Frei Carlos Mesters, O. Carm.

São Simão Stock, Superior Geral da Ordem

Os problemas da vida não se resolvem por decreto. As dificuldades continuavam sem solução. Em 1251 Simão Stock, um carmelita da Inglaterra, era o Superior Geral da Ordem. Ele era a favor da nova forma de vida religiosa como mendicantes. Queria que a Ordem estivesse a serviço do povo nas cidades da Europa. Mas não foi fácil para ele manter todos os frades neste novo rumo. Um grande grupo continuava achando que se devia voltar a viver na solidão. Tanto assim, que uns vinte anos depois, no Capítulo Geral de 1272, foi eleito como Superior Geral frei Nicola, chamado o Gálico (francês), que queria que a Ordem seguisse o rumo dos eremitas na solidão. Mas Nicola não teve a aprovação do conjunto dos frades. Ele mesmo não aguentou e renunciou ao mandato. Voltou para o eremitério na ilha de Chipre, onde expressou seu desgosto numa carta chamada "Ignea Sagitta", Flecha de Fogo.

Tudo isto mostra que as dificuldades, tanto internas como externas, eram grandes. Pois até hoje, não é fácil manter o equilíbrio entre ação e contemplação, entre vida de oração no mosteiro e ação pastoral nas cidades, entre vida contemplativa e vida ativa. Simão Stock, para poder enfrentar as dificuldades e resolver os problemas, recorria a Nossa Senhora e insistia em dizer aos confrades: "Temos a veste de Nossa Senhora, somos os seus irmãos, ela é nossa mãe e irmã. Ela nos vai ajudar".

A ele se atribui esta oração tão bonita que rezamos até hoje:

Flor do Carmelo,

Videira florida,

Esplendor do céu,

Virgem Mãe,

Singular,

Doce Mãe,

Mas sempre virgem,

Aos Carmelitas dá os teus favores

Ó Estrela do Mar.

 

Flos Carmeli

Vitis florigera

Splendor coeli

Virgo puerpera

Singularis

Mater Mitis

Sed viri nescia

Carmelitis da privilegia

Stella Maris

A entrega do Escapulário e a grande promessa

Conta a história que Simão Stock teve uma visão, em que Nossa Senhora lhe apareceu, entregou a ela o escapulário e lhe disse: "Recebe, diletíssimo filho, este escapulário da tua Ordem, sinal de minha fraternidade, como privilégio para ti e para todos os carmelitas: quem morrer com ele revestido não padecerá do fogo do inferno".

Isto aconteceu no ano de 1251. A partir da divulgação desta visão de Nossa Senhora no meio dos frades, o Escapulário tornou-se para eles uma fonte de animação para poder enfrentar todas aquelas dificuldades na segunda metade do século XIII (1250 a 1300). E de fato, estimulados pela fé na proteção de Nossa Senhora, eles não desanimaram. Muito pelo contrário! Conforme os cálculos feitos pelo historiador frei Emanuel Boaga, lá pelo anos de 1300, já havia mais de 150 comunidades Carmelitas espalhadas pelos vários países da Europa. Sinal evidente da proteção de Nossa Senhora. Sinal igualmente de que aqueles primeiros Carmelitas souberam viver e irradiar o carisma do Carmelo e apresentá-lo como ideal atraente para a juventude da época.

Foi a partir da divulgação da visão de Nossa Senhora a Simão Stock, que, aos poucos, o Escapulário começou a destacar-se como um pano distinto, diferente da grande capa branca, para tornar-se o sinal específico dos favores de Nossa Senhora e do amor de Deus para com os Carmelitas.

O Escapulário começou a ter a forma de dois grandes panos de cor marrom, a serem carregados em cima da túnica, ligados entre si, um na frente e outro atrás nas costas. Até hoje, este Escapulário de dois panos de cor marrom faz parte do hábito oficial tanto dos frades como das monjas e das irmãs das Ordens Primeira, Segunda e Terceira e das várias Congregações carmelitanas.

Aos poucos, ao longo dos anos, para facilitar o seu uso para os leigos, o escapulário começou a ter a forma de dois panos pequenos, ligados entre por meio de duas fitas ou cordas; um com a imagem de Nossa Senhora do Carmo, e o outro com a imagem do Sagrado Coração de Jesus.

Em tempos mais recentes, o escapulário assumiu a forma de uma pequena medalha com a imagem de Nossa Senhora do Carmo de um lado e, do outro lado, a imagem do Sagrado Coração de Jesus.

O assim chamado "Privilégio Sabatino"

Uma tradição antiga dos Carmelitas informa que em 1322, o Papa João XXII teve uma visão em que Nossa Senhora lhe apareceu mostrando o escapulário do Carmo e dizendo:

Quem morrer revestido com este escapulário será libertado das penas do purgatório no sábado após a sua morte. Esta promessa de Nossa Senhora ao Papa João XXII foi chamada de Privilégio Sabatino. Ao longo dos séculos, ela contribuiu muito para a divulgação da devoção ao Escapulário do Carmo e teve uma repercussão enorme na devoção popular através das pinturas e obras de arte de muitas formas e cores.

Na realidade, não se trata de nenhum privilégio. Trata-se simplesmente da fé comum e universal da igreja, a saber: quem vive a sua vida com coerência e confiança não precisa ter medo da morte nem do purgatório. Ele vai direto para o céu e será acolhido por Deus no seu amor.

Os primeiros Carmelitas do século XIII viveram esta convicção. Quando vestiam o escapulário, tinham a certeza: Este manto de Maria, a Mãe de Jesus, é um sinal de que Deus nos protege e nos acolhe no seu amor. Ele não nos deixará na morte, mas nos levará consigo junto dele na vida para sempre. Aliás, na outra vida não existe calendário nem tempo. Na eternidade não existe sequência nem de dias nem de noites. Lá não se calcula o tempo em semanas, meses e anos. Para Deus, um dia é como mil nos e vice-versa (cf. Sl 90,4).

Como o anel no dedo da noiva e do noivo, assim o Escapulário é um sinal. O anel nas mãos dos noivos é o sinal da fé e do amor entre os dois. Mas o anel não garante automaticamente nem o amor e nem a fé. Ele funciona como lembrete permanente do amor e da fé entre os dois e deles pede uma resposta coerente de mútua confiança e amor. O mesmo vale para o escapulário. O simples fato de carregar o escapulário no pescoço não garante automaticamente o céu nem a libertação do purgatório. O Escapulário, este manto de Maria, funciona como lembrete do compromisso que assumimos de viver este amor numa atitude doação a Deus e ao próximo.