PROF. FELIPE AQUINO

Nasceu no século XIV, dentro de uma família muito conhecida em Florença: a família Corsini. Nasceu no ano de 1302. Seus pais, Nicolau e Peregrina não podiam ter filhos, mas não desistiam, estavam sempre rezando nesta intenção até que veio esta graça e tiveram um filho. O nome: André.

Os pais fizeram de tudo para bem formá-lo. Com apenas 15 anos, ele dava tanto trabalho e decepções para seus pais que sua mãe chegou a desabafar: “Filho, você é, de fato, aquele lobo que eu sonhava”. Ele ficou assustado, não imaginava o quanto os caminhos errados e a vida de pecado que ele estava levando, ainda tão cedo, decepcionava tanto e feria a sua mãe. Mas a mãe completou o sonho: “Este lobo entrava numa igreja e se transformava em cordeiro”. André guardou aquilo no coração e, sem a mãe saber, no outro dia, ele entrou numa igreja. Aos pés de uma imagem de Nossa Senhora ele orava, orava e a graça aconteceu. Ele retomou seus valores, começou uma caminhada de conversão e falou para o provincial carmelita que queria entrar para a vida religiosa. Não se sabe, ao certo, se foi imediatamente ou fez um caminho vocacional, o fato é que entrou para a vida religiosa na obediência às regras, na vida de oração e penitência. Ele foi crescendo nessa liberdade, que é dom de Deus para o ser humano.

Santo André ia se colocando a serviço dos doentes, dos pobres, nos trabalhos tão simples como os da cozinha. Ele também saía para mendigar para as necessidades de sua comunidade. Passou humilhação, mas sempre centrado em Cristo.

Os santos foram e continuam a ser pessoas que comunicaram Cristo para o mundo. Mas Deus tinha mais para André. Ele ordenou-se padre e como tal continuava nesse testemunho de Cristo até que Nosso Senhor o escolheu para Bispo de Fiesoli. De início, ele não aceitou e fugiu para a Cartuxa de Florença e ficou escondido; ao ponto de as pessoas não saberem onde ele estava e escolher um outro para ser bispo, pela necessidade. Mas um anjo, uma criança apareceu no meio do povo indicando onde ele estava escondido. Apareceu também uma outra criança para ele dizendo-lhe que ele não devia temer, porque Deus estaria com ele e a Virgem Maria estaria presente em todos os momentos. Foi por essa confiança no amor de Deus que ele assumiu o episcopado e foi um santo bispo. Até que em 1373, no dia de Natal, Nossa Senhora apareceu para ele dizendo do seu falecimento que estava próximo. No dia da Epifania do Senhor, ele entrou para o céu.

Santo André Corsini, rogai por nós!( Fonte: https://cleofas.com.br)

Noviço fervoroso

André recebeu o hábito do Carmo em 1318. Para experimentar a constância do jovem noviço, foram-lhe confiados os ofícios mais modestos, como varrer o convento, guardar o portão, servir à mesa, lavar pratos e utensílios de cozinha. Tal era seu fervor que considerava isso uma glória. Seus ex-companheiros de prazer, e até mesmo alguns parentes, o ridicularizavam por esse “rebaixamento”. Ele, porém, vivia já num mundo superior, o do silêncio e da oração.

Um dia em que ele guardava a porta do Convento, o demônio lá compareceu para tentá-lo. Apresentando-se como um nobre personagem, bem trajado e acompanhado de vários criados, bateu com força à porta, ordenando imperiosamente:

– Abre depressa! Sou teu parente e não quero que fiques aqui com esses frades maltrapilhos. Esta é também a vontade de teu pai e de tua mãe que te prometeram em casamento a uma linda jovem.

– Foi-me ordenado que a ninguém abrisse a porta. Ademais, não te conheço. Se aqui sirvo esses humildes irmãos, imito Jesus Cristo que se fez homem para nos servir. Foram meus pais que me consagraram a Deus e à Virgem, serviço no qual me rejubilo.

