Dom Neri José Tondello

Bispo de Juína (MT)

 

Meu querido Rio Grande do Sul. Coração amado, bate forte por ti. As vidas que se foram, meu lamento. Estejam em paz nas moradas eternas.

As pessoas perdidas, esperança de encontrarmo-nos, não sei aonde. As pessoas feridas e machucadas, nossa cura humana, psicológica e espiritual.

As pessoas fora de suas casas, coragem, apoio e fé. As pessoas solidárias, participação, unidade, ajuda e força: muito obrigado.

As pessoas orantes, consolo. Peregrinos da esperança, apesar de todo desespero. As pessoas que nos governam, hora da unidade.

A tragédia não tem partido, não tem religião. Não tem cor. Não tem opção sexual. A tragédia não tem polarização, a não ser sozinha contra tudo e todos. A tragédia não tem lado. Não tem rico. Não tem pobre.

A tragédia é apelo humano, ético e cristão para todos. Somos todos irmãos na amizade. A tragédia nos chama e a hora da caridade é agora. A hora da solidariedade está a porta de nosso coração.

A tragédia nos pede conversão ecológica. Conversão sinodal. A tragédia nos leva a rezar e pensar a finitude das rebeldias humanas.

A tragédia nos faz irmãos. Se nada aprendemos com a tragédia, nos tornaremos insossos no conjunto da obra. Cada vida em risco, dor e fragilidade alheia. Cada vida ameaçada e engolida e/ou, cada vida salva, alteridade em serviço. Fonte: www.cnbb.org.br

 

Dom Leomar Antônio Brustolin

Arcebispo de Santa Maria (RS)

 

Rio Grande do Sul

Nesse momento, ao contemplarmos ao redor, vemos mortes, desabrigados, ilhados, pontes caídas, estradas bloqueadas, destruição de casas e de construções. Nosso coração fica perturbado, nos perguntamos: o que podemos aprender disso tudo? Não temos respostas. Também o mal físico é um mistério. Saber contemplar o mistério sem fantasia ou racionalismo é uma sabedoria.  

Um grande flagelo veio sobre nossas cidades e vilas, muito se perdeu, rezamos por aqueles que partiram, mas nós que aqui ficamos, queremos, diante de Deus, aprender a viver e a conviver. Deus está conosco, disso temos experiência e somos capazes de solidariedade, sobre isso podemos enxergar.  

O profeta Isaías nos recorda que o próprio Deus, por meio de seu Cristo, veio e sempre vem para curar as nossas feridas, para anunciar nossa liberdade, para consolar os que choram, para dar alegria para quem vive na aflição, para nos vestir de salvação, com o manto da justiça, e nisso tudo se manifesta sua glória.  

Não será a morte, o luto e as lágrimas que definirão a última palavra sobre a vida. Tampouco a destruição, o deslizamento e os alagamentos roubarão nossa esperança. Somos um povo que sabe em quem depositou sua fé. A água que sacia a sede, limpa o que está sujo, refresca o calor e rega o que está seco, voltará a ser sinal de vida, de renovação e liberdade.  

Esse dilúvio que veio sobre nós não apagará de nossa memória os feitos que o Senhor realizou ao longo da história da salvação. Nós sobreviveremos e encontraremos razões para reconstruir nossas estradas e nossas casas, nossas vidas e de fato, podemos estar ilhados, mas não isolados.  

Sabemos o quanto o Pai nos ama e não será um desafio grande como o que estamos passando que nos separará desse amor e da comunidade humana que Ele ama. Para nós servem as palavras de Cristo dizendo: Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou. Essa paz é tão clara e forte que não ficamos com o coração perturbado e nem intimidado.  

Enfrentemos, irmãos e irmãs, mais essa provação. Deus está conosco. Isso passará, iremos superar. Mas desde já colhamos os frutos bons desse momento, sempre há uma luminosidade sideral em meio à noite escura. Recordo aqui tantas instituições governamentais, militares e civis dedicadas na defesa da vida nesse momento.  

Recordo as nossas comunidades paroquiais de portas abertas para acolher os desabrigados, alimentar os que perderam tudo, para atender as necessidades que emergem. Como bem diz o Papa Francisco: somos comunidades que parecem Hospital de Campanha, que socorre imediatamente quem precisa.  

Recordo as comunidades que viram os caminhoneiros impedidos de viajar pelos bloqueios e lhes providenciaram refeições. Recordo as coletas de doações que estão sendo realizadas em todo Estado especialmente pela CNBB Sul 3. Quanta luz de solidariedade. Tudo passa, mas esse amor já é consolação.  

Nossa fé em Cristo nos compromete para continuarmos criando laços de solidariedade e amizade social, pois podemos estar ilhados, mas não isolados. Deus abençoe todos que decidiram tornarem-se consolação para os outros. Fonte: https://www.cnbb.org.br

Ao Povo de Deus da
Arquidiocese de Porto Alegre

 

Deus nos console em nossa tribulação para que possamos
consolar os que se acham em alguma tribulação (cf. 2Cor 1,4)

 

Querido Povo de Deus!

Em comunhão com o Regional Sul 3 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que, em nota da presidência sobre os temporais que atingem o estado do Rio Grande do Sul descreveu a “grande provação para nossa população”, constatando-se “mortes, desabrigados, ilhados, pontes caídas, estradas bloqueadas, destruição de casas e de construções”, com “parte da população sem energia elétrica e o abastecimento de água comprometido, [...] instabilidade e insegurança em todo nosso Estado”, também a Arquidiocese de Porto Alegre une-se neste empenho de reconstrução, inclusive e sobretudo, da esperança.

Há, sim, “o empenho das instituições governamentais, militares e civis dedicadas à defesa da vida, o envolvimento de nossas comunidades eclesiais abrindo suas portas para acolher os que perderam tudo”. O próprio Regional Sul 3 organizou uma campanha para socorrer os diversos municípios. A Arquidiocese de Porto Alegre, através da Cáritas – Mensageiros da Caridade – está empenhada nessa direção, pois sabemos que há necessidade em muitas ações, as emergenciais e, depois, toda a ajuda para a reconstrução.

Além disso, neste ano da oração em preparação ao Jubileu da Igreja 2025, exortamos as comunidades eclesiais a se unirem em oração, conforme as possibilidades, diante do Santíssimo Sacramento, que é o grande símbolo da comunhão e da partilha, renovando nosso compromisso de peregrinos de esperança. Aproveitemos a devoção da Primeira Sexta-feira do mês, neste ano Festa dos Santos Filipe e Tiago, recordando inclusive do diálogo de Jesus, quando disse: “O que pedirdes em meu nome, eu o realizarei” (Jo 14,13-14). Ou organizemos um momento de oração com o povo antes ou depois das missas deste final de semana. As comissões pastorais poderão se unir neste gesto orante e solidário. Na Liturgia do próximo domingo vemos novamente a mesma frase de Jesus: “O que pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo concederá” (Jo 15,16). Que possamos pedir, juntos, a consolação, a proteção, a união e o fortalecimento da fé, da caridade e da esperança.

Nossa querida padroeira da Arquidiocese, a Mãe de Deus, com tantos outros nossos santos e santas padroeiros de comunidades eclesiais, continuem intercedendo ao Senhor do Universo para que escute nossas preces!

 

Dom Jaime Spengler
Arcebispo Metropolitano

 

Dom Darley José Kummer
Bispo Auxiliar

 

Dom Bertilo João Morsch
Bispo Auxiliar

 

Dom Juarez Albino Destro
Bispo Auxiliar

Fonte: https://www.arquipoa.com

 

1) Oração

Ó Deus, vós nos alegrais cada ano com a festa dos apóstolos são Felipe e são Tiago. Concedei-nos, por suas preces, participar de tal modo da paixão e ressurreição do vosso Filho que vejamos eternamente a vossa faze. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 

2) Leitura do Evangelho segundo João (Jo 14,6-14)

Naquele tempo, Jesus disse a Tomé: 6Jesus lhe respondeu: Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim. 7Se me conhecêsseis, também certamente conheceríeis meu Pai; desde agora já o conheceis, pois o tendes visto. 8Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta. 9Respondeu Jesus: Há tanto tempo que estou convosco e não me conheceste, Filipe! Aquele que me viu, viu também o Pai. Como, pois, dizes: Mostra-nos o Pai... 10Não credes que estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que vos digo não as digo de mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim, é que realiza as suas próprias obras. 11Crede-me: estou no Pai, e o Pai em mim. Crede-o ao menos por causa destas obras. 12Em verdade, em verdade vos digo: aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas, porque vou para junto do Pai. 13E tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome, vo-lo farei, para que o Pai seja glorificado no Filho. 14Qualquer coisa que me pedirdes em meu nome, vo-lo farei.

 

3) Reflexão  - Jo 14,6-14

O evangelho de hoje, festa dos apóstolos Filipe e Tiago, é o mesmo que já meditamos nos dias 18 e 19 de abril deste ano, pois traz o trecho em que o apóstolo Filipe pede a Jesus: “Mostra-nos o Pai, e basta”.

João 14,6: Eu sou o caminho, a verdade e a vida.

Tomé tinha feito a pergunta: "Senhor, não sabemos para onde vai. Como podemos conhecer o caminho?" (Jo 14,5). Jesus responde: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida! Ninguém vai ao Pai senão por mim”. Três palavras importantes. Sem caminho, não se anda. Sem verdade, não se acerta. Sem vida, só há morte! Jesus explica o sentido. Ele é o caminho, porque "ninguém vem ao Pai senão por mim!" Pois, ele é a porta, por onde as ovelhas entram e saem (Jo 10,9). Jesus é a verdade, porque olhando para ele, estamos vendo a imagem do Pai. "Se vocês me conhecem, conhecerão também o Pai!" Jesus é a vida, porque caminhando como Jesus caminhou, estaremos unidos ao Pai e teremos a vida em nós!

João 14,7: Conhecer Jesus é conhecer o Pai. Jesus acrescentou: “Se vocês me conhecem, conhecerão também o meu Pai. Desde agora vocês o conhecem e já o viram". Jesus sempre fala do Pai, pois o Pai era a vida dele e transparecia em tudo que ele, Jesus, falava e fazia. Esta referência constante ao Pai provoca a pergunta de Filipe, cuja festa hoje celebramos.

