Liberdade de expressão, Judiciário e polarização
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Manifestações dissonantes e incômodas, mesmo quando incivis, são parte do custo da democracia
Por Júlio Barroso e Leonardo Gomes Penteado Rosa
A despeito de o Brasil não possuir uma tradição lá muito robusta de liberdades civis, a redemocratização galvanizou o desejo do País de abandonar a censura e a promulgação da Constituição de 1988 inaugurou esperanças de desenvolvimento de uma cultura política tolerante e afirmativa das liberdades fundamentais.
Quase 37 anos depois da promulgação da Constituição, contudo, um conjunto heterogêneo de decisões judiciais recentes delineia um cenário pouco auspicioso para a liberdade de expressão. A inconstitucionalidade do artigo 19 do Marco Civil da internet, decidida pelo Supremo Tribunal Federal (STF), abre as portas para a trivialização da censura terceirizada e sem critério para as plataformas. Em fins de 2024, decisão monocrática do mesmo tribunal ordenou a retirada de circulação de obras jurídicas por objetar seu conteúdo. Mais recentemente, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) condenou um semanário a indenizar ministro do STF, afirmando que a publicação abusou da ironia na crítica ao ministro. Em instâncias inferiores, tivemos condenação de jornalista por divulgar salários de desembargadores. Poderíamos continuar enumerando casos afins, mas esses exemplos já são suficientes para evidenciar um panorama pouco amigável para aquela que podemos considerar a rainha das liberdades públicas, sem a qual as demais tendem a murchar. É especialmente preocupante que tais restrições venham justamente de diferentes instâncias do Judiciário, poder ao qual, no sistema brasileiro, cabe proteger as liberdades fundamentais, se necessário de modo contramajoritário e contra o clima dominante de opinião.
Defensores das medidas restritivas objetam apontando a moralidade nefasta nas expressões censuradas: em alguns casos, isso é inegavelmente verdade. No entanto, essa justificativa, além de excessivamente genérica, assume que ao Judiciário cabe uma espécie de tutela moral dos cidadãos. É preciso mais do que reprovação moral do conteúdo da expressão para justificar a censura. Não se trata aqui de defender uma versão “absolutista” da liberdade de expressão – sequer há quem defenda que a expressão jamais deve ter limites. Trata-se de reconhecer que, neste assunto, o Judiciário tem sido excessivamente restritivo e arbitrário.
O excesso de restrição deve-se, em parte, ao mal-entendido segundo o qual a liberdade de expressão deve ser constrangida pelo dever de civilidade. Uma importante função da liberdade de expressão é salvaguardar o debate público, que, pela sua natureza, costuma ser áspero (embora não tenha de sê-lo sempre). O dever moral de civilidade jamais deve ser imposto como uma obrigação jurídica, justamente por ser incompatível não com uma medida “absolutista” da liberdade de expressão, mas com parâmetros internacionais elementares de entendimento dessa liberdade em democracias. Lembremo-nos de que direito é, fundamentalmente, regra. Um bom teste para a regra que se aplaude é colocar-se do outro lado do balcão e pensar como os próprios adversários poderão aplicar aquela regra se e quando chegarem ao poder.
Já a arbitrariedade resulta da indisposição e da incapacidade dos tribunais de estabilizar regras de interpretação da liberdade de expressão. Cabe ao Judiciário – especialmente aos tribunais superiores – estabelecer em jurisprudência critérios bem delineados e regras claras de intervenção que se apliquem isonomicamente a todos. Diante do caso concreto, o espaço decisório de cada juiz é hoje quase total, e muitas vezes os magistrados simplesmente mencionam o contravalor de sua preferência como razão suficiente para a censura.
Para agravar o quadro, há outro mal-entendido: a liberdade de expressão foi capturada na polarização política que vive o País. Parte da direita faz uma defesa instrumental e retórica dessa liberdade, enquanto parte da esquerda acredita que a bandeira pertence de fato a seus adversários (exceto quando se vê censurada). Tem sido quase universal a disposição para aplaudir a censura dos adversários políticos enquanto se reivindica liberdade para seu próprio lado. Em outras palavras, a fronteira entre a censura vista como legítima e a ilegítima quase sempre coincide com a clivagem que polariza o País. A censura do que penso é censura, mas a censura do outro é democracia ou justiça. É um equívoco político. Apesar de a liberdade não se vincular a uma agenda política substantiva, foi e continua sendo crucial para dissidentes e lutadores sociais das mais variadas estirpes. Mas não há uma liberdade “de esquerda” ou “de direita”: o que a liberdade de expressão promete é preservar o caráter aberto do sistema político. Manifestações dissonantes e incômodas, mesmo quando incivis, são parte do custo da democracia.
Esperamos que a atual crise judicial da liberdade de expressão no Brasil seja apenas um soluço e que a sociedade brasileira e suas instituições se reconciliem com essa liberdade, reconhecendo-a como o pilar fundamental do regime democrático, com o qual essa liberdade se confunde. Fonte: https://www.estadao.com.br
Oração em evento católico compara homossexualidade e lesbianidade a doenças
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Por meio de nota, o grupo responsável pelo evento pediu desculpas pelo episódio e se comprometeu a não usar a oração novamente. Associação de diversidade pediu que MPCE investigue o caso.
Por Redação g1 CE
Grupo compara homossexualidade e lesbianidade a doenças durante evento católico no CE
A Associação Cearense de Diversidade e Inclusão (Acedi) denunciou um evento católico no qual a homossexualidade e a lesbianidade foram comparados com doenças como câncer e depressão durante uma oração. O grupo responsável pelo evento pediu desculpas pelo episódio e se comprometeu a não usar a oração novamente. (Confira o posicionamento abaixo)
O caso aconteceu no dia 5 de agosto no encerramento do Cerco de Jericó, um encontro religioso organizado pela Comunidade Católica Filhos Amados do Céu (FAC) no município de Juazeiro do Norte, na região do Cariri cearense.
Durante uma prece conhecida como "oração de quebra muralhas", uma das assistentes do sacerdote, que intercalava a oração com ele, diz: "Jesus, quebre todas as muralhas de doenças, sejam elas quais forem, principalmente o câncer, depressão, dependência do álcool, drogas, prostituição, homossexualismo, lesbianismo...". (Veja no vídeo acima)
O evento contava com transmissão ao vivo para as redes sociais e a fala repercutiu na região. A Acedi enviou uma notícia de fato (uma espécie de denúncia) para o Ministério Público do Ceará (MPCE) e repudiou o texto como discriminatório.
O denunciado proferiu declarações abertamente discriminatórias contra pessoas LGBTQIA+, comparando a homossexualidade a uma "doença". Tais falas, travestidas de discurso religioso, extrapolam a liberdade de crença e configuram incitação ao ódio, reforçando estigmas históricos contra pessoas LGBTQIA+, podendo incitar práticas de exclusão, preconceito e violência", escreveu o grupo na notícia de fato enviada ao MPCE.
Desde a década de 1990, a Organização Mundial da Saúde (OMS) não considera mais orientações sexuais diversas da heterossexualidade como transtornos, por isso os termos homossexualismo e lesbianismo caíram em desuso, uma vez que levam o sufixo -ismo, associado no mundo da saúde a doenças. Desde então, os termos utilizados têm sido homossexualidade e lesbianidade.
No documento, a associação pediu que o MPCE apure os fatos e identifique os envolvidos, bem como instaure um inquérito policial para a "devida responsabilização criminal".
Por meio de nota, o MPCE confirmou que recebeu a notícia de fato enviada pela associação e que ela será distribuída para uma promotoria, que vai analisar os fatos e tomar as medidas cabíveis.
O que diz o grupo católico
Por meio de nota, a Comunidade Católica Filhos Amados do Céu se desculpou pelo trecho da oração e disse que oração ministrada no dia foi uma versão antiga e recortada de outras fontes "aparentemente confiáveis".
O grupo também se desculpou pelo episódio e disse que iria providenciar para que o trecho em questão não fosse utilizado novamente.
A Comunidade Católica Filhos Amados do Céu - FAC, por meio dos seus fundadores, Pe. Sebastião Monteiro, Carlos Eduardo Pereira Nicolau e Maria Dalvani Silva Vieira, vem a público oficialmente, em razão da propagação midiática de trecho da missa ocorrida no último dia 05 do corrente mês e ano, por ocasião do encerramento do Cerco de Jericó, prática de oração antiquíssima e tradicional, da Igreja Católica Apostólica Romana, ESCLARECER e - ao tempo se SOLIDARIZAR com a comunidade LGBTQIAPN+ -, que se sentiu ofendida com parte da oração pronunciada no ato, em que trazia a homossexualidade como uma doença. De fato, entendemos e concordamos que as diversas orientações sexuais e de identidade de gênero não constituem uma patologia, tanto pela sua exclusão da Classificação Estatística Internacional de Doenças (CID) - em 1990, quanto pelos valores cristãos de amor, respeito e misericórdia que movem o nosso carisma, há mais de 15 (quinze) anos, nos levando diariamente e indiscriminadamente a acolher todas as pessoas nas suas individualidades, inclusive sexual. Tanto é verdade que inúmeros são os relatos/testemunhos de pessoas, inclusive da comunidade LGBTQIAPN+, que ao conhecerem a nossa comunidade e experienciarem do nosso carisma e ministério, sentiram-se acolhidos, pertencentes e amados por nós e por Deus, numa expressão máxima de respeito à dignidade da pessoa humana, obra-prima e única do Senhor, e princípio constitucional fundamental do Estado Democrático de Direito Brasileiro. Desta maneira, reste inequívoco que não tivemos - a qualquer tempo ou propósito - o intuito de ofender, diminuir, excluir, discriminar, patologizar, curar ou promover qualquer dano às pessoas com identidade de gênero vinculadas à comunidade LGBTQIAPN:+, neste ato do Cerco de Jericó, bem como em qualquer outra celebração organizada pela nossa instituição católica. Ao contrário, as diversas manifestações e promoções de atos de fé, oração e obras sociais que a Comunidade Católica Filhos Amados do Céu realiza é com o desejo ímpar e sagrado de legitimar e concretizar o Evangelho de Jesus Cristo, na vida de cada um daqueles que Deus traz ao nosso encontro e nos dá a graça de tocar com seu infinito amor. Acontece, que como humanos que também somos, falhamos e erramos em nossas práticas, e no caso em específico, reconhecemos que a oração de quebra de muralhas ministrada neste dia no Cerco de Jericó, foi uma versão antiga e recortada de outras fontes - aparentemente confiáveis -, passando despercebida a afetação do trecho em questão, até o presente momento. Desta forma, em sinal de solidariedade e respeito a todos que se inserem na comunidade LGBTQIAPN+, e ofenderam-se com a proclamação do trecho aludido, a Comunidade Filhos Amados do Céu, lamenta o ocorrido e pede PERDÃO - num ato cristão de humildade e de contrição de coração - pela tristeza que, involuntariamente, possa ter ocasionado. E, se compromete aqui, em PROVIDENCIAR que não mais seja ministrada ou propagada. No mais reafirmamos o nosso chamado em "ser no mundo reflexo do amor eterno e misericordioso de Deus", para todos. Paz e bem! Fonte: https://g1.globo.com
'Não estou nem aí', afirma Edir Macedo sobre suicídio de pastor da Universal.
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É preciso reconhecer que os pastores adoecem mentalmente e o ambiente laboral religioso está entre os fatores responsáveis pelo adoecimento
É doutor em sociologia pela USP e fundador do Mapa Centrante
Generais costumam ser empáticos com a morte de seus soldados em combate. Embora o bispo Edir Macedo defina a vida cristã como uma guerra, não demonstrou compaixão ao comentar a morte de Lucas Di Castro, 35 anos, pastor da Igreja Universal do Reino de Deus na Bolívia.
Os pastores estão sempre de plantão para atender chamadas emergenciais da comunidade, escutam desabafos, visitam doentes, realizam cerimônias fúnebres, coordenam campanhas assistenciais e fazem tarefas operacionais e burocráticas do dia a dia das igrejas. Burnout, depressão e suicídio de pastores são mais frequentes que se imagina.
A expansão das igrejas evangélicas tem sido objeto de debate nas últimas décadas no Brasil. Porém, pouco se sabe do custo emocional e mental pago por essa mão de obra religiosa que é responsável pelo sucesso de megaempreendimentos como a IURD ou de igrejas de garagem.
O tratamento dado ao caso pelo bispo Macedo contribui para que pastores que lutam com transtornos de saúde mental tenham receio de falar sobre o assunto e de buscar ajuda - Divulgação
Parte da população vê os pastores como pessoas que não trabalham e enriquecem com o dinheiro dos fiéis. Isso não é verdade. A maioria dos pastores trabalha duro e vive modestamente.
Em 2024, o Ministério do Trabalho atualizou a Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), passando a exigir a avaliação de fatores de riscos psicossociais no ambiente de trabalho. Essa avaliação inclui elementos como carga de trabalho excessiva, metas inatingíveis, jornadas prolongadas, ausência de suporte da liderança, assédio moral e sexual, conflitos interpessoais e insegurança no emprego.
Como pastor desde 1993, sei que riscos psicossociais estão presentes nos ambientes de trabalho religiosos. Embora algumas igrejas já reconheçam que seus pastores adoecem mentalmente e precisam de ajuda profissional, ainda é tabu a discussão sobre como as dinâmicas do trabalho religioso contribuem para os processos de adoecimento mental dos pastores.
Lucas morreu no dia 5 de agosto e Macedo comentou sua morte no dia 8 no Instagram. O tom do fundador da Universal sobre o suicídio do pastor é marcado pela irritação e por comentários críticos às pessoas que, segundo ele, "possuem uma fé emotiva e ficam de mimimi".
De modo exasperado, o bispo Macedo afirma que Lucas Di Castro "nunca foi pastor, ele tinha o título de pastor; mas ele nunca foi um homem de Deus, porque, se fosse, passaria pelos problemas como eu passei, aliás, eu passei por problemas piores que ele...".
O tratamento estigmatizante dado ao caso pelo bispo Macedo contribui para que pastores que lutam com transtornos de saúde mental tenham receio de falar sobre o assunto e de buscar ajuda profissional para tratamento. Afinal, se não conseguem superar os problemas somente pela fé, se afastam do padrão estabelecido pelo líder máximo da IURD.
Segundo Macedo, os pastores da Universal "recebem do bom e do melhor e são acompanhados com todo cuidado". Na sua fala há uma confusão entre controle gerencial episcopal e cuidados em saúde mental. O bispo afirma que se reúne pessoalmente com os pastores uma vez por semana. Isso é parte do problema, pois são reuniões para cobrar os pastores por metas que serão alcançadas à custa da negação dos sofrimentos psíquicos.
As condições de trabalho na IURD, igreja altamente hierarquizada, são diferentes de pequenas igrejas lideradas por pastores que se dividem entre o trabalho religioso e outras atividades profissionais para sustento financeiro. Todavia, sem deixar de lado essas diferenças, é preciso reconhecer que os pastores adoecem mentalmente e o ambiente laboral religioso está entre os fatores responsáveis pelo adoecimento.
