Frei Joseph Chalmers O. Carm. Ex- Superior Geral da Ordem do Carmo

Somos o povo da ressurreição. A ressurreição é o “sim” de Deus à vida. Se queremos dizer “sim” à vida, devemos dizer “não” à morte em todas as suas formas. Dizer “não” à morte começa exatamente quando dizemos “não” a qualquer forma de violência física. Isso requer um profundo compromisso com as palavras de Jesus: “Não julgueis” (Lc 6,37). Requer dizer “não” à toda violência do coração e da mente (Mt 5,22).

O julgamento que faço das pessoas é uma forma de morte moral (Rm 14,4). Quando julgo outros seres humanos, rotulo-os, coloco-os em categorias fixas e mantenho-os à uma distância segura de mim mesmo para que eu não entre num verdadeiro relacionamento humano com eles. Por meus julgamentos divido meu mundo entre aqueles que são bons e aqueles que são maus e, assim, brinco de Deus. Mas todos que brincam de Deus terminam agindo como o diabo. As palavras de Jesus vão direto ao coração de nossa luta: “Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos amaldiçoam, orai por aqueles que vos difamam” (Lc 6,27-28).

Meu inimigo não merece de mim ira, rejeição, ressentimento ou desprezo, mas o meu amor (Mt 5,44-45). Somente um coração amoroso, um coração que continua a afirmar sempre a vida, pode dizer “não” à morte sem ser corrompido por ela.

O aumento da fome e da pobreza no mundo, as guerras que sempre acontecem nos oferecem muitas razões para temer, até desesperar. Quando ouvimos as vozes da morte ao nosso redor vemos os inúmeros sinais da superioridade dos poderes da morte. Fica difícil acreditar que a vida é realmente mais forte do que a morte. No entanto, deve ter sido difícil acreditar num futuro brilhante naquela primeira Sexta-Feira Santa.

Nosso Deus é um Deus de surpresas. Se dissermos “não” à morte em todas as suas formas, podemos ter a impressão de estar do lado perdedor. Na verdade, às vezes pode parecer que estamos sós, mas não estamos. Existe todo um exército de pessoas sem importância aos olhos do mundo, orando e trabalhando pela paz. Essas pessoas permitem que Deus transforme suas vidas a partir de dentro, para tirar de seus corpos o coração de pedra e substituí-lo por um coração de carne, que é capaz de amar (Ez 11,19). Essas pessoas estão deixando o falso “eu” que se baseia em critérios exteriores, como por exemplo, o sucesso, a riqueza, o poder, o reconhecimento dos outros e assim por diante, e descobrindo o “eu” verdadeiro que se encontra em Deus. O verdadeiro “eu” é criado à imagem e semelhança de Deus (Gn 1,26-27) e nada pode destruí-lo.

O “eu” verdadeiro não julga os outros nem os rotula, mas vê neles um outro “eu” verdadeiro lutando por libertar-se das correntes do falso “eu”. Esse exército de pessoas pacíficas está tendo um efeito em nosso mundo. Jesus disse, “Felizes os mansos porque herdarão a terra” (Mt 5,4). O poder de nosso Deus é mais forte do que todas as armas humanas (Jz 9,7; Is 40,15). Quando esta promessa se realizará? Não sabemos, mas ela se realizará!