ORDEM TERCEIRA DE CARMO DE MINAS/MG.

Encontro sobre a Espiritualidade Carmelitana.

Dias 9 e 10 de novembro-20147

Com Frei Petrônio de Miranda, 0. Carm.

Delegado Provincial para Ordem Terceira do Carmo

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Tema: Castidade na vida do Terceiro Carmelita.

A Bíblia tem uma visão muito positiva da sexualidade. Não no seu sentido romântico, mas como uma expressão humana vital do poder criador de Deus. A visão bíblica era “crescer e multiplicar”. Por isso, as crianças – especialmente o filho, numa cultura de aldeia patriarcal – eram não apenas um sinal de bênção e de segurança, mas uma expressão de obediência.

A infecundidade e a esterilidade, por outro lado, eram uma maldição e um motivo para alguém ser ridicularizado. A Bíblia não traz hinos sobre a virgindade e poucas palavras de elogio à vida celibatária. Mais típico é o doloroso quadro de Ana, desfeita em pranto ao orar no santuário de Silo, implorando a Deus para livrá-la da vergonha da esterilidade. Então, onde encontramos um fundamento bíblico para o voto de castidade?

Desde o início da história cristã, aqueles que escolheram a castidade celibatária recorreram a dois textos como a base bíblica para esta decisão. Mateus 19 e 1Coríntios 7. Em Mateus, Jesus proclamou seu ensinamento sobre o matrimônio e aparentemente anulou a possibilidade do divórcio. Os discípulos atordoados dizem a ele: “‘Se a situação do homem com a mulher é assim, então é melhor não se casar’. Jesus respondeu: ‘Nem todos entendem isso, a não ser aqueles a quem é concedido. De fato, há homens castrados, porque nasceram assim; outros, porque os homens os fizeram assim; outros, ainda, se castraram por causa do Reino do Céu. Quem puder entender, entenda’” (Mt 19,10-12). Ainda que o estudo bíblico moderno sugira que esta passagem está mais relacionada com o casamento do que com o celibato, muitos sentem que ela ainda é um importante indício para um fundamento bíblico do voto.

Nesta passagem de Mateus, a frase chave é por causa do Reino do céu. A noção sugerida no texto grego não é a de que alguém se torna eunuco para ir para o Reino, mas que o reino fez algo para que a pessoa se tornasse um eunuco. “Em outras palavras, a lei de Deus – Deus – apodera-se de uma pessoa com uma paixão tão forte, tão dominante que ela toma conta da vida desta pessoa, a leva a uma decisão que a Bíblia dificilmente pode contemplar (e diante da qual os discípulos hesitam)”.

Na passagem de 1Coríntios, Paulo tem um enfoque semelhante. Ao nos aproximarmos do fim dos tempos, “quem não tem esposa, cuida das coisas do Senhor”. Ele diz isso a eles não para armar uma cilada, mas “para que possam permanecer sem distração junto ao Senhor” (1Cor 7,32-35). Assim, um enfoque semelhante é dado: a castidade celibatária torna-se uma opção cristã apenas porque a ardente paixão por Deus toma conta da vida da pessoa.

Tal fundamento lógico tem uma base espiritual sólida. As pessoas estéreis que lamentam seu vazio e sua esterilidade descobrem que Deus preenche suas vidas. Deus tira a vergonha de Ana; Deus sopra vida no útero de Isabel; e o Espírito de Deus leva vida ao útero de Maria. A única paixão que pode substituir a paixão do amor sexual é a paixão da fé. Assim, as escrituras sugerem que o voto de castidade, como os votos de obediência e de pobreza, “tira seu significado radical do vibrante elo primordial entre Deus e o fiel”.

Castidade é vivida de maneira diferente de acordo com o estado de vida que a pessoa tiver escolhido: casada ou solteira. Para todos, significa viver o amor em plenitude. A vivência da castidade ajuda a pessoa a estar disponível para Deus e para os irmãos e as irmãs e, assim, ser um sinal do futuro que Deus oferece a todos. Não significa que a pessoa não casada deva viver frustrada ou complexada, como se não fosse plenamente humana. Pelo contrário! Significa ativar a amizade e o amor ao máximo, a ponto de poder irradiar o amor de Deus para todos com que convive. Deste modo, a pessoa imita a Jesus que disse: "Não chamo vocês de empregados, porque o empregado não sabe o que faz o seu patrão; mas eu chamo vocês de amigos, porque tudo que ouvi do meu Pai dei a conhecer a vocês!" (JO 15,15).

O voto de castidade para um leigo Carmelita está baseado não apenas em uma promessa- promessas muitas vezes se quebra. Não, o nosso compromisso evangélico vai mais além, ele tem uma profunda obrigação espiritual carmelitana para cumprir a Lei de Deus do 6º- mandamento, “Não pecar contra a castidade” e do 9º, “Não desejar a mulher do próximo”. Tendo como pano de fundo a vivência de tais mandamentos, o terceiro e terceira carmelita dedica esta finalidade de uma maneira especial a Deus e a Nossa Senhora. Em outras palavras, a profissão da promessa do voto de castidade é um sério compromisso que se faz a Deus para observar a regra da Ordem dos leigos Carmelitas até a morte!

Os Terceiros do Carmo têm seu estímulo na pureza da Virgem Maria- A Senhora do Carmelo, que procuram glorificar por um voto feito a Deus. Quando a gloria de Maria foi a sua pureza virginal, a castidade dos Terceiros deve ser também a sua gloria.

Se casado-como casado ele vive casto e puro, no próprio uso dos direitos que lhe são concedidos pelo santo matrimônio, ele comporta-se como pessoa espiritual; o sacramento do matrimônio, mesmo nos justos direitos que lhe são permitidos.

Se solteiro-como solteiro ele se comporta diante de si mesmo e dos demais como pessoa espiritual, casta e pura, torna-se até muito mais livre e desimpedida para dedicar-se a Deus e às coisas de Deus e se ele chegar à renúncia total e livre aos direitos do matrimônio é porque ele vislumbrou o valor, a excelência e grandeza de sua imolação. Para os Carmelitas Seculares solteiros a castidade em seu estado é também uma prática que o exercita na preparação para o casamento ou para a consagração total a Deus e às causas de Deus, seja numa Ordem ou Congregação Religiosa seja por uma vida consagrada no mundo.

          Finalizamos dizendo que a observância do voto de Obediência e da Castidade, é o comprometimento mais certo, seguro e sério com os conselhos evangélicos, que os faz aproximar mais perto de Cristo, modelo e exemplo do ponto de união entre nós, filhos e filhas do Profeta Elias e Nossa Senhora do Carmo.

PARA REFLETIR:

1º A vida celibatária- segundo o meu estado de vida, tem auxiliando na realização da minha vida de terceiro (a) carmelita na família e na convivência diária ou me torna uma pessoa superior, intocável e angelical? (Lc 1, 39-45).