(Foto: Sagração de Dom Gabriel Bueno Couto, O. Carm)

Frei Carlos Mesters, O. Carm.

O Início do Carmelo no Brasil: 1580 a 1720

FUNDAÇÃO E ORGANIZAÇÃO

1- OLINDA. Dia 26 de janeiro de 1580, o provincial de Portugal, frei João Cayado, assinou a decisão e em seguida, na expedição de Frutuoso Barbosa, quatro frades partiram para o Brasil: Bernardo Pimentel, António Pinheiro, Alberto de Santa Maria e Domingos Freyre (o vigário). No mesmo ano chegam no Brasil e escolhem como lugar a cidade de Olinda e se estabelecem na capela dedicada a Santo Antônio. Em 1584, fundação do Convento de Olinda. A licença oficial para a fundação e a aquisição do terreno é de 1º de dezembro de 1590.

2- SALVADOR. Em 1586, três frades partem para Salvador da Baía de Todos os Santos: Alberto de Santa Maria, Belchior do Espírito Santo e Damião Cordeiro (coordenador) e em 24 de março de 1592 se faz a fundação oficial com Capela e escritura.

3- SANTOS. Pedro Viana com vários companheiros veio fundar um convento em Santos, cuja fundação ficou pronta no dia 31 de agosto de 1589.

4- RIO DE JANEIRO. Em 1890 chegaram alguns Carmelitas no Rio de Janeiro e receberam da Câmara a Capela de Nossa Senhora do Ó e no dia 28 de abril de 1590 receberam  um terreno para construir um convento.

5- SÃO PAULO. A fundação é feita em 1894. Assim, em dez anos, de 1584 até 1594, fundaram cinco conventos, apesar das imensas dificuldades de viagem e de comunicação daqueles tempos iniciais. Já em 1591, no Capítulo Provincial da Província de Portugal em Lisboa, foi confirmada com satisfação e alegria a fundação dos quatro primeiros conventos na Terra de Santa Cruz.

6- VICARIATO. Começa a organização interna aqui no Brasil. Em 1959 nomeiam-se o Vigário e os quatro priores dos quatro conventos. Os frades que vinham de Portugal só ficavam aqui três anos e voltavam, arcando o vicariato com as despesas das viagens. Era proibida a admissão de índios e de mouros. Os frades que tinham vindo ao Brasil para facilitar a ordenação sacerdotal, deviam ficar sete anos.

7- Em 1606, o número dos carmelitas era de 99: Olinda (30), Salvador (30), Rio de Janeiro (14), Santos (10), São Paulo (8), Paraíba (7)

2- A EXPANSÃO

1- Na primeira metade do Século XVII foi a lenta e gradual expansão da presença do Carmelo em quase todo o território Brasileiro (nem sempre as datas correspondem):

1- Angra dos Reis, Rio de Janeiro-1593

2- São Cristóvão, Sergipe-1610

3- Mogi das Cruzes, São Paulo-1610

4- São Luiz do Maranhão-1616

5- Belém do Pará-1624

6- Recife, Pernambuco-1631

7- Goiana, Pernambuco-1636

8- Alcântara, Maranhão-1647

2- Numa carta de 1635 de frei Sebastião dos Anjos, procurador do Carmelo Brasileiro, para Portugal dizendo que está na hora de se criar uma província autônoma e sugere que já havia em torno de 200 frades carmelitas no Brasil.

3- Não se chegou a constituir uma província autônoma, mas em 1640 formaram-se dois vicariatos: Bahia com 9 conventos e Maranhão com 3 conventos.

Em 1675 era este o quadro do Carmelo no Brasil:

 

a) O vicariato do Estado do Brasil (Salvador da Baía) tem 11 conventos

1- Cidade da Bahia: casa de estudos com 60 frades conventuais

2- São Cristóvão, Sergipe, com 10 frades conventuais

3- Recife, Pernambuco, com 8 frades conventuais

4- Olinda, com 18 frades conventuais

5- Goiana com 10 frades conventuais

6- Paraíba com 6 frades conventuais

7- Rio de Janeiro com 36 frades conventuais

8- Ilha Grande com 6 frades conventuais

9- Santos com 10 frades conventuais

10- São Paulo com 16 frades conventuais

11- Mogi das Cruzes com 6 frades conventuais

a) O vicariato do Estado do Maranhão tem 4 conventos

1- São Luís, casa de estudos, com 30 frades conventuais

2- Belém do Pará com 18 frades conventuais

3- Capitania de Gurupá com 6 frades conventuais

4- Capitania de Tapitapera com 6 frades conventuais

5- Cada um destes vicariatos tinha um vigário nomeado pelo Provincial do Carmo de Portugal.

3- A CRIAÇÃO DA PROVÍNCIA DE SANTO ELIAS DO BRASIL

1-Já em 1635, o frei Sebastião dos Anjos falava em criar uma província autônoma, mas a ideia encontrava muita resistência. Não é fácil separar-se da Casa Mãe. No Capítulo Geral de 1648, em Transpontina, decretou-se a criação da Província de Santo Elias, mas não vingou.

