Frei Carlos Mesters, O.Carm

“O Filho do homem não veio para ser servido,  mas para servir e dar a sua vida em resgate para muitos” (Marcos 10,45)

Uma história

Vou começar com uma história que aconteceu em Araxá, Minas Gerais, Brasil, nos anos setenta, logo depois do Concílio Vaticano II. Ideias novas começavam a circular. Surgiu uma certa polêmica na cidade que alcançou os ouvidos do bispo. Ele ficou preocupado e reclamou das palestras que frei Cláudio e eu dávamos para o povo que nos tinha convidado. Então, um grupo de leigos resolveu falar com ele. Depois de muita discussão, o bispo disse: “A disciplina é a viga mestra da minha diocese e disso não abro mão”. Um leigo perguntou: “E quando o senhor tiver a diocese bem disciplinada, o que vai fazer com ela?” O bispo não soube responder e repetiu: “A disciplina é a viga-mestra. Ela é muito importante”. A pergunta do leigo é muito atual. Ela forma o pano de fundo desta nossa reflexão. O exercício da autoridade e a obediência não podem ser reduzidas a uma finalidade disciplinar. Elas fazem parte de um conjunto mais amplo. É sobre este conjunto mais amplo que vou tentar refletir à luz do que os Evangelhos afirmam sobre Jesus: “Qual é, segundo os Evangelhos, o objetivo do exercício da autoridade e da obediência?”

O poder e a autoridade de todos nós

Para melhor entender o que a Bíblia diz sobre o exercício da autoridade, é preciso falar, primeiro, de algo que acontece na experiência diária de todos nós e que pode ser iluminado com a luz da

Palavra de Deus.

Cada pessoa, no momento de entrar em contato com outra pessoa, aciona algum poder, exerce alguma autoridade. Entre os dois surge uma influência mútua, proveniente de vários fatores: os dons que cada pessoa tem, suas qualidades, seu jeito de falar, sua atração, carisma, argumentações, capacidade de liderança, função, sexo, raça, cultura, etc. Cada um de nós, seja súdito, seja superior, com ou sem autoridade jurídica, pode usar este poder para fazer crescer o outro e, aí, ele exerce a sua autoridade como um serviço. Também pode usá-lo para fazer crescer o seu próprio “ego” e aí, em vez de servidora, a pessoa pode tornar-se egocêntrica e opressora. Com a “autoridade” que todos nós temos, tanto superiores como súditos, podemos favorecer ou matar a vida comunitária, revelar ou esconder o carisma.

Ao longo da história, em toda organização humana, seja família, clã, comunidade, clube ou Ordem, este poder natural das pessoas vai se estruturando em três direções diferentes, misturadas entre si.

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*Depois de quatro anos acompanhando os 37 Sodalícios da Ordem Terceira do Carmo da Província Carmelitana de Santo Elias, percebo que a questão da autoridade é sempre colocada em xeque quando se tem uma Eleição para prior ( a ). E mais! É triste quando encontro irmãos e irmãs que, após exercerem a missão de liderança no sodalício dizem; “Deus me livre voltar para a Ordem Terceira do Carmo”. O que está acontecendo? O nosso objetivo é seguir Jesus Cristo a partir da espiritualidade carmelitana ou é simplesmente exercer o poder? Já pensou se os nossos primeiros monges carmelitas tivessem desistidos quando foram criticados pelas ordens religiosas existentes na época? E se Teresa D`Ávila e João da Cruz tivessem caído fora quando foram incompreendidos durante a reforma teresiana?... Pesquisando os meus arquivos, deparei-me com esta bela reflexão do confrade, Frei Carlos Mesters. Acho que vai ajudar. Boa leitura. Ah! É um texto grande que iremos dividir em várias partes. Não deixe de ler. Frei Petrônio de Miranda, Delegado Provincial para Ordem Terceira da Província Carmelitana de Santo Elias.