A agonia de Jesus no Horto das Oliveiras: A Oração: fonte de luz e de força.

Frei Carlos Mesters, O. Carm.

Situando

  1. No início da sua missão, Jesus foi tentado no deserto (Lc 4,1-12). Naquela ocasião, Lucas fez a seguinte observação: “Tendo acabado toda a tentação, o diabo deixou Jesus até o momento oportuno" (Lc 4,13). Este momento oportuno agora chegou. Chegou a hora da tentação suprema, “a hora do poder das trevas” (Lc 22,53). Começou a última etapa do êxodo de Jesus. O satanás já tinha conseguido desviar Judas (Lc 22,3). Queria desviar Tiago e João na hora da vingança contra os samaritanos, no início da viagem para Jerusalém (Lc 9,55). Quis entrar em Pedro, mas a oração de Jesus foi mais forte (Lc 22,31). Agora ele vai fazer a tentativa suprema para desviar Jesus do caminho do Pai.

Mas não vai conseguir.

  1. Durante a leitura do texto que descreve a agonia de Jesus no Horto, convém lembrar a cena da Transfigu­ração (Lc 9,28-36). No Evangelho de Lucas estes dois episódios tem uma semelhança muito grande, o que, sem dúvida, encerra uma mensagem da parte de Lucas para nós, seus leitores e suas leitoras.
  2. Comentando

Lucas 22,39-40: Tentação e angústia

            “Como de costume, Jesus sai para o Monte das Oliveiras”. Era a última noite da sua vida aqui na terra! Ele costumava ir naquela chácara para rezar. Jesus sabe que estão à sua procura para matá-lo. Sente a hora da tentação chegando. Bastaria subir o Monte das Oliveiras, alcançar o deserto, e ele estaria livre. Ninguém o prenderia! O que fazer? Era a tentação de escapar do cálice. Ele reza e pede aos amigos, para que rezem, “afim de não entrar em tentação!” Jesus estava sentindo a angústia provocada pela tentação. Não quer que seus amigos sofram esta mesma tentação.

Lucas 22,41-42: A oração da total entrega

            Jesus reza de joelhos. Ele devia estar muito abalado e angustiado, pois naquele tempo, o costume era rezar em pé. Lucas traz as palavras da oração: “Pai, se queres, afasta de mim este cálice. Contudo, não a minha, mas a tua vontade seja feita!” É a oração da total entrega. Jesus não volta atrás, não quer escapar. Quer é continuar no caminho de acolher os excluídos, de denunciar o fechamento da religião oficial, de insistir nas exigências da fraternidade, mesmo que os poderosos o persigam e matem. Ele assume ser o Messias-Servo.

Lucas 22,43-44: O anjo de Deus ajuda a beber o cálice

            Apareceu um anjo do céu. O anjo do céu é o próprio Deus se comunicando com o ser humano. É pela terceira vez no evangelho de Lucas, que Deus se manifesta diretamente a Jesus. A primeira vez, foi no Batismo (Lc 3,21-22). A segunda, na Transfiguração (Lc 9,35). E agora, a terceira vez, aqui no Horto. O anjo não vem para consolar. Ele vem para ajudá-lo a continuar no caminho do Pai até o fim, a beber o cálice até o fundo. Diz a carta aos Hebreus: “Nos dias da sua vida terrestre, Jesus apresentou pedidos e súplicas, com veemente clamor e lágrimas, àquele que o podia salvar da morte” (Hb 5,7). De fato, depois que apareceu o anjo, Lucas diz que “cheio da angústia, Jesus reza com mais insistência ainda” e começa a suar sangue. Suor de sangue é sinal de que a angústia que o envolve é muito grande. Jesus é jovem. Tem apenas 33 anos. É acusado e perseguido por algo que nunca fez nem quis, e sabe que vão matá-lo. É pela oração que ele se reencontra consigo, com a missão e com o Pai. A paz voltou. “Foi atendido por causa da sua total entrega!” (Hb 5,7)

Lucas 22,45-46: Resistir à tentação

Jesus se levanta. Vai ao encontro dos discípulos. Eles estão dormindo de tristeza. Novamen­te, lhes dá a mesma recomendação: “Levantem e rezem, para que não entrem em tentação!” No Pai-Nosso, Jesus já tinha mandado fazer o mesmo pedido: “Não nos deixeis cair em tenta­ção!” (Lc 11,4) A tentação faz parte da vida. Constantemente, Jesus era puxado para seguir por caminhos contrários ao caminho do Pai. Mas ele resiste através da oração e vence a tentação. Partindo da sua própria experiência, dá um conselho aos amiogos: "Rezem para que não entrem em tentação!"

 Alargando

A tentação de assumir o papel do Messias glorioso acompanhou Jesus, do começo ao fim. A pressão vinha de todos os lados. Pessoas, fatos, situações, o próprio demônio, todos tentavam levá-lo por outros caminhos. Mas nunca ninguém conseguiu desviá-lo do caminho do Pai.

* Pedro tentou afastá-lo do caminho da Cruz, mas recebeu uma resposta dura: "Vai embora, Satanás!"(Mc 8,33).

* Seus pais tiveram que ouvir: “Então não sabiam que devo estar na casa do meu Pai?”(Lc 2,49)

* Aos parentes ele disse:  "Quem é minha mãe? Quem são meus ir­mãos?"(Mc 3,33).

* Aos apóstolos que queriam levá-lo de volta, ele disse: "Vamos para outros lugares! Pois foi para isto que eu vim!"(Mc 1,38)

* João Batista é convidado a conferir as profe­cias com a realidade dos fatos (Mt 11,4-6 e Is 29,18-19; 35,5-6; 61,1).

* Aos fariseus  avisou: “Vão dizer àquela raposa que vou continuar trabalhando aqui hoje e amanhã. Só vou terminar é depois de amanhã!”(Lc13, 32).

* O povo queria forçar Jesus a ser o messias-rei (Jo 6,15). Ao percebê-lo, Jesus simples­mente foi embora e se refugiou na montanha(Jo 6,15).

* Ao demônio Jesus reage com força, condenando as propostas com palavras da Escritura (Mt 4, 4.7.10).

* No Horto, o sofrimento  leva Jesus a pedir: "Pai, afasta de mim este cálice!" Mas ele logo acrescenta: "Não o que eu quero, mas o que tu queres"(Mc 14, 36). E na hora da prisão, hora das trevas(Lc 22,53), aparece pela última vez a tentação de seguir pelo caminho do messias guerreiro. Jesus reage: “Guarde a espada no seu lugar!”(Mt 26,52).

Orientando-se pela Palavra de Deus, Jesus recusou todas estas propostas. Inserido no meio dos pobres e excluídos e unido ao Pai pela oração, fiel a ambos, ele resistia e seguia pelo caminho do Servo de Javé, o caminho do serviço ao povo (Mt 20,28).