Frei Joseph Chalmers O. Carm.

Invocação

Pedimos a presença do Espírito Santo para que nossa oração esteja de acordo com a vontade de Deus.

Pai, envia teu Espírito Santo para iluminar meu coração a fim de que tua Palavra possa se tornar o centro de minha existência. O profeta Elias apareceu sem nenhuma apresentação para realizar tua vontade em tempos difíceis. Dá-me a sabedoria para conhecer tua vontade e a coragem para colocá-la em prática em todos os momentos de minha vida. Pai, faço esta humilde oração por Jesus Cristo, seu Filho amado, pelo poder do Espírito Santo. Amém.

Texto

Leia o texto atentamente pela primeira vez para compreender o sentido geral e para conhecer a história em detalhes.

1Rs 17,1   “Elias, tesbita, de Tesbi em Galaad, disse a Acab: ‘Pela vida de Iahweh, o Deus de Israel, a quem sirvo: não haverá nestes anos nem orvalho nem chuva, a não ser quando eu o ordenar’.

2 A palavra de Iahweh foi-lhe dirigida nestes termos:

3 ‘Vai-te daqui, retira-te para o oriente e esconde-te na torrente de Carit, que está a leste do Jordão.

4 Beberás da torrente e ordenei aos corvos que te dêem lá alimento’.

5 Elias partiu, pois, e fez como Iahweh ordenara, indo morar na torrente de Carit, a leste do Jordão.

6 Os corvos lhe traziam pão de manhã e carne à tarde, e ele bebi da torrente.”

Os textos bíblicos usados neste livro são tirados da Bíblia de Jerusalém, mas qualquer tradução pode ser usada. As palavras podem ser um pouco diferentes de acordo com a tradução, mas o sentido é o mesmo.

Os textos bíblicos usados neste livro são tirados da Bíblia de Jerusalém, mas qualquer tradução pode ser usada. As palavras podem ser um pouco diferentes de acordo com a tradução, mas o sentido será o mesmo.

Ler

Qual o significado desse texto? Para compreender do que se trata , é importante ler também alguns versículos anteriores que resumem a lei do Rei Acab. Assim entenderemos a razão para as palavras e ações do profeta.

1Rs 16,29-34:

Introdução ao reinado de Acab (874-853)

29 Acab, filho de Amri, tornou-se rei no trigésimo oitavo ano de Asa, rei de Judá, e reinou vinte e dois anos sobre Israel, em Samaria.

30 Acab, filho de Amri, fez o mal aos olhos de Iahweh, mais do que todos os seus antecessores.

31 Como se não lhe bastasse imitar os pecados de Jeroboão, filho de Nabat, desposou ainda Jezabel, filha de Etbaal, rei dos sidônios, e passou a servir Baal e adorá-lo;

32  erigiu-lhe um altar no templo de Baal, que construiu em Samaria.

33 Acab erigiu também um poste sagrado e cometeu ainda outros pecados, irritando Iahweh, Deus de Israel, mais que todos os reis de Israel que o precederam.

34 No seu tempo, Hiel de Betel reconstruiu Jericó, pelo preço de seu primogênito Abiram lançou-lhes os fundamentos e pelo preço de seu último filho Segub assentou-lhes as portas, conforme a predição que Iahweh fizera por intermédio de Josué, filho de Nun.”

O primeiro livro dos Reis faz parte de uma história maior. O interesse dessa história é explicar porque a monarquia não obteve êxito em Israel. De acordo com essa visão do autor dos textos sagrados, os reis de Israel não eram fiéis a Deus. A monarquia tentou transformar Iahweh num deus nacional a serviço do reino e de seus interesses. De acordo com o autor, o rei Acab, assim como seu pai, era um inimigo de Deus e da verdadeira religião.

A biografia de Elias, uma das fontes utilizadas pelo autor, deve ter começado com a apresentação do profeta. O autor dos livros dos Reis omite essa parte introdutória porque seu interesse é despertar a fé e não responder à curiosidade humana. Ele nos apresenta o profeta subitamente ao anunciar a longa seca ao rei Acab. Elias entrou em cena num momento crítico na luta contra o sincretismo religioso. Acab, rei de Israel, casou-se com Jezabel, a princesa de Tiro. A religião dela era o baalismo, que se baseava na idéia de que de alguma forma os seres humanos se relacionam e acalmam as forças misteriosas que os rodeiam. Eles faziam isso através de um ritual e esses poderes eram muitas vezes personificados e apresentados como deuses (baal). O rei Acab permitiu que Jezabel e seus servos continuassem a praticar sua religião em Israel. Construíram um templo dedicado a Baal em Samaria (1Rs 16,32). Salomão agiu da mesma forma com suas esposas estrangeiras (1Rs 11,1-8). No entanto, Jezabel era bem diferente das esposas de Salomão. Ela mantinha 450 profetas de Baal e 400 profetas de Aserá (o ídolo feminino) (1Rs 18,19). Havia muito mais profetas do que a rainha precisava para suas devoções pessoais e não há dúvida de que o trabalho desses profetas era a propagação de sua fé entre os israelitas. Jezabel estava decidida a substituir Iahweh por Baal e a livrar-se da religião tradicional de Israel.