João 14,8-11: Filipe pergunta: "Mostra-nos o Pai, e basta!"  Ver e experimentar o Pai era o desejo dos discípulos e das discípulas; era o desejo de muitas pessoas nas comunidades do Discípulo Amado da Ásia Menor e, até hoje, continua sendo o desejo de muitos de nós. Como experimentar a presença do Pai de que Jesus fala tanto? A resposta de Jesus é muito bonita e vale até hoje: "Filipe, tanto tempo estou no meio de vocês, e você ainda não me conhece! Quem me vê, vê o Pai!" A gente não deve pensar que Deus está longe de nós, como alguém distante e desconhecido. Quem quiser saber como é e quem é Deus Pai, basta olhar para Jesus. Ele o revelou nas palavras e gestos da sua vida! "O Pai está em mim e eu estou no Pai!" Através da sua obediência, Jesus está totalmente identificado com o Pai. Ele a cada momento fazia aquilo que o Pai mostrava que era para fazer (Jo 5,30; 8,28-29.38). Por isso, em Jesus tudo é revelação do Pai! E os sinais ou as obras de Jesus são as obras do Pai! Como diz o povo: "O filho é a cara do pai!" Em Jesus e por Jesus, Deus está no meio de nós.

João 14,12-14: Promessa de Jesus.  Jesus faz uma promessa para dizer que a intimidade dele com o Pai não é privilégio só dele, mas é possível para todos e todas que crêem nele: Eu garanto a vocês: quem acredita em mim, fará as obras que eu faço, e fará maiores do que estas, porque eu vou para o Pai. O que vocês pedirem em meu nome, eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho. Se vocês pedirem qualquer coisa em meu nome, eu o farei. Nós também, através de Jesus, podemos chegar a fazer coisas bonitas para os outros do jeito que Jesus fazia para o povo do seu tempo. Ele vai interceder por nós. Tudo que a gente pedir a ele, ele vai pedir ao Pai e vai conseguir, contanto que seja para servir. Jesus é o nosso defensor. Ele vai embora, mas não nos deixa sem defesa. Ele promete que vai pedir ao Pai para Ele mandar um outro defensor ou consolador, o Espírito Santo (Jo 14,15-17). Jesus chegou a dizer que ele precisa ir embora, pois, do contrário, o Espírito Santo não poderá vira (Jo 16,7). É o Espírito Santo que realizará as coisas de Jesus em nós, desde que peçamos em nome de Jesus e observemos o grande mandamento da prática do amor.

 

4) Para confronto pessoal

1) Jesus é o caminho, a verdade e a vida. Sem caminho, sem verdade e sem vida não se vive. Procure deixar isto penetrar na sua consciência.

2) Duas perguntas importantes: Quem é Jesus para mim? Quem sou eu para Jesus?

 

5) Oração final

Narram os céus a glória de Deus, e o firmamento anuncia a obra de suas mãos. O dia ao outro transmite essa mensagem, e uma noite à outra a repete (Sl 18).

 

1) Oração

Ó Deus, que pela ressurreição do Cristo nos renovais para a vida eterna, dai ao vosso povo constância na fé e na esperança, para que jamais duvide das vossas promessas. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 

2) Leitura do Evangelho segundo João (Jo 14,27-31a)

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 27“Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas não a dou como o mundo. Não se perturbe nem se intimide o vosso coração. 28Ouvistes que eu vos disse: ‘Vou, mas voltarei a vós’. Se me amásseis, ficaríeis alegres porque vou para o Pai, pois o Pai é maior do que eu. 29Disse-vos isto, agora, antes que aconteça, para que, quando acontecer, vós acrediteis. 30Já não falarei muito convosco, pois o chefe deste mundo vem. Ele não tem poder sobre mim, 31amas, para que o mundo reconheça que eu amo o Pai, eu procedo conforme o Pai me ordenou”.

 

3) Reflexão - Jo 14,27-31a

Aqui, em Jo 14,27, começa a despedida de Jesus e no fim do capítulo 14, ele encerra a conversa dizendo: "Levantem! Vamos embora daqui!" (Jo 14,31). Mas, em vez de sair da sala, Jesus continua falando por mais três capítulos: 15, 16 e 17. Se você pular estes três capítulos, você vai encontrar no começo do capítulo 18 a seguinte frase: "Tendo dito isto, Jesus foi com seus discípulos para o outro lado da torrente do Cedron. Havia ali um jardim onde entrou com seus discípulos" (Jo 18,1). Em Jo 18,1, está a continuação de Jo 14,31. O Evangelho de João é como um prédio bonito que foi sendo construído lentamente, pedaço por pedaço, tijolo por tijolo. Aqui e acolá, ficaram sinais destes remanejamentos. De qualquer maneira, todos os textos, todos os tijolos, fazem parte do edifício e são Palavra de Deus para nós.

João 14,27: O dom da Paz. 

Jesus comunica a sua paz aos discípulos. A mesma paz será dada depois da ressurreição (Jo 20,19). Esta paz é mais uma expressão da manifestação do Pai, de que Jesus tinha falado antes (Jo 14,21). A paz de Jesus é a fonte da alegria que ele nos comunica (Jo 15,11; 16,20.22.24; 17,13). É uma paz diferente da paz que o mundo dá, diferente da Pax Romana. Naquele fim do primeiro século a Pax Romana era mantida pela força das armas e pela repressão violenta contra os movimentos rebeldes. A Pax Romana garantia a desigualdade institucionalizada entre cidadãos romanos e escravos. Esta não é a paz do Reino de Deus. A Paz que Jesus comunica é o que no AT se chama Shalôm. É a organização completa de toda a vida em torno dos valores da justiça, fraternidade e igualdade.

João 14,28-29: O motivo por que Jesus volta ao Pai.   

Jesus volta ao Pai para poder retornar em seguida. Ele dirá a Madalena: “Não me segure, porque ainda não subi para o Pai “ (Jo 20,17). Subindo para o Pai, ele voltará através do Espírito que nos enviará (cf Jo 20,22). Sem o retorno ao Pai ele não poderá estar conosco através do seu Espírito.

João 14,30-31a: Para que o mundo saiba que amo o Pai.  

Jesus está encerrando a última conversa com os discípulos. O príncipe deste mundo vai tomar conta do destino de Jesus. Jesus vai ser morto. Na realidade, o Príncipe, o tentador, o diabo, nada pode contra Jesus. Jesus faz em tudo o que lhe ordena o Pai. O mundo vai saber que Jesus ama o Pai. Este é o grande e único testemunho de Jesus que pode levar o mundo a crer nele. No anúncio da Boa Nova não se trata de divulgar uma doutrina, nem de impor um direito canônico, nem de unir todos numa organização. Trata-se, antes de tudo, de viver e de irradiar aquilo que o ser humano mais deseja e tem de mais profundo dentro de si: o amor. Sem isto, a doutrina, o direito, a celebração não passa de peruca em cabeça calva.

João 14,31b: Levantem e vamos embora daqui.   

São as últimas palavras de Jesus, expressão da sua decisão de ser obediente ao Pai e de revelar o seu amor. Na eucaristia, na hora da consagração, em alguns países se diz: “Na véspera da sua paixão, voluntariamente aceita”. Jesus diz em outro lugar: “O Pai me ama, porque eu dou a minha vida para retomá-la de novo. Ninguém tira a minha vida; eu a dou livremente. Tenho poder de dar a vida e tenho poder de retomá-la. Esse é o mandamento que recebi do meu Pai” (Jo 10,17-18).

 

4) Para confronto pessoal

1) Jesus disse: “Dou-vos a minha paz”. Como contribuo para a construção da paz na minha família e na minha comunidade?

2) Olhando no espelho da obediência de Jesus ao Pai, em que ponto eu poderia melhorar a minha obediência ao Pai?

 

5) Oração final

Que vossas obras, ó Senhor, vos glorifiquem, e os vossos santos com louvores vos bendigam! Narrem a glória e o esplendor do vosso reino e saibam proclamar vosso poder! (Sl 144, 10-11)

 

1) Oração

Ó Pai, que unis os corações dos fiéis num só desejo, dai ao vosso povo amar o que ordenais e esperar o que prometeis, para que, na instabilidade deste mundo, fixemos os nossos corações onde se encontram as verdadeiras alegrias. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 

2) Leitura do Evangelho segundo João (Jo 14,21-26)

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 21“Quem acolheu os meus mandamentos e os observa, esse me ama. Ora, quem me ama será amado por meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele”. 22Judas — não o Iscariotes — disse-lhe: “Senhor, como se explica que te manifestarás a nós e não ao mundo?” 23Jesus respondeu-lhe: “Se alguém me ama, guardará minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada. 24Quem não me ama não guarda a minha palavra. E a palavra que escutais não é minha, mas do Pai que me enviou. 25Isso é o que vos disse enquanto estava convosco. 26Mas o Defensor, o Espírito Santo que ­o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito”.

 

3) Reflexão - Jo 14,21-26

Como dissemos anteriormente, o capítulo 14 do Evangelho de João é um exemplo bonito de como se praticava a catequese nas comunidades da Ásia Menor no fim do primeiro século. Através das perguntas dos discípulos e das respostas de Jesus, os cristãos formavam sua consciência e encontravam uma orientação para os seus problemas. Assim, neste capítulo 14, temos a pergunta de Tomé com a resposta de Jesus (Jo 14,5-7), a pergunta de Filipe com a resposta de Jesus (Jo 14,8-21), e a pergunta de Judas com a resposta de Jesus (Jo 14,22-26). A última frase da resposta de Jesus a Filipe (Jo 14,21) forma o primeiro versículo do evangelho de hoje.

João 14,21: Eu o amarei e me manifestarei a ele.

Este versículo traz o resumo da resposta de Jesus a Filipe. Filipe tinha dito: “Mostra-nos o Pai e isso nos basta!” (Jo 14,8). Moisés tinha perguntado a Deus: “Mostra-me a tua glória!” (Ex 33,18). Deus respondeu: “Não poderás ver minha face, porque ninguém pode ver-me e continuar vivendo” (Ex 33,20). O Pai não pode ser mostrado. Deus habita uma luz inacessível (1Tim 6,16). “Ninguém jamais viu a Deus” (1Jo 4,12). Mas a presença do Pai pode ser experimentada através da experiência do amor. Diz a primeira carta de São João: “Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor”. Jesus diz a Filipe: “Quem aceita os meus mandamentos e a eles obedece, esse é que me ama. E quem me ama, será amado por meu Pai. Eu também o amarei e me manifestarei a ele”. Observando o mandamento de Jesus, que é o mandamento do amor ao próximo (Jo 15,17), a pessoa mostra o seu amor por Jesus. E quem ama a Jesus, será amado pelo Pai e pode ter a certeza de que o Pai se manifestará a ele. Na resposta a Judas, Jesus dirá como acontece esta manifestação do Pai na nossa vida.

