Levanta Elias. (1º Reis, 19, 1-18)

Frei Petrônio de Miranda, O. Carm.

 Levanta Elias, levanta, é hora de caminhar./ Levanta Elias levanta, é hora de Evangelizar. (bis)

 1- No fogo e no furacão, o Senhor aí não está. Na brisa suave Elias, Ele sempre, sempre vai passar. Elias do fogo e da espada, contigo vamos caminhar. Com os olhos de misericórdia, O Senhor vem abençoar.

 2-Não basta falar do sagrado, é preciso sempre acreditar. Nas noites escuras da vida, O Senhor vem iluminar. No Monte Carmelo lutastes, O Senhor fostes defender. Agora Elias na dor, Ele vem, vem te Proteger.

 3-Na pobre viúva chorando, com fome e seu filho a morrer. O Deus do Profeta Elias, vai logo, logo socorrer. No encontro da brisa suave, buscastes forças pra andar. Ensina-nos ó Santo Elias, na vida peregrinar.

 4- Olhando o povo que sofre, sem ter esperança e valor. Mostrai-nos ó Profeta Elias, a nuvenzinha do Senhor. Profetas e Profetisas, souberam Evangelizar. No Monte Carmelo Elias, o Cristo vamos encontrar.

Frei Joseph Chalmers O. Carm. Ex- Superior Geral da Ordem do Carmo.

Invocação

Ó Deus, és o Criador e Senhor de tudo. Destes à humanidade a inteligência para compreender muitas coisas e para construir a cidade terrena. Ajuda-nos a ter fé na tua providência e sabedoria para saber que não temos cidade duradoura aqui na terra. Envia teu Espírito que meditou sobre as águas no princípio da criação e ajuda-me a ouviu tua voz em todos os acontecimentos do dia. Por Cristo nosso Senhor.

Texto

Leia o texto atentamente pela primeira vez para compreender o sentido geral e para conhecer a história em detalhes.

1Rs 18, 41 Disse Elias a Acab: “Sobe, come e bebe, pois estou ouvindo o barulho da chuva.”

42 Enquanto Acab subia para comer e beber, Elias subiu ao cume do Carmelo, prostrou-se em terra e pôs o rosto entre os joelhos.

43 Disse a seu servo: “Sobe e olha para o lado do mar.” Ele subiu, olhou e disse: “Nada!” E Elias disse: “Retorna sete vezes.”

44 Na sétima vez, o servo disse: “Eis que sobe do mar uma nuvem, pequena como a mão de uma pessoa.” Então Elias disse: “Vai dizer a Acab: Prepara o carro e desce, para que a chuva não te detenha.”

45 Num instante o céu se escureceu com muita nuvem e vento e caiu uma forte chuva. Acab subiu ao seu carro e partiu para Jezrael.

46 A mão de Iahweh esteve sobre Elias, ele cingiu os rins e correu diante de Acab até a entrada de Jezrael.

Ler

Elias anunciou o fim da seca como o selo final sobre a vitória de Iahweh sobre Baal. Ele pede que o rei Acab suba, coma e beba. Essa refeição é uma lembrança do banquete da aliança que Moisés, Aarão e os setenta anciãos celebraram na montanha de Deus (Ex 24,9-14). Parece que Acab ainda está incluído como um membro da comunidade da aliança apesar de seus pecados.

Elias reza enquanto seu servo olha na direção do mar. O número sete (v. 43) é simbólico e indica “várias vezes”. O profeta está tão convencido do poder de Iahweh que aceita um longo atraso e o sinal de uma pequena nuvem como garantia da chuva. Antes da chuva, o céu se escurece. Isso é algo normal na Palestina durante o outono e o inverno antes de uma chuva torrencial.

As pessoas muitas vezes pensam que o fato de Elias correr na frente do carro de Acab seja um exemplo do poder arrebatador do profeta. No entanto, não seria possível que um ser humano corresse mais que um cavalo todo o caminho até Jezrael (cerca de 25 km). Uma pessoa pode correr em linha reta, mas o cavalo e o carro não seriam tão rápidos em solo instável. Com a chuva, a estrada estaria muito prejudicada. Elias queria voltar a Jezrael para mover a opinião popular contra Jezabel. Na literatura profética “a mão de Iahweh” (v. 46), é um modo comum de descrever a irresistível ação divina quanto ao ser humano (cf. 2Rs 3,15; Ez 1,3; 3,22). Ele cingiu os rins e correu. O profeta se transforma num humilde servo do rei, talvez para mostrar ao rei que voltou a ser fiel que Deus é digno de honra.

