Depois de manifestantes protestarem contra a Basílica se Nossa Senhora Aparecida, em 12 de outubro, ao menos outros três casos circulam nas redes sociais

Por O GLOBO — Rio de Janeiro

 

Interrupções de bolsonaristas durante missas da Igreja Católica têm se multiplicado nos últimos dias Brasil afora. Além dos protestos na Basílica de Nossa Senhora Aparecida, em 12 de outubro, foram registradas ao menos outras três ocasiões desde então em que fiéis levantaram a voz contra padres durante uma celebração. Entre os motivos alegados, estão acusações de que seus discursos seriam, na verdade, palanque político para a esquerda.

Na Igreja São João Batista, em Jacareí, no interior do estado de São Paulo, um padre teve sua missa interrompida no domingo porque citou o nome da ex-vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018, além de Bruno Pereira e Dom Phillips. Uma mulher que acompanhava a celebração disse que ele não poderia falar da ex-parlamentar carioca porque ela era “homossexual” e porque, segundo ela, tinha ligação com o “tráfico de drogas”.

— O senhor não vai falar de Marielle Franco dentro da casa de Deus. O senhor não vai falar de Marielle Franco, uma homossexual, uma envolvida com o tráfico de drogas, o senhor não vai falar de Marielle Franco dentro da casa de Deus. Uma esquerdista do PSOL, uma homossexual, que quer a ideologia de gênero dentro da escola das crianças — disse a mulher, acompanhada de outra fiel que questionou o padre se ele também defendia o aborto.

Em outro templo católico, na cidade paranaense de Campo do Tenente, uma mulher que vestia camisa com o rosto de Bolsonaro, e a frase “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, também criticou a postura do padre e, aos gritos, disse que só havia “mentira nessa igreja”.

 

“O Deus da vida é a favor do aborto?”

Na última quarta-feira, outro padre foi hostilizado durante missa na Paróquia Nossa Senhora da Luz, da Comunidade Nossa Senhora do Carmo, em Fazenda Rio Grande (PR). Depois de falar que "o Deus da vida nunca vai pactuar com as forças da violência, nunca vai estar do lado daquele que prega o armamentismo, porque Deus é amor, solidariedade", o padre Edson foi interrompido por uma mulher que o questionou: "O Deus da vida é a favor do aborto, padre?". O padre negou.

A mulher continuou gritando: "Ele é a favor da ideologia de gênero?". O padre negou novamente. "O senhor está pedindo voto para o Lula (PT)", ela falou, em tom afirmativo. O padre negou, mais uma vez. Pessoas aplaudiram.

O padre tentou seguir com a missa e foi interrompido novamente, agora por um homem, que tentou o intimidar, em um tom de ordem, falando para que ele se atenha à palavra de Deus.

Em nenhum momento, no entanto, o padre “pediu votos” ou ao menos citou o nome de qualquer candidato à Presidência. No Facebook, a Paróquia retirou de sua página principal todos os vídeos com as transmissões de missas que contavam com comentários desse tipo.

 

Casos têm sido recorrentes

O cardeal Dom Odilo Pedro Scherer, 7º Arcebispo Metropolitano de São Paulo, foi alvo de bolsonaristas no Twitter por usar uma roupa vermelha em sua foto de perfil, cor tradicionalmente associada ao Partido dos Trabalhadores (PT). Os internautas traziam como argumento para os ataques um suposto apoio do Cardeal ao comunismo e ao ex-presidente Lula (PT). Uma publicação de 2019 mostra que esse tipo comentário já circulava nas redes na época.

Em 2018, conforme informação divulgada pela revista Veja à época, o cardeal criticou o uso político do ato religioso em homenagem à ex-primeira-dama Marisa Letícia, organizado pelo ex-presidente e atual presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em uma rede social, o cardeal teria lamentado a “instrumentalização política” da cerimônia.

Também no último 12 de outubro, no mesmo dia do ocorrido na Paróquia Nossa Senhora da Luz, no Paraná, o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) compareceu à missa em Aparecida. O evento contou com uma confusão causada por bolsonaristas que fizeram ofensas e tentativas de agressão a uma equipe da TV Vanguarda, afiliada da TV Globo na região, segundo a repórter Daniela Lopes. O grupo utilizava palavras de ordem e pulava ao redor das câmeras de gravação.

Motivado pelos ataques por parte de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) dirigidos a ele, ao Papa Francisco e à Igreja Católica, o padre Zezinho, da Congregação do Sagrado Coração de Jesus, publicou um desabafo em sua página no Facebook onde confessa estar cansado de dar espaço para os fiéis "super politizados, irados e insatisfeitos" e que, por isso, ficará sem se manifestar no ambiente virtual até o dia seguinte ao segundo turno. Fonte: https://oglobo.globo.com