João 14,22: A pergunta de Judas, pergunta de todos.  

A pergunta de Judas: “Por que o senhor se manifesta só a nós e não ao mundo?” Esta pergunta de Judas reflete um problema que é real até hoje. Às vezes, sobe em nós cristãos o pensamento de que somos melhores que os outros e que Deus nos ama mais do que os outros. Será que Deus faz distinção de pessoas? 

João 14,23-24: Resposta de Jesus.  

A resposta de Jesus é simples e profunda. Ele repete o que acabou de dizer a Filipe. O problema não é se nós cristãos somos mais amados por Deus do que os outros, ou que os outros são desprezados por Deus. Este não é o critério da preferência do Pai. O critério da preferência do Pai é sempre o mesmo: o amor. "Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará. Eu e meu Pai viremos e faremos nele a nossa morada. Quem não me ama, não guarda as minhas palavras”. Independentemente do fato de a pessoa ser ou não ser cristã, o Pai se manifesta a todos aqueles que observam o mandamento de Jesus que é o amor ao próximo (Jo 15,17). Em que consiste a manifestação do Pai? A resposta a esta pergunta está estampada no coração da humanidade, na experiência humana universal. Observe a vida das pessoas que praticam o amor e que fazem da sua vida uma doação aos outros. Examine a sua própria experiência. Independentemente de religião, classe, raça ou cor, a prática do amor traz uma paz profunda e uma alegria que conseguem conviver com dor e sofrimento. Esta experiência é o reflexo da manifestação do Pai na vida das pessoas. É a realização da promessa: Eu e meu Pai viremos e faremos nele a nossa morada

João 14,25-26: A promessa do Espírito Santo. 

Jesus termina sua resposta a Judas dizendo: Essas são as coisas que eu tinha para dizer estando com vocês. Jesus comunicou tudo que ouviu do Pai (Jo 15,15). As palavras dele são fonte de vida e devem ser meditadas, aprofundadas e atualizadas constantemente à luz da realidade sempre nova que nos envolve. Para esta meditação constante das suas palavras Jesus nos promete a ajuda do Espírito Santo: “O Advogado, o Espírito Santo, que o Pai vai enviar em meu nome, ele ensinará a vocês todas as coisas e fará vocês lembrarem tudo o que eu lhes disse.

 

4)  Para confronto pessoal

1) Jesus disse: Eu  e meu Pai viremos e faremos nele a nossa morada.  Como eu experimento esta promessa?

2) Temos a promessa do dom do Espírito para nos ajudar a entender as palavra de Jesus. Eu invoco a luz do Espírito quando vou ler e meditar a Escritura?

 

5) Oração final

Que a minha boca cante a glória do Senhor e que bendiga todo ser seu nome santo, desde agora, para sempre e pelos séculos. (Sl 144, 21)

 

Ricardo Cammarota/Folhapress

 

Luiz Felipe Pondé

Escritor e ensaísta, autor de "Notas sobre a Esperança e o Desespero" e “A Era do Niilismo”. É doutor em filosofia pela USP.

 

Deus nos deixa mais inteligentes, ao contrário do que pensa o ingênuo ateísmo militante

Afinal, quem é Deus? Moisés, na famosa passagem da sarça ardente no Sinal —livro do "Êxodo"–, em que Deus o manda libertar os hebreus da escravidão no Egito e levá-los até o monte Sinai para receberem os mandamentos divinos, pergunta num dado momento: "E se me perguntarem quem me mandou, o que eu respondo? Qual o seu nome? Quem é você?". Evidente que faço aqui uma versão simplificada do texto bíblico.

Essa passagem é conhecida na tradição cristã como teologia do Êxodo, a teologia em que Deus se dá a conhecer a Moisés, revela "um pouco" quem Ele é, e se vincula à ideia de libertação da escravidão.

A versão grega da Bíblia hebraica, conhecida como Septuaginta ("LXX", em latim), teria sido uma versão grega de livros do Antigo Testamento ou Bíblia hebraica feita por cerca de setenta —daí LXX, setenta em latim– judeus gregos, nos três últimos séculos da era antes de Cristo.

Nesta versão, Deus teria respondido à pergunta de Moisés algo como "Eu sou quem eu sou". Dessa ideia surgirá a concepção de que Deus seria aquele que é, ou seja, aquele que carrega seu ser em si mesmo.

À diferença do restante dos seres existentes, Deus seria o único que é "causa sui", ou seja, que é causa de si mesmo. Os demais seres são causados por Ele. Deus seria —conversando um pouco com Aristóteles, que nada sabia da Bíblia hebraica– o incausado que tudo causa, o incondicionado que tudo condiciona, o imóvel que tudo move.

O paralelo entre esse deus do Aristóteles e o Deus israelita é recusado, por exemplo, pelo filósofo judeu do século 20 A.I. Heschel que, na sua monumental obra "The Prophets", sem tradução no Brasil, nega que o Deus de Abraão, dos patriarcas e de Moisés seja considerado imóvel, uma vez que é puro páthos, ou paixão. Tampouco incondicionado, na medida que reage apaixonadamente às ações dos homens.

De qualquer forma, essa diferença ontológica entre Deus e os outros seres criados por Ele —que, portanto, recebem o ser das mãos Dele, de graça, pela eternidade— , ideia esta decorrente da resposta de Deus a Moisés –que Ele é quem é–, fará escola no cristianismo e produzirá das mais sofisticadas discussões teológicas acerca do ser de Deus e do nosso ser frágil e dependente Dele.

Já na versão hebraica, Deus teria dito "Eu serei o que serei", já que a formulação do presente do verbo ser não existe, propriamente, em hebraico. Eu diria "Eu brasileiro" e não "Eu sou brasileiro".

Pensando a partir dai, teríamos a absoluta liberdade de Deus que seria, portanto, impredicável e ilimitado —Deus multiplica o futuro pelo futuro nesta formulação, portanto, Ele é absolutamente livre. Deus está fora da linguagem e da representação.

Esse caráter de Deus será também discutido no cristianismo naquilo que ficou conhecido como teologia negativa ou apofática —o que não pode ser enunciado na linguagem—, na esteira do tratado teológico mais curto do cristianismo, conhecido como "Teologia Negativa" de Pseudo-Dionísio, o Aeropagita, que viveu entre os séculos 5 e 6 da era cristã.

Deus é superior à linguagem porque esta só representa o que é despedaçado como ela, e, portanto, aquilo que pode ser "alocado" nas palavras, que são, por sua vez, "pedaços" do todo.

A teologia é um dos exercícios intelectuais mais sofisticados que existe. Principalmente quando não está a serviço nem da direita evangélica que brinca com a supressão do Estado laico no Brasil, nem, tampouco, com as versões à esquerda, que querem nos fazer crer que o PT seja a representação pura da santidade política democrática.

Deus nos deixa mais inteligentes, ao contrário do que pensa o ingênuo ateísmo militante. No judaísmo, a ideia de que Deus seja inteligente, e de que buscar sê-lo seja uma espécie de mandamento, é comum. Pensar é uma forma de se aproximar de Deus.

No lusco-fusco cansativo do mundo em que vivemos, esse exercício intelectual pode ser uma forma de repouso. Não por acaso que na tradição monástica cristã –para alguns, podendo ser resumida como "opção beneditina"– o estudo é uma das formas de se viver com Deus. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

 

JESUS NOS DÁ A VIDA AUTÊNTICA! 

 

Dom Anuar Battisti

Arcebispo Emérito de Maringá (PR) 

A liturgia do quinto Domingo da Páscoa fala-nos de Jesus como a fonte da Vida autêntica. Os discípulos de Jesus, unidos a Ele, bebem d’Ele essa Vida e testemunham-na em gestos concretos de amor. É assim que a proposta de Vida nova de Deus alcança o mundo e a vida dos homens. 

No Evangelho – Jo 15,1-8 – Jesus, em contexto de despedida, apresenta-se aos discípulos como “a verdadeira videira” e convida-os a permanecerem ligados a Ele para receberem d’Ele Vida. Jesus (a videira) e os discípulos (os ramos) produzirão frutos bons, os frutos que Deus espera. Enquanto se mantiverem unidos a Jesus, os discípulos serão testemunhas verdadeiras, no meio dos homens, da Vida nova de Deus. 

A primeira leitura – At 9,26-31 –, a pretexto de nos contar a inserção de Paulo de Tarso na comunidade cristã de Jerusalém, lembra-nos que a experiência cristã é um caminho feito em comunidade: é no diálogo e na partilha com os irmãos que a nossa fé nasce, cresce e amadurece. A comunidade cristã deve ser uma casa de portas abertas, onde todos têm lugar e onde todos podem fazer, de mãos dadas com os outros irmãos, uma experiência de encontro com Jesus ressuscitado. 

A segunda leitura – 1Jo 3,18-24 – lembra que na base da vida cristã autêntica está o “acreditar em Jesus” e o amar os irmãos “como Ele mandou”. São esses os “frutos” que Deus espera de todos aqueles que estão unidos a Cristo. Se testemunharmos em gestos concretos o amor de Jesus, estamos unidos a Jesus e a vida de Jesus circula em nós. Fonte: https://www.cnbb.org.br

 

1) Oração

Deus, a quem devemos a liberdade e a salvação, fazei que possamos viver por vossa graça e encontrar em vós a felicidade eterna, pois nos remistes com o sangue do vosso Filho. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 

2) Leitura do Evangelho (João 14, 1-6)

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos,1Não se perturbe o vosso coração! Credes em Deus, crede também em mim. 2Na casa de meu Pai há muitas moradas. Não fosse assim, eu vos teria dito. Vou preparar um lugar para vós. 3E depois que eu tiver ido e preparado um lugar para vós, voltarei e vos levarei comigo, a fim de que, onde eu estiver, estejais vós também. 4E para onde eu vou, conheceis o caminho”. 5Tomé disse: “Senhor, não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?” 6Jesus respondeu: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim.