O desafio para aqueles que acreditam em Deus é confiar neste Deus e em nenhum outro, mesmo quando a alternativa parece mais relevante ou popular.

Refletir

Releia o texto para descobrir o que Deus quer lhe dizer. Aqui estão algumas perguntas para ajudar em sua meditação:

  1. Você confia em Deus em meio às muitas dificuldades deste mundo?
  2. Você consegue distinguir a presença de Deus nos “sinais dos tempos”?
  3. Deus é muito paciente com você. Você pode esperar por Deus?
  4. Você quer que Deus siga sua vontade ou está preparado para esperar pela vontade de Deus?
  5. O que significa para você ter esperança em Deus?

Responder

Esse texto do primeiro livro dos Reis surtiu um profundo efeito na espiritualidade carmelitana. Pelo menos a partir do final do século XIV, o sinal da pequena nuvem recebeu um significado mariano na Ordem Carmelitana. Um escritor carmelitano, Felip Ribot (+ 1391), escreveu:

Deus revelou a Elias que a pequena nuvem prefigurava uma menina, a Virgem Maria. A pequenez se referia à sua humildade. Ela nasceria de natureza humana sem pecado, simbolizado pelo mar. A criança que nascesse dela, estaria limpa de toda mancha de pecado, assim como aquela pequena nuvem emergindo do mar amargo, mas livre de toda amargura.[1]

Não podemos afirmar que o verdadeiro significado do texto é o que Felip Ribot escreveu, mas trata-se de um exemplo do pensamento medieval. A Palavra de Deus pode ter muitos sentidos de acordo com nossa receptividade. Nossa Senhora estava aberta à Palavra e à vontade de Deus. Maria é a primeira discípula do Senhor e modelo para a escuta da Palavra. Ela não apenas escutou a Palavra, mas também a colocou em prática (Lc 11,28). Maria pode nos ajudar a rezar. Ela guardou tudo o que aconteceu em sua vida em seu coração (Lc 2,51). Podemos aprender como responder à Palavra de Deus com a ajuda de Nossa Senhora. Com Maria, cantemos ao Senhor seu canto de alegria:

Magnificat

Maria, então, disse: “Minha alma engrandece o Senhor,

47 e meu espírito exulta em Deus em meu Salvador,

48 porque olhou para a humilhação de sua serva. Sim! Doravante as gerações todas me chamarão de bem-aventurada,

49 pois o Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor. Seu nome é santo

50 e sua misericórdia perdura de geração em geração, para aqueles que o temem.

51 Agiu com a força de seu braço, dispersou os homens de coração orgulhoso.

52 Depôs poderosos de seus tronos, e a humildes exaltou.

53 Cumulou de bens a famintos e despediu ricos de mãos vazias.

54 Socorreu Israel, seu servo, lembrado de sua misericórdia

55 – conforme prometera a nossos pais – em favor de Abraão e de sua descendência, para sempre (Lc 1,46-55).

Repousar

O relacionamento pessoal com Deus é um conceito central para a jornada espiritual. Os escritores bíblicos usaram muitas metáforas pra descrever o relacionamento humano/divino e a realidade humana mais próxima foi a do matrimônio. Para crescermos em nosso relacionamento com Deus, vale a pena tentar aprender algo do desenvolvimento normal de um relacionamento humano. Penso que o processo espiritual no matrimônio e na vida consagrada é o mesmo, com exceção dos meios para alcançar o objetivo. A vida humana é uma escola de amor. Se não aprendermos a amar, mesmo que realizemos grandes coisas aos olhos do mundo, somos como um bronze que soa ou um címbalo que tine (1Cor 13,1). Pelo número de matrimônios que terminam em divórcio podemos compreender que aprender a amar não é fácil.

A oração é o portão pelo qual entramos no relacionamento com Deus e o caminho para manter viva a chama no relacionamento. Oração é comunicação com Deus. Marido e mulher não podem crescer em seu amor sem uma comunicação contínua. As regras que regulam os relacionamentos humanos também podem ser aplicadas ao relacionamento com Deus. A tentação quanto a oração é vê-la como um dever a ser realizado em vez de um caminho para se comunicar com Deus. Se fosse meramente uma obrigação, seria bem simples. Bastaria dizer as palavras certas ou preencher o tempo necessário. A oração é algo mais. Ela deve nos transformar. Se não acontece transformação alguma, algo não está certo com nossa oração ou com nossa vida.

O objetivo da vida espiritual é bem simples: tornar-se como Deus, ser capaz de ver a criação como Deus a vê e a amá-la como Deus ama. As vocações particulares (família, vida consagrada etc) são caminhos diferentes para alcançar os mesmos objetivos. Toda estrada deve ser um modo para aprendermos como Deus ama.

