Homilia do Frei Petrônio de Miranda, O. Carm, na 8ª Noite da Novena de Nossa Senhora da Conceição na cidade de Angra dos Reis/RJ. Domingo, 6 de dezembro-2020.

 

Sabe minha Virgem Maria e Rainha dos que esperam em Deus, segundo o Concílio Vaticano II, na Constituição “Lumen Gentium”, nº 67, “Os fiéis lembrem-se de que a verdadeira devoção não consiste numa emoção estéril e passageira, mas nasce da fé, que nos faz reconhecer a grandeza da Mãe de Deus e nos incita a amar filialmente a nossa mãe e a imitar as suas virtudes”. Portanto, ó Mãe de Deus, inspirado nesta afirmação, peço-te forças para viver neste tempo de pandemia com o mesmo ânimo e a mesma missão que tivestes junto a Isabel- a tua prima (Lc 1,39-40). Eu sei que a tua caminhada foi longa até às montanhas da Judéia e, mesmo cansada, fizestes o possível para ajudá-la enquanto prima, mulher e filha amada de Deus Pai.

Sabe querida Padroeira, as vezes até rezamos, fazemos as nossas devoções e usamos diversos sinais externos para expressar o nosso amor por ti, mas você sabe né... Muitas vezes, não passa de um exibicionismo e de uma devoção vazia. Muitas vezes ó Maria, temos dificuldade de perdoar e aceitar o nosso irmão com os seus defeitos e diferenças. As vezes até servimos no altar, mas em casa... Ai, ai. Em casa somos verdadeiros Pit bull... Atacamos, ferimos e até levantamos falso testemunho. Sem falar que na Igreja fingimos ter cara de santinho, mas no trabalho somos verdadeiros estrupícios, arrogantes e desumanos no trato com o nosso próximo.

Sabe Imaculada, fico pensando no teu coração duvidoso e confiante. Sim, duvidoso diante do convite do Anjo Gabriel naquela manhã de sol em Nazaré (Lc 1, 26-38). Você, uma jovenzinha como tantas outras do povo judeu não tinha nada de especial. Era mais uma entre tantas e... Bem, de especial na verdade tinha a esperança de um novo dia para o teu povo, de especial tinha o sonho da queda dos poderosos, corruptos e assassinos governantes romanos que exploravam, matavam e discriminavam a tua gente trabalhadora e sofrida (Lc 1, 46-55). De especial e confiante, tinha a humildade e a fidelidade ao nosso Bom Deus.

Sabe minha mãe, também nós temos o nosso Magnificat, também nós vivemos tempos difíceis, mais somos teimosos e não paramos de sonhar. Aqui ó Imaculada, mais de 176 mil já morreram de covid-19. Temos um governo federal que não tem o mínimo de sensibilidade diante de tantos mortos e contaminados pelo vírus. Ao contrário, incentiva as aglomerações e, a cada dia que passa, o seu governo torna-se uma grande torre de babel (Gênesis 11.1-9), atrapalhando assim ao combate a pandemia.      

Sabe Imaculada, fico pensando na tua aflição quando soubestes que Herodes queria matar o Menino (Mt 2,13-18). As pressas- com o teu esposo José- salvastes a Criança recém nascida. Ainda bem que o burrinho- expressão de humildade- ao contrário do cavalo do Império Romano, te ajudou nesta fuga desesperada.

Sabe minha mãe, quero colocar aos teus pés às famílias que para esta cidade migraram em busca de novos horizontes. Algumas até conseguiram um trabalho, uma casa e uma nova vida, outras porém, choraram lagrimas de sangue ao ver seus os filhos assassinados nos morros pela polícia ou pelos traficantes.     

Sabe Imaculada, fico pensando na aflição dos noivos e familiares no casamento lá nas Bodas de Caná (Jo 2,1-11). E claro, você mais do que ninguém, conhecia o seu Filho. Só você sabia muito bem que Ele podia resolver tudo da melhor maneira possível. 

Pensando no milagre das bodas de Caná com os potes cheios de vinho novo, quero te fazer um pedido. Aliás, é muito mais que um pedido, é um grito de socorro em favor das famílias angrenses com os potes vazios do desemprego nesta cidade que, em plena pandemia, sofrem com a falta de pão na mesa para os seus filhos. Ó minha mãe, consola, anima e dá força a tantos jovens e pais que, infelizmente estão com os potes vazios de esperança. Eles não passam de estatísticas da fome e da miséria nesta cidade com suas ilhas milionárias e praias tão bonita, por outros lado, sofremos com os pobres  em nossos morros onde corre sangue e balas.

Querida Senhora de Nazaré, fico pensando diante da crucificação do teu filho. Eu sei que tivestes o abraço amigo de João- O apostolo- fiel e das Santa Mulheres (Jo 19, 25- 27), mas pensando nesta imagem o meu coração chora de dor. Aqui minha mãe, ao contrário do luto diante dos crucificados, ficamos felizes quando um ser humano é assassinado- chegamos até a soltar fogos todo o dia- isso mesmo! A desculpa é que, cada jovem traficante assassinado é menos um ladrão a circular na cidade. Eu te pergunto ó Imaculada, se temos que matar todos os ladrões, assaltantes e bandidos, vamos votar em quem na próxima eleição no Rio de Janeiro? É lamentável Virgem Mãe.

Por último ó querida e excelsa Padroeira de Angra dos Reis, livra-nos do vírus da fofoca que corrói as nossas Pastorais, Comunidades e Movimentos, livra-nos do vírus da incredulidade que nos deixa cegos e muitas vezes fechados no mundo digital e da depressão, afasta-nos do vírus da inveja em nossas relações e queima o vírus do fanatismo religioso, político e social transformando-nos em massa de manobra de grupos e pessoas. Sim, minha mãe querida, o coronavírus pode até me levar, mas nesta noite contaminarei a todos com aquele que é o maior de todos os vírus da face da terra- O amor do teu filho Jesus Cristo ontem, hoje e sempre.

Imaculada Conceição, excelsa Padroeira de Angra dos Reis, rogai por nós. Amém