"Não estou nem aí para a morte desse pastor", pontificou o bispo Edir Macedo, do pináculo da arrogância de quem construiu o Templo de Salomão, mas prefere ignorar o ensinamento bíblico: "chorem com os que choram". Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Padre entrega o cargo após vídeos íntimos vazarem no interior do Piauí
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A diocese da cidade de Floriano informou, na quinta-feira (14), que o sacerdote foi afastado por tempo indeterminado. Ao g1, o padre Vinicius José confirmou que entregou o cargo na igreja.
Por Eduarda Barradas*, Lívia Ferreira, g1 PI, TV Clube
O padre Vinícius José afirmou ao g1, na noite desta quinta-feira (14), que entregou o cargo na Igreja Católica. A informação foi confirmada horas após a Diocese de Floriano anunciar o afastamento do sacerdote por tempo indeterminado. O padre teve vídeos íntimos vazados na cidade.
"O que aconteceu foi a entrega do meu ministério, eu mesmo entreguei, de comum acordo foi conversado, foi pensado, foi bem trabalhado, foi bem assistido pelo meu bispo Dom Júlio César e o vigário geral Padre Eulálio Miranda. Nós tivemos uma reunião e lá na reunião nós conversamos e achamos por bem chegar a essa conclusão", afirmou o padre ao g1.
Em imagens que circulam nas redes sociais, o padre aparece tendo relações sexuais com uma mulher.
Com o afastamento e o pedido de renúncia, o padre Vinícius não pode mais exercer celebrações sacramentais publicamente, assim como concelebrar Eucaristia com presença de fiéis, com exceção de casos específicos, a exemplo de atendimento de fiéis em perigo de morte.
Confira a nota oficial da Diocese de Floriano
A Diocese de Floriano comunica que, por decisão da autoridade eclesiástica competente, o Revmo. Padre Vinicius José de Madeira Messias foi afastado, por tempo indeterminado, de todo e qualquer exercício público do ministério sacerdotal, ficando-lhe vedada a celebração pública dos sacramentos e sacramentais, bem como a presidência ou concelebração da Eucaristia com a participação de fiéis, exceto nos casos em que o próprio direito concede faculdade, como no atendimento sacramental de fiéis em perigo de morte.
Trata-se de uma medida de caráter pastoral e administrativa, adotada com espírito de prudência, visando o bem da Igreja, o cuidado com o Povo de Deus confiado a esta diocese e a devida atenção à pessoa do sacerdote.
*Eduarda Barradas, estagiária sob supervisão de Roberto Araujo. Fonte: https://g1.globo.com
Papa: como Maria, não tenhamos medo de escolher a vida
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No dia da Solenidade da Assunção de Maria, Leão XIV celebrou a Missa na comunidade paroquial de Castel Gandolfo. Em sua homilia, recordou que o “sim” de Maria permanece vivo nos que praticam a fé, a justiça e a paz: “As palavras e as escolhas de morte parecem prevalecer, mas a vida de Deus interrompe o desespero através de experiências concretas de fraternidade e solidariedade”.
Homilia da Assunção de Maria,
Thulio Fonseca - Vatican News
Nesta sexta-feira, 15 de agosto, a Igreja celebra a Solenidade da Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria, festa litúrgica que no Brasil será comemorada no próximo domingo, 17/08. Por esta ocasião, o Papa Leão XIV presidiu a Santa Missa na Paróquia São Tomás de Villanova, em Castel Gandolfo, onde cumpre a segunda etapa do seu período de descanso. Esta foi a segunda vez que o Santo Padre celebrou na comunidade paroquial local.
Na homilia, o Pontífice recordou que “em Maria de Nazaré está a nossa história, está a história da Igreja imersa na humanidade comum. Tendo encarnado nela, o Deus da vida e da liberdade venceu a morte. Sim, hoje contemplamos como Deus vence a morte, sem nunca prescindir de nós”.
A fecundidade de Maria
Leão XIV sublinhou que o “sim” de Maria, unido ao de Cristo na cruz, continua vivo “nos mártires do nosso tempo, nas testemunhas da fé e da justiça, da mansidão e da paz”, e convidou cada fiel a escolher “como e para quem viver”.
Refletindo sobre o Evangelho da Visitação, proposto pela liturgia para esta Solenidade, o Papa destacou que, no encontro de Maria com Isabel, “a surpreendente fecundidade da estéril Isabel confirmou Maria na sua confiança: antecipou a fecundidade do seu ‘sim’, que se prolonga na fecundidade da Igreja e de toda a humanidade, quando a Palavra renovadora de Deus é acolhida”.
Para o Santo Padre, o cântico do Magnificat da Mãe de Deus fortalece a esperança dos humildes e famintos, lembrando que “parecem impossíveis as promessas de Deus, mas quando nascem os vínculos com os quais opomos o bem ao mal, a vida à morte, então vemos que ‘nada é impossível a Deus’ (Lc 1, 37)”.
O Papa alertou também contra a fé que “envelhece” nas comunidades dominadas pelo bem-estar material e pela acomodação, e afirmou que a Igreja “rejuvenesce graças ao Magnificat” dos pobres, perseguidos e construtores da paz. “Muitos deles são mulheres, como a idosa Isabel e a jovem Maria: mulheres pascais, apóstolas da Ressurreição. Deixemo-nos converter pelo seu testemunho!”, exortou.
Um chamado à confiança
Ao concluir a homilia, Leão XIV convidou os fiéis a verem na Assunção de Maria um sinal do destino que Deus deseja para todos: “Ela é-nos dada como sinal de que a Ressurreição de Jesus não foi um evento isolado, uma exceção", e completou:
"Maria é aquele entrelaçamento de graça e liberdade que impele cada um de nós à confiança, à coragem, ao envolvimento na vida de um povo. [...] Não tenhamos medo de escolher a vida! Pode parecer perigoso, imprudente. Quantas vozes estão sempre lá a sussurrar-nos: ‘Quem te obriga a fazer isso? Pensa nos teus interesses’. São vozes de morte. Em contrapartida, nós somos discípulos de Cristo. É o seu amor que nos impele, corpo e alma, no nosso tempo. Como indivíduos e como Igreja, já não vivemos para nós mesmos. É precisamente isto – e só isto – que difunde a vida e a faz prevalecer. A nossa vitória sobre a morte começa precisamente agora.” Fonte: https://www.vaticannews.va
Congresso Carmelita- Apontamentos da Conferência da Teresa Matos de Sousa
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1º - Congresso da Família Carmelitana do Brasil. 2-3 de agosto 2025, Aparecida, São Paulo.
Apontamentos da Conferência da Teresa Matos de Sousa, irmã do Sodalício da Vila Kosmos- Vicente de Carvalho/RJ. Tema: Rumo ao Monte Carmelo em Comunidade: Um olhar para a vida fraterna na Espiritualidade da Ordem Terceira do Carmo.
“O Carmelita que não ora é falso Carmelita”.
“A contemplação tem que me levar ao encontro do próximo”.
“Na contemplação eu encontro o meu próximo”.
“Se a contemplação não me leva ao encontro do irmão, isso não é contemplação”
“O Carmelita tem que juntar, não separar”
“O amor ao próximo é um caminho que nos ajuda a encontrar Deus”.
“Se você deixar o Espírito Santo agir na vida, você faz coisa que até você dúvida e se pergunta: Será que fui eu mesmo que fiz isso”?
“Se a Palavra de Deus não me faz uma pessoa melhor, essa Palavra é nula”.
“A Eucaristia tem que ser constante, se ela for diária, Graças a Deus”.
“A oração sai e vai ao encontro do nosso próximo, ela não é estática”.
“Não é possível sermos orantes e contemplativos sem ficarmos sensíveis as pessoas”.
“Na vida muitas vezes temos que engolir as desavenças da vida e depois de engolir aproveita e faz uma oração”.
“Se os nossos filhos se tornassem carmelitas não ficaríamos preocupados com o futuro do nosso Sodalício”.
“Não somos carmelitas apenas na Igreja, nas reuniões ou nos congressos. Em casa temos que provar a nossa carmelitíssima”.
Por que o Brasil está perdendo padres?
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Secularização, celibato e descrédito institucional explicam desinteresse pelas vocações religiosas no País, segundo especialistas
Por Edison Veiga e José Maria Tomazela
Há uma queda no número de padres no Brasil, tendência que ecoa o que ocorre em boa parte do mundo, incluindo a América Latina, onde o papa Leão XIV passou três décadas anos da sua vida religiosa (no Peru). Segundo especialistas, a perda do interesse pelas vocações sacerdotais será um dos desafios do novo pontífice.
Maior país católico do mundo em termos absolutos, o Brasil tem um número de padres proporcionalmente baixo se comparado à Itália, coração tradicional do catolicismo. Conforme os dados da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), são 22,1 mil religiosos ordenados no País — um para cada 9,5 mil brasileiros. Na Itália, a cada mil habitantes, há um padre.
O cenário é de queda. Em 1970, eram 13 mil sacerdotes, mas uma população de pouco mais de 93 milhões. Cada padre, portanto, tinha potencialmente 7,1 mil fiéis para atender. Em 2010, eram 22 mil padres — pela população à época, cada um dava conta de 8,7 mil brasileiros.
“Isso se deve principalmente à crescente secularização (desinteresse geral pelas religiões) e à ideia, hoje amplamente aceita, de que é possível viver uma vida santa como leigo”, disse ao Estadão o padre jesuíta americano James Martin, consultor do Vaticano.
O historiador e teólogo Gerson Leite de Moraes vê a tendência como um problema a ser enfrentado pelas religiões no mundo contemporâneo, processo que avança gradualmente desde o Iluminismo.
Ou seja: a Igreja enfrenta um cenário que combina desinteresse com descrédito.
“Existem lugares onde a Igreja perdeu espaço ou o cristianismo católico é pouco efetivo. Há menos padres do que a Igreja gostaria para o trabalho de evangelização”, analisa Moraes, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Também afastam os jovens os escândalos de abusos sexuais no clero, seguidos de denúncias de omissão nos níveis mais altos da hierarquia. Segundo o padre Eliomar Ribeiro, diretor nacional da Rede Mundial de Oração do Papa e do Movimento Eucarístico Jovem, essa é uma “preocupação da Igreja”.
Ribeiro diz ainda que Francisco cobrava “que fossem levados a Roma os casos, sobretudo os ligados à pedofilia, e que os bispos não negligenciassem a questão em suas dioceses.”
Leão XIV já disse que o “silêncio não é a resposta” para esses casos e defendeu transparência e sinceridade para lidar com esse problema. Ele, porém, já foi acusado de omissão sobre denúncias do tipo na Diocese de Chiclayo, onde atuou, pela Rede de Sobreviventes de Abusos por Padres (Snap). Tanto a conferência dos bispos peruana quanto a diocese negam que houve negligência e dizem ter investigado os casos.
Por fim, há a questão do celibato obrigatório, “definitivamente um obstáculo para muitos homens que desejariam entrar no sacerdócio”, afirma padre Martin.
O papa Francisco permitiu, em 2014, que as igrejas de rito oriental tivessem padres casados no Ocidente. Trata-se de uma tradição que sempre existiu nos territórios de origem dessas igrejas. Ainda não se sabe se o papa Leão XIV fará mais mudanças em relação ao celibato de sacerdotes.
O padre Ribeiro, também diretor geral da Edições Loyola, ainda atribui a crise à diminuição do número e de filhos nas “famílias católicas”. Para ele, o ideal seria um sacerdote para cada 5 mil pessoas.
Escassez de seminaristas
Conforme o Anuário Pontifício, publicado em março pela Igreja, o número global de seminaristas caiu de aproximadamente 108 mil para pouco mais de 106 mil de 2022 para 2023, último ano registrado pelas estatísticas oficiais.
Em todo o planeta, há 407 mil padres, distribuídos em 3.041 circunscrições. A queda global é de 0,2% ao ano. A Igreja cresce na África e na Ásia e diminui no resto do planeta, com destaque para a Europa — recuo anual de 1,6%.
Padre Martin acredita que essas diferenças regionais possam ser explicadas porque algumas áreas experimentam “maior secularização” e “em comparação a outras. E há “lugares onde os abusos sexuais foram mais generalizados”, deixando a instituição em maior descrédito social.
Os europeus ainda são maioria dos sacerdotes do mundo. As maiores demandas estão nas seguintes regiões:
Europa: 38,1% do total, onde há 20,4% dos católicos
América do Sul: 12,4%, onde há 27,4% de católicos
África: 13,5%, onde há 20% dos católicos
América Central: 5,4%, onde há 11,6% dos católicos
Desejo de formar família dificulta formação
A vida solitária e o desejo de constituir família dificultam a formação de novos padres, segundo o ex-seminarista Mário Hugo Furlan, de 43 anos. Ele cita ainda a necessidade de renunciar às facilidades da vida comum, como o celular.
Após sete anos de estudo em um seminário de frades franciscanos da Ordem dos Capuchinhos Menores, Furlan abriu mão da vocação sacerdotal. Morador de Santa Bárbara d’Oeste (SP), ele hoje é casado e pai de um menino de 10 anos.
Optou pelo seminário motivado pela vida religiosa que levava com a família, especialmente os avós, indo a missas e participando de ações pastorais. Mas foi uma mudança drástica para o então jovem de 19 anos.
“No seminário, você vai contra as facilidades que o mundo oferece. É como estar no mundo, mas fora dele. Vive a realidade que todos vivem e tem de ser um sinal de luz, dedicação diária ao estudo, reflexão, muita oração e jejum.”
Os religiosos franciscanos e os agostinianos, como o papa Leão XIV, fazem votos de pobreza, castidade e obediência. Isso faz com que o acesso a tecnologias seja restrito. “A exigência de renunciar a celular e computador, entrando agora na inteligência artificial, é outro agravante que impede muitos seminaristas de chegarem ao final e serem ordenados”, diz.
A renúncia ao chamado para ser padre foi refletida por um ano. “Observava que a vida religiosa, solitária, embora comunitária, não fazia mais sentido para mim do ponto de vista existencial. Analisei que, constituindo família, seria mais realizado. Tive a ajuda dos freis para resolver esses questionamentos e deixei o seminário.”
Pesou também o fato de seu pai ter morrido na época. “Mexeu muito comigo e reforçou o desejo de constituir família. Hoje considero que foi a melhor decisão.”
Furlan conta que o aprendizado com os frades, de cuidados com o próximo e a natureza, será levado para a vida toda. “Ter sido religioso franciscano capuchinho por sete anos foi gratificante. Minha formação humana e científica me deu bagagem enorme.”
Mário cursou Engenharia de Produção e trabalha como líder de produção em uma indústria metalúrgica. Também é professor tutor em uma faculdade no interior.
Na periferia, padre mais distante impulsiona evangélicos
Católica e coordenadora do União dos Movimentos de Moradia de São Paulo, Sheila Cristiane Nobre atua em mais de dez comunidades no extremo sul da capital e na maioria delas não existe Igreja Católica. “Para ir à missa, confessar, comungar, os fiéis precisam pegar condução e muitas vezes não têm dinheiro”, reclama.
