“O encontro do papa com o Pe. Martin serviu como um sinal de apoio ao trabalho do padre em nome da comunidade LGBT. Foi também emblemático do papado de Francisco, que tem repreendido coerentemente um estilo de cristianismo voltado a guerras culturais que, desde a ascensão da direita religiosa nos Estados Unidos durante a década de 1980, vinha sendo o cenário padrão do cristianismo americano na política”. O comentário é de Robert Shine, editor do New Ways Ministry, publicado por News Way Ministry, 18-10-2019. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

 

Eis o artigo.

A audiência privada entre o Papa Francisco e o padre jesuíta James Martin reverberou em todos os lados do debate sobre igualdade LGBTQ na Igreja Católica. Mas, além da afirmação papal ao ministério LGBTQ do sacerdote americano, qual o significado deste encontro? A reflexão de hoje destaca dois comentários referentes ao assunto.

Diretor do programa católico Faith in Public Life, John Gehring escreveu no New York Times, sobre a audiência privada dizendo que era um “endosso do departamento eclesiástico de mais autoridade” ao livro de Martin, intitulado Building a Bridge, escrito a partir de uma palestra de 2016 quando da entrega do Prêmio Bridge Building, concedido pelo New Ways Ministry. Mas Gehring refletiu também sobre o significado para além deste primeiro sentido:

“O encontro do papa com o Pe. Martin serviu como um sinal de apoio ao trabalho do padre em nome da comunidade LGBT. Foi também emblemático do papado de Francisco, que tem repreendido coerentemente um estilo de cristianismo voltado a guerras culturais que, desde a ascensão da direita religiosa nos Estados Unidos durante a década de 1980, vinha sendo o cenário padrão do cristianismo americano na política”.

“Desde a sua eleição, há seis anos, o Papa Francisco tem proposto um modelo diferente de exemplo moral: engajando-se e persuadindo, reenquadrando questões contenciosas, afastando-as de ideologias estreitas e ampliando as imaginações morais (...) Os guerreiros culturais nos EUA já causaram um grande prejuízo à nossa imaginação política e moral coletiva. Mais marcados pelo poder do que fiéis ao Evangelho, tais lideranças eclesiásticas demonizam a comunidade LGBTQ, viram as costas aos migrantes que fogem do perigo e ignoram os clamores dos pobres enquanto alegam defender os valores cristãos. Um pastor humilde porém persistente em Roma nos recorda que há um caminho diferente para aqueles de nós que ainda acreditam em uma fé que busca por justiça”.

Os editores do National Catholic Reporter concordam que Francisco pretendeu enviar a “mensagem bastante clara” sobre o ministério do Pe. Martin, de que “Está tudo OK com [este] padre, então parem de incomodá-lo”. O evento foi positivo segundo as mensagens publicadas na internet pelo próprio religioso, e um encontro recebido com entusiasmo pelo New Ways Ministry. Ao mesmo tempo, os editores da publicação deram a entender que essa audiência privada levantou muitas outras dúvidas na questão da inclusão LGBTQ na Igreja:

“Se o papa está sinalizando uma nova atitude na Igreja em relação à comunidade LGBTQ, o que exatamente isso significa? Além disso, é mesmo justo esperar exatidão em uma área que por tanto tempo esteve repleta de contendas que podiam acabar em ódio? (...) Não queremos estragar este bom momento, mas nos sentimos obrigados a dizer: por maior que seja, é apenas um momento (…) Com certeza estamos esperançosos com a série de avanços que neste papado se misturaram com os ensinamentos e as atitudes que levaram católicos LGBTQs a ficar à margem. Ficaremos felizes com estes avanços, mas com o entendimento sóbrio de que, enquanto católicos LGBTQs estiverem às margens e enquanto os papas puderem mudar ao mesmo tempo em que o magistério católico sobre a sexualidade, em tantas áreas, permanece inalterado, haverá muito trabalho ser feito”.

Parte desse trabalho é o de defender o ministério do Pe. Martin contra os ataques da direita que ele tem recebido há dois anos. Na esteira do encontro papal e dos ataques abertos de Dom Charles Chaput contra o sacerdote, a iniciativa Faithful America lançou uma petição em apoio ao jesuíta, e já ganhou quase 14 mil assinaturas, dizendo:

“Estamos com o Pe. James Martin, SJ, e apoiamos o seu trabalho de tornar a Igreja mais inclusiva para os filhos e filhas LGBTQs de Deus. Obrigado, Padre Jim!”

Para adicionar o seu nome em apoio ao Pe. Martin e seu trabalho na construção de pontes de inclusão na Igreja. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br