Mudando de tom, disse o importuno visitante:

– Rogo-te, André, abre-me a porta por um instante só. Quero falar contigo de certas coisas… Teu superior nada verá!

– Ainda que o prior nada visse, acima dele está Deus que perscruta os corações. É por amor a Ele que guardo esta porta, para que Ele me guarde e auxilie.

Ainda falando, o noviço fez o sinal da- cruz, e o tentador desapareceu instantaneamente, deixando uma nuvem de fumaça negra e fétida. André deu graças a Deus pela vitória, tornando-se, após vencer a tentação, ainda mais forte e perfeito.

Voando nas vias da santidade

Um ano mais tarde fez os votos solenes e redobrou o fervor  na prática das virtudes, sobretudo da humildade. Seu maior prazer era servir aos outros, especialmente aos enfermos, tendo sempre presente a palavra do Senhor: “O que fizerdes ao menor destes pequeninos, é a Mim que o fazeis”.

Frei André nunca faltava à liturgia das horas santas. Jamais resistia às ordens dos superiores. Quanto mais lhe ordenavam, maior era a alegria que pervadia sua alma. Tinha bem claro que o tempo é dom precioso de Deus, por isso empregava no estudo todos os minutos que lhe restavam do cumprimento das obrigações impostas pela obediência.

Às sextas-feiras, com um cesto pendurado ao pescoço, saía mendigando pela rua principal de Florença. Imagine- se a reação indignada de alguns de seus parentes, todos personagens importantes na cidade! Incitavam os habitantes a escarnecê-lo e a insultá-lo. Ele, porém, após receber as piores injúrias, retirava-se contente, refletindo: “Jesus também foi gravemente injuriado, e, aniquilado pela dor, não se irritava”.

As virtudes são todas irmãs, quando se progride em uma, adianta-se também nas outras. Assim, tendo subido tanto na virtude da humildade, nosso Santo era igualmente exímio na prática da pureza. Fugia de todas as ocasiões de tentação e não tolerava que em sua presença se pronunciassem palavras inconvenientes.

Dom dos milagres

Em várias ocasiões, exerceu em benefício do próximo o precioso dom dos milagres. Um de seus tios sofria de uma doença que lhe corroia as carnes da perna. Para se distrair do incômodo, transformou sua casa em lugar de jogatinas. Visando conquistar para Jesus essa alma, André foi visitá-lo e lhe perguntou:

– Quereis ser curado?

– Vai-te daqui, mendigo, queres zombar de mim!

– Se desejais ser curado, aceitai ao menos um conselho.

A mansidão do Santo abrandou a arrogância do ímpio, que disse:

– Se for possível a minha cura, farei tudo quanto pretenderes.

O frade lhe recomendou jejuar durante seis dias e, no sétimo, rezar sete Pai-Nossos, sete Ave-Marias e uma Salve Rainha.

– Se fizerdes isto, prometo que a gloriosa Virgem obterá de seu Filho vossa cura.

Embora incrédulo e sem devoção alguma, o doente assim fez. No sétimo dia estava curado. Exultante, procurou André para dizer-lhe:

– Sois verdadeiramente um amigo de Deus, meu sobrinho! Nada mais sinto, posso caminhar como um jovem.

Com efeito, suas carnes estavam renovadas. Desde então, mudou de vida, não mais cessando de dar graças a Deus e a sua Imaculada Mãe.

Sacerdote e bispo

Em 1328, André recebeu a ordenação sacerdotal. Os pais haviam preparado tudo para a celebração da sua primeira Missa, a qual pretendiam fosse soleníssima e contasse com a presença de todos os parentes.

Sabendo desta pretensão familiar, o Santo retirou-se para um pequeno convento distante, onde ofereceu a Deus as primícias do sacerdócio, com grande recolhimento e devoção.

