Constant Dölle

          Dia 16 de julho. Comemoração solene de Nossa Senhora do Carmo. Alguns frades, todos com o mesmo uniforme de prisioneiros se procuram e se encontram num canto escuro do barracão. São os carmelitas Tito Brandsma, Alberto Urbanski, Hilário Januszewski, o prior do Carmelo de Cracóvia, e alguns outros. Um padre diocesano polonês junta-se a eles. Mostrava vontade de tornar-se membro da Ordem Terceira do Carmo. Tito o preparou e o acolheu na Ordem por um simples gesto de imposição de mãos.

           Os frades são originários de vários países e provavelmente muitos nunca se viram antes, mas se reconhecem pela tradição espiritual carmelita. Formam uma fraternidade contemplativa. Experimentam esse encontro como um momento eterno que, por um breve tempo, os eleva acima do terror. Com suas cabeças raspadas, corpos famintos, em forma de círculo, estão diante do Senhor cuja vontade está acima de tudo e eleva a todos. Na contemplação desmascaram o destino e desta maneira experimentam, de um jeito novo e iluminado, o enigma da existência.

            A festa é celebrada em meio ao ódio e desespero, aos estampidos de botas, aos slogans enganosos e ao sentimento de morte próxima, longe dos confrades e da família. Dão-se as mãos e sabem que podem contar com a proteção de Nossa Senhora do Carmo. Sabem-se ligados a toda a Família Carmelita do mundo livre. No final rezam a oração “Salve, Rainha” , emocionando-se com as palavras: “Gemendo e chorando neste vale de lágrimas”.

*DO LIVRO: O CAMINHO DE TITO BRANDSMA NO TEMPO DE HITLER. PROFESSOR – MÍSTICO CARMELITA – JORNALISTA – MÁRTIR.

Tradução: Frei Gabriel Haamberg, O. Carm, do Convento do Carmo de Mogi das Cruzes, São Paulo.