“Antigamente o padre era pessoa do povo. Hoje não é fácil o acesso, a gente sente falta. Nos locais em que piso, a maioria não tem Igreja Católica e a gente vai perdendo vez para as evangélicas, que vão ocupando espaço dentro da favela”, diz ela, de 49 anos, que faz trabalhas em regiões como Parelheiros e Grajaú.
O Brasil tinha, em 2019, cerca de 109,5 mil igrejas evangélicas de diversas denominações, ante cerca de 20 mil em 2015. O predomínio é das pentecostais (48.781 templos).
É superimportante que a Santa Igreja Católica adote medidas para voltar a ocupar espaço nas periferias. Senão daqui a pouco vai virar religião de nicho, perdendo cada vez mais espaço para esse pessoa. Fonte: https://www.estadao.com.br
Vai com Deus Chico.
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Vai com Deus Chico!
Frei Petrônio de Miranda, O. Carm. Padre Carmelita e Jornalista da Ordem do Carmo.
Comunidade Carmelitana da Vila Kosmos- Vicente de Carvalho- Rio de Janeiro.
Segunda-feira, 21 de abril- 2025. www.instagram.com/freipetronio
Vai com Deus Chico! Ele esteve do teu lado nas noites escuras e dor, em favor dos Migrantes e das vítimas das Guerras e Ditaduras.
Vai com Deus Chico! Ele estive do teu lado na luta incansável pelo planeta através dos Documentos Laudato Si e Laudate Deum- A nossa casa em Comum.
Vai com Deus Chico! Ele te inspirou na defesa de uma Igreja “hospital de campanha, não um posto alfandegário", onde os pobres- indígenas, quilombolas e famílias em situação de vulnerabilidade- fossem amados e os idosos fossem amparados.
Vai com Deus Chico! Tu nos ensinaste a sermos sacerdotes com os pés no chão e sem “renda da vovó”, mas apaixonados pelo Evangelho em uma Igreja Sinodal e Peregrinos de Esperança.
Vai com Deus Chico! No Documento Gaudete et exsultate, indicastes o caminho da santidade para o povo de Deus, e não apenas para um grupo seleto atrás dos muros Monásticos, Conventuais e Seminarísticos.
Vai com Deus Chico! Apontaste para os jovens os novos areópagos da Evangelização das Mídias Sociais e da Inteligência Artificial.
Vai com Deus Chico! Tu olhaste para o ser humano e não para opções sexuais, porque a Igreja é de todos, DE TODOS! DE TODOS! Papa Francisco, vai com Deus Chico!
Bispa de Washington que peitou Trump fala em honrar quem pensa diferente
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Reverenda Mariann Budde diz à Folha que nacionalismo cristão distorce ensinamentos de Jesus e lança livro no Brasil
A reverenda Mariann Edgar Budde e o presidente Donald Trump, em janeiro - Kevin Lamarque/REUTERS
São Paulo
A reverenda Mariann Edgar Budde começou a escrever "Como Aprendemos a Ser Corajosos", livro que lança nesta segunda-feira (31) no Brasil, quando foi sua vez de absorver essa lição.
Em 2020, ela teve o que define como seu primeiro grande ato de coragem. Donald Trump, no fim do seu primeiro mandato, posou com uma Bíblia em frente à sua igreja. Budde criticou o "uso de símbolos sagrados" com propósitos políticos. Na mesma praça em Washington, a polícia havia desmantelado um protesto contra a morte de George Floyd, homem negro morto por um agente branco semanas antes.
Em 2025, num culto com presença de Trump, recém-empossado para sua segunda rodada como presidente dos Estados Unidos, a reverenda pediu ao convidado "misericórdia das pessoas em nosso país que estão assustadas agora". Fez menções a imigrantes e à comunidade LGBTQIA+.
Trump disse depois que aquele "não foi um bom culto".
Em entrevista à Folha, a bispa episcopal de Washington reconhece o avanço do nacionalismo cristão, "uma distorção da mensagem cristã", e enxerga falhas no campo democrata, visto com suspeita por muitos americanos que se sentiram escanteados pela elite intelectual.
É preciso estender a mão a quem pensa diferente, insiste Budde. "Eu preciso honrar [essas pessoas] e tratá-las com dignidade, mesmo que não concorde com elas. E tentar ver se podemos criar uma sociedade em que possamos ter conversas sem transformar as pessoas que discordam de nós em monstros."
Como a sra. relaciona sua fé com a decisão de confrontar Trump?
Não sei se eu diria que o confrontei. Falei com ele no contexto do sermão, que foi sobre unidade. Não estou certa de que ele absorveu a mensagem. Mas quis trazê-la como uma lembrança de que a misericórdia é algo do qual todos precisamos.
Alguns evangélicos diriam que a compaixão não tem sido muito mainstream em boa parte do cristianismo dos EUA e também do Brasil. Concorda?
Há uma interpretação da cristandade que não tem tanto a ver com os ensinamentos de Jesus. Dizer que é cristão expulsar pessoas que são diferentes ou tratar os que são estrangeiros tão mal é o contrário do que Jesus ensinou.
Não sou uma seguidora perfeita dos ensinamentos de Jesus, mas acho importante ser clara sobre como ele nos encorajou a nos tratarmos de forma digna, com paciência e amizade. Isso não significa que não temos leis e que as pessoas não precisam segui-las. Mas que podemos partir de uma posição um pouco mais gentil do que o que estamos experimentando agora com líderes cristãos mais influentes no governo.
Por que o nacionalismo cristão cresce tanto nos EUA?
O alinhamento de religião e poder político é tão antigo quanto a humanidade. Mas nós estamos testemunhando o crescimento disso por muitas razões. Muitas pessoas têm medo das mudanças que veem na sociedade.
Também acho que é um movimento financiado por mídias sociais que beneficiam certos grupos sociais. É uma distorção da mensagem cristã com um grande apelo para muitos que se consideram cristãos.
O que move esse lobby cristão a que a sra. se refere?
Dinheiro, poder, influência. A capacidade de elaborar leis percebidas como parte de uma agenda social cristã, para proteger certos grupos de pessoas.
Há uma crença forte, que volta à nossa fundação, de que há um plano particular de Deus para os EUA, mas essa sociedade é tipicamente definida como branca, com compreensões muito restritivas sobre o papel das mulheres e a natureza da família. [Essa visão] não fala para o bem de todos e para o tipo de sociedade multicultural que somos. E certamente não mantém os valores do evangelho cristão. Isso não é o que Cristo ensinou.
Como falar com esse EUA que a sra. apresenta?
Quero entender e conversar com as pessoas que têm essa visão. Preciso honrá-las e tratá-las com dignidade, mesmo que não concorde com elas. E tentar ver se podemos criar uma sociedade em que possamos ter conversas sobre essas coisas sem transformar as pessoas que discordam de nós em monstros e, portanto, deslegitimá-las como parte do diálogo.
O que aprendeu até agora com essas conversas?
As pessoas estão apoiando o presidente e sua agenda por muitas razões diferentes. Muitas estão preocupadas com o futuro financeiro, o aumento da imigração e a nossa capacidade de absorver tantos que querem vir para esse país. Há muito medo, e esses movimentos [nacionalistas cristãos] são construídos em cima do medo.
Vê uma forma de recolocar a misericórdia no centro no cristianismo americano?
Claro que sim. Não sei como... Mas, mesmo se eu não fosse bem-sucedida, eu ainda assim tentaria. E não estou dizendo que não há misericórdia entre os nacionalistas cristãos, mas ela é reservada para um grupo específico de pessoas.
No Brasil, fala-se sobre como a esquerda deixou de representar alguns grupos sociais. Isso acontece nos EUA?
Com certeza. Política e socialmente. Há suspeitas profundas em relação às classes educadas, com diplomas universitários e que vivem principalmente na costa leste ou oeste [como Nova York e Califórnia]. Há uma sensação de que muitos americanos se sentiam como se fossem menos valorizados, que seus empregos não eram importantes, que suas visões sobre como educar seus filhos estavam sendo desreguladas.
Esse descontentamento foi construído e encorajado. Temos um pouco de trabalho a fazer para reconstruir o tecido da nossa sociedade.
O que a Bíblia diz sobre imigrantes?
Você pode encontrar quase tudo que quiser na Bíblia. É complicado. Há partes dela muito tribais, nas quais as tribos não interagem com outras, e Deus parece feliz quando as pessoas fazem isso. Essa é uma compreensão mais antiga sobre como Ele se sente sobre as diferenças entre seres humanos.
E há passagens muito claras, como quando Deus diz ao povo de Israel, e Jesus aos seus seguidores, para antes de tudo se lembrarem de que fomos todos estrangeiros uma vez. Então devemos tratar o imigrante com amizade e respeito.
Sobre a comunidade LGBTQIA+, é comum ouvir nas igrejas o discurso sobre "amar o pecador, não o pecado".
A tradição a qual eu pertenço chegou a uma aceitação total de um espectro da sexualidade humana. Homossexuais e transgêneros são expressões saudáveis da vida cristã.
Como a sra., como líder evangélica, navega em tempos tão polarizados?
Com cuidado e com humildade. É importante [...] tratar aqueles que experimentam a fé de uma forma diferente com respeito. É direito deles como filhos de Deus.
Raio-x | Mariann Edgar Budde, 64
Bispa da Diocese Episcopal de Washington desde 2011, é uma das líderes religiosas mais influentes dos EUA. Conhecida por sua defesa da justiça social e dos direitos humanos, criticou publicamente Donald Trump em 2020 por usar a Bíblia como símbolo político. Formada em história pela Universidade de Rochester, obteve mestrado em divindade pela Escola de Teologia da Virgínia. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br
Obrigado a Venerável Ordem Terceira do Carmo- Sodalício de Diamantina/MG.
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Queremos de público agradecer aos irmãos e irmãs da OTC do Carmo de Diamantina, na pessoa do seu prior Davi e do articulador da região Marcione, que se colocaram à disposição para colaborar na caminhada da OTC do Serro.
Em reunião ontem, dia 20 de março de 2025 com o Prior, Paulo Júnior e os irmãos e irmãs daquele Sodalício, foi acolhida com alegria a proposta de “1 Ano de Missão” ou, acompanhamento, formação, animação e Espiritualidade Carmelitana naquela cidade. Tal proposta é uma tentativa de reanimar e suscitar novas vocações, uma vez que aquele sodalício passa por sérias dificuldades.
Um ponto positivo do nosso encontro foi – finalmente- a aprovação do Estatuto enquanto marco de organização jurídica, uma vez que o grupo necessita zelar e cuidar do templo, e para tal é necessário uma maior organização e aquisição de recursos.
Proposta concreta:
1-Todos os meses promover uma tarde- ou manhã- de Espiritualidade Carmelitana aberta aos paroquianos e simpatizantes do Carmelo. (Agendar, divulgar e convidar em todas as Missas da Paróquia)
(Formação, Animação, Adoração ao Santíssimo, Oração, Lectio Divina... ). Na medida do possível, convidar os frades de Belo Horizonte para se fazerem presentes.
2- Visitar os irmãos que estão afastados do Sodalício
3- Motivar para o Encontro da Família Carmelitana em Aparecida em agosto próximo.
Que a nossa Mãe, a Virgem do Carmo e nosso Pai e Guia, Santo Elias, nos ajude e não nos deixe esmorecer em nossa caminhada afinal, todos nós estamos CAMINHANDO RUMO AO MONTE CARMELO ENQUANTO PEREGRINOS DE ESPERANÇA. Boa Missão e conte sempre com as nossas orações
Frei Petrônio de Miranda, O. Carm., Delegado Provincial para Ordem Terceira do Carmo e Paulo Daher, Coordenador da Comissão Provincial.
Comunidade Carmelitana de Vicente de Carvalho, Rio de Janeiro. 21 de março-2025.
A renovação católica se desprende do PT, partido que a Igreja ajudou a fundar
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Há um movimento de ressurgimento na religião, mas ao invés de buscar proximidade, o dogma petista está tão desvirtuado de sua origem, que parece cada vez mais impossível esse reencontro
Igreja Católica: em 1989, católicos representavam 83%, hoje, mesmo sem os dados oficiais do Censo, atrasado pelo IBGE, as pesquisas de opinião apontam para uma média de 50% Foto: Werther Santana/Estadão
Por Bruno Soller
Cada vez mais distante do título que ostentou por décadas, o Brasil deixou há muito de ser a grande potência católica do mundo. O País caminha a passos largos para se tornar mais evangélico do que católico e as projeções menos otimistas, mostram que em uma década essa já deve ser a realidade. Essa mudança religiosa é a grande transformação sociológica brasileira no que concerne a sua essência de pensamento. Trazendo a análise para números, os evangélicos eram 9% nas eleições de 1989, enquanto os católicos representavam 83%, hoje, mesmo sem os dados oficiais do Censo, atrasado pelo IBGE, as pesquisas de opinião apontam para uma média de 35% de evangélicos e 50% de católicos.
Essa queda vertiginosa da população católica encontra guarida em diversos argumentos. O principal deles, medido qualitativamente, é a necessidade por respostas mais rápidas e o engessamento da estrutura ritualística da Igreja. As diferentes ramificações do protestantismo, sejam elas as reformistas clássicas ou as pentecostais e neopentecostais, têm cultos mais dinâmicos, cheios de musicalidade e uma interação entre pastor e rebanho mais próxima e menos protocolar. A alta presença dessas igrejas nas mídias são um outro ponto de contato que atrai a conversão de fiéis. Cultos na madrugada acabam por fisgar pessoas que se sentem desoladas por seus problemas cotidianos e enxergam um caminho para sua consolação.
A Teologia da Prosperidade é uma outra e importante razão pela qual muitos acabam por abandonar o catolicismo, que dogmaticamente defende o voto de pobreza, por uma linha de que é possível alcançar o crescimento material e que isso tem fundamento Bíblico para justificar a vontade de Deus para a vida de quem adere. Esse motivo traz uma reflexão para um embate que é o que muda por completo a percepção social dos fiéis. A Santa Sé propõe que a vida aqui é passageira, que o benefício final está após a morte, enquanto as igrejas protestantes, que ramificaram do Calvinismo, mostram que a recompensa já pode ser recebida em vida, em um mundo em que a materialidade tem grande importância e representa a vitória, dentro do sistema capitalista.
O crescimento em outra ponta do progressismo e a afirmação de direitos minoritários têm feito com que as religiões de matrizes africanas tenham dado um salto de presença na sociedade. Encobridas pelo catolicismo, principalmente pelo histórico de sincretismo religioso, muitos fiéis da umbanda, do candomblé, da quimbanda e das demais denominações têm se assumido publicamente como pertencentes a essas vertentes. Por muitos anos, questionados sobre qual a sua religião, praticantes desses dogmas, respondiam que eram católicos, com receio de julgamentos e preconceito. Vale lembrar que durante a Era Vargas, 40 anos após o fim da escravidão, a prática de religiões africanas sofreu uma grande repressão, sendo extraoficialmente proibida no País.
