Frei Emanuele Boaga, O.Carm. In Memoriam

Da experiência dos Carmelitas de cada época e do ensino dos Mestre, brotam alguns valores a respeito da CONTEMPLAÇÃO e da ORAÇÃO que formam o PATRIMÔNIO da tradição carmelitana. Brevemente se pode sintetizar assim este patrimônio:

1-CONTEMPLAÇÃO

É mergulho no Mistério de Deus que “colocou sua tenda no coração do homem. Portanto, CONTEMPLAÇÃO e ORAÇÃO é fazer uma profunda EXPERIÊNCIA de DEUS REAL e VIVO, ainda que as vezes obscura, em todas as dimensões humanas. É a capacidade de encontrar a DEUS que nos amou primeiro.

2- ESSÊNCIA da VERDADEIRA ORAÇÃO

É um relacionamento de amizade com Deus e consiste sempre em “sair de si para encontrar o “Outro”.

3- MORTE e CRUZ

A oração está associada com os temas da Morte e da cruz. Por isso, o caminho da Oração Carmelitana passa pela “noite purificadora dos sentidos”, pela solidão, pela aridez que faz morrer o egoísmo e leva a sair de si para encontrar o CRISTO.

4- DESERTO

É essencial à contemplação;

É o despojamento, o situar-se na verdade e sem ilusões diante de Deus;

É atitude de pobreza radical que tudo espera de Cristo;

É atitude de silêncio para escutar a Palavra do “Outro”, é experiência da própria limitação e da necessidade de Deus na nossa vida;

É convicção forte, ainda que obscura, que Ele nos busca mais do que O buscamos. Jesus procura o homem primeiro.

5- ESPIRITO SANTO

A Oração é dom do Espírito. É Ele que atua eficazmente na Oração e nos transforma quando na docilidade a Ele deixamo-nos conduzir. Ele nos leva às formas mais elevadas de oração, como fruto da fidelidade e acolhida de seus dons.

6-PRESENÇA de DEUS:

É preciso viver a presença de Deus no próprio coração, nos irmãos, na vida.

É preciso experimentá-lo por meio de abertura para a realidade e para os sinais dos tempos que revelam sua presença.

7- PALAVRA de DEUS

A contemplação e a oração se nutrem pela FAMILIARIDADE com a Palavra de Deus, ouvida

No silêncio e na solidão do próprio coração,

No dialogo comunitário e fraterno

Na realidade.

8- FORMAS de ORAÇÃO

Ainda que não se reduzam as formas concretas, a oração e a contemplação necessitam delas como meios indispensáveis para crescerem. Entre estas formas ocupa lugar privilegiado a oração litúrgica e a “Lectio Divina”.

9- ENVOLVIMENTO DO HOMEM TODO,

A vida de oração requer o envolvimento do homem todo e, portanto, o crescimento da pessoa com a integração de sua afetividade na oração. Além disto, a oração exige uma contínua verificação do próprio relacionamento com os outros, com a realidade, com a vida. Deve exprimir-se através das obras de virtude, como sinais de amor a Deus. A contemplação deve conduzir-nos através do encontro com o ABSOLUTO de DEUS a realização de seu plano de AMOR para os irmãos e o mundo, portanto deve levar-nos ao COMPROMISSO.

10- INSPIRAÇÃO ELIANO-MARIANA

A inspiração Eliana-Mariana reforça as dimensões de nossa contemplação-compromisso:

Maria - a Virgem da Encarnação, mulher de escuta amorosa e de fé.

Elias - o homem de contemplação encarnada na realidade humana, à procura da FACE do DEUS verdadeiro

ORIENTAÇÕES GERAIS PARA LEITURA DE UM TEXTO

1º - A imagem de Deus que cada um de nós tem se reflete na maneira concreta como fazemos oração e como falamos da Oração. Esta imagem pode ser diferente nas várias épocas.

2º - Todo ser vivo toma seus elementos do ambiente e assimila os elementos que lhe convém. Esta osmose é também presente na vida do Carmelo.

3º - No caminho histórico da Ordem o mesmo valor vem encarnado de maneiras diversas com ênfases, acentuações, enfraquecimentos, etc. É preciso, num discurso de valores, verificar quais são os valores que se encarnam no contingente e até que ponto, em cada época ou situação o contingente permite ao valor a encarnação no contexto histórico concreto.

4º - Um texto espiritual deve ser lido dentro do próprio contexto particular e geral, isto é, de acordo com a ideia global do livro, do autor e do ambiente. É necessária a atenção a figura literária, ao estilo do autor, a simbologia e a outros princípios de leitura hermenêutica.

5º - E necessário, enfim, ter presente a ambiguidade dos termos e o significado próprio da palavra tal como o Autor lhe confere:

CONTEMPLAÇÃO = aspecto intelectual, atitude do homem total diante de Deus forma superior de oração

AÇÃO = disposição para atuar atividade externa.

ORAÇÃO = atitude orante-formas e formulas de oração.

SILÊNCIO = vazio interior- falta de rumor

SOLIDÃO - lugar silencioso, sem barulho- situação interior.

ALMA E CORPO = elementos da pessoa humana relacionados muitas vezes de modo dualista, dicotômico.

AFETIVIDADE = sentimento. Tudo aquilo que se refere ao coração num preciso contexto antropológico

MUNDO - realidade criada, realidade interior, realidade externa- lugar de contra-valores, etc.

SUGESTÕES PARA A REFLEXÃO

1- Qual é a imagem de Deus e a experiência de oração que transparece no texto; Procurar os elementos positivos negativos

2- Como os valores fundamentais da Tradição Carmelitana estão expressos no texto? Em particular, qual ou quais?

3- A realidade do ambiente e o compromisso apostólico com o povo transparecem no texto? Como? Se não, por que?

4- E nossa Oração; Qual e a imagem de Deus que oferece e anuncia HOJE? Que formas concretas de vivência desta imagem procuramos?

5- Nós, como Carmelitas, precisamos denunciar os falsos ídolos da religiosidade na Igreja e no mundo. Quais? Como?

6- Qual deveria ser a nossa prática numa vida integral no PRESENTE e na FORMAÇÃO para o futuro?

*A ORAÇÃO NA VIDA CARMELITANA. Reflexões e textos de autores carmelitanos sobre a Comunhão com Deus e a Oração no Carmelo. Textos preparados por Frei Emanuele Boaga, O.Carm para Encontros de Espiritualidade Carmelitana das Irmãs Carmelitas da Divina Providência. JULHO - 1986 - Rio Janeiro.