*Dom Frei Vital Wilderink O. Carm. In Memoriam.

(Eremitério Fonte de Elias, 23 de setembro de 2009, lendo um pequeno artigo de Jean-Jacques Suurmond em Trouw).

A primeira não existe a segunda é um desafio. Não faltaram na história exemplos, mesmo fora do cristianismo, de fazer uso político de uma religião. O que pode levar a um ambiente, pelo menos levemente ditatorial. O império romano foi um exemplo disso: os seguidores de Cristo eram considerados um perigo para a unidade política dos súditos do divino César. A presença infalível da bandeira nacional em cada igreja nos Estados Unidos, iria um pouco neste sentido. Lembro-me que muitos anos atrás no Brasil, em determinadas ocasiões, a bandeira com seu “Ordem e Progresso” também enfeitava as celebrações litúrgicas. Penso, porém, que entre os dois casos há uma diferença de interpretação.

No Brasil, também nas escolas havia diariamente o hasteamento da bandeira e canto do hino nacional. Mas nos Estados Unidos, pelo menos na impressão de não-americanos, era um sintoma de secularização que na forma de patriotismo (culturalmente colorido, até pelo capitalismo) invadia as igrejas. Nos Estados Unidos nos candidatos à presidência do país nunca pode faltar uma certa religiosidade. Não é imaginário o perigo de colocar a religião numa agenda sociopolítica. Pelo menos Santo Agostinho era dessa opinião. A religião do império romano exigia obediência e realização de atos gloriosos em prol da pátria. Cristo, pelo contrário, pregava humildade. É um perigo para quem exerce o poder, pois este poder poderia ser solapado.

Pode a religião ser um benefício para quem exerce o poder?  Pode acontecer quando a religião contribui para a realização do objetivo dos candidatos ao poder. Neste caso a religião é reduzida a uma ideologia. O nazismo e o comunismo também visavam unir o povo em vista de um objetivo político a ser alcançado.  Porque no sistema de Machiavelli a humildade de Cristo era banido? Porque ele entendeu que a humildade não tem nada a ver com submissão ou dependência, pois neste caso serviria bem ao objetivo dos poderosos. É que a humildade cristã é entrega a um poder estranho; ao poder de Deus  que nos leva a uma libertação.  O primeiro torna-se ó ultimo.

*Dom Frei Vital Wilderink, O Carm, foi vítima de um acidente de automóvel quando retornava para o Eremitério, “Fonte de Elias”, no alto do Rio das Pedras, nas montanhas de Lídice, distrito do município de Rio Claro, no estado do Rio de Janeiro. O acidente ocorreu no dia 11 de junho de 2014. O sepultamento foi na cidade de Itaguaí/RJ, no dia 12, na Catedral de São Francisco Xavier, Diocese esta onde ele foi o primeiro Bispo.