Frei Carlos Mesters, O. Carm.

Escutar e aprender são sinônimos. Quem escuta aprende. Condição para escutar é fazer silêncio. Sem silêncio não se escuta. Silenciar para poder escutar, aprender e conversar. O que mais nos falta é o silêncio. Muitos desejam que alguém os escute. Mas não encontram um ouvido aberto, disposto a acolher o grito calado do irmão, da irmã.

Na solidão do Monte Carmelo, reinava um grande silêncio. Não havia barulho, a não ser os ruídos da própria natureza que convidam ao silêncio, como os pássaros, os riachos, o vento. Mesmo assim, a Regra do Carmo recomenda com muita insistência o silêncio. Numa cidade barulhenta tem sentido insistir que se faça silêncio; mas pedir que se faça silêncio naquela serra imensa do Carmelo, cheia de solidão, qual o sentido? Qual o silêncio que a Regra pede de nós Carmelitas?

Há muitos tipos e formas de silêncio: o silêncio de uma sala de estudo ou de uma biblioteca; o silêncio que se pede num hospital; o silêncio da noite ou da madrugada; o silêncio da natureza, o silêncio da morte; o silêncio que precede à tempestade; o silêncio do medo; o silêncio do censurado e do povo amordaçado; o silêncio do aluno que não sabe a resposta; o silêncio do fulano frustrado ou do jovem abafado; o silêncio do namorado na presença da namorada; o silêncio da quebra interior: tudo que a pessoa tinha imaginado e planejado até àquele momento cai no vazio e se desintegra, parece que não valeu nada; o silêncio do místico; o silêncio de Deus que nunca aparece. Tantos silêncios! .....  Qual o silêncio que a Regra pede e recomenda?

Eis o texto do capítulo 19 da Regra do Carmo que fala sobre o Silêncio: 

O apóstolo recomenda o silêncio, quando manda que é nele que se deve trabalhar. E como afirma o profeta: A justiça é cultivada pelo silêncio. E ainda: No silêncio e na esperança estará a força de vocês.

Por isso, determinamos que, depois da recitação das completas, vocês guardem o silêncio até depois da Hora Primeira do dia seguinte. Fora desse tempo, embora a observância do silêncio não seja tão rigorosa, com tanto mais cuidado abstenham-se do muito falar, porque, conforme está escrito e não menos ensina a experiência: No muito falar não faltará o pecado; e: Quem fala sem refletir sentirá um mal-estar; e ainda: Quem fala em demasia prejudica a sua alma; e o Senhor no Evangelho: De toda palavra inútil que os homens disserem, dela terão que prestar conta no dia do juízo.

Portanto, cada um faça uma balança para as suas palavras e rédeas curtas para a sua boca, para que, de repente, não tropece e caia por causa da sua língua, numa queda sem cura que conduz à morte.

Como diz o profeta, cada um vigie sua conduta para não pecar com a língua, e se empenhe, com diligência e prudência, em observar o silêncio pelo qual se cultiva a justiça.

Para descrever o valor do silêncio, a Regra cita duas frases do profeta Isaías: "A justiça é cultivada pelo silêncio", e “É no silêncio e na esperança, que se encontrará a vossa força”. O silêncio recomendado pela Regra tem a sua origem nos profetas. É um silêncio profético!