Nenhum carmelita pretende alcançar o cume do Monte, que é Cristo Senhor, sem a experiência do deserto, isto é, sem um processo de transformação, onde sempre deixa mais espaço para Deus na própria existência. O combate contra o mal dentro de si mesmo e em volta de si é um meio indispensável para também poder chegar - se Deus o quer - aos estágios mais elevados da contemplação, puro dom de Deus. Num mundo ávido de prazeres terrestres, o Carmelo afirma tudo o que é nobre e tudo o que é bom, mas ao mesmo tempo aponta para a relatividade de tudo o que não é Deus, praticando o desapego do coração das coisas terrenas, para poder em Deus, seu princípio e fim, reencontrá-las no seu verdadeiro valor.

Os leigos carmelitas percorrem também o insubstituível caminho do deserto da mortificação interior, a fim de penetrarem na escuta do Senhor, que lhes fala ao coração mesmo nas manifestações novas e convulsionantes da vida do mundo, e dali retornam como entusiasmados e incansáveis animadores do ambiente, onde são chamados a trabalhar e, como generosos colaboradores da hierarquia e das várias organizações, participar ativamente da vida da comunidade dos fiéis.

Os nossos Terceiros verão e saberão mostrar como as atividades temporais e o próprio trabalho material são uma participação na obra do Pai sempre criadora e transformadora[1], um verdadeiro serviço prestado aos irmãos e à promoção pessoal do homem[2].

Testemunhas num mundo, que na sua realidade quotidiana não percebe, de fato, ou rejeita totalmente a íntima e vital ligação com Deus[3], os leigos cristãos reconhecem e compartilham com simpatia as suas esperanças e profundas aspirações, porque foram chamados para serem sal da terra e luz do mundo[4] e comunicarem ao povo a boa nova da salvação[5].

*Da Regra da Venerável Ordem Terceira do Carmo.

 

    [1]. GS 64

    [2]. GS 35

    [3]. GS

    [4]. Mt 5,13

    [5]. Lc 1,77