(Beato Frei Tito Brandsma, do livro A Beleza do Carmelo).

Elaboração do Frei Martinho Cortez, O. Carm.

1- Os Irmãos do Monte Carmelo

            Uma tradição antiga e constante (1Rs 18) dizia que Elias havia entrevisto na pequena nuvem portadora de chuva e salvação para a terra seca de Israel — um protótipo de Nossa Senhora, a mãe do Redentor.

            Muito antes de a Ordem se fixar em definitivo no monte Carmelo — assim era o projeto inicial — havia por lá um santuário dedicado a santa Maria; com a nova estruturação, sob uma norma de vida, o santuário tornou-se centro da Ordem e os primeiros frades chamaram-se “Irmãozinhos de santa Maria do monte Carmelo”.

            A piedade mariana cresceu, porque todo dia se reuniam na capela para louvar a Deus e meditar. A oração comunitária se realizava sob o olhar da Mãe celeste, tornando-se a devoção por ela cada vez mais fervorosa e cheia de zelo. Deus quis que o primeiro mosteiro carmelita fosse construído na vizinhança da capela e se tornasse o coração da devoção a Maria. Esta devoção tinha íntima conexão com a comunidade estabelecida e o nome com que foram chamados pelos habitantes vizinhos era sua característica, característica de ex-cruzados que depuseram suas espadas para serem os “cavaleiros de Maria”!

            Quando Brocardo, o superior geral, estava para morrer, reuniu os carmelitas e exortou-os a honrar Maria com uma vida de virtude:  “Vocês são chamados de irmãozinhos de nossa Senhora; cuidem para que, depois de minha morte, seja sempre honrado esse nome!” Depois de confirmar os irmãos em vida, Brocardo confirmou-os até o fim, como Cristo no amor aos discípulos.

2 - Os filhos da Igreja

            A devoção a Maria continuou na Europa, servindo até para argumentar em favor de sua aprovação. Foi mantido o nome de “Irmãos de santa Maria”, que depois se tornou seu nome de aprovação oficial como Mendicantes. A “devoção à Mãe de Deus” tornou-se a característica preferida dos carmelitas, até para defender seus direitos perante a Igreja. Papas e bispos concederam indulgências aos membros da Ordem e fizeram empenho para rápida oficialização da mesma. Um dos mais esforçados superiores gerais, Simão Stock, compunha para ela lindas orações, das quais se conservaram até hoje o “Ave Stella matutina” e o “Flos Carmeli”. Sabendo Simão Stock da importância dessa característica mariana da Ordem, para ser aceita e amada pelo povo e oficializada pela Igreja — nunca deixou de crer confiantemente, de insistir valentemente e suportar com coragem as resistências contra uma nova ordem religiosa.

            A história da entrega do escapulário — verdadeira ou lendária — é um símbolo da atuação desse carmelita inglês tenaz e cheio de fé. A Ordem estava ameaçada por dois perigos imediatos: um, interno, a perda da vitalidade original; outro, externo, os adversários da sua existência eclesial.  Mas o santo conseguiu superar os ataques mais ferozes; sua atuação levou à expansão da devoção a Maria, com o tema de sua proteção de Mãe e Patrona, sinalizado em quem usasse  o hábito carmelita. O povo entendeu a mensagem e a vida da Ordem e acabou aproximando-se dos frades também para revestir-se do santo hábito. Muita gente tornou-se também, por agregação, “Filhos de nossa Senhora”, principalmente porque queriam gozar os benefícios espirituais ligados à intercessão da virgem Maria. Foi quando o escapulário substituiu lentamente o hábito completo, conservando o sentido essencial de compromisso com Jesus e com a Igreja, através de Maria e sua maternidade protetora!

3- Os filhos e irmãos da Virgem

            Na Ordem do Carmo e com a aprovação oficial das autoridades da Igreja, Maria é venerada com características próprias:

Ela é a mãe de Deus... Do monte Carmelo os frades olhavam na direção de Nazaré e recordavam a Anunciação, a Encarnação, a Maternidade divina. Contemplavam os mistérios e procuravam imitar Maria, tendo como consequência uma intimidade profunda, verdadeira união mística.

Ela é modelo e exemplar... A mais excelente das criaturas, modelo de todas as virtudes, espelho em que devemos mirar-nos. Na força desse exemplar, se o carmelita é autêntico, certamente cresce em virtude e santidade!

Ela está viva em nós!... A união passa a nós a própria vida marieforme; ela vive em nós, à semelhança do que diz Paulo em Gálatas 2,20 (“Cristo vive em mim”). Viver em Deus -Viver em Maria. O carmelita deve ser, se gosta do que é e  é sincero em sua profissão- outra Maria!