Frei Petrônio de Miranda, O. Carm. Padre Carmelita da Ordem do Carmo e Jornalista.

Convento do Carmo de Angra dos Reis/RJ. 09 de maio-2022.

 

Nesta segunda-feira, a Palavra de Deus nos adentra na espiritualidade cristológica da porta ou, como muitos dizem, do caminho pelo qual nós optamos: “Em verdade, em verdade vos digo, quem não entra no redil das ovelhas pela porta, mas sobe por outro lugar, é ladrão e assaltante. Quem entra pela porta é o pastor das ovelhas. A esse o porteiro abre, e as ovelhas escutam a sua voz; ele chama as ovelhas pelo nome e as conduz para fora”... (Jo 10,1-10).

Bem sabemos que as famosas parábolas- ou histórias que Jesus costumava contar- tinha como objetivo deixar uma palavra de conforto e fidelidade para o povo usando da própria realidade do cotidiano. Tal método era tão eficaz que, anos após anos pós-morte e ressurreição de Jesus, tais histórias ficavam na mente do povo e era passado de geração em geração.

É interessante relembrar que Ele conviveu com pastores que sobreviviam dessa cultura, portanto, era a vida que falava da vida sob a ótica da misericórdia de Deus e, ao mesmo tempo, das opções que aquele povo- e também nós- fazemos em nossas relações às vinte e quatro horas da nossa convivência com o nosso próximo.

Pastor, ovelhas, porta... Esta parábola parece bonita, mas por trás da história nos deparamos em nosso dia a dia com várias portas que aparentemente nos levam a Jesus, mas que, muitas vezes nos aliena e nos monopolizam no sentido social, político e religioso.

Hoje, entrar pela porta de Jesus Cristo na maioria das vezes é sinônimo de poder político, prestígio e statu quo. Que o diga o famoso caso do ministro da educação e pastor que, escandalosamente, desviava o dinheiro da pasta para comprar Bíblias. Lembramos ainda   daquele padre que, vergonhosamente comprou fazendas, casas de praia e avião com doações dos fiéis- muitas vezes pobres- para a sua obra evangelizadora. Estes dois casos concretos e recentes comprovavam a complexidade da entrada pela porta oficial de Jesus.

Diante de tais relatos podemos nos perguntar, afinal, que porta é esta que devemos entrar? Ainda é possível encontrar esta passagem que nos leva a Boa Nova de Jesus? Como se livrar desses aproveitadores da fé do povo? Acho que a famosa frase do Sumo Pontífice, o Papa Francisco- repetida por diversas vezes em suas homilias- é um parâmetro para este seguimento. Ele fala que os padres tem que ser “pastores com cheiro de ovelha”. Ou seja, não é apenas um comunicador da TV ou das Mídias Sociais, mas sentir de perto as alegrias e tristezas do povo. Podemos dizer que, todo evangelizador tem que sujar as mãos na construção de um mundo mais ético, humano e solidário.

Portanto, não basta entrar pela “porta de Jesus”, é necessário fazer o que Jesus fazia, falar como Jesus falava. Exemplo: Como pode um cristão seguir a Boa Nova e defender o porte de armas ou espalhar mentiras através das mídias sociais? Como pode alguém dizer que segue Jesus Cristo e ser contra a democracia e as suas instituições? Como pode alguém ler a Bíblia e fechar os olhos para os mais de 12 milhões de desempregados que passa necessidade? Como pode alguém se dizer homem ou mulher de Deus e ser homofóbico. Que Deus nos livre desses “santos e imaculados religiosos e religiosas”. E tenho dito!