 

3) Reflexão

Estes cinco capítulos (Jo 13 a 17) são um exemplo bonito de como as comunidades do Discípulo Amado do fim do primeiro século lá na Ásia Menor, atual Turquia, faziam catequese. Por exemplo, neste capítulo 14, as perguntas dos três discípulos, Tomé (Jo 14,5), Filipe (Jo 14,8) e Judas Tadeu (Jo 14,22), eram também as perguntas e os problemas das Comunidades. Assim, as respostas de Jesus para os três eram um espelho em que as comunidades encontravam uma resposta para as suas próprias dúvidas e dificuldades.  Para sentir melhor o ambiente em que se fazia a catequese, você pode fazer o seguinte. Durante ou depois da leitura do texto, feche os olhos e faça de conta que você está lá na sala no meio dos discípulos e discípulas, participando do encontro com Jesus. Enquanto vai escutando, procure prestar atenção na maneira como Jesus prepara seus amigos para a separação e lhes revela sua amizade, transmitindo segurança e apoio.

João 14,1-2: Nada te perturbe.   O texto começa com uma exortação: "Não se perturbe o coração de vocês!" Em seguida, diz: "Na casa do meu Pai há muitas moradas!" A insistência em conservar palavras de ânimo que ajudam a superar a perturbação e as divergências, é um sinal de que havia muita polêmica e divergências entre as comunidades. Uma dizia para a outra: "Nossa maneira de viver a fé é melhor do que a de vocês. Nós estamos salvos! Vocês estão erradas! Se quiserem ir para o céu, têm que se converter e viver como nós vivemos!" Jesus diz: "Na casa do meu Pai há muitas moradas!" Não é necessário que todos pensem do mesmo jeito. O importante é que todos aceitem Jesus como revelação do Pai e que, por amor a ele, tenham atitudes de compreensão, de serviço e de amor. Amor e serviço são o cimento que liga entre si os tijolos e faz as várias comunidades serem uma igreja de irmãos e de irmãs.

João 14,3-4: Jesus se despede.  Jesus diz que vai preparar um lugar e depois retornará para levar-nos com ele para a casa do Pai. Ele quer que estejamos todos com ele para sempre. O retorno de que Jesus fala é a vinda do Espírito que ele manda e que trabalha em nós, para que possamos viver como ele viveu (Jo 14,16-17.26; 16,13-14). Jesus termina dizendo: "Para onde eu vou, vocês conhecem o caminho!" Quem conhece Jesus conhece o caminho, pois o caminho é a vida que ele viveu e que o levou através da morte para junto do Pai.

João 14,5-6: Tomé pergunta pelo caminho. Tomé diz: "Senhor, não sabemos para onde vai. Como podemos conhecer o caminho?" Jesus responde: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida! Ninguém vai ao Pai senão por mim”. Três palavras importantes. Sem caminho, não se anda. Sem verdade, não se acerta. Sem vida, só há morte! Jesus explica o sentido. Ele é o caminho, porque "ninguém vem ao Pai senão por mim!" Pois, ele é a porteira, por onde as ovelhas entram e saem (Jo 10,9). Jesus é a verdade, porque olhando para ele, estamos vendo a imagem do Pai. "Se vocês me conhecem, conhecerão também o Pai!" Jesus é a vida, porque caminhando como Jesus caminhou, estaremos unidos ao Pai e teremos a vida em nós!

 

4) Para um confronto pessoal

1) Que encontros bons do passado você guarda na memória e que são força na sua caminhada?

2) Jesus disse: "Na casa de meu Pai há muitas moradas". O que significa esta afirmação para nós hoje?

 

5) Oração final

Cantai ao SENHOR um cântico novo, pois ele fez maravilhas. Deu-lhe vitória sua mão direita e seu braço santo. (Sl 97, 1)

 

1) Oração

Ó Deus, que concedestes a são Marcos, vosso evangelista, a glória de proclamar a Boa nova, dai-nos assimilar de tal modo seus ensinamentos, que sigamos fielmente os caminhos do Cristo. Que conosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo.

 

2) Leitura do Evangelho segundo Marcos (Mc 16,15-20)

Naquele tempo, Jesus se manifestou aos onze discípulos, 15e disse-lhes: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura! 16Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado. 17Os sinais que acompanharão aqueles que crerem serão estes: expulsarão demônios em meu nome, falarão novas línguas; 18se pegarem em serpentes ou beberem algum veneno mortal não lhes fará mal algum; quando impuserem as mãos sobre os ­doentes, eles ficarão curados”.

19Depois de falar com os discípulos, o Senhor Jesus foi levado ao céu, e sentou-se à direita de Deus. 20Os discípulos então saíram e pregaram por toda parte. O Senhor os ajudava e confirmava sua palavra por meio dos sinais que a acompanhavam.

 

3) Reflexão - Mc 16,15-20

O Evangelho de hoje faz parte do apêndice do Evangelho de Marcos (Mc 16,9-20) que traz a lista de algumas aparições de Jesus: a Madalena (Mc 16,9-11), a dois discípulos a caminho do campo (Mc 16,12-13) e aos doze apóstolos (Mc 16,14-18). Esta última aparição junto com a descrição da ascensão ao céu (Mc 16,19-20) constitui o evangelho de hoje. 

Marcos 16,14: Os sinais que acompanham o anúncio da Boa Nova.  

Jesus aparece aos onze discípulos e os repreende por não terem acreditado nas pessoas que o tinham visto ressuscitado. Não acreditaram em Madalena (Mc 16,11), nem nos dois a caminho do campo (Mc 16,13). Várias vezes, Marcos se refere à resistência dos discípulos em crer no testemunho daqueles e daquelas que experimentaram a ressurreição de Jesus. Por que será que Marcos insiste tanto na falta de fé dos discípulos? Provavelmente, para ensinar duas coisas. Primeiro, que a fé em Jesus passa pela fé nas pessoas que dão testemunho dele. Segundo, que ninguém deve desanimar quando a descrença nasce no coração. Até os onze discípulos tiveram dúvidas!

Marcos 16,15-18: A missão de anunciar a Boa Nova a toda a criatura.

Depois de ter criticado a falta de fé dos discípulos, Jesus lhes confere a missão: "Vão pelo mundo inteiro e anunciem a Boa Notícia para toda a humanidade. Quem acreditar e for batizado, será salvo. Quem não acreditar, será condenado”. Aos que tiverem a coragem de crer na Boa Nova e que são batizados, Jesus promete os seguintes sinais: expulsarão demônios, falarão línguas novas, pegarão em serpentes e não serão molestados pelo veneno, imporão as mãos aos doentes e eles ficarão curados. Isto acontece até hoje:

expulsar os demônios:   é combater o poder do mal que estraga a vida. A vida de muitas pessoas ficou melhor pelo fato de terem entrado na comunidade e de terem começado a viver a Boa Nova da presença de Deus em sua vida.

falar línguas novas:   é começar a comunicar-se com os outros de maneira nova. Às vezes, encontramos uma pessoa que nunca vimos antes, mas parece que já a conhecemos há muito tempo. É porque falamos a mesma língua, a linguagem do amor.

vencer o veneno:   há muita coisa que envenena a convivência. Muita fofoca que estraga o relacionamento entre as pessoas. Quem vive a presença de Deus dá a volta por cima e consegue não ser molestado por este veneno terrível.

curar doentes:   em todo canto, onde aparece uma consciência mais clara e mais viva da presença de Deus, aparece também um cuidado especial para com as pessoas excluídas e marginalizadas, sobretudo para com os doentes. Aquilo que mais favorece a cura é a pessoa sentir-se acolhida e amada.

Marcos 16,19-20: Através da comunidade Jesus continua a sua missão. 

O mesmo Jesus que viveu na Palestina, e acolhia os pobres do seu tempo, revelando assim o amor do Pai, este mesmo Jesus continua vivo no meio de nós, nas nossas comunidades. É através de nós, que ele quer continuar a sua missão para revelar a Boa Nova do amor de Deus aos pobres. Até hoje, a ressurreição acontece. Ela nos leva a cantar: "Quem nos separará, quem vai nos separar, do amor de Cristo, quem nos separará?" Poder nenhum deste mundo é capaz de neutralizar a força que vem da fé na ressurreição (Rm 8,35-39). Uma comunidade que quiser ser testemunha da Ressurreição deve ser sinal de vida, deve lutar contra as forças da morte, para que o mundo seja um lugar favorável à vida, deve crer que um outro mundo é possível. Sobretudo aqui na América Latina, onde a vida do povo corre perigo por causa do sistema de morte que nos foi imposto, as comunidades devem ser uma prova viva da esperança que vence o mundo, sem medo de ser feliz!.

 

4) Para confronto pessoal

  1. Como estes sinais da presença de Jesus acontecem na minha vida?
  2. Quais são, hoje, os sinais que mais convencem as pessoas da presença de Jesus no nosso meio?

 

5) Oração final

Ó Senhor, eu cantarei eternamente o vosso amor, de geração em geração eu cantarei vossa verdade! Porque dissestes: “O amor é garantido para sempre!” E a vossa lealdade é tão firme como os céus (Sl 88).

Peço vênia ao padroeiro São Sebastião, coitado, cariocamente amarrado pelas cordas da violência urbana no tronco Largo do Russel. Hoje é preciso radicalizar a fé e chamar aquele que. para ajudar o próximo. sentou praça na cavalaria dos santos

 

Espadas de São Jorge — Foto: Internet

 

Por Joaquim Ferreira dos Santos

Toda noite de lua cheia eu te vejo aqui de baixo, golpeando o dragão da maldade, e eis que hoje, meu santo guerreiro da Capadócia, às vésperas do teu dia municipal, aproveito este gancho, a necessidade pagã de escrever a crônica de jornal, para agradecer o feriadão e principalmente o empréstimo, sempre generoso, das lanças para que teus fiéis enfrentem os dragões do cotidiano. O bicho tá solto e solta fogo, estresse e boleto pelas ventas.

Eu ando vestido com as armas, com as roupas vermelhas e com todas as canções já compostas sobre São Jorge em sua lua deslumbrante, de um azul verdejante, cauda de pavão. Desde o início ele estava desenhado na fachada da casa na infância suburbana, num azulejo que funcionava como alarme Verisure vintage, como câmera Gabriel pré-moderna, na segurança máxima contra todo tipo de ladrão.

Peço vênia ao padroeiro São Sebastião, coitado, sempre tão cariocamente flechado, amarrado pelas cordas da violência urbana e para sempre inerte em seu tronco de dor no Largo do Russel. Hoje é preciso radicalizar a fé e discar o 190 do socorro celestial, chamar aquele que, para ajudar o próximo, sentou praça na cavalaria dos santos.

É urgente acionar Jorge, o mártir cristão que não quer saber de calçar as sandálias da humildade de São Francisco de Assis, mas as botas de guerra. Que ele venha montado em seu cavalo branco cumprir a oração, a promessa de que as armas de fogo, e também as bicicletas nas calçadas, muito menos as balas perdidas, aos corpos de seus crentes não alcançarão.