Num determinado momento, Jezabel começou a perseguir os seguidores de Iahweh. Ela obteve sucesso no sentido de que a oposição foi forçada a esconder-se, mas um ódio profundo começa a se instaurar nos corações dos israelitas. Foi o profeta Elias quem cristalizou a oposição a Jezabel.

Então, Elias apareceu em cena sem qualquer apresentação anterior para proclamar o julgamento de Deus nessa situação de apostasia. Elias anunciou ao rei Acab o início de uma grande seca como punição divina por sua ligação obstinada ao culto de Baal. Talvez não fosse uma punição, mas um sinal de que era Deus e não Baal que providenciava a chuva, tão necessária para as colheitas e para a própria vida. Baal era o deus da fertilidade e da chuva de acordo com seus seguidores. Com o anúncio da seca, Elias proclamou que Iahweh era Deus em Israel e apenas Ele poderia garantir a chuva para o crescimento da colheita. Isso era o equivalente a uma declaração de guerra!

O nome Elias, que significa “Iahweh é meu Deus”, nos diz muito sobre ele. De acordo com o livro do Êxodo (20,3), Deus não admitirá outros deuses diante dele. Elias é fiel à antiga aliança com Iahweh, o Deus de Israel. O conceito de aliança que Deus fez com algumas pessoas (Noé, Abraão etc) e com todo o povo escolhido, é fundamental para a Bíblia. Uma aliança era um laço que unia Deus e seu povo. Por toda a Bíblia a frase que descreve a natureza da aliança é: “Tomar-vos-ei por meu povo, e serei o vosso Deus” (ex. Ex 6,7). Elias é o servo de Iahweh, o Deus que fez uma aliança com o povo de Israel. Deus é sempre fiel e exige fidelidade de seu povo.

Na mentalidade da época, a seca era interpretada como uma punição de Deus pelos pecados de infidelidade. Após a descrição do reinado de Acab com todos os seus pecados, Elias aparece para anunciar a seca como punição de Deus. Depois desse anúncio, Elias recebe a ordem de Deus para se dirigir ao leste, onde encontraria o suficiente para comer e beber. Parece que a vida do profeta está em perigo. Deus ordenou que os corvos alimentassem Elias. De acordo com a Bíblia, os corvos são criaturas impuras (Lv 11,15; Dt 14,14) e os bons israelitas não poderiam tocá-los. Alguns exegetas sugerem que a palavra “corvos” também poderia ser traduzida como “árabes”. Em hebraico não há muita diferença entre as palavras “árabes” e “corvos”. Sem dúvida, receber alimento de corvos é miraculoso, mas seria menos miraculoso se, em vez de corvos, os árabes alimentassem o profeta?

Refletir

Releia o texto de 1Rs 17,1-6.

O que Deus quer nos dizer nesse momento através do texto? Para ajudar nossa reflexão e a aplicação da Palavra de Deus a nossa vida, proponho algumas perguntas. Isso não é um teste. Não há resposta certa ou errada. Suas respostas podem ajudá-lo a aprofundar seu relacionamento com Deus. Não se apresse em responder cada pergunta:

  1. Como você se sentiu diante do poder de Deus que o profeta Elias mostrou quando anunciou a seca?
  2. A Palavra de Deus foi até Elias. Como Deus fala a você?
  3. Elias é o servo de Iahweh. Como você serve a Deus?
  4. O profeta Elias seguiu o mandamento de Deus para sair e se esconder perto da torrente de Carit. Que decisões você tomou para mudar de direção em sua vida de acordo com o que você acreditava ser a vontade de Deus?
  5. Deus ordenou que os corvos (árabes?) alimentassem o profeta. Como e quando você experimentou a Providência de Deus?
  6. Como você se sente diante dessas perguntas?

