Frei Petrônio de Miranda, O. Carm, Convento do Carmo de Angra dos Reis/RJ.

Quarta-feira, 9 de junho-2021.

 

Certa vez recebi a visita de uma velha amiga no Convento do Carmo. Além de conhecer a cidade, queria passar uma semana na convivência carmelitana para  ver de perto a nossa vida enquanto consagrados à Bem-Aventura Virgem Maria do Monte Carmelo com toda a sua riqueza espiritual. Depois de 2 dias – desesperada- me falou; “Não aguento mais este silêncio, vou embora amanhã”! Tentei compreender a sua afirmação e não precisou de ser psicólogo para descobrir as suas verdadeiras motivações para “cair fora” do convento do Carmo. Tudo era bastante óbvio, aquela senhora nunca tinha conhecido o silêncio- aliás, ela falava muito! – na manhã seguinte comprou uma passagem e retornou para sua família.

Esta história verídica, é para ilustrar um dos pontos centrais da vocação e da espiritualidade carmelitana. Refiro-me ao silêncio eliano. No Monte Carmelo, o grande Profeta Elias-Pai e Guia do Carmelo, não encontrou Deus no furacão, no fogo ou no terremoto, mas na brisa suave. (1 Reis 19, 11-12). Em outras palavras, impossível alguém dizer que é carmelita- frade, freia ou leigo- e não consegue parar e silenciar para Deus falar em seu coração. Esta pessoa pode ser tudo, menos da família carmelitana.  

É também impossível alguém dizer que é carmelita e silenciar diante de uma injustiça contra um pobre, um grupo ou uma comunidade. Afinal, foi também o Profeta Elias que gritou, denunciou e defendeu o pobre da vinha de Nabot (1 Reis 21, 1-29). Óbvio que esta passagem bíblica nos faz olhar para a riqueza profética do Carmelo- seja na época de Elias e Eliseu- ou na segunda-guerra mundial com o Beato Frei Tito Brandsma; Frei Caneca no Recife/PE e tantos homens e mulheres que encontraram no jeito carmelitano um caminho para anunciar a Boa Nova e denunciar as injustiças contra os pobres em cada época. Portanto, dizer que bebe da espiritualidade carmelitana e compactuar com políticos sanguinários, bandidos e assassinos dos pobres é uma grande mentira. Eu disse- Grande Mentira! Pode ser tudo, menos carmelita autêntico.

Outro tópico que, sem dúvida alguma afirma ou nega a “vocação” de alguém que se diz do Carmelo, é a centralidade em Jesus Cristo. Óbvio que todas as ordens, congregação, institutos religiosos e comunidades de vida estão centralizados em Jesus Cristo. É Ele o centro de toda opção.

Para justificar tal afirmação, relembro um pensamento do mártir e Beato Frei Tito Brandsma. Pa ele; “Devemos gerar o Cristo” ou “nos engravidar de Jesus Cristo”. Ou seja, todo o nosso ser dever falar, mostrar o rosto e a pessoa de Jesus Cristo. Quando alguém verdadeiramente transparece Jesus em suas atitudes, falas e ações, esta pessoa é transfigurada no sentido amplo. Portanto, alguém que se diz carmelita é vive na mundanidade, deixado se dominar pelos valores do diabo, propagando a mentira, a inveja, a divisão ou- em outras palavras- sendo um poço de intrigas, esta pessoa pode ser tudo, menos carmelita. E tenho dito!