Viver no Rio de Janeiro é matar um dragão de maldade a cada dia e por isso é preciso saudar a quem sabe da dureza do ofício, quem estende o escudo protetor e inspira na missão diuturna de correr atrás.

Salve ‘seu’ Jorge, salve Benjor, Jorge Mautner e também Aragão, salve os que estão felizes na companhia deste que, todo 23 de abril, desce da “lua bonita” da toada triste de Zé do Norte, da “lua soberana” da balada dançante do Caetano, e sai em procissão pela cidade que tanto pede por ele. O cortejo parte da igreja do Campo de Santana, passa pela matriz de Quintino, veste-se de Ogum para o batuque na feijoada do Império Serrano em Madureira – e eu sugeriria ao prefeito que esse percurso sagrado, uma versão tropical do Caminho de Santiago, fosse cercado por sublimes touceiras de Espadas de São Jorge.

O Rio de Janeiro tem árvores fundamentais que explicam a carioquice – a sumaúma do Tom Jobim no Jardim Botânico, o tamarindeiro do Zeca Pagodinho no Cacique de Ramos – e a todas elas, mais a Palma Mater do Dom João, deve-se a sombra divina para erigir tamanho sonho de civilização.

Dentro de casa, porém, de preferência logo na porta da entrada, é a Espada de São Jorge, principalmente a de borda amarela, que serve de amuleto contra energias negativas, o mau olhado da vizinha faladeira e a inveja da visita fuxiqueira. Ela reforça a esperança do morador e embeleza a crença de que, mesmo tendo mãos, os inimigos não o pegarão. Esta crônica pagã, um abraço em todos que são desta cavalaria de fé, foi escrita aos pés de uma delas, uma Espada de São Jorge com bordas amarelíssimas. Fonte: https://oglobo.globo.com

No Regina Caeli, o Papa explicou o que o Senhor quer nos dizer com a imagem do Bom Pastor: não só que Ele é a guia, o Chefe do rebanho, mas sobretudo que pensa em cada um de nós como no amor da sua vida. Pensemos nisto: eu para Cristo sou importante, insubstituível.

 

Vatican News

O Papa rezou o Regina Caeli com os fiéis reunidos na Praça São Pedro neste IV domingo da Páscoa,  dedicado a Jesus Bom Pastor. Em sua alocução, Francisco se deteve numa frase repetida três vezes pelo Mestre: "O bom pastor dá a vida por suas ovelhas".

O Pontífice recordou que ser pastor, especialmente no tempo de Cristo, não era só uma profissão, mas significava compartilhar jornadas inteiras, e também noitadas, com as ovelhas, de viver em simbiose com elas. Com efeito, Jesus explica que não é um mercenário que não se importa com as ovelhas, mas Ele as conhece, chama por nome. E mais: Jesus não é só um bom pastor que compartilha a vida do rebanho, é o Bom Pastor que por nós sacrificou a vida e, ressuscitado, nos deu o seu Espírito.

“Eis o que quer nos dizer o Senhor com a imagem do Bom Pastor: não só que Ele é o guia, o Chefe do rebanho, mas sobretudo que pensa em cada um de nós, e nos pensa como o amor da sua vida. Pensemos nisto: eu para Cristo sou importante, Ele pensa em mim, sou insubstituível, valho o preço infinito da sua vida. E isso não é um modo de dizer: Ele deu realmente a vida por mim, morreu e ressuscitou por mim, por quê? Porque me ama e encontra em mim uma beleza que eu frequentemente não vejo.”

Quantas pessoas hoje se consideram inadequadas ou até mesmo erradas, prosseguiu o Pontífice. Ou se pensa que o nosso valor depende dos objetivos que conseguimos alcançar, do sucesso aos olhos do mundo, dos julgamentos dos outros: "Hoje, Jesus nos diz que nós para Ele valemos muito e sempre. E então, para reencontrar a nós mesmos, a primeira coisa a fazer é colocar-nos na sua presença, deixar-nos acolher e levantar pelos braços amorosos do nosso Bom Pastor".

Francisco então dirigiu algumas perguntas aos fiéis: "Consigo encontrar todos os dias um momento para abraçar a certeza que dá valor à minha vida? Consigo encontrar um momento de oração, de adoração, de louvor, para estar na presença de Cristo e deixar-me acariciar por Ele?". E concluiu:

"Irmão, irmã, se o fizer, redescobrirá o segredo da vida: lembrará que o Bom Pastor, Ele que deu a vida por você, por mim, por todos nós. E que, para Ele, somos todos importantes, cada um de nós, todos. Que Nossa Senhora nos ajude a encontrar em Jesus o essencial para viver." Fonte: https://www.vaticannews.va

A era digital confere inédita abrangência ao sentimento de ódio que coloca em questão a pluralidade e a diversidade da condição humana, bases da sociedade democrática

 

Celso Lafer 

Professor emérito da USP, ex-ministro das Relações Exteriores (1992 e 2001-2002) e presidente da Fapesp, Celso Lafer escreve mensalmente na seção Espaço Aberto

 

A democracia requer confiança. A confiança recíproca entre os cidadãos e destes nas instituições, como diz Bobbio. A confiança exige transparência. A cidadania precisa saber quem é quem, o que faz e quais são seus parceiros na vida pública. A institucionalização da confiança passa pelas boas leis e pressupõe o cumprimento das regras da democracia.

O fundamento ético da democracia é o reconhecimento da autonomia de todos, sem distinções. Isso significa realçar na relação governantes/governados a relevância da perspectiva ex parte populi, que se traduz pelo voto. Daí a importância de eleições periódicas nas quais os eleitores votam livremente, de acordo com a melhor informação, formada na livre concorrência da disputa entre partidos.

No jogo democrático, a decisão se desenvolve de baixo para cima, a partir dos eleitores. Eleger (eligere) é escolher, designar, o primeiro verbo da gramática da democracia, como aponta Michelangelo Bovero. Daí a importância capital da integridade do processo eleitoral, que tem na Justiça Eleitoral um guardião da lisura do seu processo. A pergunta, na hora presente, é se é possível transpor por analogia para o mundo virtual a regra do que é permitido/proibido no mundo real. O desafio é como tornar realizáveis estes valores no novo mundo virtual, aquilo que no seu instantâneo abrangente escapa aos tradicionais ritmos da vida jurídica.

A técnica e o conhecimento não fazem a História, mas mudam as condições pelas quais os seres humanos a fazem. Elas modificaram-se com a era digital, que trouxe um novo paradigma transformador da convivência coletiva.

As redes sociais operam pelas plataformas digitais, que não são só ferramentas de comunicação que dão acesso à informação e à expansão da liberdade de expressão. O impacto do seu alcance em todas as dimensões da vida transcende a dimensão privada de sua propriedade pelas big techs. Comportam a preocupação com a sua presença e responsabilidade jurídica na res publica.

Esta preocupação é de generalizado reconhecimento. Dela têm se ocupado decisões jurisdicionais em vários países democráticos que criaram marcos normativos de regulação, instrução e regras técnicas distintas das do mundo analógico.

A construção da confiança numa democracia requer a transparência que contém os segredos do poder. Um dos desafios das plataformas digitais para a democracia são as arcas de segredo que nelas se ocultam. Destituídas de apropriados marcos normativos e de controle jurisdicional, elas operam num belicoso estado de natureza hobbesiana. Suas metodologias não são transparentes, nem é transparente o processo decisório dos algoritmos de que se valem. Propiciam assim, pelas arcas dos seus segredos, o potencial de desinformação que delas emana por meio da transmissão das fake news e de “discursos de ódio”. É o que proporciona danos para a integridade do processo eleitoral. Disso tratou Alexandre de Moraes na sua tese de titularidade recém-defendida na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), que aponta para a relevância das regras de calibração da moderação do conteúdo das matérias que discutiu.

O ódio não é um sentimento novo na interação humana. Caracteriza-se pela duração da sua intransitividade. Passa pela ameaça e pela calúnia, como registrou Aristóteles. A era digital confere inédita abrangência ao sentimento de ódio que coloca em questão a pluralidade e a diversidade da condição humana, bases da sociedade democrática. A persistência do discurso de ódio, facilitada pelas plataformas, integra suas manifestações como um dado permanente do tecido visível da sociedade. Consolida práticas discriminatórias que se contrapõem ao princípio da inclusão, de favorecer o bem de todos sem qualquer discriminação, contemplado pela Constituição.

As fake news versam um tema clássico: o emprego da mentira na vida política, que busca enganar, induzindo pela falsidade a opinião alheia, como ensina São Tomás.

A era digital dá inédita abrangência às narrativas das palavras mentirosas. As fake news denegam o princípio da veracidade que alimenta a reciprocidade da confiança. Colocam em questão a verdade factual, a verdade da política, na lição de Hannah Arendt. Esta não carrega no seu bojo a clareza da evidência, mas é, no entanto, o solo sobre o qual nos colocamos de pé. As fake news solapam o chão que permite diferenciar fato e ficção. Ensejam a sombra de conspirações imaginárias e o arbítrio da escolha de “inimigos objetivos”. Geram, no vigor de seu ubíquo negacionismo, insegurança generalizada que provém da incapacidade de distinguir, no espaço público, o falso do verdadeiro.

O digital do extremismo dos discursos de ódio e das fake news, favorecidos pelas plataformas operando num estado de natureza hobbesiano, compromete a confiança da dinâmica do processo eleitoral. Tende a transformar na era digital as eleições, ao modo de Carl Schmitt, na assertiva polarização de uma relação amigo/inimigo, ontologicamente constitutiva de um decisionismo antidemocrático.

*PROFESSOR EMÉRITO DA FACULDADE DE DIREITO DA USP, FOI MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES (1992, 2001-2002) Fonte: https://www.estadao.com.br

Cresce o número de líderes que buscam ajuda, segundo médico do Instituto Cristão de Psicanálise

 

Número de evangélicos que buscam ajuda para resolver questões mentais aumentou, segundo o médico Pedro Onari - Arquivo Pessoal

 

Melina Cardoso

SÃO PAULO

Aos 23 anos, o pastor José Almeida iniciou seu ministério em uma igreja batista, em São Paulo. Segundo ele, foram 25 anos pregando, servindo pessoas e ao ministério, sem nenhuma pausa.

A conta chegou em 2015, quando passou a ter picos de ansiedade, burnout e estafa, que o levaram para uma internação de 12 dias.

