Paroquianos de um templo da Holanda tentam evitar a expulsão de um casal armênio e seus três filhos. A polícia não pode entrar no local para prendê-los durante o serviço religioso.

ISABEL FERRER

A reza como um protesto e esperança. Na igreja holandesa de Bethel, localizada em Haia, seus fiéis (protestantes) estão há um mês e dois dias rezando sem parar para evitar a deportação de uma família armênia acolhida dentro: quase 800 horas. A polícia não pode entrar em um templo durante os serviços religiosos e, por isso, 300 reverendos de todo o país se revezam para impedir a prisão de Sasun e Anousche Tamrazyan e seus três filhos. Sasun diz que fugiu de seu país quando foi ameaçado de morte por razões políticas. Eles estão na Holanda há nove anos e, embora o Governo tenha ordenado sua partida porque a Armênia é considerada um país seguro, dizem que não confiam nisso. Tentaram ficar apelando à anistia para menores refugiados decretada em situações excepcionais pelas autoridades. Se isso for alcançado, os pais também se beneficiariam e seus problemas estarão resolvidos.

"O futuro da família Tamrazyan não está na Holanda. Concluiu-se que eles não têm o direito de ser protegidos ", disse Mark Harbers, secretário de Estado do Asilo e Imigração. O caso é especialmente difícil para o político, liberal de direita. Em setembro, ele disse o mesmo sobre Lili e Howick, também irmãos armênios de 12 e 13 anos, com uma década de residência na Holanda. Ordenou sua expulsão porque não havia dúvidas sobre a segurança da Armênia, mas logo depois os anistiou, em meio a uma grande comoção social. Os garotos se esconderam. Temendo que algo lhes acontecesse, Harbers mudou de ideia.

Os Tamrazyan querem tratamento igual para seus filhos, Hayarpi (21 anos), Warduhi (19) e Seryan (15). Especialmente por que os tribunais lhes deu sua razão por duas vezes, mas o Estado apelou e eles perderam o recurso final. "Não entendo por que o nosso caso chegou ao Conselho de Estado, quando poderíamos ficar. Até chegaram a me dizer que se me encontrarem no trem ou na rua, vão me deportar e a vida que levo acabará", disse Hayarpi à TV holandesa. O Governo afirma que existem cerca de 400 menores na mesma situação e não pretende decretar uma anistia geral. Se considera que os requerentes de asilo estarão seguros em sua terra natal, quer que voltem para lá.

As leis em vigor respeitam os templos, mas rejeitam os abusos dessa norma. Uma realidade que Theo Hettema, presidente do Conselho Geral Holandês dos Reverendos Protestantes, não ignora. "Nenhuma igreja teria que escolher entre respeitar a dignidade humana ou a autoridade governamental", disse ele. No final, decidiu abrir as portas para os Tamrazyan "pela fidelidade à hospitalidade eclesiástica". O tempo que Hettema quer ganhar para que o secretário de Estado volte atrás é endossado por outros fatores. Os serviços de imigração resolvem com atraso os pedidos dos requerentes de asilo, por falta de pessoal e cortes orçamentários.

Em teoria, uma solicitação tem que ser resolvida em seis meses, mas costuma levar pelo menos um ano. Embora os maiores atrasos ocorram quando os afetados decidem esgotar todos os recursos legais ao seu alcance para ficar, a lentidão do serviço foi reconhecida pelo próprio Governo. Uma das razões é o fluxo de refugiados sírios registrado em 2015. Quando logo depois pediram a reunificação familiar, as repartições entraram em colapso. "Cada caso deve ser avaliado com cuidado", apontam as fontes do serviço de imigração. No entanto, os atrasos são multados e, no início de outubro, as autoridades holandesas tiveram que pagar um milhão de euros (cerca de 4,4 milhões de reais) aos requerentes de asilo (mil casos) que não receberam uma resposta a tempo. Fonte: https://brasil.elpais.com