Com o conservadorismo da Igreja Católica, regida por homens brancos e de origem europeia, as ações afirmativas de comunidades negras e LGBTQIA+ têm encontrado cada vez mais guarida nas religiões de matriz africana, que têm entre suas adorações os orixás, com características humanas, tendo mais identidade com os percalços dos fiéis, do que a figura das santidades imaculadas do catolicismo. A culpa que é um dos pilares do catolicismo é uma outra vertente que tem afastado fiéis. Ao iniciar uma missa, o padre exige dos fiéis que peçam perdão pelos seus pecados e confessem suas culpas. Há um protocolo para aceitação, que com as políticas afirmativas do progressismo moderno parecem não mais ornar.
Com essa perda de fiéis, a Igreja Católica tem tido ramificações internas que buscam se renovar. Em um mundo que vive o maior dilema da sua história entre a clássica guerra do antropocentrismo e do teocentrismo, as religiões têm precisado serem mais imperativas e defender pautas do que apenas se apoiar em seu histórico para sobreviverem. Essa talvez seja a explicação para que no mundo do mais radicalizado conhecimento com tantas inovações tecnológicas e científicas, vemos um crescimento vertiginoso do islamismo e dentro do cristianismo uma substituição paulatina do catolicismo pelo protestantismo.
Mesmo com o sucesso midiático de alguns padres como Marcelo Rossi ou Fábio de Melo, a Igreja Católica tem visto uma diminuição considerável de novos batismos e o envelhecimento do seu rebanho. Como experiência social, vale observar a média de idade do público que vai regularmente às missas dominicais, por exemplo. Para conter isso, alguns padres têm buscado as redes sociais para alcançar novos fiéis ou pelo menos preservá-los. Frei Gilson, que tem sido acusado por petistas de ser simpatizante de Jair Bolsonaro, por algumas declarações dadas, é um fenômeno de popularidade em tem conseguido atrair milhões de seguidores na madrugada, às 4 horas da manhã, rezando o Santo Rosário, no que tem sido chamada de Quaresma Digital, em função do período entre carnaval e Páscoa, que é de suma importância para o catolicismo.
Com um discurso mais afirmativo e realçando um certo conservadorismo, que é dogmático da Igreja Católica, mas com a característica da solidariedade, algo que é muito caro aos fiéis dessa religião, Frei Gilson tem sido um instrumento de renovação dessa fé. O período quaresmal e a própria situação crítica de saúde do sumo pontífice, o Papa Francisco, parecem criar uma liga ainda mais propícia para esse movimento de resgate do catolicismo. O Partido dos Trabalhadores, no entanto, que foi formado com apoio de setores relevantes da Igreja, principalmente aqueles que defendiam a Teologia da Libertação, além das Comunidades Eclesiais de Base, com teólogos como Leonardo Boff, D. Pedro Casaldaliga e Frei Beto, por exemplo, não tem conseguido dialogar mais com esse público.
Preso ao assistencialismo e aí se encontrando com o catolicismo envelhecido, muito presente nos bolsões de pobreza do País, principalmente no sertão nordestino, onde há a maior concentração de classe D, do Brasil, onde 48,3% dos habitantes vivem nessa faixa social, o PT tem se afastado do público religioso. Com muita dificuldade de diálogo com os evangélicos, presentes em sua imensa maioria na periferia dos grandes centros urbanos e de ramificação social mais ativa na classe C2, que corresponde a 26,3% de todo o País, o novo embate parece se dar em um terreno em que o PT já teve dominância. A perda dos novos católicos pode ser o solapamento final do partido, que sobrevive muito ainda da figura de seu líder máximo, o presidente Lula.
Enquanto instituição, o PT mesmo com Lula na Presidência da República, foi apenas o nono partido em números de prefeituras nas últimas eleições. Fazendo um comparativo com 2012, ainda sob o efeito dos primeiros governos lulistas, o PT desabou de 625 prefeituras para 252, em 2024. Além disso, o partido não tem qualquer nome, hoje, que tivesse condições ou tamanho para sequer se aproximar da representatividade de Lula. Com o fracasso de Dilma, com Fernando Haddad, que desde que foi derrotado ainda em primeiro turno para prefeito de São Paulo, em sua reeleição, já foi testado em todas as posições e nunca mais emplacou nenhuma vitória, e com governadores de perfil mais técnico, que ainda não têm dimensão nacional, o partido está envelhecendo junto do catolicismo que o ajudou lá atrás. Há um movimento de ressurgimento na religião, mas ao invés de buscar proximidade, o dogma petista está tão desvirtuado de sua origem, que parece cada vez mais impossível esse reencontro. Fonte: https://www.estadao.com.br
Exercícios Espirituais no Vaticano, 10ª Meditação: "Deixar-se transformar"
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O pregador da Casa Pontifícia, Pe. Roberto Pasolini, fez na manhã desta sexta-feira, 14 de março, a décima meditação no âmbito dos Exercícios Espirituais da Quaresma à Cúria Romana sobre o tema "A esperança da vida eterna: Deixar-se transformar". Publicamos a síntese da reflexão.
Vatican News
A vida, com sua beleza e suas dificuldades, nos coloca diante de uma pergunta crucial: qual é o sentido de nossa peregrinação neste mundo quando tudo está destinado a acabar? Sem a esperança na eternidade, o peso da realidade pode nos esmagar ou nos tornar cínicos, levando-nos à resignação. São Paulo propõe que fixemos nosso olhar nas coisas invisíveis, que são eternas.
A humanidade é marcada pelo declínio físico, mas há uma renovação interior que ocorre dia após dia. Tudo o que parece desaparecer tem, na verdade, um destino maior: Deus nos criou para a ressurreição, e isso não é um sonho utópico, mas a lógica natural de uma existência chamada à plenitude.
No mistério da cruz e da ressurreição de Cristo, Deus completou seu desígnio de amor. A aparente derrota do Crucificado é, na verdade, a revelação de um Pai que não desiste de seus filhos. Isso significa que nossa vida não é deixada ao acaso, mas faz parte de um projeto de adoção e redenção que nos torna filhos amados e destinados à eternidade. Tudo o que experimentamos - alegrias, tristezas, conquistas e fracassos - faz parte de uma transformação contínua, semelhante à de uma semente que, ao morrer, gera uma nova vida. Assim, também nós, mesmo atravessando o limite da morte, estamos destinados a uma vida nova e gloriosa.
Essa transformação não é apenas futura, mas já começa agora. Na Eucaristia, de fato, ocorre uma troca misteriosa: oferecemos a Deus nossa vida e recebemos em troca o próprio Cristo, que nos transforma em seu amor. Em cada missa que celebramos, tudo o que somos é assumido na vida de Cristo, que o leva consigo perante o Pai. Não se trata de um rito simbólico, mas de um processo real de transformação de nossa pessoa, que nos torna partícipes da vida eterna já no presente.
Não sabemos exatamente o que vai acontecer no final, mas sabemos que o que seremos já está germinando dentro de nós. Não somos destinados ao nada, mas a um futuro cheio de esperança. Esta certeza muda tudo: nossa vida não é um filme sem sentido, mas uma obra escrita e dirigida por um Diretor extraordinário, que nos convida a fixar o olhar na eternidade e a caminhar em direção a Ele com confiança. É um fato real: Deus gerou filhos, e entre esses filhos estamos também nós. O futuro permanece diante de nós como um desenho de amor apenas parcialmente revelado. Entretanto, o que vemos hoje já é maravilhoso: somos filhos amados, cidadãos do céu, vivendo para Deus e para sempre. Fonte: https://www.vaticannews.va
Apresentação da Campanha da Fraternidade 2025
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Em 2025, o tema escolhido para a Campanha da Fraternidade 2025 é: “Fraternidade e Ecologia Integral” e o lema: “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31).
A Campanha busca promover, em espírito quaresmal e em tempos de urgente crise socioambiental, um processo de conversão integral, ouvindo o grito dos pobres e da Terra.
Objetivos Específicos:
1) Reconhecer o caminho percorrido e as ações já iniciadas com a Encíclica Laudato Si’ (LS) e o Sínodo da Amazônia, em vista do seu fortalecimento e continuidade;
2) Denunciar os males que o modo de vida atual impõe ao planeta e que tem gerado uma “complexa crise socioambiental” (LS 135), dado que em nossa Casa Comum “tudo está interligado” (LS 16);
3) Apontar as causas da grave crise climática global, a urgência de alteração profunda nos nossos modos de vida e as “falsas soluções” (LS 54) fomentadas em nome da transição energética;
4) Aprofundar o conhecimento do “Evangelho da Criação” (LS, Cap. II), valorizando a dimensão trinitária da fé cristã e recuperando o horizonte bíblico da aliança universal que envolve todas as criaturas (Gn 8-9);
5) Explicitar a Doutrina Social da Igreja e assumir o compromisso com a conversão integral, para a superação do pecado, em todas as suas manifestações;
6) Vivenciar as propostas do Ano Jubilar em vista de novas relações do ser humano com Deus e suas criaturas, consigo mesmo e com o próximo;
7) Propor a Ecologia Integral como perspectiva de conversão e elemento transversal às dimensões litúrgica, catequética e sociotransformadora do compromisso cristão;
8) Incentivar as pastorais e os movimentos socioambientais, em articulação com outras Igrejas e Religiões, sociedade civil, povos originários e comunidades tradicionais, em vista da justiça socioambiental e da atuação socioeducativa;
9) Promover e apoiar ações efetivas que visem à mudança do modelo econômico que ameaça a vida em nossa Casa Comum;
10) Apoiar os atingidos por catástrofes naturais e as vítimas dos crimes ambientais em sua busca por reparação e justiça;
11) Celebrar os 10 anos da Encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco, acolhendo a Laudate Deum e avançando com as temáticas socioambientais que já foram abordadas nas Campanhas da Fraternidade. Fonte: https://www.cnbb.org.br
A ESPIRITUALIDADE DE SANTA TEREZINHA DE MENINO JESUS
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Frei Carlos Mesters, Carmelita
Dia 1 de outubro é a festa de Santa Terezinha. É difícil você encontrar no Brasil um católico que nunca ouviu falar de Santa Terezinha ou uma capela por menor que seja, onde não se encontre uma imagem da Santa. Quem foi essa Terezinha para chegar a ser tão conhecida no Brasil inteiro? Ela era uma jovem francesa do fim do século 19 que aos quinze anos de idade entrou num convento carmelita e, nove anos depois, aos 24 anos de idade, após longos meses de muito sofrimento, morreu de tuberculose no dia 1 de outubro de 1897. Nunca saiu do convento. Quando ela morreu, uma irmã da comunidade dizia não ter encontrado nada de extraordinário na vida dela. Qual é então o segredo dessa santa carmelita para chegar a ser conhecida e amada de tanta gente até hoje? Qual o caminho que ela abriu para nós?
São dois os caminhos de Deus até nós e de nós até Deus. O primeiro é este: Deus, na sua bondade, tomou a iniciativa e, sem mérito algum da nossa parte, chegou até nós, nos acolheu e nos abraçou. É o caminho da gratuidade do amor. O outro caminho é este: Uma vez aceito o amor de Deus, nós devemos dar a nossa resposta e realizar o que o amor pede de nós. É o caminho da observância dos mandamentos. Gratuidade e Observância! Dois caminhos, dois lados da mesma medalha: dom de Deus e esforço nosso; providência divina e eficiência humana; festa e luta; fé e política; sonhar e planejar, graça e lei. Um lado só, sem o outro, tornaria incompleto nosso relacionamento com Deus. No passado, em algumas épocas da história da igreja, insistia-se mais na gratuidade: "Deus nos ama!" E às vezes, o povo caía num ritualismo vazio sem compromisso. Em outras épocas, insistia-se mais na observância: "Temos que cumprir a Lei!" E às vezes, se caía num legalismo exagerado que gerava nas pessoas o medo de Deus.
No fim do século 19 na França, época em que vivia Teresinha, o acento caía na observância, no legalismo, com prejuízo para a vivência da gratuidade do amor. O rigor e o medo marcavam a piedade do povo, mostravam um Deus distante e exigente. Tudo parecia pecado. Era proibido comungar todos os dias. Insistia-se mais nas práticas da penitência, ameaçando o povo com o castigo do inferno. Teresinha nasceu e cresceu neste ambiente burguês e conservador. No mosteiro carmelita, em que acabava de entrar, a espiritualidade era de observância e de rigor. O ideal da santidade eram as práticas de penitência, jejum rigoroso, grandes sacrifícios, longas orações. Não se lia a Bíblia. Na biblioteca do convento só havia um único exemplar da Bíblia. Para uma irmã poder ler a Bíblia precisava da licença da superiora. Então, como Teresinha conseguiu romper com este modo tão rigoroso de viver a vida? Como ela conseguiu vencer o medo de Deus e alcançar essa sabedoria tão grande a ponto de tornar-se doutora da Igreja, mestra de todos nós?
Em Teresinha transparece uma nova imagem de Deus. Ao longo dos poucos anos de sua vida, escondida num convento, ela redescobriu o rosto amado de Deus como nosso Pai, que tinha sido esquecido. O seu jeito de lidar com Deus era diferente. A frase de Terezinha que melhor resume a mensagem da sua vida é esta que ela dirige a Deus no fim da sua vida: "No crepúsculo desta vida aparecerei diante de vós com as mãos vazias!" Ela entrou no convento para tornar-se uma santa. Ela pensava que a santidade devesse ser fruto do seu próprio esforço. Ela ouvia falar dos grandes santos e santas, das duras penitências e das longas orações que eles faziam, das virtudes que praticavam, dos sacrifícios e gestos heróicos. Assim eles acumulavam méritos para poder merecer o céu. Terezinha sentia-se pequena e frágil, cheia de defeitos, incapaz de alcançar esse ideal de santidade, pois ela dormia durante a longa meditação de manhã, não gostava muito do terço, sentia antipatias de certas irmãs, e quando fazia uma penitência maior ficava doente. E pensava: “Eu, do jeito que eu sou nunca vou alcançar a santidade. Sou pequena demais e sem força. Sou uma criança. Como é que faço para ser santa?”.
Ela encontrava uma luz nas coisas pequenas e grandes que tinham acontecido com ela na história da sua vida: a experiência do amor do próprio pai que ela experimentou, sobretudo depois do trauma que viveu com a perda da mãe aos 4 anos de idade; a experiência vivida na noite de Natal em que de repente, sem esforço algum da parte dela mesma, ela conseguiu superar o seu problema afetivo do choro e ter um domínio maior de si mesma. De tudo isto ela foi tirando a seguinte conclusão: Deus conseguiu realizar em mim coisas que eu mesma não era capaz de realizar; se Deus é Pai, como meu pai aqui na terra, ele deve gostar de crianças pequenas e frágeis como eu; a mãe gosta quando a criança dorme tranqüila no colo.