Como muitos evangélicos de sua época, Almeida associava doença mental a pecados ou demônios, por isso, resistiu em procurar ajuda psiquiátrica. "Minha saúde física e emocional foi se degradando e cheguei ao fundo do poço", lembra.

"Minha esposa foi orientada pelos médicos a esconder instrumentos de corte e colocar grade nas janelas", lembra o líder de 60 anos, que chegou a tomar 56 doses de remédios por dia, durante seu tratamento.

As medicações foram suspensas em 2022, mas as terapias continuam até hoje, e ele diz reconhecer mais fácil os gatilhos, sendo a falta de descanso, o maior deles.

O número de pastores com depressãoestafa e ansiedade que passaram a buscar ajuda no Instituto Onari de Psicanálise Cristã aumentou muito nos últimos anos, segundo o médico e psicanalista que coordena o local, Pedro Onari.

Ao contrário de psicólogos, cujo código de ética veda a utilização do título associado a vertentes religiosas, a psicanálise, por ser um curso livre, permite tal fusão.

Onari explica que a associação da psicanálise clássica, neurociência e ensinamentos de Jesus formam um combo para acessar o inconsciente e acolher o sofrimento humano. "Muitos casos de depressão não têm relação alguma com a espiritualidade. São inconscientes cheios de princípios adquiridos ao longo da vida, geralmente trocados por traumas e fantasias, desenvolvidos principalmente na infância", pontua.

"Libertar pessoas dos próprios pensamentos não é espiritual", reitera o psicanalista, que afirma atender muitos casos de depressão em sua clínica.

"Ao olhar para a depressão, é preciso imaginar uma laranja com muitos gomos", diz o pastor titular da Igreja Mevam (Missões Evangelísticas Vinde Amados Meus) em Campinas (SP), Jucélio de Souza, 55. Ele refere-se aos inúmeros fatores que podem levar uma pessoa à doença, como histórico familiar, perdas, traumas, falta de vitaminas, estresse ou doenças físicas.

Ele foi diagnosticado com depressão, tomou remédios psiquiátricos por um tempo e conta ter vivido uma experiência intensa de cura.

"Deus me levou para uma depressão para confrontar minhas crenças erradas. Eu saí dali um Jucélio com muito mais misericórdia, com muito mais amor, menos julgador, menos orgulhoso, menos soberbo, menos tudo que era ruim", testemunha.

O líder cita Oséias 6, no antigo testamento, para explicar por que passou por tudo isso. "Vinde, e tornemos para o Senhor, porque ele nos despedaçou e nos sarará; fez a ferida e a ligará. Depois de dois dias, nos revigorará; ao terceiro dia, nos levantará, e viveremos diante dele", dizem os dois primeiros versículos.

"Independentemente da causa, Deus usou o naufrágio emocional para me curar. Desilusão é um elemento da pedagogia de Deus e se a vida emocional foi abalada, significa que as emoções estavam se acomodando de forma desordenada dentro de nós. Ele [Deus] vai ferir as bases de crenças erradas, inclusive bases de crenças religiosas equivocadas para devolver saúde para nós", pontua.

Souza destaca o papel paralelo da igreja na vida de quem está buscando a mesma cura. "A igreja é uma UTI, e nela há pessoas que vão abraçá-lo e ajudá-lo. Ao viver essa experiência, a pessoa vai sair do outro lado mais feliz, agradecida pelo túnel escuro que passou, porque encontrou uma claridade, uma luz, que antes não tinha".

O pastor José Almeida também cita as mudanças na forma de tratar as ovelhas que chegaram até ele com questões de saúde mental após seu tratamento.

"Minha visão de mundo, meu atendimento pastoral e a forma de acolher as pessoas mudaram radicalmente. Antes julgava e até condenava. Hoje sou mais humano, mais misericordioso", diz o pregador, que estudou psicanálise e hoje oferece seminários e rodas de conversa sobre saúde mental em sua igreja. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

 1) Oração

Ó Deus todo-poderoso, concedei que, conhecendo a ressurreição do Senhor e a graça que ela nos trouxe, ressuscitemos para uma vida nova pelo amor do vosso espírito. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 

2) Leitura do Evangelho  (João 6, 52-59)

Naquele tempo, 52Os judeus discutiam entre si: “Como é que ele pode dar a sua carne a comer?” 53Jesus disse: “Em verdade, em verdade, vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. 54Quem consome a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. 55Pois minha carne é verdadeira comida e meu sangue é verdadeira bebida. 56Quem consome a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim, e eu nele. 57Como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo por meio do Pai, assim aquele que me consome viverá por meio de mim. 58Este é o pão que desceu do céu. Não é como aquele que os vossos pais comeram – e no entanto morreram. Quem consome este pão viverá para sempre”. 59Jesus falou estas coisas ensinando na sinagoga, em Cafarnaum.

 

3) Reflexão

Estamos chegando quase ao fim do Discurso do Pão da Vida. Aqui começa a parte mais polêmica. Os judeus se fecham e começam a questionar as afirmações de Jesus.

João 6,52-55: Carne e sangue: expressão da vida e da doação total.  Os judeus reagem: "Como esse homem pode dar-nos 0a sua carne para comer?" Era perto da festa da Páscoa. Dentro de poucos dias, todos iam comer a carne do cordeiro pascal na celebração da noite de páscoa. Eles não entenderam as palavras de Jesus, porque tomaram tudo ao pé da letra. Mas Jesus não diminui as exigências, não retira nada do que disse, e insiste: "Eu garanto a vocês: se vocês não comem a carne do Filho do Homem e não bebem o seu sangue, não terão a vida em vocês. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue vive em mim e eu vivo nele”.   (1) Comer a carne de Jesus significa aceitar Jesus como o novo Cordeiro Pascal, cujo sangue nos liberta da escravidão. A lei do Antigo Testamento, por respeito à vida, proibia comer sangue (Dt 12,16.23; At 15.29). Sangue era o sinal da vida. (2) Beber o sangue de Jesus significa assimilar a mesma maneira de viver que marcou a vida de Jesus. O que traz vida não é celebrar o maná do passado, mas sim comer este novo pão que é Jesus, a sua carne e o seu sangue. Participando da Ceia Eucarística, assimilamos a sua vida, a sua doação e entrega.  “Se vocês não comem a carne do Filho do Homem e não bebem o seu sangue não terão vida em vocês”. Devem aceitar Jesus como messias crucificado, cujo sangue vai ser derramado.

João 6,56-58: Quem me receber como alimento viverá por mim.  As últimas frases do Discurso do Pão da Vida são de grande profundidade e tentam resumir tudo que foi dito. Elas evocam a dimensão mística que envolve a participação na eucaristia. Expressam o que Paulo diz na carta aos Gálatas: “Vivo, mas já não sou eu que vivo. É Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). E o que diz o Apocalipse de João: “Se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, ele comigo” (Ap 3,20). E o próprio João no Evangelho: “Se alguém me ama guardará minha palavra e o meu Pai o amará e a ele viremos e nele faremos nossa morada” (Jo 14,23). E termina com a promessa da vida que marca a diferença com o antigo êxodo: “Este é o pão que desceu do céu. Não é como o pão que os pais de vocês comeram e depois morreram. Quem come deste pão viverá para sempre."

João 6,59: Termina o discurso na sinagoga. Até aqui foi a conversa entre Jesus e o povo e os judeus na sinagoga de Cafarnaum. Como aludimos anteriormente, o Discurso do Pão da Vida nos oferece uma imagem de como era a catequese naquele fim do primeiro séculos nas comunidades cristãs da Ásia Menor. As perguntas do povo e dos judeus refletem as dificuldades dos membros das comunidades. E as resposta de Jesus representam os esclarecimentos para ajuda-los a superar as dificuldades, aprofundar sua fé e viver mais intensamente a eucaristia que era celebrada sobretudo nas noites de sábado para o domingo, o Dia do Senhor.

 

4) Para um confronto pessoal

1) A partir do Discurso do Pão da Vida, a celebração da Eucaristia recebe uma luz muito forte e um aprofundamento enorme. Qual a luz eu estou percebendo que me ajuda a dar um passo?

2) Comer a carne e o sangue de Jesus, é o mandamento que ele nos dá. Como vivo a eucaristia na minha vida? Mesmo não podendo ir à missa todos os dias ou todos os domingos, minha vida deve ser eucarística. Como tento realizar este objetivo?

 

5) Oração final

Povos todos, louvai o SENHOR, nações todas, dai-lhe glória; porque forte é seu amor para conosco e a fidelidade do SENHOR dura para sempre. (Sl 116, 1-2)

BOM PASTOR 

 

Dom Paulo Mendes Peixoto

Arcebispo de Uberaba (MG)

 

Biblicamente falando, o Bom Pastor é Jesus Cristo, é aquele que testemunha coerentemente tudo aquilo que faz em relação às pessoas, e é Ele mesmo quem se apresenta assim. Mas não deixa de ser e ter autêntico estilo de vida comprometido em seus objetivos, com dimensão extrema de cuidado e de atenção para com as ovelhas pastoreadas, fomentando um trabalho de defesa e proteção. 

Na figura do Bom Pastor, Jesus, projetamos as pessoas de autoridade, constituídas no mundo das relações humanas, seja a do pai, seja a da mãe, ou das diversas governanças na sociedade. Assim deve estar formada toda a organização natural do povo, para que aconteça a harmonia no bem viver das pessoas, mas entendemos a autoridade que se converte em verdadeiro serviço comunitário. 

 A autoridade vem de Deus, mas ela se consolida quando é realizada como verdadeiro serviço de doação ao próximo. Criticaram a autoridade dos apóstolos, ao dizer: “Com que poder ou em nome de quem vocês fizeram isso?” (At 4,7). Pedro, porque o Espírito de Deus estava nele, deu-lhes uma resposta sábia e segura, afirmando agir em nome de Jesus Cristo, a serviço da comunidade. 

A prática da arrogância, o espírito de dominação e dos atos injustos desabonam totalmente a força das autoridades e de qualquer liderança. O espelho, que deve ser contemplado, é a Pessoa do Bom Pastor, despido de qualquer formalidade arbitrária em relação ao outro, principalmente para com os mais pobres e vulneráveis. Toda autoridade deve ser de confiança e fazer o bem para ser confiável. 

O pastor tem o compromisso de ser sempre humano, de amar e ser amado para desempenhar bem sua tarefa. Jesus revela essa prática como pessoa humano/divina, para conduzir os humanos, levando-os ao divino. Era diferente dos mercenários, exploradores, sem compaixão e manipuladores das ovelhas. Lançavam mão dos próprios caprichos para conduzi-las à total submissão. 

