Após fala do presidente eleito sobre eventual responsabilização de igrejas por mortes decorrentes da falta de imunização contra Covid-19, líderes religiosos acusaram o petista de perseguição religiosa e de revanchismo devido ao apoio do segmento a Bolsonaro

 

Por Fernanda Alves — Rio de Janeiro

Declarações do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre eventual responsabilização de igrejas evangélicas por mortes decorrentes da falta de vacinação contra a Covid-19 repercutiram negativamente entre lideranças religiosas. Pastores de diversas denominações criticaram o petista e o acusaram de perseguição religiosa após o segmento não apoiá-lo para o Palácio do Planalto.

A fala de Lula ocorreu durante uma reunião fechada com representantes de associações médicas e instituições de saúde. O encontro virtual, que durou cerca de três horas, tinha como objetivo discutir a vacinação de Covid-19.

“Eu pretendo procurar várias igrejas evangélicas e discutir com o chefe delas: ‘Olha, qual é o comportamento de vocês nessa questão das vacinas? Ou vamos responsabilizar vocês pela morte das pessoas?”, disse Lula na reunião.

A fala tem impacto negativo na estratégia política do próprio presidente eleito, que internamente fazia movimentos para se reaproximar de parlamentares e pastores que até outro dia compunham a principal base de apoio de Jair Bolsonaro, mas que também já apoiaram Lula no passado.

O pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, divulgou um vídeo em suas redes sociais onde ataca o PT e diz que o presidente eleito tem “preconceito com a igreja evangélica”.

“O PT não tem moral de cobrar nada sobre pandemia e nem sobre a Saúde, essa que é a verdade. (...) Que moral o Lula tem para cobrar alguma coisa? Vai lavar essa sua boca de cachaça. você só está aí porque tem amiguinho no STF (Supremo Tribunal Federal) que liberou você. Você foi condenado em todas as instâncias por corrupção. Quero ver que líder evangélico que vai receber esse crápula”, disse Malafaia no vídeo.

O deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), presidente da Frente Parlamentar Evangélica, que chegou a ser convidado para um encontro com Lula logo após a divulgação do resultado das eleições e não aceitou, foi mais uma das vozes críticas às declarações de Lula.

“Descondenado, a ampla maioria das igrejas não tem nenhum interesse em recebê-lo! Prove qual igreja evangélica que falou contra a vacina! Você só tem preconceito e ódio!”, publicou em sua conta no Twitter.

Pastor da Assembleia de Deus Ministério Madureira, uma das maiores denominações evangélicas do Brasil, o deputado reeleito Otoni de Paula (MDB-RJ) afirma que a fala de Lula indica que ele desconhece a realidade das igrejas.

— Ou Lula não conhece as igrejas ou age com revanchismo porque a maioria dos evangélicos caminhou com Bolsonaro. A Assembleia de Deus Ministério de Madureira, por exemplo, foi grande incentivadora da vacina, até porque era necessário que os membros estivessem vacinados para retornar aos cultos. Tanto que determinou, em uma de suas convenções, o incentivo e engajamento à vacinação. No mais, é estranho essa cobrança dos pastores e não de outros setores ou líderes da sociedade. É injusto o presidente eleito colocar essa pecha de negacionista na igreja — criticou Otoni.

Fundador e líder da Catedral do Avivamento, igreja ligada à Assembleia de Deus, o pastor e deputado federal Marco Feliciano (PL-SP) afirmou, em vídeo publicado em suas redes sociais, que "Lula se revelou" e classificou a postura do petista como "rancor de não ter tido nosso apoio na eleição".

— Lula se revelou. É uma loucura. É a esquerda sendo esquerda, inventando histórias para culpar quem se mostra contra eles. Lula está ameaçando os evangélicos por rancor de não ter tido nosso apoio na eleição — disse Feliciano, em mensagem ao presidente eleito.

 

Contraponto

Filho do pastor R.R. Soares, fundador e líder da Igreja Internacional da Graça de Deus, o deputado David Soares (União-SP) foi em direção diferente e preferiu não confrontar a declaração de Lula. Questionado, ele afirmou que sua igreja “é 100% a favor da imunização” e que tomou quatro doses da vacina contra a Covid-19. David também disse ter visto apenas trechos do que disse o petista, mas deixou as portas da congregação abertas para sua visita.

— O presidente, tendo contato com as lideranças das igrejas, verá que apoiamos a vacinação por completo. Tomara que ele as procure — afirmou David que, como o pai, apoiou a reeleição de Bolsonaro. Fonte: https://oglobo.globo.com