Frei Joseph Chalmers O. Carm.

Invocação

Ó Pai Misericordioso, tens um cuidado especial para com os pobres e os que sofrem. Teu profeta Elias rezou pela vida do filho da viúva e foi ouvido. Aceita agora meu pedido pela presença de teu Espírito durante este momento de oração e também em minha vida diária, a fim de que a Palavra possa estar sempre em meus lábios e em meu coração. Faço esta oração em nome de Cristo nosso Senhor. Amém.

Texto

Leia o texto atentamente pela primeira vez para compreender o sentido geral e para conhecer a história em detalhes.

1Rs 17,17  Depois disso, aconteceu que o filho dessa mulher, dona da casa, adoeceu e seu mal foi tão grave que ele veio a falecer.

18 Então ela disse a Elias: “Que há entre mim e ti, homem de Deus? Vieste à minha casa para reavivar a lembrança de minhas faltas e causar a morte do meu filho!”

19 Ele respondeu: “Dá-me teu filho.” Tomando-o dos braços dela, levou-o ao quarto de cima onde morava e colocou-o sobre seu leito.

20 Depois clamou a Iahweh, dizendo: “Iahweh, meu Deus, até a viúva que me hospeda queres afligir, fazendo seu filho morrer?”

21 Estendeu-se por três vezes sobre o menino e invocou Iahweh: “Iahweh, meu Deus, eu te peço, faze voltar a ele a alma deste menino!”

22 Iahweh atendeu à súplica de Elias e a alma do menino voltou a ele e ele reviveu.

23 Elias tomou o menino, desceu-o do quarto de cima para dentro da casa e entregou-o à sua mãe, dizendo: “Olha, teu filho está vivo.”

24 A mulher respondeu a Elias: “Agora sei que és um homem de Deus e que Iahweh fala verdadeiramente por tua boca!”.

Ler

Esse texto nos fala de um desafio ainda maior para Deus. Deus já alimentou Elias através dos corvos ou dos árabes, e através dos serviços da viúva, mas agora o que Deus pode fazer diante da morte? Muitos povos antigos pensavam que a morte era um deus, mas esse relato mostra que não existe outro deus a não ser o Senhor. O verdadeiro Deus é o Senhor da vida!

Esse relato acentua a reputação do profeta e estabelece a autoridade de sua palavra. A viúva interpreta a morte de seu filho como uma punição pelos pecados. Essa era a mentalidade da época, também presente no Novo Testamento (cf. Jo 9,2). A viúva pensa que a presença do homem de Deus fez com que Deus lembrasse de seus pecados. Elias se estende sobre o menino. Esse gesto, análogo aos que foram realizados pelo profeta Eliseu (2Rs 4,34) e por São Paulo (At 20,10), simboliza a volta do poder doador da vida de Deus, o verdadeiro artífice do milagre.

No Novo Testamento, o profeta Elias é visto como o precursor de Jesus. Explicita ou implicitamente, o ministério de Elias é visto como um modelo para o ministério de Jesus. Como exemplo, vejamos o milagre de Jesus quando ele ressuscita o filho da viúva de Naim:

“Ele foi em seguida a uma cidade chamada Naim. Seus discípulos e numerosa multidão caminhavam com ele.

12 Ao se aproximar da porta da cidade, coincidiu que levavam a enterrar um morto, filho único de mãe viúva; e grande multidão da cidade estava com ela.

13 O Senhor, ao vê-la, ficou comovido e disse-lhe. ‘Não chores!’

14 Depois, aproximando-se, tocou o esquife, e os que o carregavam pararam. Disse ele, então: ‘Jovem, eu te ordeno, levanta-te!’

15 E o morto sentou-se e começou a falar. E Jesus o entregou à sua mãe.

16 Todos ficaram com muito medo e glorificavam a Deus, dizendo: ‘Um grande profeta surgiu entre nós e Deus visitou o seu povo’.

17 E essa notícia difundiu-se pela Judéia inteira e por toda a redondeza” (Lc 7,1-17).

Refletir

Releia a história de 1Rs 17,17-24.

Aqui estão algumas perguntas que nos ajudarão a refletir sobre o texto. A pergunta fundamental é sempre: o que esse texto significa para mim ou o que Deus está me dizendo nesse momento em especial da minha vida através desse texto?

  1. Você já perdeu alguém bem próximo? Como isso afetou seu relacionamento com Deus?
  2. Você já passou por uma doença grave? Como você se relacionou com Deus durante e após essa experiência?
  3. Que importância você dá a seus pecados? Você acha que eles são um impedimento em seu relacionamento com Deus?
  4. Seu modo habitual de rezar lhe diz alguma coisa sobre seu relacionamento com Deus? Você acha que tem um relacionamento íntimo ou distante de Deus?
  5. Você acha que sua oração foi ouvida? Como você se sentiu quando recebeu uma resposta de Deus?
  6. Você já esteve na presença de um amigo de Deus? Como essa experiência o afetou?

Responder

Que resposta seu coração quer dar a Deus? Talvez uma oração da Bíblia ou da Tradição Cristã possa nos ajudar. Contudo, é sempre bom usar suas próprias palavras. Eis uma oração tirada dos salmos:

Quando te invoco, responde-me, meu justo Deus! Na angústia tu me aliviaste: tem piedade de mim, ouve a minha prece!

3 Ó homens, até quando tereis o coração pesado, e amareis o nada, e buscareis a ilusão?

