"Porque te amo, ó Maria!"

Santa Teresinha do Menino Jesus

 

“Quisera cantar, Maria, porque te amo,

Porque, ao teu nome, exulta meu coração

E porque, ao pensar em tua glória suprema,

Minh’alma não sente temor algum.

 

 

Se eu viesse a contemplar o teu fulgor sublime

Que supera de muito o dos anjos e santos,

Não poderia crer que sou tua filha

E, então, diante de ti, baixaria meus olhos.

 

Para que um filho possa amar sua mãe,

Que ela chore com ele e partilhe suas dores…

Pois tu, querida Mãe, nestas plagas de exílio,

Quanto pranto verteste a fim de conquistar-me!…

Ao meditar tua vida escrita no Evangelho,

Ouso te contemplar e me acercar de ti;

Nada me custa crer que sou um de teus filhos,

Pois te vejo mortal e, como eu, sofredora.

 

 

Quando o anjo te anunciou que serias a Mãe

Do Deus que reinará por toda a eternidade,

Eu te vi preferir, Maria – que mistério! -,

O inefável, luzente ouro da Virgindade.

Compreendo que tua alma, Imaculada Virgem,

Seja mais cara a Deus que o próprio céu divino;

Compreendo que tua alma, Humilde e doce Vale,

Possa conter Jesus, o grande Mar do Amor!…"

 

NOTA: Em maio de 1897, Santa Teresinha, num poema de rara profundidade, expunha as razões de seu amor por Maria. "Por que te amo, Maria?" era o título do mais longo poema surgido das mãos daquela jovem.

Assim como ocorreu com ela, pode acontecer que nos peguemos perguntando-nos por que amamos esta ou aquela pessoa de forma mais intensa, e não outra. O que me faz amar alguém? O que em alguém eu mais amo?

O amor a Maria sentido por Teresa de Lisieux é motivado pela simplicidade da Virgem. Imagine se fosse você a escolhida por Deus para gerar, fisicamente, o Messias esperado. Ou então imagine se você fosse escolhido para ocupar um lugar de muita importância social. Qual seria sua reação? Gabar-se-ia das honras que lhe prestariam e perderia muito tempo em se arrumar para recebê-las? Maria, ao receber a visita do anjo, chamada por ele de "a cheia de Graça", chama a si mesma de "a serva do Senhor". Não utiliza os meios de comunicação de sua época para espalhar a notícia, mas corre apressadamente pelas montanhas da Judeia para encontrar-se e servir a Isabel, sua parenta. Durante sua vida, mesmo sendo a Mãe do Senhor, teve que caminhar na fé, e não fez nada de extraordinário. O extraordinário da vida de Maria está na ordinariedade com que viveu sua maternidade.

Somente os simples, os humildes, os que não renunciam à sua condição de criaturas e tentam colocar-se como deuses, acima dos outros, têm acesso à vida de Deus, geram-no, e são por ele exaltados. É no dia a dia de nossa vida que o Reino se instala. Não deveríamos jamais esperar o milagre espetacular, mas ter olhos para enxergar o espetacular milagre da cotidianidade, o milagre escondido no andar tranquilo da nossa própria vida.

Santa Teresinha ama Maria porque ela entendeu, mais do que ninguém, que a felicidade está em ser o que se é, em descobrir as maravilhas de Deus na simplicidade da vida, à diferença de Eva, que não aceitou sua condição de ser criatura de Deus. Um escritor chamado Javier Vilafañe escreveu certa vez um conto sobre um sapo que todos os dias sonhava ser algo diferente: sonhou que era árvore, mas não gostou; sonhou que era rio, sonhou que era cavalo, que era vento, fogo, mas nenhum desses sonhos lhe trazia satisfação. O sapo estava sempre triste. Uma manhã os sapos o viram muito feliz na beira da água. “Por que estás tão contente?”, perguntaram-lhe. E o sapo respondeu: “À noite tive um sonho maravilhoso. Sonhei que era sapo.”

Ó Maria, eu te amo "porque sei bem que em Nazaré viveste pobremente, sem pedir nada de mais... Os humildes sobre esta terra podem, sem temor, elevar os olhos a ti... Jesus nos deixa a ti, quando deixa a Cruz para esperar-nos no céu."

Frei César Cardoso de Resende, ocd

Fonte: http://caminhandocomsantateresinha.blogspot.com Divulgação:  www.instagram.com/freipetronio