Frei Petrônio de Miranda, O. Carm

Convento do Convento de Angra dos Reis/RJ. Quarta-feira, 13 de janeiro-2021.

 

Os Padres do Deserto e o Coronavírus

Bom dia, boa tarde e boa noite meu amigo diário! Você já ouviu falar nos padres do deserto? Padres de quê! Do deserto meu chapa. Explique melhor. Bem, lá pelo século III, em 313, o Imperador Constantino assinou o chamado Edito de Milão, nele concedia culto livre aos cristãos e dava fim à perseguição religiosa. Nossa, que legal! Então todos começaram a seguir as pegadas de Jesus Cristo? Sim e não. Como assim? Seguinte, com a conversão do imperador, todos os súditos também se converteram. Acontece que eles não conheciam a mensagem de Jesus, e daí o balacobaco foi terrível! E como entra nesta história os ditos padres do deserto? Pera aí, já chegamos lá.

Mas cara, me fala uma coisa. Sim, pode falar! Eram apenas homens ou tinha mulheres do deserto também? Seguinte, entre eles- Padres do deserto ou pais do deserto, também chamados de eremitas, ascetas, monges- tinha também as madres do deserto. Geograficamente ficavam no deserto da Nítria, no Egito. Mas vem cá? E a formação teológica, litúrgica e moral, eles recebiam de quem? Não companheiro, quanto a isso, não tinha nenhuma formação oficial da Igreja. O seu conhecimento era baseado na experiência de vida através do silêncio, oração, contemplação e trabalho diário. Na verdade, foi um protesto e uma grande busca pelo cristianismo autêntico. 

Tudo bem, percebi que tem muita história nisso tudo. Mas e daí! Olha colega, também nós, em tempos de pandemia, estamos no grande deserto urbano recheado de concreto, edifícios, poluição, violência e desmoralização das instituições e da sociedade como um todo. Sei, interessante o que você fala, mas o que tais homens e mulheres lá do século III tem a nos ensinar em nossa clausura forçada contra o vírus?

Veja bem meu parceiro, cito apenas um nome dessa época. Quem? Santo Antão, o chamado pai de todos os monges. Através do silêncio, solidão e trabalho, ele tornou-se uma figura central para os monges e para todos nós nestes tempos difíceis. Como assim?  Sabia que precisamos silenciar e parar de tanta tagarelice? O quê? Falar muito seu estrupício! Tem gente que do nascer ao pôr do sol não para. Fala, fala e fala... Com isso, muitas vezes se prejudica a si mesmo e o próximo. A própria palavra de Deus já nos alerta: "Quando são muitas as palavras, o pecado está presente, mas quem controla a língua é sensato" (Provérbios 10:19).

Falar em solidão, clausura, isolamento... Tudo isso me assusta meu chegado. Sabia que lá no passado os ancestrais- vivendo em grupos- garantiam a sobrevivência? Claro que sim! Sabia que o próprio filho de Deus não ficou sozinho nos três anos de vida pública? Sim, eu sei que Ele tinha um grupo de 12 apóstolos. Portanto meu comparsa, essa história de isolamento social é mesmo um saco e vai contra a nossa essência comunitária enquanto seres humanos e cristãos.  Calma, calma... Vamos seguir um pouco os passos dos santos padres e madres do deserto? Vai lá, não custa nada, talvez você me convença a viver melhor neste tempo de covid-19. Peço a você meu confidente, que tente seguir estes 5 passos:

1- SILÊNCIO E SOLIDÃO. Vamos saborear o silêncio e a solidão? Como assim? Quando estiver sozinho, perceba a grandeza de Deus na sua vida. Faça uma retrospectiva dos fatos e acontecimentos da sua história e descubra que, mesmo nas encruzilhadas da vida, você foi amparado por Deus. Até Jesus teve este momento no Getsêmani (Mc 14, 34-36)

 

2- LECTIO DIVINA. Que tal fazer uma Lectio Divina? Fazer o quê! Uma leitura pausada de um pequeno texto da Bíblia. Escolha uma passagem que você gosta, leia, releia, medite e reze. Lembre-se! Não é um estudo bíblico, mas um contato pessoal com a Palavra de Deus.

 

3- TRABALHO. Os Santos Padres do deserto- e mais tarde São Bento na sua famosa regra de vida- através do Ora et labora- construíram um caminho de perfeição para a edificação da alma e paz interior do corpo. Aliás, o próprio apóstolo Paulo já advertia em (2 Ts 3, 10-12); “Quem não quer trabalhar também não coma”. Neste período de pandemia, transforme a sua casa em um local agradável e um santuário do lar. Seja criativo, dinâmico e inspirador. Aproveite para ler um bom livro, cultivar as plantas e jogar fora toda sujeira da vida e do lar que te incomoda. A casa é sua, não um chiqueiro de porco.  

 

4- LOUVROR E GRATIDÃO. Perceba Deus agindo na história e, sempre que possível, cante um salmo ou uma música que te faz bem. Ah! Lembre-se que o olhar de mansidão do nosso bom Deus nos acompanha, acolhe e acaricia. Portanto, nós não estamos sozinhos ou à mercê de um vírus.  

 

5-CONTEMPLAÇÃO. Por último, vamos procurar seguir as orientações de Frei Tito Brandsma? Frei o quê! Um Carmelita Mártir da Segunda Guerra Mundial, jornalista, professor de universidade e grande homem de Deus, Beato Frei Tito Brandsma da Ordem do Carmo. Ele dizia que; “devemos olhar o mundo com Deus no fundo”. Não entendi porcaria nenhuma! Traduzindo, procure olhar ou contemplar toda esta realidade de pandemia com os olhos da fé- Olhar de Deus- Aí sim, você vai perceber Ele agindo no meio deste fuzuê todo do Covid-19. Coragem, força, o Senhor está contigo! E tenho dito.