Responder

O que seu coração quer dizer a Deus agora? O que você sente? Você está zangado com Deus? Você quer mudar sua vida? Talvez você esteja satisfeito com seus preconceitos ou talvez esteja agradecido por tudo que Deus fez por você. Não existe sentimento inaceitável. A oração é um relacionamento com Deus e todo relacionamento é diferente. Nos salmos encontramos uma grande variedade de emoções humanas em relação a Deus. Podemos encontrar diversas orações na Bíblia ou na tradição cristã. Talvez algumas das palavras abaixo respondam ao que você sente.

“A Vós, ó Deus, louvamos,

a Vós, Senhor, cantamos.

a Vós, Eterno Pai,

adora toda a terra.

A Vós cantam os anjos,

Os céus e seu poderes

Todos os querubins e serafins

Vos evocam  numa canção sem fim:

Santo, Santo, Santo,

Senhor, Deus do universo!

Proclamam céus e terra

A vossa imensa glória”.[1]

É importante que você dê algum espaço a si mesmo para que seu coração tenha a oportunidade de falar diretamente com Deus com suas próprias palavras, mesmo se elas não forem tão bonitas como aquelas da Bíblia ou da Igreja.

Repousar

Existe uma fome profunda no coração humano. Nada é o suficiente. Sempre buscamos algo mais. Apenas Deus pode satisfazer a fome infinita do coração humano. A tragédia da existência humana é que sempre tentamos aplacar essa necessidade crescente com o que não é Deus. Todas essas coisas satisfazem apenas parcialmente e por um curto período de tempo, mas não para sempre.

O profeta Elias é o pai espiritual da Ordem Carmelita no sentido de que a Ordem vê nele uma inspiração para viver fielmente de acordo com a vontade de Deus. Toda a espiritualidade carmelitana está voltada para a transformação. Transformar-se significa fazer o possível para atingir o que fomos criados a ser nesta terra. Cristo é o protótipo de uma nova humanidade. Nossa tarefa é nos tornarmos como ele e encarnarmos algum aspecto do divino na natureza humana. Desta forma, cooperamos na transformação de nosso mundo. Contudo, não podemos fazer coisa alguma sem ele: é ele quem realiza nossa transformação, mas não sem nossa colaboração. A transformação é um mistério que tem a ver com o que acontece no coração do ser humano, que colabora com Deus para tornar-se um novo homem ou uma nova mulher, obra-prima de Deus. O que acontece no coração deve surtir efeito em como a pessoa vive sua vida diariamente.

O objetivo final da Lectio Divina é estar tão amadurecido na amizade com Jesus a ponto de seus valores tornarem-se nossos valores e começarmos a ver com os olhos de Deus e a amar com o coração de Deus. Uma amizade autêntica com Deus deve ser expressa num compromisso de servir aos outros de algum modo.

Existe algo trágico na condição humana. Os escritores da Bíblia chamam de “A Queda” e atribuem todos os problemas do mundo ao pecado humano. Qualquer que seja a razão, há sem dúvida algo errado, algo que destrói mesmo as melhores intenções. Nascemos com instintos naturais que, com o passar dos anos, tornam-se necessidades vorazes. Por exemplo, nascemos com uma necessidade de sermos amados, de termos algum controle sobre nossas vidas e, simplesmente, sobreviver tanto no nível físico quanto no psicológico. As necessidades humanas básicas entram facilmente em conflito com outras pessoas e suas necessidades. Existe um egoísmo profundo em todo ser humano que, se não for controlado, nos aprisionará. Esses instintos, junto com o condicionamento da cultura e do ambiente social que recebemos ao crescermos, irão formar nosso falso eu.[2]  Existem várias formas de descrever e explicar o falso eu. É através de nosso falso eu que tentamos nos salvar em vez de confiarmos em Deus que pode nos salvar sozinho.

O falso eu leva à miséria e à morte, por isso a transformação é essencial. A jornada espiritual leva à transformação, que é a morte do falso eu e o nascimento do verdadeiro eu, feito à imagem e semelhança de Deus. Trata-se realmente de uma questão de vida e de morte porque aquele que busca salvar sua vida, vai perdê-la, mas aquele que perde sua vida por causa de Deus, vai salvá-la (Mt 10,39; Mc 8,35; Lc 9,24).

Começamos a jornada de nossa transformação quando respondemos a Deus que nos convida a refletir seriamente sobre nosso relacionamento com Ele. Também podemos deixar passar alguns anos. São anos de preparação para essa jornada do espírito na qual devemos tentar e tentar novamente, alcançar uma compreensão de nossa verdadeira necessidade espiritual. Talvez recebamos diversas “chamadas para despertar” durante nossa vida, várias chamadas de Deus, eventos que nos sacodem, que nos indicam o que Deus quer de nós.

