* Dom Vital Wilderink, O . Carm. In Memoriam

                         Ao preparar esta palestra que vocês me pediram, encontrei inspiração em dois artigos que li recentemente. O primeiro na Revista “ 30 dias”, escrito pelo Mons. Giussani, fundador do Movimento Comunhão e Libertação. O segundo no Dicionário de Espiritualidade. Os três temas pedidos: Absoluto, Fraternidade e Missão estão intimamente ligados, como poderão observar no decorrer desta exposição.

I  - O ABSOLUTO  DE  DEUS

 1 . PEREGRINOS DO ABSOLUTO

                        Todos nós, Carmelitas das várias ramificações, de carias famílias, de várias folhas e flores, tivemos desde o início de nossa formação para a vida religiosa um contato mais ou menos profundo com aquilo que se chama Espiritualidade Carmelitana. E este contato se fez através de pessoas ( nossos  formadores ), através também de livros de autores da nossa Ordem. Aos poucos foi  se formando um clima que podemos chamar de clima carmelitano e que nos deu um quadro de referência para interpretarmos a vida espiritual, a vida religiosa, a vida pastoral e a própria vida humana que recebemos como dom de Deus. São coisas imperceptíveis. Não é quadro de referência feito de definições muito claras, muito cartesianas, mas é um clima, cujos fatores preponderantes conseguimos descrever. É mais uma questão de experiência, de vivência, que nós herdamos.

                        Ao percorrer um pouco a Espiritualidade Carmelitana a gente percebe que  há uma insistência na busca do Absoluto. É difícil defini-la, mas quando lemos nossos autores, percebemos sempre esta busca, tanto assim que os carmelitas são chamados: Peregrinos do Absoluto.

                        Tudo aquilo que se diz do carmelita, se aplica também ao cristão. Aí  é que está o critério da autenticidade de uma espiritualidade. Mas é uma questão de clima, do ar que a gente respira, de certas acentuações que sempre voltam de novo e que são revolvidas  como a enxada revolve a terra para fazer  sempre novas descobertas. São coisas que dão sentido à vida pela qual a gente optou quando entrou na vida religiosa.

                        À primeira vista essa busca do Absoluto pode aparecer como um distanciamento daquilo que é relativo, que é histórico. Por isso muitas vezes, quando nos identificam como carmelitas, dizem: “ Carmelita! Lá em cima! Lá nas alturas! Os contemplativos!” Quase como sinônimo de alienados. Depois, conversando, mudam de opinião. A própria contemplação, muitas vezes, é interpretada como  alguma coisa pela qual a gente entra em contato com o Absoluto. E na medida em que vamos entrando em contato com o Absoluto, vamos  nos afastando, nos distanciando daquilo que é relativo, histórico, contingente. É assim que pensam.

                        O que é contingência? A contingência marca profundamente o ser humano. Eu sou contingente porque poderia não ser. A experiência da contingência é algo muito profundo na nossa experiência, no nosso itinerário, na  nossa vida humana. Se a contemplação, como movimento em direção ao Absoluto, for  considerada como algo distanciado do histórico, a missão e a fraternidade seriam como anexos, acessórios e não o motor da vida carmelitana. Seriam meios externos à própria contemplação e deveriam, como meios, como recursos, ajudar aquilo que é principal: a contemplação. Nesta visão porém a fraternidade e a missão ficariam prejudicadas.

                        Que chance tem no nosso mundo hodierno a vida e a espiritualidade  carmelitana que de fato acentua a busca do Absoluto, da contemplação? Que chance temos neste nosso mundo aqui da América Latina que exige de nós uma presença que se debruça sobre as feridas abertas pela pobreza, pela fone, pela perseguição, pela opressão, pela corrupção...? Basta ver todos estes cartazes  sobre a realidade que vocês colocaram aí na parede.       

*Dom Frei Vital Wilderink, O Carm- Eremita Carmelita e 1º Bispo de Itaguaí/RJ - foi vítima de um acidente de automóvel quando retornava para o Eremitério, “Fonte de Elias”, no alto do Rio das Pedras, nas montanhas de Lídice, distrito do município de Rio Claro, no estado do Rio de Janeiro. O acidente ocorreu no dia 11 de junho de 2014. O sepultamento foi na cidade de Itaguaí/RJ, no dia 12, na Catedral de São Francisco Xavier, Diocese esta onde ele foi o primeiro Bispo.