4 Sabeis que Iahweh faz maravilhas para seu fiel: Iahweh ouve quando eu o invoco.

5 Tremei e não pequeis, refleti no vosso leito e ficai em silêncio.

6 Oferecei sacrifícios justos e confiai em Iahweh.

7 Muitos dizem: “Quem nos fará ver o bem?” Iahweh, levanta sobre nós a luz da tua face.

8 Puseste em meu coração mais alegria do que quando seu trigo e seu vinho transbordam.

9 Em paz me deito e logo adormeço, porque só tu, Iahweh, me fazes viver em segurança (Sl 4,2-9).

Repousar

Continuar na jornada espiritual nos introduz num longo processo onde Deus nos recria de acordo com a imagem do Filho. A destruição do “velho eu” é dolorosa, mas o nascimento de um “novo eu” significa que tudo valeu a pena. Se o casulo ou o ovo pudesse sentir, ele certamente não gostaria de ser quebrado. Mas se não fosse quebrado, a borboleta ou a ave não nasceria. Purificação é um outro nome para esse processo. Somos purificados para que possamos receber Deus, que deseja nos preencher com a vida divina. Contudo, somos muito fracos para receber esse dom inestimável. Deus purifica gradualmente nossos sentidos espirituais para nos abrir à vida divina. Na jornada espiritual existem altos e baixos, momentos de luz e de sombras, de força e de fraqueza. Devemos ter paciência e perseverança quando Deus está dando os últimos retoques à obra de arte que é nossa vida. Muitos artistas não gostam de revelar seu trabalho antes de tê-lo terminado. Deus age assim conosco. Normalmente Deus não permite que vejamos o que Ele está realizando em nossas vidas. A oração do silêncio (ver Apêndice I) nos ensina a reservar um espaço para que Deus possa continuar trabalhando em nós, confiantes de que a obra das mãos de Deus será boa. Olhando para a criação, Deus viu que tudo era bom (Gn 1,31a).

Ao libertarmos nossas próprias vidas, podemos repousar em Deus e dar mais espaço à ação divina. A purificação em nossas vidas será lenta. Pois, ao nos tornarmos mais conscientes da presença e da ação de Deus em nossas vidas como a fonte de toda felicidade, estaremos preparados para desmanchar o falso eu que percebemos agora como um grande fardo. Depositamos nossa esperança de felicidade no falso eu. Agora, pouco a pouco, há um desenvolvimento gradual de um auto-esquecimento e de um auto-abandono progressivo, confiando no poder de Deus que nos leva à plenitude da vida humana. Tudo que gostamos ou não, nossos desejos, emergem lentamente numa submissão radical à vontade de Deus, não apenas durante a oração, mas também em toda nossa vida.

Nossas idéias, opiniões e palavras sustentam nosso falso eu e usamos isso para nos convencer de que estamos sempre certos. Há um tempo para deixarmos de lado nossas palavras, até mesmo as mais belas, e nossos pensamentos, mesmo os mais santos. No entanto, é difícil permanecer em silêncio sem pensar em algo em particular. O método de oração apresentado no Apêndice I pode nos ajudar a permanecer em silêncio e a não seguir qualquer distração. O silêncio pode ser vazio e isso não tem um significado cristão, mas o silêncio também pode estar repleto de significado se temos o desejo de estar na presença de Deus e de consentirmos com a ação purificadora e transformadora de Deus diariamente em nossas vidas.

Quando tentamos permanecer em silêncio por algum tempo, estamos sujeitos a distrações. Na oração em segredo, usamos uma palavra sagrada[1]  para voltarmos nosso coração para Deus quando pensamos em outra coisa. A oração em segredo é uma oração de intenção e não de atenção, o que deve ser levado em conta é a vontade e não a imaginação. É importante não julgar nossa própria oração. Se tentarmos rezar com um bom motivo, de estar na presença de Deus aberto à ação divina, essa é a verdadeira oração, mesmo se sentirmos que foi uma completa perda de tempo. Deus pode usar nosso desejo para nossa saúde espiritual. Apenas Deus pode julgar o coração humano e se estamos realmente rezando.

Sugiro que você veja as orientações para a oração em segredo no Apêndice I e tente passar vinte minutos aproximadamente em silêncio. Se você começar a pensar em alguma coisa, volte seu coração mais uma vez para Deus com a palavra sagrada, que é uma palavra curta, sagrada para você, que age como um símbolo de sua intenção de estar na presença de Deus e de seu consentimento com a ação divina em sua vida.

Agir

Apresentamos algumas sugestões de frases tiradas do texto que você pode usar durante o dia como uma lembrança da presença de Deus, mas é sempre melhor usar qualquer coisa que tenha um significado para você:

“homem de Deus?”;

“clamou a Iahweh”;

“Iahweh, meu Deus”;

“eu te peço”;

“teu filho está vivo”;

“a Palavra de Deus é a verdade”;

“Iahweh ouviu sua oração”.

Uma boa árvore produz bons frutos. Se formos fiéis à prática da oração como um relacionamento com Deus, ela produzirá bons frutos em nossa vida. Muitas vezes não experimentamos coisa alguma durante a oração, mas devemos escutar e estarmos atentos à atividade de Deus em todos os momentos de nossa vida. Na história da ressurreição do filho da viúva, o profeta Elias rezou com grande fervor pelo menino. Você se lembra de alguém em especial hoje? Carregue essa pessoa (ou pessoas) em seu coração durante o dia e lembre-se de rezar por ela. Não se esqueça de que Deus está bem perto e sempre escuta o que você diz. “Se alguém me ama, guardará minha palavra e o meu Pai o amará e a ele viremos e nele estabeleceremos morada” (Jo 14,23).

*Do livro, O Som do Silêncio, de Frei Joseph Chalmers O. Carm. Ex- Prior Geral  da Ordem do Carmo.

[1] Para o conceito “palavra sagrada” neste método de oração, ver especialmente Thomas Keating, Open Mind, Open Heart, cap. 5 & Elizabeth Smith e Joseph Chalmers, A Deeper Love, pp. 36-53.