Frei Petrônio de Miranda, Padre Carmelita e Jornalista.
Quando nasci, percebi que ele estava do meu lado. Com ele aprendi a dar os meus primeiros passos. O olhar carinhoso estava sempre me vigiando, não para punir, castigar ou criticar, mas para guiar uma caminhada até então inocente de muitos sonhos.
Na adolescência, tive as primeiras decepções, tristezas e incertezas no contato com às pessoas. Em nenhum momento, ele me decepcionou, ao contrário, foi uma seta indicando os passos no caminhar de alegria mas também de tristeza.
Fui ingrato quando ele fechou as primeiras portas. Não compreendi e insisti nos meus meus projetos que até então pareciam promissores. Olhei nos olhos dele com o coração ferido. Ele, como que dono da verdade, não me castigou ou esqueceu a minha companhia, ao contrário, ficava ali do meu lado, silencioso.
Os anos se passaram, tive que trabalhar, ganhar a vida e dar sentido à minha existência. Agora, não com a inocência de uma criança ou as fantasias de um adolescente. Era tempo de botar o pé na tábua e ir à luta. Ele, este sim, foi sempre presente nesta aventura de adulto e conquistador.
Quando recebi o primeiro salário, fomos festejar e fazemos compras. Agradeci o seu esforço e paciência na construção da minha história; rimos das conquistas e choramos juntos ao lembrarmos das quedas e das pedras encontradas no caminho. Senti no seu olhar um mal contentamento, parecia que os seus olhos queriam me dizer algo, mas preferi ficar em silêncio. O que seria? O que ele estaria pensando em me falar? Pensei em questioná-lo, mas me contive no silêncio angustiante, cortando o meu ser.
Os dias se passaram e finalmente chegou a manhã fatal. Não era noite, mas a neblina invadia a varanda da nossa casa e tudo ficou escuro. Ouvia vozes, choro, correria. Da janela do meu quarto, fui avisado que a impiedosa morte tinha levado os meus pais. Neste momento de lamento e cruz duas senhoras vinheram me consolar, e mesmo naquela hora eu estava tranquilo. Alguns perguntavam; como você consegue ter esta calma? Nesta hora, não tive como negar, olhei no horizonte e falei que ele, O TEMPO, foi a minha primeira escola e a melhor companhia. Com ele, aprendi a ser gente e me fazer homem. O tempo, este sim, foi o meu melhor amigo.