Irmã Maria Elizabeth da Trindade (Elizabeth Fátima Daniel) Carmelo São José, Passos (MG), BRASIL.

(Este trabalho contou com a preciosa colaboração  de Irmã Maria Madalena da Cruz, do Carmelo de Brasília, e Irmã Maristella do Espírito Santo, do Carmelo de Montes Claros, ambos Carmelos da Associação São José, no Brasil)

NOVA CONSCIÊNCIA, NASCIDA DA CERTEZA DE “DEUS CONOSCO” – LIBERDADE INTERIOR

Toda a formação carmelitana nos impulsiona a uma nova consciência de nossa realidade como pessoas e como consagradas na vida contemplativa, de nossa atuação na sociedade e na Igreja, da importância da vivência dos valores essenciais à vida.  A oração verdadeira leva necessariamente a uma inserção na história, por isso a alienação não condiz com a vida contemplativa. Se temos a experiência de um Deus próximo que caminha conosco, nossa consciência vai se abrindo à novidade que este mesmo Senhor nos apresenta cada dia de nossa vida. Porém esta abertura só acontece a partir de um encontro real conosco mesmas, um encontro que nos leve à liberdade interior. “A pessoa sempre procura a verdade de seu ser, visto que é esta verdade que ilumina a realidade de tal modo que possa se desenvolver nela com liberdade e alegria, com gozo e esperança.”[1]

A liberdade é o dom mais apreciado e que nos torna mais semelhantes a Deus, pois Deus é infinita liberdade porque é Amor infinito. Ao buscá-la vamos descobrindo o caminho da verdade. Somente pela verdade conseguimos alcançar a liberdade, pois verdade e liberdade são irmãs que andam sempre juntas. Em nossa vivência e experiência de carmelitas sentimos como meta de vida alcançar esta liberdade interior.

 A experiência do Deus vivo nos dá a certeza de que Ele está conosco e nos impulsiona para o bem e o amor. É ele que forma em nós a “pessoa nova”, conformes “à imagem de Seu Filho”, no amor. Para que esta configuração com Cristo seja verdadeira somos convidadas a passar pela purificação descrita por nosso Pai São João da Cruz como as “noites”. Sem estas noites do sentido e do espírito é impossível alguém atingir a liberdade interior. Através deste trabalho árduo que passa necessariamente pelo auto-conhecimento e auto-aceitação, o Senhor vai nos introduzindo no espaço de liberdade interior onde só a vontade de Deus nos interessa. Esta liberdade nos faz ver o outro com olhos de misericórdia, pois ao nos vermos necessitadas da misericórdia do Senhor, somos mais misericordiosas com os demais. Experimentamos nossa fraqueza e miséria e sabemos o que é ser pobre, frágil, capaz de quedas e daí, desta experiência pessoal, nos abrimos a novos horizontes de comunicação no amor com aquelas pessoas que convivem conosco ou que nos procuram em busca de paz.

Ser livre para libertar

Na vida dos santos se percebe esta liberdade que ultrapassa todo entendimento e que os torna corajosos e audazes. No Carmelo, embora se viva uma estrutura e costumes rígidos, somos convidadas a esta liberdade, a não nos deixar manipular pelo egoísmo nem pelos falsos valores que vão obscurecendo nossa consciência e não nos deixam ver com clareza a vontade de Deus sobre nós e sobre o outro. A pessoa livre é capaz de saber esperar a hora de Deus para o outro, mas é capaz também de provocar esta hora, como Maria nas Bodas de Caná. O respeito e a ternura são outras faces da liberdade interior. Com os olhos fixos no Senhor, no Deus conosco, vamos nos deixando moldar na nova consciência que nos impulsiona na construção do Reino, sem medo de sermos livres. Não são as grades de nossa casa que nos prendem. A liberdade é o grande ideal que trazemos em nós. Até chegar aquele momento em que, libertos do corpo, nos uniremos para sempre Àquele que nos amou por primeiro.

Olhando o exemplo de tantas Irmãs que viveram entre nós e que, com o passar dos anos, foram se transformando em novas pessoas, livres de tantas arbitrariedades e capazes de um amor sem preconceitos nem medos, vemos como foi bom terem passado por provações e noites. Ao ver como seu temperamento aos poucos foi moldado, seus limites foram transformados em oportunidades, sua sabedoria de vida foi superando toda estrutura humana e fazendo delas verdadeiros sustentáculos de nossas Comunidades, ainda que fisicamente estivessem extremamente frágeis, nos damos conta do que nos diz a Palavra de Deus: “Para o justo não há lei!” Elas se tornaram pessoas livres, capazes de um profetismo sem medo, buscando em tudo somente a vontade de Deus como bússola.

Somente a pessoa livre pode ser instrumento de libertação. Daí o nosso empenho em trabalhar bem a nossa formação integral e de nossas Comunidades, para que sejam moldadas nelas pessoas com capacidade de se libertar de tudo que lhes impede de caminhar no “espaço amplo” do amor, que passa necessariamente pela “porta estreita” da renúncia de si, da capacidade martirial de entrega e de abandono confiante nas mãos do Pai Deus, de amor incondicional aos irmãos e irmãs. Este “ser livres” irá nos fazer “ser tais”, como Santa Teresa tanto desejou fossem suas filhas e filhos.

*II-Congresso ALACAR. Tema:  Mística e Profecia no Carmelo. BOGOTÁ, COLOMBIA. OUTUBRO 2009- Na experiência e na vivência das monjas, por Irmã Maria Elizabeth da Trindade (Elizabeth Fátima Daniel) Carmelo São José, Passos (MG), BRASIL

[1] D.A. 42