Terezinha soube viver as pequenas e grandes experiências da vida à luz da sua fé em Deus como Pai. Aos poucos, através de muito sofrimento, ela foi descobrindo quem é Deus. Deus, na sua infinita bondade e misericórdia, ele me acolhe e me carrega nos seus braços. Amor não se merece. Amor se recebe de graça! Não adianta a gente querer acumular méritos para poder merecer o amor. No fim da sua vida, Terezinha já não observava a lei de Deus para merecer o céu, mas só e unicamente para agradecer o amor recebido de Deus. Perto da morte, ela se encontra de mãos vazias: "No crepúsculo desta vida aparecerei diante de vós com as mãos vazias!" Terezinha não acumulou nada. Pelo contrário! Esvaziou-se e entregou-se. Foi se doando, sem se preocupar com a sua própria salvação. Não acumulou méritos nem sabedoria. Não quis crescer para o alto. Ela dizia: "É descendo que se sobe! É diminuindo que se cresce!"
Pelo seu testemunho, ela nos revelou um novo rosto de Deus! A sua vida, tão curta e aparentemente tão insignificante, é uma prova viva de que Deus, ele mesmo na sua bondade imensa, é a maior Boa Notícia para nós, seres humanos. Terezinha tem uma mensagem muito atual para nós que vivemos neste sistema neoliberal em que a acumulação é a lei mais forte que governa o mundo. Viver como ela viveu obriga a gente a andar na contramão e cria o espaço para uma nova convivência humana. Tudo isto não eram apenas idéias bonitas. Nem idéias não eram. Eram vivências que aos poucos foram brotando revelando seu conteúdo para a própria Teresinha que mais vivia as coisas do que as sabia.
Como jovem, ela sentia impulsos grandes e desejos enormes de ser santa. Ela se dizia: “Um desejo tão grande, se Deus o coloca em mim, então Ele também deve indicar como realizá-lo. Ela queria ser tudo ao mesmo tempo: santa, doutora, profetisa, sacerdotisa, mártir, e percebia que isto não era possível. Mas por outro lado pensava: se este desejo existe em mim, deve haver um caminho para realizá-lo, pois um desejo assim vem de Deus. Lendo a Bíblia, ela descobriu: “Sem o amor nada sou!” Aí ela concluiu: “No coração de minha mãe a Igreja, eu serei o amor! Aí posso ser tudo ao mesmo tempo: santa, doutora, profetisa, sacerdotisa, mártir, pois sem o amor eles não funcionam”.
Dezoito meses antes da sua morte, a escuridão baixou sobre Terezinha. Era como se Deus não existisse, como se o céu fosse uma ilusão, como se a fé fosse o maior engano da história da humanidade. Como Jesus na cruz, ela rezou muitas vezes: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” Mas a sua fé era maior que a escuridão. E ela repetia: “Deus está comigo! Ele não me abandonou. O amor é maior” Assim ela viveu na escuridão total durante a terrível doença da tuberculose, irradiando alegria e paciência, tendo por dentro a crise da escuridão, contra a qual ela resistia agarrando-se à fé, até à a hora da morte. Tudo isto revela uma pessoa muito madura, apesar de ter apenas vinte e poucos anos. Como diz o livro de Sabedoria: "Amadurecida em pouco tempo, ela atingiu a plenitude de uma vida longa!" (Sb 4,13)
Papa a sacerdotes: o amor por Deus e pela Igreja não podem ser pretexto para a autocelebração
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A formadores de seminários da França, Francisco indicou aspectos essenciais para a formação dos candidatos ao sacerdócio, como a missão e a humildade.
Bianca Fraccalvieri – Vatican News
O tema da formação dos futuros sacerdotes esteve no centro do discurso do Papa aos reitores dos Seminários Maiores e Propedêuticos da França, recebidos em audiência na manhã deste sábado.
Presentes em Roma para a peregrinação jubilar, Francisco citou uma frase de São Paulo VI, que dizia que o homem contemporâneo ouve de bom grado mais as testemunhas do que os mestres. E se ouve os mestres é porque são testemunhas.
Isso, disse Francisco, vale certamente para os formadores nos seminários, que devem cuidar da qualidade e da autenticidade das relações humanas neste período de amadurecimento dos candidatos ao sacerdócio.
Em seguida, o Pontífice fez uma análise do perfil dos seminaristas de hoje, cuja característica é a diversidade, seja por idade, seja por experiência de vida e de fé. Para Francisco, o importante é que os formadores aceitem essa diversidade sem medo, concentrados no principal objetivo: formar discípulos missionários apaixonados pelo Mestre, pastores com o cheiro das ovelhas, que vivam no meio delas para servi-las e levar-lhes a misericórdia de Deus.
Não se trata de formar clones. Todavia, há regras a serem respeitadas e o Pontífice ofereceu algumas indicações como, por exemplo, a formação de uma “verdadeira liberdade interior”, de modo que o futuro sacerdote saiba raciocinar com a própria cabeça, iluminado pela fé e movido pela caridade, para fazer escolhas às vezes contracorrente, sem alinhar-se a respostas pré-confeccionadas.
Outro aspecto importante apontado por Francisco é o amadurecimento de uma humanidade equilibrada e capaz de relações humanas. Isso inclui imitar as próprias atitudes de Deus, que são a ternura, a proximidade e compaixão, sem temer personalidades muito frágeis ou rígidas ou desordens de caráter afetivo. “O homem perfeito não existe e a Igreja é composta por membros frágeis e por pecadores”, disse o Papa, pedindo paciência e prudência aos formadores. “Não tenham medo das fraquezas e dos limites de deus seminaristas. Não os condenem apressadamente e saibam encorajá-los. É o martírio da paciência.”
Outro aspecto desenvolvido por Francisco é a missão: "O sacerdote é para a missão. Um sacerdote que faça o 'senhor abade' não é para a missão. Isso não pode". Mesmo que ser sacerdote comporte uma realização pessoal, não é para si mesmos que são ordenados, e sim para o Povo de Deus. Isso pressupõe gratuidade, desprendimento de si e humildade.
Não é raro que, durante o percurso, alguns sacerdotes acabem servindo a si mesmos. "Atenção, sobretudo com o dinheiro. Minha vó sempre dizia que o diabo entre pelo bolso. Por favor, a pobreza é algo muito belo. Servir os outros. E cuidado com o carreirismo. Cuidado com a mundanidade, do ciúme e da vaidade."
Deste modo, analisou o Papa, o amor por Deus e pela Igreja nada mais são que um pretexto para a autocelebração. "Quando se encontra algum eclesiástico que parece mais um pavão é feio. Que o amor por Deus e a Igreja não seja um pretexto", exortou o Pontífice, concluindo seu discurso com um agradecimento pela difícil missão que desempenham a serviço da Igreja. Fonte: https://www.vaticannews.va
Ré- encantar-se com a Esperança: Passar os olhos no álbum das fotografias das idosas e dos idosos do Povo de Deus
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Frei Carlos Mesters, O. Carm.
Mensagem de um velho para os jovens
“Ah!, jovens! Se vocês soubessem o que eu vivi!”
Qo 11,7 a 12,8
Qohelet, no fim do seu livro, deixou para os jovens uma mensagem. O amor pela vida o levou a partilhar sua experiência com os mais jovens. Ele o faz não como professor que ensina, mas como irmão mais velho que partilha. Ele descreve as limitações que vem com a idade. Mas na maneira de descrevê-las, você sente uma pessoa que, mesmo limitada pela velhice, soube crescer em direção a Deus dentro destas limitações inevitáveis da vida e graças a elas.
Esta mensagem é a síntese, não só do livro, mas também da experiência que ele ou ela quer partilhar conosco e na qual mostra como a luz da sua descoberta conseguiu iluminar e transformar sua vida. É a mensagem vivida e agradecida dos cabelos brancos que se despedem da vida, para os jovens na flor da idade. Ouçamos:
Doce é a luz, e agradável para os olhos ver o sol.
Se você viver muitos anos, alegre-se em todos eles,
mas lembre-se de que são muitos os dias sombrios.
Tudo quanto sucede é vaidade.
Jovem, alegre-se na sua juventude,
e seja feliz nos dias da sua mocidade.;
Siga os impulsos do seu coração e os desejos dos olhos;
mas saiba que de tudo isso Deus te pedirá contas.
Expulse a melancolia do seu coração
e afaste do seu corpo a dor,
porque juventude e cabelos bonitos são coisas que passam.
Lembre-se do seu Criador nos dias da sua mocidade,
antes que venham os dias maus,
e cheguem os anos dos quais dirá:
“Não sinto mais gosto para nada!”;
antes que se escureçam o sol e a luz, a lua e as estrelas,
e que voltem as nuvens depois da chuva;
no dia em que tremerem os guardas da casa, ,
e se curvarem os homens outrora fortes,
e cessarem os moedores, por já serem poucos,
e se escurecerem seus olhos nas janelas;
e as portas da rua, se fecharem;
e diminuir o ruído do moinho até parece-ser um canto de pássaro
e todas as canções emudecerem;
quando você ficar com medo das alturas,
e levar susto pelo caminho,
quando embranquecer como a amendoeira,
e o gafanhoto lhe for um peso,
e o tempero perder o sabor;
é porque você já está a caminho da sua morada eterna,
e os que choram a sua morte já andam rodeando pela praça;
antes que se rompa o fio de prata,
e o copo de ouro se quebre,
antes que o jarro se quebre na fonte,
e se parta a roldana no poço,
então você voltará à terra, de onde veio,
e o sopro de vida voltará a Deus, que o concedeu,.
Tudo passa, diz o Qohelet, Tudo!
Mensagem de um sábio
para os filhos sobre os velhos pais
Eclo 3,12-16
Meu filho, cuide de seu pai na velhice,
e não o abandone enquanto ele viver.
Mesmo que ele fique caduco,
seja compreensivo e não o despreze,
enquanto você está em pleno vigor,
pois a caridade feita ao pai não será esquecida,
e valerá como reparação
pelos pecados que você tiver cometido.
No dia do perigo,
o Senhor se lembrará de você,
e seus pecados se derreterão
como geada ao sol.
Quem despreza seu pai
é um blasfemador,
e quem irrita sua mãe
será amaldiçoado pelo Senhor.
Idosos, Respeitar pai e mãe, Ser idoso,
Quatorze fotografias de pessoas idosas do Antigo Testamento
1- Adão e Eva, imagem e resumo de todos nós
Adão e Eva somos todos nós, seres humanos, independente de idade ou de raça, de condição social ou de grau de cultura, de gênero ou de religião. Os dois representam a nossa pequenez e a nossa grandeza como seres humanos: tropeçando, caminhamos em direção a Deus. Todos e todas nascidos de Deus e querendo voltar para Deus: “Tu nos fizeste para Ti, e o nosso coração está inquieto até que não descanse em Ti”. O coração nos diz e a Bíblia confirma (Gn 3,22-24) que o paraíso não foi destruído e pode ser alcançado. O velho Adão e a velha Eva que existem em todos nós (Rm 6,6; Col 3,9) devem ser renovados segundo a imagem do novo Adão e da nova Eva (Ef 4,16.22). A tarefa básica da nossa vida é renovar, passar do antigo para o novo testamento. Nascemos velhos e velhas, e vamos morrer novos e novas. Graças a Deus!
Oração: Salmo 8: que valor imenso não deve ter o ser humano!
2-Matusalém, avô de Noé
Matusalém é o mais velho dos velhos. A Bíblia diz que ele chegou à idade abençoada de 969 (novecentos e sessenta e nove) anos (Gn 5,25-27). Como todos os patriarcas e matriarcas de antes do dilúvio, Matusalém gerou filhos e filhas. Um dos seus filhos é Lamec que aos 182 anos de idade gerou Noé (Gn 5,28), cujo nome significa “este nos consolará” (Gn 5,29). Quando Noé completou 500 anos, gerou três filhos: Sem, Cam e Jafé (Gn 5,32). Depois veio o dilúvio (Gn 6,1 a 8,14). Após o dilúvio, Noé viveu mais 350 e morreu com a idade de 950 anos. Foi com o velho Noé, como representante de toda a humanidade, que Deus concluiu a aliança de nunca mais destruir a terra pelas águas (Gn 9,9-11), e colocou o arco-íris como sinal e lembrança desta aliança em favor da vida de todos nós (Gn 9,12-17). Deus fez esta aliança em favor da vida e da conservação do Universdo, quando sentiu o cheiro do sacrifício que o velho Noé estava oferecendo (Gn 8,20-22). A oração dos idosos e das idosas deve ter muito valor diante de Deus.
Oração: Salmo 104(103): cantar e celebrar a beleza e o esplendor da criação de Deus.
3- Sara e Abraão
Os dois já eram bem idosos quando foram chamados por Deus, ou melhor, quando descobriram o chamado de Deus que estava dentro de suas vidas. Abraão, chamado para ser pai de um povo, não conseguia acreditar na promessa de Deus, nem em Sara que era estéril. Inicialmente, só acreditava nos projetos que ele mesmo elaborava e propunha a Deus como alternativa. Como Abraão, também Sara, quando chamada, deu risada (Gn 18,12; 17,17). Risada de incredulidade. Também não foi capaz de crer na promessa, nem em si mesma, nem em Abraão. Era difícil crer, pois ela já era de idade avançada e estéril. Como crer que poderia ser mãe! (Gn 18,9-15). Crer em Deus até que não era tão difícil. Mas crer nos outros, crer em Sara, crer em Abraão: esta era e continua sendo a prova de fogo. Ao longo dos anos, Deus ou a própria vida foi tirando o tapete de debaixo dos pés dos dois. Cada vez de novo, eles eram obrigados a refazer a vida,. Assim, após três ou quatro tentativas frustradas, os dois conseguiram crer e se entregaram (Gn 12,1-3;15,1-6;17,15-22;22,1-18). A entrega valeu a pena, pois as três grandes religiões da humanidade, judaísmo, cristianismo e islamismo, têm a sua origem nesta entrega de Abraão e Sara. Os fundadores destas três religiões, Moisés, Jesus e Maomé, são alunos de um casal de velhos que souberam aprofundar as perdas e ganhos do envelhecimento e firmar-se, cada vez de novo, no rumo da sua vida. Isto faz pensar, ou não?
Oração: Salmo 77(76): A mão de Deus mudou. Ele passou pela minha vida sem deixar rastro.
4- Isaque, vítima da sua velhice, mas fiel
De Isaque se fala pouco na Bíblia. Ele é filho de um grande pai, e pai de um grande filho. Está entre Abraão e Jacó. Isaque teve dois filhos com a esposa Rebeca. Esaú, o mais velho, num momento de muita fome, vendeu por um prato de lentilhas seu direito de primogenitura a Jacó, seu irmão mais novo, (Gn 25,29-34). Quando Isaque ficou velho, seus olhos não enxergavam mais. Querendo dispor todas as coisas antes de morrer, mandou Esaú preparar um prato gostoso, para que ele lhe pudesse dar a benção da primogenitura (Gn 27,1-4). Rebeca, escutou a conversa e, aproveitando-se da cegueira de Isaque, deu um jeito para que Jacó pudesse receber a bênção da primogenitura. Esaú queria que o Pai voltasse atrás, mas Isaque, apesar de sentir-se vítima da sua cegueira, manteve a palavra (Gn 27,6-45). Esaú ficou sem a bênção, pois, uma vez dada, a bênção é irreversível.
