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Qualquer torcedor também pode cobrar que o presidente cumpra seu juramento

 

A Torcida Jovem do Flamengo decidiu retirar seus símbolos e bandeiras da manifestação pela democracia, que começará às 13h de domingo (7) na praça Saenz Peña, no Rio de Janeiro.

Em São Paulo, também. Como na avenida Paulista, semana passada, não haverá um movimento de torcidas uniformizadas, mas de torcedores autônomos, sócios de uniformizadas.

Corintianos, palmeirenses, são-paulinos e santistas, cidadãos brasileiros irão às ruas exigindo o respeito à Constituição e a convivência entre os três poderes.

Por mais que uma parte das torcidas uniformizadas, como a Gaviões da Fiel, tenha nascido como braço de oposição à política de seus clubes, hoje as facções são pessoas jurídicas constituídas e têm sócios de todos os espectros ideológicos. Daí a opção por não usar símbolos e bandeiras.

Mas parece necessário explicar para estes outros espectros ideológicos por que torcedores estão indo às ruas para exigir democracia. Necessário explicar especialmente para os que questionam manifestações contra um governante eleito pelo voto.

A resposta é que o presidente foi eleito pelo povo, para governar um país cuja Constituição prevê a convivência entre os três poderes, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. O Presidente fez juramento de manter, defender e cumprir a Constituição, e não pode avalizar manifestantes que defendem o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal.

“São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.” Está na Constituição. Deste ponto de vista, qualquer instituição deve se manifestar pela democracia, mesmo tendo sócios que pensem diferente.

No caso das torcidas uniformizadas, é melhor não. Porque o simples fato de alguns de seus integrantes estarem nas manifestações foi suficiente para oportunistas discutirem se não foi esse o fator responsável pelos distúrbios.

A razão da violência nos estádios, que diminuiu, mas não desapareceu, não é a torcida uniformizada, mas a impunidade. Há todo tipo de gente debaixo das bandeiras e símbolos das facções. Apaixonados por futebol, arruaceiros, gente disposta a doações e caridade e bandidos ligados ao crime organizado.

Se quem agride e mata fosse identificado e preso, a violência teria desaparecido. Mas, por décadas, houve quem preferisse recomendar que famílias não fossem aos estádios.

Qualquer torcedor é cidadão e paga impostos para ter tranquilidade para ir ao teatro, ao cinema ou ao futebol. Cabe ao Estado oferecer segurança. Qualquer torcedor também é cidadão para se manifestar e exigir que o presidente da República cumpra seu juramento. Proteja e respeite a Constituição e ajude as pessoas a entender que o Brasil tem três poderes que devem existir e conviver.

Mas este país polarizado tem sido o avesso de tudo. Torcedores que gostam da seleção brasileira podem preferir não vestir sua camisa, porque o amarelo é usado por quem defende o fechamento do STF. Mas o amarelo é uma das cores da bandeira, da seleção pentacampeã do mundo e foi símbolo da campanha das Diretas Já, que mobilizou mais de 90% da população na década de 1980.

Enquanto isso, manifestantes pela democracia vão às ruas de preto, a cor das camisas das milícias fascistas de Mussolini.

Qualquer cidadão brasileiro tem o direito de usar amarelo, preto, azul, branco ou vermelho e de exigir o respeito aos três poderes. Não é por seu time, nem contra a cloroquina. É pela Constituição. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

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Jornalista e autor de Escola Brasileira de Futebol. Cobriu seis Copas e oito finais de Champions.