2- Motivos da resistência: a Coroa de Portugal não queria e mandou suspender a decisão do Capítulo Geral. O provincial de Portugal, frei João Coelho, escreveu ao Padre Geral em 29 de outubro de 1648, fazendo ver os graves inconvenientes: pobreza, escassez de conventos, falta de religiosos preparados, invasão de tropas holandesas que tinham feito estragos  em alguns conventos de Pernambuco, Paraíba e Sergipe, invasão e ataques de piratas e nomeação de um prófugo como comissário.

3- Em 1683, no dia 15 de janeiro, frei Monsignani, superior geral da Ordem, mandou que, cada três anos, houvesse uma reunião à qual assistissem os Priores dos Conventos com seus sócios, o Vigário Provincial com seu sócio e dois definidores, sob a presidência de um religioso nomeado pelo Padre Geral e procedessem à eleição do Vigário Provincial. O eleito tomaria posse e teria a mesma autoridade que os provinciais nas suas províncias. A reunião teria o mesmo poder do Capítulo Provincial e os priores seriam eleitos pelo Vigário Provincial com seus definitório.

4- Em 1718 acontece a fundação do convento de Itu.

5- A situação continuou assim de 1685 até 1720, ano em que as duas vice províncias do Brasil, Bahia e Maranhão, foram elevadas à categoria de Província com todos os direitos e obrigações. Em 2020 faremos 300 anos de Província.

6- Em 1741, criou-se o vicariato de Pernambuco. Três anos depois, em 1744, o Carmelo de Pernambuco tornou-se Província. Isto tem a ver com a introdução da Reforma Touronense no Carmelo do Brasil.

2- A reforma de Touraine no Brasil

1- SÉCULO XVI. Começou no início do Séc XVII (1600) com Felipe Thibault (1572-1638) e João de São Sansão (1571-1636). Forte espiritualidade e muita expansão em diferentes partes da Ordem.

2- No Brasil começou em 1677, no convento de Goiana, com frei João de São José. A reforma dependia diretamente do provincial da Baía, mas a partir de dezembro de 1683, nomeou-se um comissário para a sua direção imediata e diária.

3- A reforma teve o apoio do Geral da Ordem, Ângelo Monsignani que mandou entregar a reforma os conventos: de Recife, Olinda e Vila Real (depois substituído pelo convento de Paraíba). Um deles devia ser noviciado. Nomeou um comissário especial que devia fazer visitas periódicas.

4- A reforma não foi tranquila. No desejo de aderir à Reforma, assim parece, estava também o desejo de se tornar independente da província da Bahia. Em 1699 eles conseguem uma aprovação até do rei de Portugal. Assim, os conventos de Recife, Goiana e Paraíba obtêm certa autonomia que será o berço da futura província de Pernambuco. Os conventos de Olinda e Nazaré continuam pertencendo à província da Bahia. Olinda foi da reforma, mas voltou a ser da Província.

5- Em 1714 pedem para ter um vigário provincial para poder ter maior autonomia. Obtiveram a licença, mas diante da forte oposição, em 1716 a licença foi revogada. Em 1724 voltaram a pedir obtiveram a licença de ser vicariato. O primeiro vigário Provincial é o frei Miguel da Assunção. Tudo isto foi confirmado pelo Papa Bento XIII em janeiro de 1725. Tinham três conventos (Recife, Goiana e Paraíba) e fundaram uma casa em Lisboa junto à corte real e junto à nunciatura apostólica.

6- De 1725 até 1745 criaram as seguintes seis fundações, chamadas hospícios: Goiana, Paraíba, Coronel, Piedade, Camaragibe, Porto Calvo (Alagoas). Em 1744 conseguiram o decreto de ser província, mas faltava o número necessário de frades membros. Mesmo assim em 1749 foram autorizados pela Santa Sé a ser Província e a fundar “três estações missionais” entre os índios.

7- Em torno do ano 1750, a província da Reforma contava com 112 frades: 81 sacerdotes, 10 professos clérigos, 1 noviço clérigo, 15 irmãos e 5 noviços irmãos. Ao todo, no Brasil havia três províncias com em torno de 500 frades.

3- A Restauração no Século XX

1- Por causa do decreto de Pombal que proibia a entrada de gente nova nas várias Congregações e Ordens, na segunda metade do século XIX foi diminuindo o número dos frades. Dos Franciscanos sobrou um único frade. Dos Carmelitas sobraram três ou quatro.

2- Esta situação levou o Papa a incentivar as Ordens e Congregações na Europa a enviarem missionários para o Brasil. E assim foi feito. A iniciativa do Papa tinha vários objetivos:

*  Renovar a Vida Religiosa

*  Impedir que os bens da Igreja caíssem na mão do Estado

*  Implantar a Reforma de Trento

3- Assim começou o processo da Romanização da Igreja no Brasil e se consolidou o sistema da Cristandade que se caracterizava pela devoção ao Papa, à Nossa Senhora e à Eucaristia.

4- Neste contexto foi feita a restauração da nossa Província.

*  Primeiro, vieram os espanhóis no início dos anos 90 do século XIX, mas não deu certo. Eles Che­garam a reformar o convento de Angra dos Reis para que pudessem servir como Noviciado.

*  Em 1904, a pedido do Padre Geral, vieram os frades da Holanda.