Mariano Cera

“Jesus prostrou-se por terra e orava” (Mc 14,35), “Jesus foi à montanha para rezar” (Lc 6,12), “se retirava em um lugar deserto e ali rezava” (Mc 1,35), “passou a noite em oração" (Lc 6,12), “se prostrou com o rosto por terra e rezava” (Mt 26,39)...

Se Jesus deu tanta importância ao lugar e ao tempo para fazer sua oração, assim como ao corpo e às suas posições..., significa que é bom e necessário cultivar atitudes e preparar condições apropriadas para rezar melhor.

Encontramos esta necessidade nos Padres do deserto, e ela está presente também na tradição carmelitana. Hoje, tal necessidade tem adquirido lugar fixo na pedagogia da oração. É certo que – como ensinou recentemente a Igreja referindo-se às diferentes técnicas religiosas orientais – tudo isso não é oração, mas são atitudes que nos possibilitam rezar melhor.

Não podemos nunca prescindir do corpo em sua totalidade quando oramos. O corpo sempre influi na oração, porque influi em todo ato humano. O corpo, ou se torna instrumento da oração, ou se torna seu obstáculo.

O corpo tem as suas exigências e as faz sentir; tem os seus limites e os seus desejos: muitas vezes pode impedir ou liberar a concentração e obstruir a vontade. Portanto, é muito importante começar a oração pedindo ao corpo uma posição que nos ajude a obter a concentração.

Quanto às posições do corpo e ao ambiente que o circunda, jogam a favor da oração uma variedade de símbolos: o modo de sentar-se, a respiração, o calor, a atenção ao coração, a sensação de paz e de harmonia, o controle da energia vital, a cela fechada com pouca luz...

A oração cristã, repetimos, busca colocar o homem inteiro em comunicação com Deus, não deve renunciar a priori a nenhum elemento que a experiência lhe oferece neste sentido. É certo que se exige maturidade e equilíbrio para que não aconteçam desvios e para que os meios não se tornem o fim.

“Esta é a meta de um solitário – escreve Cassiano – cuja conquista deve exigir todos os esforços de seu espírito: chegar a um estado no qual se possua, no corpo mortal, uma imagem da felicidade eterna e se comece a saborear, nesta vasilha de barro, as primícias e penhores daquela glória e daquela vida que é toda divina e que esperamos gozar no céu”.[1]

Não apenas o corpo e seus gestos são importantes para orar bem, mas também colaboram para a perfeição da oração atitudes externas presentes em toda a tradição e que a experiência espiritual moderna redescobriu. Todo ano milhares de jovens correm para os eremitérios e para as casas de espiritualidade para saborear a oração num clima de total silêncio e de solidão, ou em jornadas de deserto, passadas na solidão, numa comunhão com a natureza.

A oração é relação com Deus, por isso, seu pressuposto prioritário é a capacidade de escuta. Silêncio e solidão são portanto, como já dissemos, meios indispensáveis para a entrar numa profunda relação com Deus.

Temos assim, a redescoberta da cela como convite à oração e ao abandono em Deus; a experiência do deserto, que nos convida à solidão para melhor contemplarmos a presença de Deus na natureza; a experiência dos Retiros como momento forte para armazenar energia antes de regressar ao mundo.

Relembremos a experiência do “silêncio” de Isabel da Trindade. Para ela, o silêncio não consiste tanto na ausência de palavras materiais, mas na paz inexplicável que, tendo vencido o mundo e a si mesma, escuta e compreende apenas o Verbo de Deus, a Palavra que ressoa nos silêncios eternos.

O silêncio do nosso coração é portanto, imagem de Deus, a Palavra de Deus, é Deus mesmo. “Era assim belo no silêncio e na calma da noite deixar-se arrebatar toda a alma por ele!”[2] Nossa última oração é a escuta da Palavra, mas a Palavra, em Deus, é o silêncio.

 

[1] Sources chrétiennes, 54 - 1958

[2] Sr. ELISABETTA DELLA TRINITA, Scritti, L. 146.