*Por Raíssa França com Cristóvão Santos

Dom Antônio Muniz

A Semana Santa é a celebração da Paixão, Morte e ressurreição de Jesus Cristo. Neste sábado (20) - conhecido como sábado de Aleluia - o entrevistado do Cada Minuto é o arcebispo metropolitano de Maceió, Dom Antônio Muniz que avaliou a participação dos fiéis dentro da Igreja e afirmou que atualmente há mais “qualidade daqueles que participam de tudo aquilo que a Igreja prega”. O arcebispo também comentou sobre os escândalos envolvendo casos de pedofilia e disse que quem cometeu deve ser julgado.

Além disso, dom Antônio também falou sobre a Campanha da Fraternidade 2019 e disse que após o lançamento da Geladeira Solidária, a igreja vai fazer o guarda-roupa e a farmácia solidária para os mais necessitados de Maceió.

Confira a entrevista completa abaixo:

1) Na sua opinião, as pessoas de hoje em dia vivem a “tradição” da Semana Santa? Ou esse número caiu?

Não. Pra ser sincero eu tenho constatado que tem aumentado, mas tem aumentado a qualidade daqueles que participam. Não é por simples tradição, a qualidade significa por convicção. As pessoas têm procurado mais a Igreja e tem participado com muito afinco com tudo aquilo que é proposto pela Igreja para este tempo e também para a vida. As pessoas vivem consciente da fé cristã como necessidade de vida, como uma necessidade quase que básica das pessoas.

2) O senhor acha que com o uso assíduo das redes sociais, as pessoas tiveram mais acesso a palavra de Deus já que alguns padres fazem o uso das mídias e evangelizam, ou o senhor acha que as redes acabam prejudicando os fiéis?

Não, não vejo como atrapalho. Vejo qualificação daqueles que usam esses meios. Afinal de contas entre o meio e a verdade existe uma fake news. É preciso que tenhamos uma consciência muito clara daquilo que estamos consumindo e do que está entrando na nossa vida, entrando no nosso lar. Então é mais ou menos uma qualificação e uma educação que precisa ser feita.

3) Com o cenário atual da política, como o senhor avalia a posição de alguns padres de falarem sobre política para os fiéis dentro da igreja?

Eu acho que precisamos ter uma compreensão ampla e consciente do que seja política. Política é tudo aquilo que diz respeito a vida na cidade. Como nós temos um contingente como os padres - todos moram na cidade - o que eles falam e refletem, muita coisa existe com relação a preocupação a esta vida na cidade, esse coletivo. A emissão de opiniões são difusas e diversas porque elas tratam da vida e a vida é ampla, diferente, a vida não é singular, é plural. O papa, inclusive, orienta que a política é uma auto expressão da caridade cristã. Então para se fazer o bem e a caridade é preciso que se tenha uma consciência política.

4) Como o senhor avalia o impacto da imagem da igreja diante dos escândalos envolvendo toda Igreja Católica?

O escândalo, o próprio evangelho sempre vai dizer que vai acontecer, ai daqueles que tiverem provocado! O escândalo principalmente contra crianças, vulneráveis, pessoas indefesas. Você aproveitar-se dessa situação e provocar um escândalo, aí acho que você precisa ser julgado do ponto de vista teológico, criminal e civil você deve responder pelos seus atos. Acontece isso em um médico, em qualquer classe… acontece por roubo, tudo isto! E as pessoas devem responder por aquilo que fazem, não é a Igreja, também não é a classe. Não são todos os médicos… mas como Igreja precisamos estar atentas e coibir no momento certo. O povo tem entendido e a Igreja, o Papa Francisco, tem entendido muito bem e tem trabalhado sem pausa para tratar esses assuntos.

5) Como surgiu a ideia da geladeira solidária? O senhor pretende expandir para outros bairros?

Se qualquer paróquia ou qualquer outra instituição quiser fazer vai ser sempre bem-vindo. O povo vai dizer ‘muito obrigado’ por esse gesto de solidariedade. Não é uma propriedade privada.. Inclusive, nós copiamos de outros países. Eu, por exemplo, copiei da Bélgica. Outros viram essa iniciativa e isso circula. A ideia vai passando e vamos trabalhando no processo de educação para quem doa e recebe. Para quem doa para lutar contra o desperdício de alimentos e para quem recebe para que não coma sozinho, para que ele saiba partilhar.

6) A campanha da Fraternidade deste ano é sobre políticas públicas. Quais são as propostas para Maceió?

Levantamos algumas propostas: aumentamos o leque do acolhimento das pessoas vulneráveis, drogados, bêbados, a população de rua. A casa Betânia, que acolhe mulheres, passou de 20 para 40; a casa do Cego que acolhia 60 passou para 90. Estamos ampliando aquilo que seria uma política pública na qual somos protagonistas e colaboradores. Criamos como sinal a geladeira solidária para mostrar que faz parte da política pública e não só de caridade. Política que priorize a vulnerabilidade dos seus cidadãos e cidadãs. A gente criando aquilo, estamos mostrando que é possível que a política pública seja pautada pela solidariedade. Aquele que tem muito está oferecendo e disponibilizando para aquele que tem menos e isso pode ser uma norma de ouro para a política pública. Agora depois da Páscoa vamos abrir o guarda-roupa já que o inverno está chegando e vamos fazer um guarda-roupa solidário para que as pessoas que tem um corpo só pra tanta roupa, eles vão disponibilizar para aqueles que estão nus e precisando. Também vamos fazer na linha da saúde a farmácia solidária. Vamos combater o desperdício da comida, mas também o desperdício de remédio que muitas pessoas que não sabem o que fazer com vários remédios. São gestos que podem ser lidos e vivemos como a caridade de Cristo, e que podem inspirar as nossas políticas públicas e assistência social. Fonte: www.cadaminuto.com.br

*estagiário sob a supervisão da editoria