Como prêmio, imediatamente após a Comunhão, a Santíssima Virgem lhe apareceu, dizendo: “És meu servo, escolhi- te, e em ti serei glorificada”. Estas palavras penetraram-lhe fundo no coração, tornando-o ainda mais humilde e puro.

Após exercer o ministério da pregação em Florença, estudou três anos na Universidade de Paris e foi aprimorar os estudos com o Cardeal Corsini, seu tio, na cidade de Avignon, então Sede do Papado. Aí Deus operou por sua intercessão a cura de um cego.

De retorno à pátria, foi eleito prior do convento de Florença. Pouco tempo permaneceu nesse cargo. Tendo falecido o Bispo de Fiésole, cidade próxima, o capítulo da Catedral o elegeu para sucessor. Mas o Santo, tomando conhecimento da eleição, ocultou-se num convento dos Cartuxos, na tentativa de fugir de tão perigoso fardo.

Quando os cônegos já iam fazer nova eleição, Deus revelou a um menino o retiro do seu servo. Temeroso de resistir à vontade do Céu, Frei André consentiu então em receber a sagração episcopal, em 1360, aos 58 anos.

Vida mais austera ainda

A elevação à dignidade de Bispo da Santa Igreja produziu uma mudança em seu modo de viver: ele redobrou suas austeridades, acrescentando mais um cinto de ferro sobre o cilício que usava. Por leito, tinha apenas uns ramos de videira estendidos no chão. Recitava diariamente os salmos penitenciais e a ladainha dos santos, submetendo- se a uma rude disciplina. Todo o seu tempo era dividido entre a oração, as funções episcopais e a meditação das Sagradas Escrituras. Com mais rigor ainda, evitava toda ocasião de tentação contra a virtude angélica, e não suportava a presença de lisonjeadores nem murmuradores.

Seus exemplos e sermões produziam tão maravilhosos frutos que logo foi considerado um dos grandes apóstolos da Itália.

Multiplicou os pães

Às quintas-feiras costumava lavar os pés dos pobres, imitando a humildade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Certa vez um deles recusava-se a lhe apresentar os pés, pois estavam cobertos de úlceras. O Santo venceu-lhe a resistência, lavou-os e estes ficaram completamente curados.

Após a cerimônia do lava-pés, nunca despedia os pobres sem lhes amenizar a indigência com uma generosa distribuição de pães. Certa vez em que havia poucos, ele, com uma bênção, os multiplicou e assim pôde satisfazer a todos os necessitados.

Possuía também uma singular aptidão para harmonizar os espíritos divididos, da qual se valeu para apaziguar todas as sedições tanto em sua Diocese quanto em Florença. Informado disto, o Papa Urbano V o enviou como legado a Bolonha, para conciliar as facções que excitavam a nobreza e o povo um contra outro. Santo André restabeleceu a paz nessa cidade, a qual durou enquanto ele viveu.

Caminhou alegre para a morte

Durante a Missa de Natal de 1372, o Santo Bispo sentiu-se acometido de uma febre que logo o dominou. Longe de se alarmar com a proximidade da morte, caminhou em direção a ela com tranqüilidade, e até com surpreendente alegria. Faleceu a 6 de janeiro de 1373, aos 72 anos de idade.

“A fama de santidade que circundou sua vida, após a morte difundiu-se rapidamente na Itália e na Europa”, lembrou S.S. João Paulo II, no 7° centenário de nascimento de Santo André Corsini.

Se Deus o honrou com muitos milagres em vida, a voz do povo o “canonizou” imediatamente após sua morte. O Papa Eugênio IV, posto a par dos efeitos que a intercessão do Santo produzia em toda a região de Florença, autorizou que seus restos mortais fossem expostos à veneração dos fiéis. E Urbano VIII o canonizou em 1629.

(Revista Arautos do Evangelho, Fev/2005, n. 38, p. 22 a 25). Fonte: http://www.arautos.org