O que acontece quando decidimos levar Deus a sério? Num famoso exemplo, Santa Teresa d’Ávila descreve o ser humano como um castelo composto de muitas moradas.[3]  A porta do castelo é a oração e parece que muitas pessoas não vão além da porta. As primeiras moradas do castelo são chamadas de salas de autoconhecimento[4], que deve acompanhar cada passo da jornada espiritual. De acordo com Santa Teresa, a humildade significa “caminhar na verdade”[5], conhecer e aceitar a verdade sobre nós mesmos. O autoconhecimento não é fácil e muitas vezes preferimos permanecer numa situação de profunda auto-ilusão. Nossa vocação é sermos transformados por Deus para nos tornarmos como Deus, aprendendo a ver com os olhos de Deus e a amar com um coração divinizado. Eu fui chamado a percorrer esse caminho de transformação como um frade carmelitano. Cada um de nós tem seu próprio caminho a percorrer e uma vida a viver. Deus nos conhece profundamente. Nosso chamado, seja como casados, solteiros, sacerdotes, religiosos, é o caminho que devemos percorrer para chegarmos à nossa transformação.

O falso eu, que nos envolve como um casulo, deve ser destruído para que possamos experimentar a liberdade de filhos e filhas de Deus. O primeiro passo é reconhecer e aceitar o que realmente somos, caso contrário continuaremos a viver num mundo de ilusão. O falso eu é um perito em disfarces. A vida na família ou na comunidade revela quem você é porque você não pode se esconder quando vive com outras pessoas. Talvez durante o período de namoro a pessoa possa apresentar seu melhor lado, mas após o casamento, o outro lado começa a se impor. É muito melhor quando o marido e a mulher se comprometem mutuamente com a jornada espiritual porque assim, cada um será capaz de compreender as dificuldades que o outro tem que enfrentar. Tomara que todos os membros numa comunidade religiosa estejam comprometidos em percorrer o caminho espiritual.

Podemos nos cercar de todos os tipos de desculpas quanto ao modo como vivemos ou quanto ao modo como agimos em determinadas situações. Essas desculpas são comuns e nos acostumamos a rejeitar o que Deus nos pede de tal modo que não percebemos mais a contradição.

O falso eu nos convence que estamos certos e que algumas propostas do Evangelho não se aplicam a nós. Deus está sempre presente, mas temos o poder de impedir a ação do Espírito. É isso que o falso eu quer, pois ele compreende intuitivamente que seguir o Espírito será sua destruição. Deus nos transforma diariamente e não apenas quando estamos engajados naquilo que consideramos como atividades sagradas. Temos que cooperar diariamente. Não basta apenas dizer poucas ou muitas orações. Devemos colocar a vontade de Deus em ação nos mínimos detalhes de nossas vidas.

Começamos a reorganizar nossas vidas de acordo com a mensagem de Jesus Cristo lentamente. Deixamos para trás o pecado grave e isso não é fácil, mas o sofrimento em fazer isso logo será inundado pela alegria inicial de seguir Cristo. Ao nos acostumarmos a viver uma vida cristã, existe o perigo de cair na rotina. Se desejarmos realmente seguir a vontade de Deus e colocá-la em prática, encontraremos obstáculos e o falso eu se rebelará contra toda tentativa de ataque contra ele. Esse conflito interior provoca dificuldades e obscuridade. Esse pode ser um tempo de sofrimento, mas devemos permanecer fiéis. Deus curará as feridas causadas pelo falso eu e nos libertará para que nos tornemos tudo que Deus nos criou a ser.

Quais são esses obstáculos? O falso auto-sistema baseia-se na mentira de que podemos alcançar a felicidade perfeita se recebermos estima suficiente, se controlarmos nossa vida e nos sentirmos seguros. Supondo que fomos criados com uma capacidade infinita, buscamos quantidades infinitas de afeição, de segurança e de controle. Quando tentamos mudar nosso enfoque das coisas terrenas para questões religiosas, o falso eu também começa a mover-se na mesma direção e sente-se perfeitamente à vontade numa situação religiosa. Entretanto, o falso eu está sempre centrado nele mesmo onde quer que se encontre.

Devemos sempre lembrar que Deus nos ama e faz tudo para nosso crescimento e transformação. Quando encontramos dificuldades no caminho, é importante tentar ver a mão de Deus em ação. O que Deus diz diante das situações em que nos encontramos? Podemos aprender algo sobre nós mesmos através de nossas respostas aos problemas da vida?