 A ação de um pastor acontece numa comunidade concreta, onde está presente a diversidade de pensamento e de atitudes. É seu papel ser aglutinador das diferenças para acontecer a unidade, evitando as arestas destoantes e provocadoras de atritos. Mas o bem pode acontecer também em ambientes conflitantes, desde que sejam conduzidos com determinação por quem é bom pastor. Fonte: https://www.cnbb.org.br

O Bom Pastor

 

Dom Rodolfo Luís Weber

Arcebispo de Passo Fundo (RS) 

“Eu sou o Bom Pastor”. É assim que Jesus se auto revela. Ele se define como bom Pastor, excluindo e contrapondo-se a todos os demais. É o Pastor verdadeiro, autêntico, modelo e único. (Atos 4,8-12, Salmo 117, 1 Jo 3,1-2 e Jo 10,11-18). O mundo antigo está repleto de pastores: pastores de profissão que cuidavam ovelhas, cabritos para o seu sustento e da família; pastores também eram denominados os chefes, reis, sacerdotes. Temos dificuldade de compreender hoje o modo de vida dos pastores de profissão e o comportamento das ovelhas, mas a relação que Jesus faz com os líderes e quem exerce funções de chefia é compreensível. 

Jesus diz que é diferente do mercenário. Compreende-se por mercenário o soldado profissional que serve qualquer governo ou entidade que lhe pague; alguém que trabalha e serve apenas por dinheiro; que é movido apenas pelo interesse pessoal e material. Jesus aponta duas razões que o diferenciam do mercenário. Em primeiro lugar “dá vida por suas ovelhas”, enquanto que o mercenário “abandona as ovelhas”. A sexta-feira da Paixão e Morte celebra a doação da vida do Bom Pastor pelas ovelhas. Este é o maior aval do pastoreio de Cristo. É também a máxima diferença e contraste: o Bom Pastor dá a vida por suas ovelhas, o mercenário nem sequer se expõe, foge diante de qualquer perigo. 

A segunda diferença com o mercenário é que o Bom Pastor “conhece as ovelhas, e elas o conhecem”. Recordando que no contexto bíblico “conhecer” não se reduz ou fica somente no plano intelectual ou conceitual. É um conhecimento que cria comunhão de vida, relação pessoal, ativa, amorosa, compaixão. Os relatos do Evangelho testemunham o envolvimento de Jesus nas mais variadas situações vitais. Por exemplo, se comove com a viúva de Naim que está indo enterrar o filho único. A primeira carta de João revela que o conhecer cria um vínculo vital de “sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos!” O conhecimento se completará na eternidade. “Sabemos que, quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é”. 

Jesus sempre fala para todos os ouvintes, pois ele é o Pastor de todos. Mas quando ele se compara com os mercenários foca a atenção aos que exercem a função de liderança, em primeiro lugar aos líderes religiosos. O rebanho do Senhor vive no mundo por isso a palavra se dirige, e é válida, para todas as lideranças.  

O 4º Domingo da Páscoa é o “Dia Mundial de oração pelas vocações”. A mensagem do Papa Francisco tem por título: “Chamados a semear a esperança e a construir a paz”. A oração é para a todas as vocações existentes na Igreja. A mensagem diz que “este Dia é dedicado de modo particular à oração para implorar do Pai o dom de santas vocações para a edificação do seu Reino: “Rogai ao dono da messe que mande trabalhadores para a sua messe” (Lc 10,2)”. Pede-se, portanto, uma oração particular pelos que receberam o Sacramento da Ordem e por vocacionados para este Sacramento. 

O ensinamento de Jesus desperta em nós uma alegria muito grande de pertencermos ao povo de Deus conduzido por Cristo, O Bom Pastor. Somos conhecidos e amados por Ele. Somos provocados a não traí-lo. Jesus oferece um sinal de reconhecimento para sabermos se estamos no seu rebanho: “Conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem […] elas escutarão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor”. Fonte: https://www.cnbb.org.br

 

1) Oração

Ó Deus eterno e onipotente, que nestes dias vos mostrais tão generoso, dai-nos sentir mais de perto o vosso amor paterno para que, libertados das trevas do erro, sigamos com firmeza a luz da verdade. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 

2) Leitura do Evangelho (João 6, 44-51)

Naquele tempo, disse Jesus às multidões: 44Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o atrair. E eu o ressuscitarei no último dia. 45Está escrito nos Profetas: ‘Todos serão discípulos de Deus’. Ora, todo aquele que escutou o ensinamento do Pai e o aprendeu vem a mim. 46Ninguém jamais viu o Pai, a não ser aquele que vem de junto de Deus: este viu o Pai. 47Em verdade, em verdade, vos digo: quem crê, tem a vida eterna. 48Eu sou o pão da vida. 49Os vossos pais comeram o maná no deserto e, no entanto, morreram. 50Aqui está o pão que desce do céu, para que não morra quem dele comer. 51“Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem come deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é a minha carne, entregue pela vida do mundo”.

 

3) Reflexão

Até agora, o diálogo era entre Jesus e o povo. Daqui para a frente, os líderes judeus começam a entrar na conversa, e a discussão se torna mais tensa.

João 6,44-46: Quem se abre para Deus, aceita Jesus e a sua proposta.  A conversa torna-se mais exigente. Agora são os judeus, os líderes do povo, que murmuram: "Esse não é Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe conhecemos? Como é que ele pode dizer que desceu do céu?" (Jo 6,42) Eles pensavam conhecer as coisas de Deus. Na realidade, não as conheciam. Se fossem realmente abertos e fiéis a Deus, sentiriam dentro de si o impulso de Deus atraindo-os para Jesus e reconheceriam que Jesus vem de Deus, pois está escrito nos Profetas: 'Todos serão instruídos por Deus'. Todo aquele que escuta o Pai e recebe sua instrução vem a mim.

João 6,47-50: Vossos pais comeram o maná e morreram. Na celebração da páscoa, os judeus lembravam o pão do deserto. Jesus os ajuda a dar um passo. Quem celebra a páscoa, lembrando só o pão que os pais comeram no passado, vai acabar morrendo como todos eles! O verdadeiro sentido da Páscoa não é lembrar o maná que caiu do céu, mas sim aceitar Jesus como o novo Pão da Vida e seguir pelo caminho que ele ensinou. Agora já não se trata de comer a carne do cordeiro pascal, mas sim de comer a carne de Jesus, para que não pereça quem dele comer, mas tenha a vida eterna!

João 6,51: Quem comer deste pão viverá eternamente. E Jesus termina dizendo: "Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem come deste pão viverá para sempre. E o pão que eu vou dar é a minha própria carne, para que o mundo tenha a vida."  Em vez do maná e em vez do cordeiro pascal do primeiro êxodo, somos convidados e comer o novo maná e o novo cordeiro pascal que é o próprio Jesus que se entregou na Cruz pela vida de todos.

O novo Êxodo. A multiplicação dos pães aconteceu perto da Páscoa (Jo 6,4). A festa da páscoa era a memória perigosa do Êxodo, a libertação do povo das garras do faraó. Todo o episódio narrado neste capítulo 6 do evangelho de João tem um paralelo nos episódios relacionados com a festa da páscoa, tanto com a libertação do Egito quanto com a caminhada do povo no deserto em busca da terra prometida. O Discurso do Pão da Vida, feito na sinagoga de Cafarnaum, está relacionado com o capítulo 16 do livro do Êxodo que fala do Maná. Vale a pena ler todo este capítulo 16 de Êxodo. Percebendo as dificuldades do povo no deserto, podemos compreender melhor os ensinamentos de Jesus aqui no capítulo 6 do evangelho de João. Por exemplo, quando Jesus fala de “um alimento que perece” (Jo 6,27) ele está lembrando o maná que estragava e perecia (Ex 16,20). Da mesma forma, quando os judeus “murmuram” (Jo 6,41), eles fazem a mesma coisa que os israelitas faziam no deserto, quando duvidavam da presença de Deus no meio deles durante a travessia (Ex 16,2; 17,3; Nm 11,1). A falta de alimentos fazia com que o povo duvidasse de Deus e começasse a murmurar contra Moisés e contra Deus. Aqui também os judeus duvidam da presença de Deus em Jesus de Nazaré e começam a murmurar (Jo 6,41-42).

 

4) Para um confronto pessoal

1) A eucaristia me ajuda a viver em estado permanente de Êxodo? Estou conseguindo?

2) Quem é aberto para a verdade encontra em Jesus a resposta. Hoje, muita gente se afasta e já não encontra a resposta. Culpa de quem? Das pessoas que não quer escutar? Ou de nós cristãos que não sabemos apresentar o evangelho como uma mensagem de vida?

 

5) Oração final

Vinde e escutai, vós todos que temeis a Deus, porque quero narrar-vos o que ele fez para mim. A ele gritei com minha boca e a minha língua o exaltou. (Sl 65, 16-17)

Processo que torna o mapa brasileiro pontilhado de núcleos religiosos nos possibilita visualizar a produção de espaços sociais ao longo do tempo

 

Por Renata Nagamine Aramis Luis Silva

Quando os dados do Censo 2022 sobre usos do domicílio saiu, chamou a atenção o número de “estabelecimentos religiosos”: segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 580 mil. Para dimensionar esse número, jornais o compararam com a quantidade de escolas e hospitais existentes no País, mostrando que os “estabelecimentos religiosos” os superavam numericamente.

Um painel com o georreferenciamento de organizações e associações religiosas no Brasil lançado na sequência pelo Observatório da Religião e Interseccionalidades do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) mostra que, destes 580 mil “estabelecimentos religiosos”, cerca de 123 mil estão inscritos no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), e estão ativos perante a Receita Federal. O mapa torna visível um achado do projeto temático Religião, direitos e secularismo, concluído em 2022: abrir igreja é um dos modos de “fazer religião” no Brasil.

A proposição pode parecer estranha. No Brasil, é comum acreditar que religião é algo que se tem. Também é comum acreditar que esse algo é uma crença, um conjunto de preceitos adquiridos sobre a ordem do mundo ou de conhecimentos transmitidos pela tradição. Da matriz católica que produziu o que convencionalmente se percebe como religião no País vem outro senso comum: a centralidade do dogma.

A Antropologia nos leva a pensar que temos uma crença na crença. Nossas pesquisas de campo em dois sucessivos projetos temáticos no Cebrap nos levam a pensar, por sua vez, que parte dos autodeclarados religiosos é alheia àquela crença. Para eles, religião seria um modo de fazer e viver o mundo.

