estar na comunidade!
- Baseado nisso, ele distinguiu dois tipos de pastoral:
- a) Pastoral da fé: testemunhar a fé gratuitamente
- b) Pastoral do discipulato: atrair outros para participar.
- A comunidade anuncia gratuitamente a Boa Nova de Deus para todos, sem esperar retorno. Ela também se preocupa em fazer discípulos que possam continuar a tarefa da comunidade. Em qual das duas pastorais devemos situar a pastoral do batismo?
- Objetivo da pastoral do Batismo
- A pastoral do batismo pertence à pastoral da fé e não à pastoral do discipulato. A pastoral do batismo não é para atrair mais gente para dentro da comunidade, nem para levar as pessoas a participar mais da igreja. Ela existe para anunciar gratuitamente a Boa Nova de Deus
- Temos que superar a idéia de que só vive o batismo aquele que participa ativamente na comunidade. Uma coisa é o batismo de adulto, que deve ter muitas exigências. Outra coisa é o batismo de criança. A teologia do Batismo que está no NT é de batismo de adultos. O batismo que nós administramos é batismo de criança. O batismo de criança deve ressaltar antes de tudo o dom gratuito de Deus para esta criança!
- A pastoral do batismo não pode ser motivo para discriminar os não-participantes. Nem pode ser para dificultar o acesso ao batismo. Nem para levar a pessoa à participar mais na comunidade. Nem deve ser usada para para falar sobre os sacramentos, nem para aumentar o conhecimento da doutrina da Igreja.
- O Objetivo principal da pastoral do batismo é este: ACENDER, REANIMAR, INTENSIFICAR A FÉ dos pais e padrinhos
Acender, quando apagou!
reanimar, quando está fraca!
intensificar, quando está viva!
- Isto exige que conheçamos a vida de fé da família que pede o batismo. A fé que se exige para o batismo, não precisa ser uma fé perfeita. Basta que seja uma fé inicial, disposta a crescer. Fé não é sinônimo de participação na comunidade!
- Sobre o Batismo das Crianças
- Qual o significado da batismo das crianças? Como fazê-lo e o que fazer? O Batismo é sinal do amor de Deus na vida daquela criança. Mesmo havendo deficiência da nossa parte, o amor de Deus é maior do que a nossa deficiência! Por isso, o Batismo das crianças deve ser facilitado cada vez mais. Na América Latina, nunca pode ser negado o batismo aos pobres. Deveríamos criar dificuldade com o batismo dos ricos, isto sim!
- Devemos encontrar uma maneira de levar o batismo a todas as crianças, como sinal do Reino de Deus que chegou para todos, independente do merecimento nosso. Devemos levar o batismo com menos rancor, e muito mais como Boa Nova do amor de Deus para aquela criança. Este aspecto da Boa Nova do amor de Deus deve transparecer na celebração. Devemos ligar a intuição de fé do povo com a fé da Igreja e com o evangelho.
- O objetivo principal da pastoral do batismo não é conseguir a participação dos pais e dos padrinhos na comunidade. O objetivo principal é celebrar o amor gratuito de Deus para com esta criança! Isto não significa banalizar o Batismo. Pelo contrário! Mas é celebrar a chegada do Reino de Deus. Fazendo uma boa preparação para a celebração e fazendo uma boa e bonita celebração, muita gente vai despertar e querer participar. Exigindo menos, se consegue mais! Batismo de adulto, este sim, exige uma longa e profunda preparação.
- Então vamos cair de novo no cacramentalismo? Não! Na medida em que se exige menos, vamos ganhar mais. Fazendo uma boa celebração do batismo estamos evangelizando. Bem celebrado, o sacramento do batismo anima a fé. Todos os símbolos do batismo contribuem para isto:
* cruz | Estes símbolos expressam vida nova,
* óleo | expressam o mistério de Deus na vida,
*..luz | expressam a caminhada de Jesus,
* roupa nova | expressam a comunidade.
- No começo da igreja, o Padrinho era aquele que introduzia o batizando na fé. Era o “introdutor na fé”. Ou seja, a comunidade indicava alguém para acompanhar a pessoa ou a família. Este acompanhante era o laço entre a comunidade e a família. Hoje, além do padrinho que o povo indica, a comunidade poderia indicar alguém para ir acompanhando a família, mostrando interesse.
- A tendência atual é dar menos importância às palestras e insistir num acompanhamento mais personalizado em forma de diálogo, sem ter um conteúdo especial, mas com a preocupação de rezar a vida da criança e da família.
- Depois da celebração do batismo, voltar a visitar a família, de vez em quando, e rezar com ela o que se viveu na celebração do batismo, explicitando assim todo o seu conteudo para a vida da família e da criança. Até o vídeo do batismo pode ajudar na evangelização!
