1º TEMA: O CARISMA DO CARMELO: Traços principais.

Texto de Frei Egídio Palumbo O. Carm (Tradução por Frei Pedro Caxito O.Carm).

Adaptação para Ordem Terceira do Carmo, Frei Petrônio de Miranda, O. Carm

1º- COMUNIDADE.

            Nas origens do Carmelo não encontramos uma pessoa isolada como Fundador, mas sim uma comunidade. Ela está provavelmente vivendo uma certa evolução interna: de pessoas mais ou menos isoladas rumo a um grupo; pede ajuda e discernimento ao Patriarca de Jerusalém, Alberto, a fim de que (a nível não apenas jurídico, mas também teológico-espiritual) consolide e codifique o projeto de vida deles que a seguir, com o discernimento do Papa, adquirirá o status de Regra.

            Além disso, aquela expressão, que aparece mais vezes nas Primeiras Constituições e em outros escritos medievais sintetiza tanto o discernimento feito pelo Patriarca Alberto como a fisionomia dos primeiros irmãos do Carmelo.

            Podemos, então, dizer que Fundadores do Carmelo foi aquela primeira comunidade de fratres do Monte Carmelo, não outros. Eles devem permanecer o ponto de referência constante, original do carisma e da missão do Carmelo.

2º- O ESPÍRITO MISSIONÁRIO DO CARMELO.

Em 1247, com a Bula PAGANORUM INCURSUS de Inocêncio IV as primeiras gerações de frades carmelitas, que nesta época tinham emigrado da Palestina para o novo contexto sócio-eclesial da Europa, viveram a primeira evolução da sua história: a Bula do Papa dava a possibilidade de transformar a sua forma de vida prevalentemente contemplativa em vida "contemplativa e ativa ao mesmo tempo", de orientar-se, portanto, para um modo de vida capaz "de  ser  de utilidade  para a salvação  própria  e  do próximo".

            Ao longo dos séculos esta consciência missionária, ainda que às vezes dilacerada por um falso dilema ação-contemplação, sempre foi cultivada no Carmelo, assumindo formas e linguagem diversas conforme o contexto sócio- cultural e eclesial.

            Contemplando o passado e o presente, podemos dizer que na Família do Carmelo o espírito missionário é vivido como:

-Testemunho-irradiação do estilo de vida: criar novas "colmeias" para recolher o divino mel da contemplação, como se diz em alguns escritos da Idade-Média; ser "espelho", testemunho da divina presença do Deus-Trindade, escrevem nossos místicos.

- Proposta de itinerários mistagógicos até à experiência de Deus: é a forma de serviço privilegiada pelos nossos místicos (em particular João da Cruz, João de São Sansão, Miguel de Santo Agostinho, Isabel da Trindade).

-Solidariedade para com os pobres: Ângelo Paoli chamado "Pai-Caridade"; dizia: "Quem ama a Deus deve procurá-lo entre os pobres"; e ainda Maria Ângela Virgili chamada "Mãe-Caridade" e os nossos Institutos Apostólicos Femininos.

- Promoção da justiça, da paz e do encontro ecumênico: recordemos Pedro Tomás, André Corsini, Aloísio Rabatà, Tito Brandsma.

3-O CARMELO ENQUANTO CASA DE ACOLHIMENTO

            O projeto de vida da Regra do Carmo, no seu capítulo VI, delineia uma fraternidade aberta ao mundo num estilo de acolhimento carinhoso e disponibilidade total, mas amadurecido no discernimento, tendo como motivo bíblico inspirador a hospitalidade acolhedora de Abraão assentado junto à entrada da sua tenda (Gn 18,1-4; Hb 13,2). Juntamente com esta observação não se pode esquecer de que na tradição dos frades o convento é o lugar do convenire, do encontro familiar, da "koinonia" que é aberta e irradiante etc.

            Pois bem; as comunidades carmelitas, ao menos aquelas que têm estruturas e meios adequados, poderiam estar abertas ao acolhimento de todos os que pretendem fazer experiência de oração, de escuta orante da Palavra, de tempos de deserto. Trata-se de oferecer, com a força do testemunho e comunicação da fé, os frutos mais amadurecidos do nosso estar todos os dias diante de Deus como fraternidade contemplativa e em oração.

4-O CARMELO PROMOTOR DA JUSTIÇA E  DA PAZ

            A Regra do Carmo propõe o exercício da correção fraterna mediante a caridade (Capítulo XI) como método único, não-violento para resolver os conflitos e recuperar o irmão para a "koinonia" fraternal; a  outros  métodos  que  recorram  a  castigos  ou  a excomunhões a Regra, segundo o meu parecer, não faz nenhum aceno, nem explícito nem implícito. Exorta, além disto, a revestirmo-nos das "armas espirituais", para podermos desarmar o "adversário" e, com a fé, a esperança e o amor, testemunharmos o Evangelho da Paz (Capítulo XIV).

            Quanto ao mais é necessário observar que nunca faltaram ao Carmelo figuras exemplares de solidariedade para com os últimos, como, por exemplo, Ângelo Paoli chamado "Pai-Caridade", Maria Ângela Virgili chamada "Mãe dos Pobres"; os próprios modelos bíblicos  -  Maria e Elias  -  são às vezes contemplados como inspiradores da solidariedade: Maria de Nazaré, como mulher humilde, capaz de caminhar com os pobres da terra; Elias Profeta, como homem da solidariedade em defesa da justiça.

            Nem sequer faltam ao Carmelo figuras modelares de testemunho ou de dedicação em favor da paz: alguns autores medievais contam-nos, com efeito, o martírio dos primeiros carmelitas nas mãos dos sarracenos invasores da Terra Santa e, falando de martírio, como não recordar o trabalho e o testemunho não-violento e de paz do Beato Tito Brandsma martirizado em Dachau

5-O CARMELO ENQUANTO ESCOLA DE ORAÇÃO-CAMINHO.

            Uma das características da espiritualidade carmelitana é a de se propor como "espiritualidade do caminho", como itinerário mistagógico para uma experiência de Deus mais autêntica e amadurecida.

            Esta dimensão mistagógica nós a encontramos presente na maior parte dos escritos carmelitas, em particular nos escritos dos nossos místicos: pensemos, por exemplo, na Instituição dos primeiros monges, onde vem delineado um itinerário espiritual  com o Profeta Elias; no Caminho da Perfeição de Teresa de Ávila, no qual a experiência contemplativa se faz itinerário de oração; na Subida do Monte Carmelo, na Noite Escura e no Cântico Espiritual de São João da Cruz, que traçam um itinerário espiritual, onde o fiel aprende a amar como Deus ama; em Miguel de Santo Agostinho, que propõe um itinerário místico de "vida marieforme", intermediação da presença da Mãe do Senhor; no "pequeno caminho" de Teresa de Lisieux; em Isabel da Trindade, que redige para uma mãe de família um pequeno escrito: Como se pode encontrar o Céu na terra.

São apenas alguns exemplos suficientes para nos recordar a grande herança pedagógica, que o Carmelo adquiriu no acompanhamento espiritual dos fiéis; até mesmo podemos dizer que neste setor quase se constituiu em ponto de referência obrigatório, uma espécie de "magistério", que possui autoridade. Hoje, portanto, o Carmelo não pode deixar de sentir-se chamado a reconsiderar esta outra "indiscutível" diaconia-serviço.