Entre estes, muitos regularizam seus “estabelecimentos religiosos”, por meio da adoção de uma forma jurídica que os torna reconhecíveis pelo Estado brasileiro. As duas formas à disposição deles são organização e associação religiosa. Para adotar qualquer uma delas, o “estabelecimento” precisa tomar uma série de medidas práticas: obter alvará de funcionamento na prefeitura, constituir diretoria, adotar estatuto social, dar-se um nome (razão social), entre outras.

Não por acaso, encontramos com facilidade na internet escritórios de contabilidade especializados na assessoria de organizações e associações religiosas. “Fazer igreja” é uma atividade que requer toda uma tecnologia, um saber prático, que vai muito além da pregação e do aconselhamento. Como a organização ou associação religiosa precisa atualizar sua situação cadastral periodicamente, passa a atualizar balanço contábil e prestar contas perante os órgãos do Estado.

A pesquisa do observatório ainda fornece elementos para compreender uma dimensão pouco comentada do “fazer religião” no Brasil. Se, por um lado, está claro que abrir igreja é um modo de fazer religião, como argumenta Paula Montero, por outro, é preciso examinar como a produção destes espaços sociais impacta a constituição do território nacional.

O processo que torna o mapa brasileiro pontilhado de núcleos religiosos nos possibilita visualizar a produção de espaços sociais ao longo do tempo. O pontilhado aumenta a partir dos anos 1980 e se intensifica a partir dos anos 2000, com um aumento vertiginoso entre 2008 e 2011.

O Observatório da Religião e Interseccionalidades ainda não divulgou sua classificação das organizações e associações por vertentes religiosas. Mas uma busca por termos possibilita visualizar que esse aumento é concentrado em denominações como a Assembleia de Deus, a Igreja Universal do Reino de Deus e a Igreja Batista.

Se confirmado no decorrer da pesquisa, o acentuado aumento da abertura formal de organizações e associações nos últimos anos do segundo mandato de Lula desafiará adeptos da narrativa de perseguição religiosa a mostrar como ela ocorreu. Será difícil sustentar que foi pela oposição de qualquer tipo de obstáculo à abertura e manutenção de espaços de culto.

Também é importante refletir sobre uma dimensão menos discutida do crescente pontilhado do mapa do Brasil: a relação entre religião e ocupação territorial a partir dos anos 1980. Ela indica a importância da Constituição de 1988 na abertura formal e informal de igrejas, logo, na produção de espaços sociais.

Uma dimensão da produção destes espaços é que, por meio dela, a terra física formalmente demarcada como território do Brasil ganha sentido para a sociedade. Nesse sentido, “fazer igreja” é tanto um modo de “fazer religião” quanto um modo de “fazer um país”.

Não é preciso acreditar. É possível ver no Painel com Georreferenciamento de Organizações e Associações Religiosas, que torna visível a ocupação do território a oeste e em alguns corredores fluviais amazônicos.

Se, por um lado, as apresentações gráficas que o observatório traz evidenciam a proposição de que a religião se faz “fazendo igreja”, por outro, essa proposição não nos ajuda a compreender as oscilações grandes, súbitas e contrárias dos números no Brasil no intervalo que vai de 2008 a 2015. Para compreendê-las, pode ser útil lembrar que “fazer igreja” é um modo, não o único modo, de “fazer religião” no Brasil.

*SÃO, RESPECTIVAMENTE, PESQUISADORA DE PÓS-DOUTORADO NO NÚCLEO DE RELIGIÕES NO MUNDO CONTEMPORÂNEO DO CEBRAP (FAPESP, PROCESSO N.º 2022/16449-6); E PESQUISADOR DO CENTRO DE IMAGINAÇÃO CRÍTICA. Fonte: https://www.estadao.com.br 

 

1) Oração

Permanecei, ó Pai, com vossa família e, na vossa bondade, fazei que participem eternamente da ressurreição do vosso Filho aqueles a quem destes a graça da fé. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 

2) Leitura do Evangelho (João 6, 35-40)

Naquele tempo, 35disse Jesus às multidões: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome, e quem crê em mim nunca mais terá sede. 36Contudo, eu vos disse que me vistes, mas não credes. 37Todo aquele que o Pai me dá, virá a mim, e quem vem a mim eu não lançarei fora, 38porque eu desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. 39E esta é a vontade daquele que me enviou: que eu não perca nenhum daqueles que ele me deu, mas os ressuscite no último dia. 40Esta é a vontade do meu Pai: quem vê o Filho e nele crê tenha a vida eterna. E eu o ressuscitarei no último dia”.

 

3) Reflexão

João 6,35-36: Eu sou o pão da vida. Entusiasmado com a perspectiva de ter o pão do céu de que falava Jesus e que dá vida para sempre (Jo 6,33), o povo pede: "Senhor, dá nos sempre desse pão!" (Jo 6,34). Pensavam que Jesus estivesse falando de um pão especial. Por isso, interesseiramente pede: “Dá-nos sempre desse pão!” Este pedido do povo faz lembrar a conversa de Jesus com a Samaritana. Jesus tinha dito que ela poderia ter dentro de si a fonte de água que brota para a vida eterna, e ela interesseiramente pedia: "Senhor, dá-me dessa água!" (Jo 4,15). A Samaritana não percebeu que Jesus não estava falando da água material. Da mesma maneira, o povo não se deu conta de que Jesus não estava falando do pão material. Por isso, Jesus responde bem claramente: "Eu sou o pão da vida! Quem vem a mim não terá mais fome, e quem acredita em mim nunca mais terá sede”. Comer o pão do céu é o mesmo que crer em Jesus. É crer que ele veio do céu como revelação do Pai. É aceitar o caminho que ele ensinou. Mas o povo, apesar de estar vendo Jesus, não acredita nele. Jesus percebe a falta de fé e diz: “Vocês me vêem, mas não acreditam”.

João 6,37-40: Fazer a vontade daquele que me enviou.  Depois da conversa com a Samaritana, Jesus tinha dito aos discípulos: "O meu alimento é fazer a vontade do Pai que está no céu!" (Jo 4,34). Aqui, na conversa com o povo a respeito do pão do céu, Jesus toca no mesmo assunto: “Eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, e sim para fazer a vontade daquele que me enviou. E a vontade daquele que me enviou é esta: que eu não perca nenhum daqueles que ele me deu, mas que eu os ressuscite no último dia. Sim, esta é a vontade do meu Pai: que toda pessoa que vê o Filho e nele acredita, tenha a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia”  Este é o alimento que o povo deve buscar: fazer a vontade do Pai do céu. É este o pão que sustenta a pessoa na vida e lhe dá rumo. Aí começa a vida eterna, vida que é mais forte que a morte! Se estivessem realmente dispostos a fazer a vontade do Pai, não teriam dificuldade em reconhecer o Pai presente em Jesus.

João 6,41-43: Os judeus murmuram. O evangelho de amanhã começa com o versículo 44 (Jo 6,44-51) e salta os versículos 41 a 43. No versículo 41, começa a conversa com os judeus, que criticam Jesus. Damos aqui uma breve explicação do significado da palavra judeus no evangelho de João para evitar que uma leitura superficial alimente em nós cristãos o sentimento do anti-semitismo. Antes de tudo, é bom lembrar que Jesus era Judeu e continua sendo judeu (Jo 4,9). Judeus eram seus discípulos e discípulas. As primeiras comunidades cristãs eram todas de judeus que aceitavam Jesus como o Messias. Só depois, pouco a pouco, nas comunidades do Discípulo Amado, gregos e pagãos começam a ser aceitos em pé de igualdade com os judeus. Eram comunidades mais abertas. Mas tal abertura não era aceita por todos. Alguns cristãos vindos do grupo dos fariseus queriam manter a “separação” entre judeus e pagãos (At 15,5). A situação ficou mais crítica depois da destruição de Jerusalém no ano 70. Os fariseus se tornam a corrente religiosa dominante dentro do judaísmo e começam a definir as diretrizes religiosas para todo o povo de Deus: suprimir o culto em língua grega; adotar unicamente o texto bíblico em hebraico; definir a lista dos livros sagrados eliminando os livros que estavam só na tradução grega da Bíblia: Tobias, Judite, Ester; Baruc, Sabedoria, Eclesiástico e os dois livros dos Macabeus; segregar os estrangeiros; não comer nenhuma comida, suspeita de impureza ou de ter sido oferecida aos ídolos. Todas estas medidas assumidas pelos fariseus repercutiam nas comunidades dos judeus que aceitavam Jesus como Messias. Estas comunidades já tinham caminhado muito. A abertura para os pagãos era irreversível. A Bíblia em grego já era usada há muito tempo. Não podiam voltar atrás. Assim, lentamente, cresce um distanciamento mútuo entre cristianismo e judaísmo. As autoridades judaicas nos anos 85-90 começam a discriminar os que continuavam aceitando Jesus de Nazaré como Messias (Mt 5, 11-12; 24,9-13). Quem teimava em permanecer na fé em Jesus era expulso da sinagoga (Jo 9,34) . Muitos das comunidades cristãs sentiam medo desta expulsão (Jo 9,22), já que significava perder o apoio de uma instituição forte e tradicional como a sinagoga. Os que eram expulsos perdiam os privilégios legais que os judeus tinham conquistado ao longo dos séculos dentro do império. As pessoas expulsas perdiam até a possibilidade de ter um enterro decente. Era um risco muito grande. Esta situação conflituosa do fim do primeiro século repercute na descrição do conflito de Jesus com os fariseus. Quando o evangelho de João fala em judeus não está falando do povo judeu como tal, mas está pensando muito mais naquelas poucas autoridades farisaicas que estavam expulsando os cristãos das sinagogas nos anos 85-90, época em que o evangelho foi escrito. Não podemos permitir que esta afirmações sobre os façam crescer o anti-semitismo entre os cristãos.

 

4) Para um confronto pessoal

1) Anti-semitismo: olhe bem dentro de você e arranque qualquer resto de anti-semitismo.

2) Comer o pão do céu é crer em Jesus. Como isto me ajuda a viver melhor a eucaristia?

 

5) Oração final

Aclamai a Deus, terra inteira, cantai hinos à glória do seu nome; dai glória em seu louvor. Dizei a Deus: “Como são estupendas as tuas obras! pela grandeza da tua força teus adversários se curvam diante de ti”. (Sl 65, 1-3)