Oração: Salmo 38(37): Súplica de um velho cego e enfraquecido que quer ser fiel
5- Moisés e Miriam
Irmão e irmã, ambos filhos de Amram e Joquebed (Ex 6,20). Miriam, a irmã mais velha, é chamada pelo seu próprio talento e pela necessidade do momento. Moça experta, ela soube salvar a vida do irmão Moisés e conseguiu que Joquebed, a mãe de Moisés, fosse paga pela princesa, filha do faraó, para criar o próprio filho (Ex 2,1-10). Assim, graças à esperteza da irmã, Moisés foi salvo das águas, foi criado pela mãe e recebeu sua formação na casa do faraó. Aos quarenta anos de idade, Moisés sentiu o chamado de Deus. Vendo de perto a opressão do seu povo, o sangue foi nele mais forte que a formação recebida na casa do faraó e ele chegou a matar um egípcio. Diante da crítica dos seus próprios companheiros, sentiu medo e fugiu (Ex 2,12-15). Quarenta anos depois, já aos oitenta anos de idade, mais amadurecido, recebe novo chamado para libertar o povo. E, novamente, o medo tomou conta. Moisés arrumou várias desculpas, mas no fim a vocação foi mais forte que a resistência medrosa, e ele acabou aceitando a missão (Ex 3,11.13; 4,1.10.13). A Moisés foram revelados o Nome Javé (Ex 3,7-15) e a compaixão infinita do nosso Deus (Ex 34,1-19). No momento mais crítico da saída do Egito, quando estavam sem saída diante das águas do mar, Moisés rezou a Deus. Deus respondeu: “Por que você está clamando por mim? Mande o povo dar um passo!” (Ex 14,15). O povo deu um passo, o mar se abriu e o povo pôde escapar para a liberdade. Neste momento, Miriam, também já bem idosa, convoca as mulheres para celebrar a vitória depois da travessia do Mar Vermelho (Ex 15,20). O Cântico de Miriam é um dos textos mais antigos da Bíblia. Ao redor dele foi se acrescentando o resto como cera ao redor do pavio (Ex 15,21). A Bíblia informa que Miriam, por castigo de Deus, ficou coberta de lepra por ter tida a coragem de criticar a liderança excessiva de Moisés (Num 12, 1-16). Depois da ressurreição, assim espero, vamos ficar sabendo se Miriam não tinha um pouco de razão em levantar a crítica que lhe mereceu um tão grande castigo.
Oração: Cântico de Miriam e Moisés (Ex 15,1-21): Javé é a minha força e o meu canto
6- O velho Eli, e Ana a mãe de Samuel
Eli era um sacerdote idoso que tinha dois filhos que não prestavam (1Sm 2,12-17; 8,3-5). Eli tomava conta do pequeno santuário de peregrinação em Silo, onde o casal Êlcana e Ana todos os anos faziam sua romaria (1Sm 1,3). Ana não podia ter neném. Era estéril. Num momento de grande tristeza, entrou no santuário e derramava sua alma na presença do Senhor. Fazia sua prece não em voz alta como era o costume, mas apenas suspirando e movendo os lábios (1Sm1,10-11). Eli foi mal educado com ela. Ele disse: “Até quando você vai ficar embriagada? Acabe primeiro com essa bebedeira!”. Mas Ana soube manter sua dignidade e respondeu com muita educação: "Não, meu senhor. Eu sou uma mulher que sofre; não bebi vinho, nem bebida forte. Eu estava apenas me derramando diante de Javé. Não pense que esta sua serva seja vadia. Falei até agora, porque estou muito triste e aflita". (1Sm 1,15-16). Através de Eli ela recebeu o chamado de Deus para ser mãe: "Vá em paz. Que o Deus de Israel conceda o que você lhe pediu". Em ação de graças, por ter recebido a graça de ser mãe, ela fez um cântico bonito, no qual expressa a alegria do reencontro com o ideal da sua vida (1Sm 2,1-10). Foi neste Cântico de Ana que Maria, a mãe de Jesus, se inspirou para fazer o Magnificat. Por isso, a tradição diz que o nome da mãe de Nossa Senhora, a avó de Jesus, era Ana.
Oração: Cântico de Ana (1Sm 2,1-10): A mulher estéril dá à luz sete filhos
7- Samuel, o filho de Ana
Samuel, o filho de Ana, não percebia o chamado de Deus e precisou da ajuda de uma pessoa bem idosa para orientá-lo no discernimento da vocação. O velho Eli orientou o menino e mandou que dissesse: "Fala, Senhor, teu servo escuta!" (1 Sm 3,1-18). Samuel foi o último Juiz. Durante muitos anos guiou o povo e o ajudou na difícil e duvidosa transição política do sistema tribal para o novo sistema da monarquia. Bem idoso, fez uma bonita revisão da sua vida diante de todo o povo (1Samuel 12,1-5).
Oração: Salmo 71(70): um velho de cabelo branco pede para não ser abandonado por Deus na velhice
8- Enoc e Elias, os dois que não morreram
A Bíblia não conta a morte deles. Para o povo, os dois não morreram. Foram levados para o céu. De Henoc se diz: “Henoc viveu 365 anos. Ele andou com Deus e desapareceu, porque Deus o arrebatou” (Gn 5,23-24). Elias foi arrebatado ao céu num carro de fogo e deixou o seu manto para Eliseu (2Rs 2,1-18). De Elias não se sabe o nome da mãe nem do pai. Ele apareceu de repente, proclamando: “Vivo é o Senhor, em cuja presença estou!” (1Rs 17,1). De uma viúva recebe o título de Homem de Deus (1Rs 17,24), que é o título mais bonito para um profeta ou profetisa: Homem de Deus! Mulher de Deus! Elias é o modelo do profeta. Ele é conhecido como o homem sempre disponível para a ação do Espírito (1R 18,12). Após a grandiosa vitória sobre os 450 profetas de Baal no Monte Carmelo (1Rs 18,20-40), Elias teve medo, fugiu, desanimou por completo e quis morrer (1Rs 19,1-4). Teve uma profunda crise de fé, mas reencontrou Deus, para além de todas as imagens e representações, na brisa leve, “voz de calmaria suave” (1Rs 19,5-14). Na opinião do povo, Elias vai voltar para reconduzir o coração dos pais para os filhos e o coração dos filhos para os pais, isto é, para refazer as relações humanas na base e reconstruir a vida em comunidade (Eclo 48,10).
Oração: Salmo 27(26): Os dois lados da fé: luminoso e escuro
9- Ezequias, o rei que não queria aceitar sua velhice
A conjuntura política internacional favorável levou Ezequias (716 a 687 aC) a promover uma reforma profunda nos vários setores da vida da nação: social, político, cultural e de infra-estrutura. Queria evitar que no Reino de Judá no Sul acontecesse o mesmo desastre que, cinco anos antes em 722 aC, tinha destruído por completo o Reino de Israel no Norte (2Rs 18,1-8). Ficando velho e doente, Ezequias não aceitou a velhice nem a doença. Reclamou com Deus. Deus atendeu ao pedido dele. O profeta Isaías funcionou como médico, arrumou um emplastro para a ferida do Rei e conseguiu mais quinze anos de vida ou sobrevida para ele (2Rs 20,1-11). Ezequias foi um grande construtor, um pouco vaidoso e muito centrado em si mesmo e nas coisas da sua grandeza como rei (2Rs 20,12-21).
Oração: Salmo 30(29): oração de Ezequias que teve sua vida prolongada por mais quinze anos
10- Jeremias, seduzido por Deus desde a sua juventude
Na hora de tomar consciência do chamado de Deus em sua vida, Jeremias levou susto, ficou meio gago e se desculpou: "Sou apenas uma criança!". Mas assumiu sua vocação (Jer 1,4-10). Sofreu a vida inteira por causa da vocação assumida (Jr 20,7-18). Deve ter ficado muito velho, pois nasceu em torno de 650 e foi morrer no Egito depois de 580 aC. Como nós nos séculos XX e XXI, Jeremias atravessou toda uma curva da história. Digo como nós, pois quem hoje está com mais de 75 anos, atravessou uma curva da história como nunca houve antes, 1940 até 2008. Jeremias viveu num período que abrange o longo e corrupto governo de Manasses (687 a 642), passando pela reforma fracassada do governo de Josias (640 a 609), pela primeira deportação do povo para o cativeiro da Babilônia em 597 aC e pela total destruição de Jerusalém e a segunda deportação para a Babilônia em 587, até o seu próprio seqüestro para o Egito em torno de 583. No momento mais trágico e mais triste da história, foi ele, Jeremias, que sustentou a esperança do povo. Já bem idoso, abriu a mente do povo para fundamentar sua segurança e sua esperança, não na observância perfeita da Lei, mas sim na gratuidade infinita da presença de Deus que se manifesta na criação para além de tudo aquilo que nós fazemos por Deus (Jr 33,19-26). Ele nos ensina a observar a lei de Deus não para merecer, mas para agradecer. Foi ele com sua vida tão sofrida e tão fiel que inspirou aos discípulos e discípulas de Isaías a figura do Servo de Javé, imagem do povo sofrido, descrita nos quatro cânticos do Servo (Is 42,1-9; 49,1-6; 50,4-9; 52,13 a 53,12).
Oração: 1º e 3º Cântico do Servo de Javé (Is 42,1-9 e 50,4-9): imagem do povo humilde, teimoso na fé
11- Noemi e Rute
Duas mulheres, uma bem idosa, Noemi, e a outra bem jovem, Rute. Noemi é da tribo de Judá e migrou para o estrangeiro junto com o marido e seus dois filhos. Rute, estrangeira de Moab no outro lado do Jordão, casou com um dos filhos da Noemi. Morreram tanto o marido de Noemi como o filho dela, marido da Rute. Ambas viúvas, sem filhos, humanamente sem futuro, serão elas que vão conduzir a história, orientando-se pela reflexão sobre os acontecimentos à luz da Palavra de Deus. É delas que vai nascer o futuro do povo e que surgirá o Messias. A novela tão envolvente das duas é uma crítica viva à política clerical de Esdras e Neemias e da elite de Jerusalém que queriam expulsar as mulheres estrangeiras e isolar o povo no conjunto das nações. Rute, estrangeira, através da sua solidariedade com Noemi, tornou-se a bisavó do futuro rei Davi. É muito bonita a maneira como Rute expressou a sua opção pela pobre e velha Noemi que gerou um novo futuro para o povo de Deus (Rute 1,15-18).
Oração: Opção de Rute por Noemi (Rt 1,15-18): Opção pelos pobres gera o futuro do povo
12- Jó e os amigos de Jó
Jó é o modelo do sábio. O sábio costuma ser apresentado como idoso, cabelo branco, portador de experiência humana acumulada. O livro de Jó é um teatro. O ensino oficial que dizia: “Sofrimento é castigo de Deus”, dava complexo de culpa aos sofredores. O teatro verbaliza a tensão entre o ensino oficial e a consciência rebelde dos sofredores. Jó representa a consciência rebelde dos sofredores. Os três amigos representam a visão tradicional. A cabeça de Jó, formada pela ideologia dominante, dizia: “Você sofre porque é pecador!” Mas o coração, a consciência, lhe dizia: “Deus é injusto comigo! Não pequei!”. Jó critica os três amigos, que identificam Deus com o nível econômico das pessoas: “Vocês usam mentiras para defender a Deus!” (Jó 13,7). “Vocês são capazes de leiloar um órfão e vender seu próprio amigo!” (Jó 7,27). A chave do teatro está na frase final. Jó se dirige a Deus e diz: “Eu te conhecia só de ouvir falar de Ti, mas agora meus olhas te viram. Por isso me retrato e me arrependo sobre pó e cinza” (Jó 42,4-6). A luta não era contra Deus, mas sim contra a imagem de Deus que falsificava a consciência das pessoas e destruía a convivência humana. É a rebeldia profética de um velho sábio.
Oração: Salmo 39(38): Desabafo de Jó, dos Jós da vida
13- O velho Eleazar
Eleazr era um senhor bem idoso com mais de 90 anos. Tinha muita liderança na comunidade, fruto da sua sabedoria acumulada ao longo dos anos. Na época da sangrenta perseguição de Antíoco contra os judeus (167-166 aC), Eleazar foi convidado pelo representante do Rei Antíoco para comer carne de porco e, assim, levar o povo a transgredir a lei e favorecer a política do governo helenista. Eleazar resiste, não aceita a proposta e morre torturado aos noventa anos de idade deixando um exemplo para a juventude (2Macabeus 6,18-31)
Oração: Salmo 49(48): Tudo passa na vida e ninguém pode resgatar a vida da morte
14- A mãe dos sete filhos macabeus
Na mesma perseguição em que foi torturado e morto o velho Eleazar, esta mãe foi presa com seus sete filhos. Mulher forte, teve de presenciar a tortura até à morte de seus sete filhos pelo rei Antíoco. Mas não se deixou intimidar pela dor. Ficou firme e soube animar seus filhos a perseverar na fé dos pais até à morte (2Mac 7,1-42).
Oração: Salmo 34(33): uma mãe de família transmite sua fé para seus filhos e netos
Doze fotografias de pessoas idosas do Novo Testamento
1- Isabel e Zacarias
Zacarias não foi capaz de crer no chamado e ficou mudo (Lc 1,11-22). Isabel era idosa e estéril, mas acreditou no chamado, concebeu e tornou-se capaz de reconhecer a presença de Deus em Maria (Lc 1,23-25.41-45). Isabel era da tribo de Levi, descendente de Aarão. Era Levita (Lc 1,5).
Oração: O Cântico de Zacarias (Lc 1,68-79) e a prece de Isabel: Ave Maria
2- José, esposo de Maria
Os apócrifos dizem que ele era velho e viúvo com uma porção de filhos que seriam os irmãos e as irmãs de Jesus (Mc 6,3). José, chamado a ser o esposo de Maria, era justo (Mt 1,19) e sua justiça já era maior que a justiça dos fariseus (Mt 5,20). Por isso, graças à justiça de José, Maria não foi apedrejada, e Jesus continuou vivo. Esta justiça maior levou José a romper com as normas do machismo da época. Ele não mandou Maria embora e Jesus pôde nascer (Mt 1,18-25).
