25.Tudo o que desejamos e pretendemos ser na realidade da hora presente vemo-lo realizado na vida do profeta Elias e da bem-aventurada Virgem Maria, que, cada um a seu modo, «tiveram o mesmo espírito, [...] a mesma formação, o mesmo mestre: o Espírito Santo». Olhando para Maria e Elias, podemos mais facilmente compreender, interiorizar, viver e anunciar a verdade que nos torna livres.
- Elias é o profeta solitário que cultiva a sede do Deus único e vive na sua presença. Ele é o contemplativo possuído (raptado) pela paixão ardente pelo absoluto de Deus, cuja «palavra ardia como fogo». É o místico que, depois de um longo e penoso caminho aprende e lê os novos sinais da presença de Deus. É o profeta que se envolve na vida do povo e, lutando contra os falsos ídolos, o reconduz à felicidade da Aliança com o único Deus. É o profeta solidário com os pobres e os marginalizados e que defende aqueles que sofrem violência e injustiça.
O Carmelita aprende, pois, com Elias a ser homem do deserto, de coração indiviso, que está todo diante de Deus, todo entregue ao serviço de Deus, o homem que fez uma escolha sem compromissos pela causa de Deus e por Deus arde de paixão. Como Elias, crê em Deus, deixa-se conduzir pelo Espírito e interioriza a Palavra no próprio coração, para testemunhar a presença divina no mundo, aceitando que ele seja realmente Deus na sua vida. E enfim, vê em Elias, unido ao seu grupo profético, a fraternidade vivida na comunidade, e com ele aprende a ser canal da ternura de Deus para com os indigentes e os humildes.
- Maria, envolvida pela sombra do Espírito de Deus, é a Virgem do coração novo, que dá um rosto humano à Palavra que se faz carne. É a Virgem da escuta sapiente e contemplativa, que conserva e medita no seu coração os acontecimentos e a palavra do Senhor. É a discípula fiel da sabedoria, que busca Jesus –Sabedoria de Deus– e pelo seu Espírito se deixa educar e plasmar para assimilar na fé o estilo e as opções de vida. Assim educada, Maria é capaz de ler as "grandes coisas" que Deus realizou nela para a salvação dos humildes e dos pobres.
Maria, sendo também a Mãe do Senhor, torna-se a discípula perfeita dele, a mulher de fé . Segue Jesus, caminhando juntamente com os discípulos, e com eles compartilha o penoso e comprometedor caminho que exige acima de tudo o amor fraterno e o serviço mútuo. Nas bodas de Caná ensina-nos a acreditar em seu Filho; aos pés da Cruz torna-se a Mãe de todos os crentes e com eles experimenta a alegria da ressurreição. Une-se com os outros discípulos em «oração contínua» e recebe as primícias do Espírito, que enche a primeira comunidade cristã de zelo apostólico.
Maria é portadora da boa nova da salvação para todos os homens. É a mulher que cria relações de comunhão, não só com os círculos mais restritos dos discípulos de Jesus, mas também com o povo: com Isabel, os esposos de Caná, as outras mulheres e os "irmãos" de Jesus.
Na Virgem Maria, Mãe de Deus e modelo da Igreja, os Carmelitas encontram tudo aquilo que desejam e esperam ser. Por isto, Maria foi sempre considerada a Padroeira da Ordem, da qual é também chamada Mãe e Esplendor, e tida sempre pelos Carmelitas, diante dos olhos e no coração, como a "Virgem Puríssima". Olhando para ela e vivendo em familiaridade de vida espiritual com ela, aprendemos a estar diante de Deus e juntos como irmãos do Senhor. Maria, de facto, vive no meio de nós como mãe e como irmã, atenta às nossas necessidades, e junto a nós atende e espera, sofre e alegra-se.
O escapulário é sinal do amor materno, permanente e estável, de Maria para com os irmãos e as irmãs carmelitas.
Na sua tradição, sobretudo a partir do século XVI, o Carmelo manifestou a proximidade amorosa de Maria ao povo de Deus, mediante a devoção do escapulário: sinal de consagração a ela, meio da agregação dos fiéis à Ordem e mediação popular e eficaz de evangelização.
*CONSTITUIÇÕES DA ORDEM DOS IRMÃOS DA BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA DO MONTE CARMELO.