O relacionamento humano, compreendido como um modelo para o desenvolvimento de nosso relacionamento com Deus, tem seus limites. Cristo é muito mais do que um amigo. Ele é o único que pode nos restaurar e nos transformar totalmente, levando-nos à nossa plenitude. Num relacionamento humano normal, se um lado decide não continuar uma amizade, não há nada mais a ser dito ou feito. No entanto, Deus nos persegue continuamente porque só Deus sabe qual é nosso bem final.

Deus nos procura e nos convida a entrar mais profundamente no mistério da vida da Trindade. Somente em Deus podemos encontrar a resposta ao nosso próprio mistério. A oração começa com o convite que Deus nos apresenta de diferentes maneiras. Deus sempre tem muitos recursos. Deus vem a nós quer estejamos num bom lugar ou não. Deus nos chama desse lugar e nos convida a começar uma jornada na companhia divina. Se recusarmos, Deus repete o convite continuamente de modos diferentes. Deus nunca desiste de nós. Quando não respondemos positivamente, Deus nos guia delicadamente. Todo relacionamento é diferente, mas podemos aprender algo com as experiências alheias.

A oração é um relacionamento com Deus. Somos chamados a sermos amigos íntimos de Deus, em e através de Jesus Cristo. Não é fácil dar permissão a outra pessoa para entrar em nossas vidas e dar a essa pessoa a liberdade de percorrer os corredores de nosso coração, mas uma amizade profunda exige isso. Jesus Cristo quis nos transformar. O processo de transformação é longo e muitas vezes árduo. Deus nunca desiste de nós, mas devemos fazer nossa parte para que o grande trabalho de transformação seja realizado plenamente.

Na espiritualidade carmelitana, Maria é venerada como Mãe e Irmã. Ela nos ajuda, nos alimenta e nos acompanha em nossa jornada pela vida. Seu papel é acima de tudo nos ajudar a entrar e a crescer em nosso relacionamento com Deus. Não devemos apenas admirar seus privilégios. De certa forma, eles nos apontam para nosso próprio futuro. Maria pode nos ajudar mais facilmente se estivermos abertos à sua presença em nossas vidas.

Agir

A oração não é algo reservado apenas para momentos especiais, mas ela também deve afetar todo nosso dia e toda nossa vida. Devemos encontrar modos de manter vivo nosso relacionamento com Deus e permitir que ele influencie todos os nossos outros relacionamentos e tudo que fazemos.

Seu relacionamento com Deus pode sugerir muitas maneiras diferentes para continuar o diálogo íntimo com Deus durante o dia. Sugiro, no entanto, que você leve em seu coração algumas palavras e frases do texto sobre as quais estivemos meditando. Talvez elas possam lhe acompanhar durante todo o dia:

“Elias subiu ao cume do Carmelo”;

“prostrou-se em terra”;

“eis uma nuvem”;

“a mão de Iahweh”.

O profeta Elias demonstrou grande fé no Senhor quando disse a Acab que a chuva chegaria depois da longa seca. Dissemos que a pequena nuvem estava ligada a Nossa Senhora na espiritualidade carmelitana. Ela é a primeira discípula de seu Filho e modelo de fé para todos os cristãos. Na tradição carmelitana, Maria e o profeta Elias são duas figuras bíblicas que inspiram todos os carmelitas.[2]  Tente passar mais tempo hoje na companhia de Maria, nossa Mãe e Irmã. Ela é uma presença constante em nossa vida, quer gostemos ou não. Ela está sempre pronta a nos ajudar quando precisamos. Nós carmelitas usamos um escapulário[3]  para lembrar-nos dessa presença constante e de nosso dever de imitar as virtudes de Maria. Todas as orações dirigidas a Nossa Senhora podem nos ajudar a permanecer na presença de Deus porque não podemos pensar nela sem pensar em Deus.

*Do Livro- O SOM DO SILÊNCIO

 

[1] Emmanuele Boaga, The Lady of the Place, (Edizioni Carmelitane, Roma), 2001, pp. 50-51. Ver também Richard Copsey, ed. The Ten Books on the Way of Life and Great Deeds of the Carmelites, (St. Albert’s Press, U. K. & Edizioni Carmelitane, Rome, 2005) p. 82.

[2] Ver W. McGreal, At the Fountain of Elijah, pp. 114-122; P. Slattery, The springs of Carmel, pp. 35-63.

[3] Ver Joseph Chalmers, Mary the Contemplative, pp. 12-18.