Oração: Salmo 119(118),41-56: parece paixão pela lei, mas é paixão pelo Autor da lei
3- Maria, a mãe de Jesus
Uma tradição diz que Maria, depois da morte de Jesus, foi com São João para Éfeso. Ela morreu por lá já bem idosa com mais de 90 anos de idade, e depois foi assunta ao céu. Uma outra tradição diz que ela não morreu, mas que foi levada diretamente ao céu. Na pietà de Miguelangelo, Maria aparece bem jovem, mais jovem que o próprio filho crucificado, quando já devia ter no mínimo perto dos 50 anos. Perguntado porque tinha esculpido o rosto da Maria tão jovem, Miguelangelo respondeu: “As pessoas apaixonadas por Deus não envelhecem nunca”. Na Bíblia, se fala muito pouco de Maria, e ela mesma fala menos ainda. Ao todo, Bíblia conservou apenas sete palavras de Maria. Só! Nada mais: duas no encontro com o Anjo Gabriel; uma no encontro com Isabel; uma no encontro com Jesus no Templo; duas no encontro no casamento em Caná, e a última palavra é o silêncio ao pé da cruz, mais eloqüente que mil palavras. Cada uma destas sete palavras é como uma janela que permite olhar para dentro da casa de Maria e descobrir como ela se relacionava com Deus. Acostumada a ruminar os fatos (Lc 2,19.51), ela percebeu e acolheu a Palavra de Deus, trazida pelo anjo Gabriel, a ponto de encarná-la em seu seio, em sua própria vida (Lc 1,26-38). A chave para entender tudo isso é dada por Lucas nesta frase: “Felizes são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática." (Lc 11,27-28)
1ª Palavra: "Como pode ser isso se eu não conheço homem algum!"
2ª Palavra: "Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra!"
3º Palavra: "Eles não tem mais vinho!"
4ª Palavra: "Fazei tudo o que ele vos disser!"
5ª Palavra: "Meu filho porque nos fez isso? Teu pai e eu, aflitos, te procurávamos"
6ª Palavra: "Minha alma louva o Senhor, exulta meu espírito em Deus meu Salvador!"
7ª Palavra: O silêncio ao pé da Cruz, mais eloqüente que mil palavras!
Oração: Cântico de Maria (Lc 1,46-56): A minha engrandece o Senhor
4- O velho Simeão e a profetisa Ana
Estas duas pessoas, ambas bem idosas, aparecem no evangelho de Lucas por ocasião da apresentação de Jesus no Templo (Lc 2,22-38). O olhar dos dois era um olhar de fé, capaz de distinguir o salvador do mundo num menino trazido por um casal pobre de camponeses lá da Galiléia, no meio de muitos outros casais que traziam suas crianças para serem apresentadas a Deus no Templo. Os dois tinham dentro de si uma convicção de fé que lhes dizia que não iriam morrer antes de ver a realização das promessas (Lc 2,26). Este é, aliás, o desejo de todos nós. Cada ser humano traz dentro de si uma promessa de séculos. Simeão fez um cântico bonito de agradecimento (Lc 2,29-32). Ana era uma viúva de 84 anos de idade que também reconheceu o sinal de Deus no menino (Lc 2,38).
Oração: Cântico de Simeão (Lc 2,29-32): Agora posso morrer em paz
5- Os doze homens discípulos
Foram chamados para estar com Jesus, para anunciar a palavra e para combater o poder do mal (Mc 3,13-19). Nas pinturas e figuras eles sempre aparecem como idosos. O único jovem é João. Na realidade eram todos jovens, casados ou solteiros, com em torno de 30 anos de idade. Apesar de jovens, eles eram os “mais velhos” (presbíteros) nas primeiras comunidades. De certo modo eles continuam vivos até hoje, pois nossa fé é apostólica, vem dos apóstolos e tem no testemunho deles o seu fundamento. Vale a pena ver de perto a figura de cada um deles, o seu jeito de ser e de se relacionar com Jesus e com o povo. Eles são um pequeno álbum dentro deste álbum maior dos idosos e idosas. Olhando este pequeno álbum dos doze, a gente se consola e cria coragem, apesar de todos os nossos defeitos. Pedro era pessoa generosa e entusiasta (Mc 14,29.31; Mt 14,28-29), mas na hora do perigo e da decisão, o seu coração encolhia e voltava atrás (Mt 14,30; Mc 14,66-72). Jesus rezou por ele (Lc 22,31). Por isso ficou firme. Ele era pedra de apoio (Mt 16,18) e pedra de tropeço (Mt 16,23). Apoio e tropeço! Os dois, até hoje! Graças a Deus. Depois que ficou velho não era mais livre em fazer o que queria e um outro o conduzia. Tiago e João eram dois irmãos conhecidos como os “filhos de Zebedeu”. Estavam dispostos a sofrer com Jesus (Mc 10,39), mas eram violentos (Lc 9,54). Jesus deu a eles o apelido de filhos do trovão (Mc 3,17). João pensava ter o monopólio de Jesus e não permitia que os outros usassem o nome de Jesus para expulsar demônios. Jesus o corrigiu (Mc 9,38-40). João ficou muito velho. Havia gente que achava que ele não fosse morrer (Jo 21,23). A tradição diz que João era o discípulo a quem Jesus amava e que, no fim da sua vida, já bem velhinho, o sermão dele se resumia a uma única frase: “Amai-vos uns aos outros”.
Oração: Salmo 2 do jeito que foi rezado pelos apóstolos na hora da perseguição (Atos 4,23-32).
6- As sete mulheres discípulas
No grupo que seguia Jesus havia homens e mulheres. Elas seguiam Jesus (Lc 8,2-3; 23,49; Mc 15,41). A expressão seguir Jesus tem aqui o mesmo significado que quando é aplicado aos homens. Elas eram discípulas que seguiam Jesus, desde a Galiléia até Jerusalém. O evangelho de Marcos define a atitude delas com três palavras: Seguir, Servir, Subir até Jerusalém (Mc 15,41). Os primeiros cristãos não chegaram a elaborar uma lista destas discípulas que seguiam a Jesus como o fizeram com os homens. Mas os nomes de sete destas mulheres estão espalhados pelas páginas dos evangelhos. Um começo da lista está em Lucas 8,1-3: (1) Maria Madalena (Lc 8,2), (2) Joana, mulher de Cuza (Lc 8,3), (3) Suzana (Lc 8,3), (4) Salomé (Mc 15,40), (5) Maria, mãe de Tiago (Mc 15,40), (6) Maria, mulher de Cléofas (Jo 19,25), (7) Maria, a mãe de Jesus (Jo 19,25). Depois da páscoa, foram as mulheres a quem Jesus apareceu por primeiro e que receberam de Jesus a ordenação de anunciar aos outros a Boa Nova da Ressurreição (Jo 20,17; Mt 28,10). A tradição eclesiástica posterior não valorizou este dado com o mesmo peso com que valorizou as aparições aos homens e o seguimento de Jesus por parte dos homens (cf 1Cor 15,4-8).
Oração: Cântico do Amor (1Cor 13,1-13): o amor jamais passará.
7- Nicodemos e José de Arimatéia
Os dois, ambos pessoas importantes da elite da cidade, eram discípulos de Jesus meio às escondidas (Jo 3,2; 19,38). Nicodemos era membro do Sinédrio, o Supremo Tribunal da época. Ele aceitava a mensagem de Jesus, mas não tinha coragem de manifestá-lo publicamente (Jo 3,1). Aos poucos, sua sinceridade levou vantagem sobre o medo e a timidez e criou mais força interior. Teve a coragem de discordar publicamente da opinião dos outros no sinédrio e foi vaiado (Jo 7,50-51). José de Arimatéia era uma pessoa de posse que chegou a arriscar seu status pedindo licença a Pilatos para poder enterrar Jesus, um marginal crucificado, condenado à morte pelo sinédrio e pelo tribunal romano. Os dois, Nicodemos e José de Arimatéia, cuidaram da sepultura de Jesus (Jo 19,39). Ficando mais idosos, os dois foram ficando mais coerentes e mais corajosos.
Oração: Salmo 63(62): a busca de Deus
8- “Eu, Paulo, velho e prisioneiro”
Foi com estas palavras de Paulo se dirige ao seu amigo Filemon para fazer um pedido em favor de Onésimo, o escravo que fugiu da casa de Filemon e que foi acolhido por Paulo e por ele levado a abraçar a fé em Jesus (Flm 1,9). O significava ser “velho” naquele tempo? Alguns acham que Paulo devia ter em torno de 55 anos. Conforme alguns estudiosos apuraram, podemos distinguir quatro períodos na vida de Paulo:
1) do nascimento até 28 anos de idade: o judeu praticante;
2) dos 28 aos 41 anos: o convertido fervoroso;
3) dos 41 aos 53, o missionário ambulante, e
4) dos 53 até à morte, o prisioneiro amadurecido. Ficou preso dois anos em Cesareia e mais dois em Roma.
Oração: Salmo 16(15): Salmo do levita que, como Paulo, consagrou toda a sua vida a Deus
9- Eunice, Lóide e as avós e os avôs das comunidades
Na segunda carta a Timóteo, Paulo conservou os nomes da mãe e da avó de Timóteo, Eunice e Lóide (2Tm 1,5). Foram elas que transmitiram a Timóteo a fé e ensinarem a ele o amor pela Palavra de Deus (2Tm 3,14-15). Isto faz a gente se lembrar das avós e avôs dos doze apóstolos, dos 72 discípulos e discípulas, do povo das primeiras comunidades, tantos e tantas. Todos eles e elas pessoas anônimas. Mas Deus conhece e conserva os nomes. Foram estas pessoas anônimas que transmitiram a fé. Também vale a pena lembrar os homens e as mulheres que foram indicados para coordenar as comunidades e que eram chamados de presbíteros ou presbíteras, os mais velhos ou as mais velhas. Eram elas e eles que ensinavam as crianças a rezar e os jovens a cantar. Foi para eles e elas que Paulo fez aquele sermão tão bonito em Mileto (At 20,17-35). Os cânticos espalhados pelo Novo Testamento eram transmitidos por eles nas comunidades: cântico de Maria, de Zacarias, de Simeão, tantos outros.
Oração: Cântico das Comunidades sobre Jesus (Flp 2,6-11
10- Os Anawim, os pobres de Javé
No tempo de Jesus havia muitos movimentos, muitas maneiras de se viver e transmitir a fé. Cada um achando que a sua maneira de viver era melhor que a dos outros: essênios, zelotes, fariseus, saduceus, discípulos de João Batista. Todos eles esperavam o Messias Glorioso: alguns como Juiz, outros como Rei, Doutor, General ou Sumo Sacerdote. Mas havia a piedade resistente da fé dos pequenos, do povo pobre que incluía jovens e velhos, homens e mulheres, casados e solteiros. Os Anawim. Maria e tantos outros faziam parte deste grupo. Não era um grupo organizado. Era um jeito de ser e de viver sem que eles mesmos saibam como. Eles também esperavam o Messias, mas não um messias glorioso. Eles esperavam o Messias Servo, vivido por Jeremias e pelo povo pobre do cativeiro e anunciado por Isaías. Quando o anjo fez o anúncio a Maria, ela respondeu: “Eis aqui a Serva do Senhor!” Quando Jesus definiu sua missão ele disse: “Não vim para ser servido, mas para servir!” (Mc 10,45). Aprendeu da mãe.
Oração: Salmo 146(145): o salmo das oito bem-aventuranças, fonte de onde Jesus bebeu
11- A Jerusalém Celeste
É a idosa jovem noiva do Cordeiro. Ela desce do céu enfeitada para o seu noivo. Ela é bonita e superou todas as limitações das idades. Chegou ao destino da sua viagem e acolhe a todos nós. (Apc 21,1-7; 21,24-27; 22,3-5)
Oração: Canto da vitória sobre o Império neoliberal (Apc 18,1 a 19,8).
12- Jesus, o novo Adão, imagem de todos nós
Jesus morreu muito jovem. Tinha apenas 33 anos. Ressuscitado, ele não morre mais e sustenta a fé todos nós, velhos e jovens, homens e mulheres de todas as idades. Dele falamos pouco neste álbum, porque ele está em todos e em todas, ele é a raiz, o tronco, os ramos, o fruto. “Eu sou a videira, vocês são os ramos”. Falando dos outros falamos dele, de Jesus, o filho de Maria, o novo Adão. Os três títulos mais antigos de Jesus estão nesta frase do evangelho de Marcos: “O Filho do Homem não veio para ser servido mas para servir e dar sua vida em resgate para muito“ (Mc 10,45). Filho do Homem, Servo de Deus e Libertador dos irmãos. Filho do Homem indica a humanidade e a atitude humanizadora de Jesus. Servo indica a sua abnegação total a serviço dos outros, realizando assim a profecia de Isaías. Libertador ou Goêl, indica a sua atitude de acolher os excluídos. Goêl significa parente próximo, irmão mais velho, advogado, defensor, consolador,
Em Jesus, o amor é o princípio e o fim de tudo. Prova de amor maior não há que doar a vida pelo irmão. Jesus imitou o Pai e revelou o seu amor. Cada gesto, cada palavra de Jesus, desde o nascimento até à hora de morrer na cruz, era uma expressão deste amor. Foi um crescendo contínuo. A manifestação plena foi quando na Cruz ofereceu o perdão ao soldado que o torturava e matava. O soldado, empregado do império, prendeu o pulso de Jesus no braço da cruz, colocou um prego e começou a bater. Deu várias pancadas. O sangue espirrava. O corpo de Jesus se contorcia de dor. O soldado, mercenário ignorante, alheio ao que estava fazendo e ao que estava acontecendo ao redor, continuava batendo como se fosse um prego na parede da casa para pendurar um quadro. Neste momento Jesus dirige ao Pai esta prece: “Pai, perdoa! Eles não sabem o que estão fazendo!” Por mais que quisessem, a desumanidade do sistema não conseguiu apagar em Jesus a humanidade. Eles o prenderam, xingaram, cuspiram no rosto dele, deram soco na cara, fizeram dele um rei palhaço com coroa de espinhos na cabeça, flagelaram, torturaram, fizeram-no andar pelas ruas como um criminoso, teve de ouvir os insultos das autoridades religiosas, no calvário o deixaram totalmente nu à vista de todos e de todas. Mas o veneno da desumanidade não conseguiu alcançar a fonte da humanidade que brotava de dentro de Jesus. A água que jorrava de dentro era mais forte que o veneno que vinha de fora, querendo de novo contaminar tudo. Olhando aquele soldado ignorante e bruto, Jesus teve dó do rapaz e rezou por ele e por todos: “Pai perdoa!” E ainda arrumou uma desculpa: “São ignorantes. Não sabem o que estão fazendo!” Diante do Pai, Jesus se fez solidário com aqueles que o torturavam e maltratavam. Era como o irmão que vem com seus irmãos assassinos diante do juiz e ele, vítima dos próprios irmãos, diz ao juiz: “São meus irmãos, sabe. São uns ignorantes. Perdoa. Eles vão melhorar!” Era como se Jesus estivesse com medo que o mínimo de raiva contra o rapaz pudesse apagar nele o restinho de humanidade que ainda sobrava. Este gesto incrível de humanidade foi a maior revelação do amor de Deus. Jesus pôde morrer: “Está tudo consumado!” E inclinando a cabeça, entregou o espírito (Jo 19,30). Dizia o Papa Leão Magno: “Jesus foi tão humano, mas tão humano, como só Deus pode ser humano”
Oração: Pai nosso (Mt 6,9-13).