- Sugestões concretas vindas dos grupos
- Foi feito um trabalho de grupo com a seguinte pergunta: “Que meios concretos podemos adotar para acender, reanimar e intensificar a fé dos pais?” Padre Domingos pediu que, na discussão, tivêssemos bem presente que nós da equipe somos apenas colaboradores. Os pais é que são os principais responsáveis. No plenário, vieram as seguintes sugestões:
- Parati: Devemos acentuar mais o aspecto do batismo como bênção de Deus para a criança. O batismo é um momento importante de contato entre a Comunidade Cristã e a grande massa batizada. Devemos usar bem este momento. Um bom contato se faz muito melhor por meio do diálogo do que por meio de uma palestra. As Comunidades são o lugar por exclelência onde Cristo está vivo como Boa Nova de Deus
- Itaguaí: Devemos ajudar a buscar as raízes no contato com as pessoas. Usar de muito carinho, caso por caso. Usar de mais ardor e em grupos menores. Rezar e celebrar mais as datas que marcam a vida da família.
- Jacuacanga: Devemos visitar as famílias que pedem o batismo para a criança e aproximar-nos delas. Procurar re-inventar o “Introdutor da fé”, tentando unir pastoral familiar com a pastoral do batismo, de tal modo que haja contato antes, durante e depois da celebração.
- Angra dos Reis: Dialogar e ouvir mais as pessoas. Insistir mais nas visitas. Na celebração devemos usando mais e melhor os símbolos. Sobretudo devemos cuidar melhor do acolhimento.
- Não consegui tomar nota das respostas das outras paróquias ou municípios. No breve debate, apareceu uma sugestão muito útil de como usar melhor os símbolos:
* Uma pia batismal bem bonita e visível e não uma bacia de plástico.
* Um Círio grande e vistoso e não um toco de vela.
* Um recipiente digno para o óleo e não uma latinha.
- Complementações finais do Padre Domingos.
- Depois que os grupos das paróquias relataram suas conclusões, padre Domingos fez umas considerações finais, insistindo sobretudo em alguns pontos bem concretos de como preparar melhor o pessoal para a celebração do Batismo. Não consegui tomar nota de tudo, mas ele disse que tudo está no livrinho que escreveu e que pode ser adquirido
- Ele acentuou a importância da celebração como algo que tem grande valor em si mesmo para o anúncio da Boa Nova de Deus. Disse que a gente não deve querer explicar demais o rito, mas sim celebrá-los de tal maneira que o rito fale por si mesmo. Deve ser uma celebração de alegria e de ressurreição que possa trazer paz ao coração. Ele disse que não se deve insistir demais no moralismo e na responsabilidade. Celebrar sobretudo o dom e a graça de Deus que geram responsabilidade por si mesma!.
- Algumas sugestões concretas de como preparar melhorar a celebração:
- Não é necessário que tudo seja feito dentro de uma única celebração. Pode-se aproveitar de uma celebração dominical para apresentar a criança à Assembléia.
- O pedido de batismo: “O que vocês pedem?...” também pode ser feito antes, em outra ocasião.
- Em alguns lugares criaram um rito de acolhimento das gestantes, como preparação remota para o batismo.
- Nas celebrações dominicais rezar pelas crianças que vão ser batizadas, dizer os nomes dos pais e da criança que vai ser batizada.
- Usar as bênçãos para abençoar as famílias que se preparam para o batismo: usar hinos, orações e bênçãos na preparação. Que tudo seja bem orante!
- Rezar com eles, por ex., o salmo 23: “O Senhor é meu pastor” e comentá-lo.
- Toques e bênçãos para a criança. Rito “Effata!”...
- É importante que a preparação seja mais personalizada, menos na linha de aula e de curso; que a família sinta e experimente que alguém se preocupe com ela e com a criança; reza por ela e pela criança.
- Conteúdos básicos da teologia do Batismo a partir do NT
* A Boa Nova de Deus se revela no Batismo das Crianças
* Pontos importantes que podem ser acentuados na celebração através dos símbolos:
- passar pela água: água abundante, que possa significar o mergulho na morte e na ressurreição de Jesus (cf. Rom 6)
- banho de purificação: o batismo traz o perdão dos pecados e a comunhão com Deus; a misericórdia de Deus já está aí, o perdão já está garantido para o futuro da criança.
- a luz de Cristo: a iluminação trazida pela participação na morte e ressurreição de Jesus, que ilumina a vida da gente
- ser batizado no Espírito Santo: expresso na invocação, na alegria e no canto.
- o novo nascimento: a vida nova de Deus expressa pelo batismo une a criança a Jesus que é a fonte de vida nova
Bibliografia
- Procurando novos caminhos para a pastoral do batismo de crianças: 1ª parte: É da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Foi feito pelo Padre Domingos
- Número 125 da revista de Liturgia traz um artigo do Padre Domingos sobre como preparar a celebração do Batismo