Precisamos de períodos de silêncio ao deixarmos de lado todas as nossas preocupações e ouvirmos a voz de Deus que, muitas vezes, nos fala sem palavras. Devemos ficar muito tranqüilos para discernir o que Deus está nos dizendo. Agora sugiro que você reserve um momento para a oração. O Apêndice I possui algumas pistas para a “oração do silêncio”. Outro termo para essa forma de oração é “oração em segredo”, no sentido do Evangelho de Mateus: “Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechando tua porta, ora ao teu Pai que está lá, no segredo; e o teu Pai, que vê no segredo, te recompensará” (Mt 6,6).

Agir

A oração não é uma prática isolada. Ela deve surtir algum efeito em nossa vida. O fruto da oração pode ser percebido em nossa vida diária, em como tratamos habitualmente aqueles que vivem conosco, com quem trabalhamos ou aqueles que encontramos casualmente. São Paulo descreve o fruto do Espírito Santo na vida da pessoa. Se nossa oração é autêntica, este fruto crescerá dentro de nós: “Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio. Contra estas coisas não existe lei” (Gl 5,22-23).

A partir de nossa leitura da Palavra de Deus ou a partir de nossa oração, algumas palavras ou frases talvez o toquem e o acompanhem durante o dia para lembrá-lo da presença de Deus. A oração deve estar encarnada na realidade diária. Existe dentro de nós algo equivalente a uma fita cassete ou cd. Essas fitas ou discos contém a memória de tudo que vivemos assim como de nossas reações diante desses eventos. Já mencionei que o processo da contemplação transforma o coração humano e nos dá outra perspectiva, que é a perspectiva de Deus. Antes de pensarmos em ver a partir da perspectiva da Deus, seria interessante tentar ver o mundo a partir da perspectiva de outra pessoa. Isso é impossível, mas a tentativa nos ajuda a emergir de nossa solidão e egoísmo e, pelo menos, começar a compreender porque alguém age de certa forma. Essas fitas internas tecem comentários em todas as situações em que nos encontramos. Esses comentários estão normalmente a nosso favor e contra os outros.

Podemos usar uma frase ou palavra da Bíblia para reescrever o disco interno junto com um comentário positivo em vez daquele que sempre usamos. Deixe essa frase ou palavra ecoar dentro de você durante o dia, especialmente nos momentos de dificuldade ou quando você se sentir tentado a responder a alguém com raiva ou ironia.

Talvez uma palavra ou uma frase surja espontaneamente a partir de sua própria oração. Se isso não acontecer, você deve escolher alguma palavra do texto bíblico que estamos usando para oração, para recordar durante o dia. Por exemplo:

“o Deus de Israel, a quem sirvo”;

“a Palavra de Iahweh veio a mim”;

“saia daqui”;

“ele fez como Iahweh disse”.

O mais importante é lembrar da presença de Deus durante os altos e baixos do dia a dia. Permita que seu relacionamento com o Senhor penetre em toda sua vida.

O profeta Elias respondeu com fé à ordem de Deus. A fé nem sempre é fácil. Ela nos ajuda a ver o mundo e a reagir a ele como Deus. Em sua carta aos Romanos, São Paulo nos ensina no que implica uma vida de fé:

“9 Que vosso amor seja sem hipocrisia, detestando o mal e apegados ao bem;

10 com amor fraterno, tendo carinho uns para com os outros, cada um considerando o outro como mais digno de estima.

11 Sede diligentes, sem preguiça, fervorosos de espírito, servindo ao Senhor,

12 alegrando-vos na esperança, perseverando na tribulação, assíduos na oração,

13 tomando parte nas necessidades dos santos, buscando proporcionar a hospitalidade.

14 Abençoai os que vos perseguem; abençoai e não amaldiçoeis.

15 Alegrai-vos com os que se alegram, chorai com os que choram.

16 Tende a mesma estima uns pelos outros, sem pretensões de grandeza, mas sentindo-vos solidários com os mais humildes: não vos deis ares de sábios.

17 A ninguém pagueis o mal com o mal; seja vossa preocupação fazer o que é bom para todos os homens,

18 procurando, se possível, vivei em paz com todos, por quanto de vós depende” (Rm 12,9-18).

O que você precisa fazer para viver sua fé em Deus hoje?

*Do livro, O Som do Silêncio, de Frei Joseph Chalmers O. Carm. Ex- Prior Geral  da Ordem do Carmo.

[1] Te Deum, oração tradicional da Igreja.

[2] Ver Thomas Keating, Invitation to Love, (Element, Massachusetts & Dorset, 1992), caps. 1-4, e Elizabeth Smith e Joseph Chalmers, A Deeper Love, cap. 8.

[3] Castelo Interior, em Obras completas de Santa Teresa d’Ávila.

[4] Castelo Interior, I, 1-2.

[5] Castelo Interior, VI, 10,7.