Frei Egídio Palumbo O. Carm

             - O deserto como Caminho Pascoal. O Livro I da "Institutio" relê a experiência de Elias no deserto como Caminho Pascoal rumo ao amadurecimento do homem novo segundo o Espírito. O deserto, na realidade, é o lugar (ou situação), onde o Profeta vem deslocado do seu "Eu" enrolado dentro de si mesmo (= "viver segundo a carne"), para concentrar-se em Deus, conformar-se totalmente com a sua Palavra (=viver segundo o Espírito). Este descentralizar-se do seu "Eu" conduz o Profeta à experiência do Deus-Amor: "No  deserto o coração de Elias abrasava-se de amor ardente; na meditação inflamava-se no fogo do Divino Amor(...)". E permanecendo no amor de Deus, o Profeta é alimentado pela Divina Sabedoria, pela sua Palavra; entrega assim "o próprio sustento nas mãos de Deus", visto que procura "em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça" (cf. Mt 6,33).

            - A vida como doxologia: no Capítulo III afirma-se que Elias construiu no Carmelo uma "casa de oração", onde três vezes ao dia se reunia com os seus discípulos para rezar por meio dos salmos. No Capítulo V do Livro VI se diz que os monges do Carmelo eram chamados "profetas" porque salmodiavam: cantavam em louvor de Deus salmos e hinos, acompanhados por instrumentos musicais. Com o advento da Nova Lei, com a chegada de Cristo este  rito  de louvar a Deus com instrumentos  musicais  foi interiorizado, conforme as palavras de Ef 5,18-19.

            Não nos encontramos diante de uma declaração histórica, mas teológico-espiritual: viver como profetas significa fazer vibrar as cordas do Espírito através do nosso estilo de vida; significa fazer da nossa existência um perfeito louvor ao nosso Deus, um culto existencial (Rm 12,1).

            - Os olhos do místico: nos cc.1-4 do Livro VI se relê simbolicamente a página da Bíblia de 1Rs 18,41-44. Foi escrito que no Monte Carmelo - enquanto estava Elias prostrado em oração - Deus lhe tinha revelado o mistério da Encarnação do Verbo no seio da Virgem Maria (figurada pela "nuvenzinha" que sobe do "mar", símbolo da humanidade pecadora).

            A modalidade desta revelação vem descrita através da simbólica do olhar e da simbólica da história. Assim: o profeta envia o seu discípulo  (que  representa  a  comunidade  dos "discípulos de Elias") para olhar por sete vezes(= sete eras da história da salvação) em direção do mar (=humanidade pecadora): é o mesmo que dizer que a comunidade do Profeta Elias perscruta na história da humanidade o sinal da Encarnação do Verbo; tudo isto acontece num contexto de oração, de adoração. Elias está prostrado.

            Usando de uma linguagem diferente da nossa, o autor da "Institutio" quer  comunicar-nos  um  aspecto  profético  da experiência mística: olhar para a história com o olhar de Deus para descobrir aí dentro as "sementes do Verbo". Isto é possível se os nossos olhos forem iluminados pela luz da Palavra de Deus.

*0 CARMELO A SERVIÇO DA NOVA EVANGELIZAÇÃO: Carisma,  Espiritualidade e Missão - apontamentos. - Fraternitá Carmelitana-  Pozzo di Gotto  -  1993. Tradução, Frei Pedro Caxito O.Carm. In Memoriam ( *31/12/1926  +02/09/ 2009 ).