Logo que Eliseu aceitou o cargo de dirigir a religião profética fundada por Elias, foi visitar cada um dos centros de monges Filhos dos Profetas e, para consolá-los da ausência de Elias, fazia milagres e prodígios diante deles, já para que não parecesse que havia recebido inutilmente esta graça extraordinária de Deus, já para mostrar-lhes com isto que estava no lugar de Elias, já também para fortalecê-los na perseverança da vida monástica.

E por isto, vivendo com os monges Filhos dos Profetas de Jericó, tornou doces as águas amargas da cidade a pedido de seus habitantes, lançando sal no manancial em presença deles.

Subindo dali para visitar os Filhos dos Profetas que moravam em Betel, os homens desta cidade tratavam o profeta como a um homem detestável, porque adorava o verdadeiro Deus, e incitaram os jovens para que insultassem e zombassem de Eliseu: “e saíram da cidade uns jovens e zombavam dele, dizendo: sobe calvo, sobe calvo” (IV Rs 2, 23).

Ao ver que aqueles cidadãos idólatras olhavam o Deus verdadeiro como se não fosse nada, pois o desprezavam a ele por dar-lhe culto, Eliseu, voltando-se para os jovenzinhos, olhou-os e os amaldiçoou em nome do Senhor, querendo, desde modo, engrandeceu o nome, do Senhor a quem eles desprezavam e, “em seguida, saindo do bosque dois ursos despedaçaram 42 daqueles rapazes” (IV Rs 2, 24). Quando os homens de Betel tiveram notícia do acontecido, temeram muito o nome do Deus de Eliseu e os Filhos dos Profetas que viviam ali, ante tão grande prodígio, receberam a Eliseu como seu Pai e Mestre com grande honra e cheios de alegria.

“Depois Eliseu partiu para o monte Carmelo” (IV Rs 2, 25) para visitar e consolar os Filhos dos Profetas que ali residiam. Então se deteve por pouco tempo no Monte Carmelo pelo desejo que tinha de visitar logo a todos os demais Filhos dos Profetas e logo voltar ao Carmelo.

Foi, pois a Samaria e visitou também os Filhos dos Profetas naquela cidade; ali encontrou a esposa de Abdias oprimida pelas dívidas contraídas por causa do alimento que Abdias proporcionou aos cem discípulos de Elias quando lhes conservou a vida, escondendo-os em grutas. Eliseu pagou a dívida da viúva e proporcionou alimento a ela e a seus filhos, multiplicando milagrosamente em grande quantidade o pouco azeite que a mulher tinha em sua casa;  a viúva vendeu o azeite e com o preço pagou ao seu credor e ainda lhe sobrou para alimentar a si e a seus filhos.

Voltando Eliseu ao monte Carmelo passou pela cidade de Sunan onde vivia uma mulher rica em cuja casa  se hospedava sempre que passava por aquele lugar. Esta mulher o recebia em sua casa, o atendia com presteza e até fez uma casa destinada só para o Profeta e mantinha com generosidade com tudo que precisava. Não tinha filhos, pois seu marido já era velho. Mas Eliseu como prêmio pela caridade com que o recebia, lhe prometeu que teria um filho de seu marido. Cumprida a profecia, aconteceu que, correndo o tempo, o filho crescido morreu.

A mulher disse a seu marido que queria ir ver Eliseu no monte Carmelo, porém ignorando o marido a morte do filho, lhe respondeu: “por que queres ir visitá-lo? Hoje não é dia de festa nem sábado” (IV Rs 4, 23); como se dissesse: se hoje fosse dia de festa terias razão para subir lá.

As pessoas piedosas costumavam visitar Eliseu e os demais monges do monte Carmelo, nos dias de festa, pela devoção que tinham de escutar de seus lábios e dos outros profetas a palavra de Deus e lhes levavam alimentos como agradecimento.

Chegando esta mulher a Eliseu, no monte Carmelo, lançando-se por terra se abraçou a seus pés e lhe disse: “por ventura te pedi um filho? Não te disse que não me enganasses?” (IV Reis 4, 28). Considerava-se enganada porque perdeu tão depressa o filho que Eliseu lhe havia obtido de Deus sem que ela o pedisse.

Vendo-a Eliseu tão cheia de amargura, levantou-se e a seguiu até sua casa e, entrando no quarto onde estava o menino morto, se pôs em oração até que o ressuscitou. Entregando-o o vivo à sua mãe, ela se lançou por terra aos pés de Eliseu, venerando-o e dando graças a Deus e ao Profeta.

Com estas e outras muitas maravilhas, Eliseu mostrou aos Religiosos os Filhos dos Profetas e discípulos de Elias haver recebido dele o espírito em dobro e por isto o receberam todos estes monges por Pai principal e comum e Mestre de todos.

*Livro da Instituição dos Primeiros Monges Fundados no Antigo Testamento e que perseveram no Novo, por Juan Nepote Silvano, Bispo XLIV de Jerusalém