Festa da Sagrada Família
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Dom Antonio Carlos Rossi Keller
Bispo de Frederico Westphalen (RS)
A Festa da Sagrada Família, celebrada no primeiro domingo após o Natal, nos convida a refletir sobre a importância da família na vida cristã. Este momento especial nos lembra que a família é um espaço sagrado onde a fé é vivida e transmitida. Em 2025, o Ano Santo terá como tema “Peregrinos de Esperança”, ressaltando a necessidade de vivermos a esperança em nossas famílias e comunidades, especialmente em tempos desafiadores. Este tema nos inspira a buscar a presença de Deus em nossas famílias, promovendo um ambiente de autêntico amor e compreensão, como testemunho de esperança para o mundo.
A celebração da Sagrada Família nos lembra que Jesus, Maria e José são modelos de amor, respeito e unidade familiar. Essa festa nos convida a valorizar a vida familiar como um espaço de crescimento espiritual e humano, onde a fé é vivida e transmitida. A Sagrada Família nos ensina que, apesar das dificuldades e desafios, a união e o amor são fundamentais para a construção de lares que refletem a luz de Cristo.
A 1a Leitura (Eclesiástico 3, 3-7. 14–17) destaca a importância da honra e do respeito aos pais, enfatizando que a obediência e o cuidado com a família são fundamentais para a vida em comunidade. O texto nos lembra que “quem honra seu pai terá alegria em seus filhos” (Eclesiástico 3, 6), ressaltando a promessa de bênçãos para aqueles que cuidam de seus pais. Essa passagem é um lembrete do valor da família na tradição judaico-cristã, onde o amor e o respeito são pilares essenciais para a convivência harmoniosa, através do cumprimento do 4o Mandamento da Lei de Deus.
O Salmo 128 celebra a felicidade da vida familiar e a bênção que vem de Deus. Ele destaca que aqueles que temem ao Senhor e seguem seus caminhos experimentarão a paz e a prosperidade em suas casas. A afirmação de que “feliz é todo aquele que teme ao Senhor” (Salmo 128, 1) reforça a ideia de que a fé é a base de uma família feliz, onde o amor e o respeito são cultivados diariamente.
Na 2a Leitura (Colossenses 3, 12-21) São Paulo exorta os cristãos a viverem em harmonia, praticando a compaixão, a bondade e a paciência. Ele também fala sobre o papel de cada membro da família, incentivando a submissão mútua e o amor, o que é essencial para a construção de um lar cristão. A exortação de Paulo para que “as mulheres sejam submissas a seus maridos” (Colossenses 3, 18) e que “os maridos amem suas mulheres” (Colossenses 3, 19) reflete a necessidade de um amor que se expressa em respeito e cuidado mútuo, promovendo um ambiente familiar saudável e acolhedor.
No relato do Evangelho (Lucas 2, 41-52), vemos Jesus, aos doze anos, no templo, demonstrando sua sabedoria e compreensão das coisas de Deus. A passagem nos ensina sobre a importância da educação religiosa e do diálogo familiar, além de mostrar que a busca por Deus deve ser uma prioridade na vida da família. A resposta de Jesus a Maria e José, “Não sabíeis que eu devia estar na casa de meu Pai?” (Lucas 2, 49), nos convida a refletir sobre como a fé deve ser central em nossas vidas e na educação de nossos filhos.
Para viver o Ano Santo de 2025, as famílias podem:
Participar de peregrinações locais: buscar fortalecer a fé em comunidade, visitando, seja em família, seja em Comunidade, as Igrejas Jubilares da Diocese, participando das celebrações litúrgicas.
Realizar momentos de oração em família: dedicar tempo para refletir sobre a esperança em suas vidas, rezando juntos e compartilhando intenções.
Envolver-se em ações de caridade: auxiliar os necessitados e promover a solidariedade, ensinando aos filhos a importância do serviço ao próximo, levando a esperança cristã a quem muitas vezes está desesperançado.
Criar tradições familiares que celebrem a fé: Como a leitura da Bíblia em conjunto, a oração do terço em família, a participação em celebrações litúrgicas, fortalecendo os laços familiares através da espiritualidade.
A Festa da Sagrada Família e o Ano Santo de 2025 nos convidam a refletir sobre a importância da família como um espaço de esperança e fé. Ao seguirmos o exemplo de Jesus, Maria e José, podemos construir lares que sejam verdadeiros santuários de amor e esperança, contribuindo para um mundo mais justo e solidário. Que a Sagrada Família interceda por todas as famílias, para que vivam na paz e na união.
Sagrada Família: Jesus, Maria e José, cuidai de nossas famílias. Fonte: https://www.cnbb.org.br
MEDITAR NA LEI DO SENHOR E VIGIAR EM ORAÇÃO- Retiro da Ordem Terceira do Carmo
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Província Carmelitana Fluminense
Venerável Ordem Terceira do Carmo
Sodalício de Saquarema, Rio de Janeiro
Retiro. 30 de novembro-2024
Frei Petrônio de Miranda, O. Carm e Paulo Daher
MEDITAR NA LEI DO SENHOR E VIGIAR EM ORAÇÃO
Frei Bruno Secondin O. Carm. Adaptação para Ordem Terceira, por Frei Petrônio de Miranda, O. Carm
Eis o grande tema carmelita: até as pessoas menos instruídas sabem que o ideal carmelitano é o da vida de oração. E em torno deste ponto focal deveriam convergir todas as outras coisas: o trabalho, a convivência familiar e as nossas opções- sejam amorosas, sociais, políticas ou religiosas- a formação espiritual, o sentido da maturidade humana e psicológica, a direção espiritual, o apostolado.
Uma tradição de conflitos e de hipocrisias: Se é grande a glória para o Carmelo neste campo – e disto ninguém duvida – é preciso também reconhecer que as hipocrisias não faltam. E também são abundantes as manipulações. A primeira hipocrisia é a de uma vida real que na verdade não parece dar esta importância à oração e à meditação assídua da Palavra, da qual nasce o vigiar nas orações.
Uma releitura das intenções originais do carisma nos ajuda a superar razões de polêmica e a reencontrar um sentido novo para esta característica do Carmelo. Na releitura nova da Regra os capítulos 10-17 formam um bloco único, e representam o modelo de Jerusalém. E, por consequência devem ser interpretados numa unidade dinâmica. Se assim fizermos, veremos bem como a Palavra ouvida e meditada na solidão floresce em oração vigilante e em louvor sálmico, mas também em partilha dos bens e dos sentimentos do coração. E tudo encontra o seu vértice na celebração eucarística, que é plenitude do que a Palavra anuncia e promete, e fermento para que a vida se transforme em koinonia e seja transfigurada na sobriedade e na solidariedade em nome da Palavra (R 17).
A oração como vigilância: Não pode ser interpretada como um tempo noturno roubado ao sono para rezar. Mas antes como uma gramática do desejo: acende-se no coração a certeza de uma presença e de um projeto, cujos contornos se procuram na práxis (louvor, partilha, páscoa diária, reconciliação, luta espiritual, ascese flexível, etc.) Mas também se propõe fazer de toda a existência uma espera vigilante, um estar de sentinela, apaixonados e implorantes. Não é, portanto, a quantidade ou o método que faz do Carmelo uma comunidade orante. Mas este coração que vibra e espera, perscruta e implora, purifica-se e põe em prática a Palavra.
Orar como Igreja e em nome da Igreja: este é na realidade o verdadeiro sentido da vocação carmelita à oração. Uma oração não de horários e de tamanho, mas de coração que ama e que implora, de paixão pelo Reino que trabalhosamente se faz luz na história. Orar como Igreja é principalmente deixar-se amar e convocar. falar ao coração e salvar por meio da Palavra e da mesa eucarística, da solidão e da corresponsabilidade, do trabalho e do silêncio, da fidelidade à sabedoria dos séculos e da abertura ao novo que vai chegando. Se relermos os nossos grandes mestres sob esta perspectiva, encontraremos muitas confirmações, mas também um convite a mudar de esquema.
Uma oração teologal e não só orações: olhando-se bem para a Regra, mas ainda para a nossa história e a nossa espiritualidade, descobrimos que a oração nunca se desprende da história, antes está entrelaçada dentro da história, impregnada de história. Reconhecemos que Deus está fazendo crescer os seus desígnios dentro da história: rezamos desde dentro da nossa experiência de Filhos, e Cristo primogênito reza conosco e em nós. Verdadeiramente rezamos antes de tudo com esta consciência, nele reconhecendo misericórdia, perdão, ternura, fidelidade. A síntese é a oração do Pai Nosso, que justamente vale tanto quanto o breviário inteiro.
Uma oração eclesial: enquanto fruto do Espírito, que anima a Igreja, conhece os seus gemidos e aspirações, e os eleva em nosso favor até onde está o Pai (Rm 8,26). Trata-se certamente de uma experiência pessoal autêntica, que nasce do coração e da interioridade, mas não se fecha sobre si mesma, exprime ao mesmo tempo a comunhão dos irmãos, dos filhos de Deus, do edifício espiritual que vai crescendo sob a guia do Espírito. Não percamos de vista a função central da capela dedicada a Maria: a oração, que nasce na interioridade de cada um, tende por sua natureza a se manifestar em expressões compartilhadas por todos, como expressão coral de uma família, de uma comunidade.
Uma oração que é via para crescimento em humanidade: retenhamos que hoje é muito importante colocar a nossa atenção sobre o dinamismo do crescimento na autoconsciência cristã através da oração e o orar. Para que todos nos demos conta de que aqui justamente está uma das grandes dificuldades da nossa oração: que ela se torne não só um problema de quantidade e de tempo, de fórmulas e de gestos, mas sobretudo de crescimento dinâmico, de maturidade global. A Regra propõe-nos uma experiência unificada e unificante com o mistério da salvação, que se realiza no tempo e caminha para a plenitude do Reino escatológico. O escopo final é uma existência transfigurada, em que tudo vem à luz em síntese: Se, pelo contrário, a nossa preocupação é a de ensinar as descrições metodológica e psicológicas dos nossos mestres, nós nunca formaremos orantes de coração vigilante.
A palavra é uma lâmpada para os nossos passos [cf. Sl 118 (119) 105]. Queremos completar esta nossa exposição mais uma vez com um texto bíblico, que talvez raramente tenhamos lido. São alguns versículos do Sirácide 35,9-18. Limito-me a algumas anotações para ajudar na interpretação.
A hipocrisia do culto sem justiça: não se pode separar o culto a Deus do modo de viver, seguindo uma moral dupla. Deus não se deixa enganar pelas aparências quando se oferece os frutos de ações perversas. Não basta rezar pessoalmente com intensidade, é preciso saber distinguir a desonestidade em tantas situações e não concordar com a hipocrisia.
O semblante alegre , com ânimo bem disposto: não há verdadeiro diálogo com Deus se não existe amor e alegria ao fazê-lo, desejo de encontrá-lo. No constrangimento e no medo não floresce verdadeira oração. Mas a alegria nasce também da resposta de Deus, gratuita e generosa. “Bela é a misericórdia no tempo da aflição: é como nuvens que trazem a chuva no tempo da seca (Sr 35,24)”.
Deus ouve a prece do oprimido: A Escritura toda no-lo testemunha. Deus conhece e escuta a súplica e o desabafo. Quer dizer que é lícito desabafar-se e gritar; mas também que aquele que ama a Deus deve aguçar os próprios ouvidos e abrir o próprio coração para escutar como Deus e a reagir como Ele, “restabelecendo a equidade”.
Rezar com o corpo: Notemos a ênfase corpórea deste modo de orar. Reforça o sentido da luta, da fadiga, da solidão; é também expressão de uma fé tenaz e confiante. É o corpo todo e a vida que se fazem oração; não é apenas um dizer orações de qualquer maneira.
Caminho de crescimento: Seja para quem implora e desafia as nuvens para se fazer escutar , seja para a história da humanidade, a oração do humilde torna-se graça que abala as injustiças e faz realizar a justiça e a misericórdia. Bartolomeu de las Casas foi justamente lendo este texto que se converteu de clérigo conquistador em profeta dos oprimidos.
Para meditar e orar
1-Nós, Sodalício da Ordem Terceira do Carmo de Saquarema, estamos convencidos de que devemos repensar o sentido da nossa vocação para a oração?
2- Segundo Frei Tito Brandsma- Santo Carmelita, “A oração é vida, não um oásis no deserto da vida”. Como tornar-se Igreja orante e não só fazer orações?
3- Impossível ser um homem e uma mulher de oração da Ordem Terceira do Carmo e fechar os olhos para a pobreza, as Guerras e as diversas injustiças sociais do Brasil e do mundo. Como crescer em humanidade e solidariedade rezando?
O Silêncio no Carmelo
Frei Petrônio de Miranda, O. Carm
A simplicidade falou, o amor foi escutar, era a brisa do Carmelo, com o Profeta a contemplar.
1- Zelo zelatus sum, pro Domino Deo exercituum/ Eu me consumo de zelo, dia e de noite, pelo Senhor (bia)
2- No barulho da grande cidade, na agitação do metrô/ Quem caminha sem o silêncio, jamais encontra, o meu Senhor. (bis)
3-Tem gente que grita aqui, fala alto em todo lugar/ Esse não é o carmelita, aqui o silêncio veio habitar. (bis)
4-Deus não está surdo, não adianta jamais gritar/ Ele ouve a nossa prece, atende o clamor, do pobre a chorar. (bis)
5-No rádio e na tv, no jornal ou no celular/São palavras e mais palavras, e o vazio, sempre a reinar. (bis)
6- Com Teresa e Teresinha, eu quero silenciar/ Com Madalena de Pazzi, buscando essa paz, eu vou me encontrar. (bis)
O novo ano litúrgico: um caminho de fé e esperança
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Dom Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá (PR)
Com o início do Tempo do Advento, a Igreja celebra o início de um novo Ano Litúrgico, um ciclo espiritual que nos convida a mergulhar novamente no mistério de Cristo. Este tempo, estruturado em diversas épocas e celebrações, é um itinerário de fé que guia os cristãos na vivência dos mistérios da encarnação, paixão, morte e ressurreição de Jesus.
O Ano Litúrgico não é apenas uma organização cronológica, mas uma proposta espiritual que orienta os fiéis a caminharem com Cristo, renovando a fé, fortalecendo a esperança e intensificando a caridade. Vamos refletir sobre a riqueza desse novo tempo e como ele pode transformar nossa vida espiritual.
O Ciclo Litúrgico: Estrutura e Significado
O Ano Litúrgico é dividido em três grandes ciclos: o Ciclo do Natal, o Ciclo da Páscoa e o Tempo Comum. Cada ciclo nos convida a contemplar diferentes aspectos da vida de Cristo e a aprofundar nossa relação com Ele.
1.Tempo do Advento e Natal:
O Advento marca o início do Ano Litúrgico, com suas quatro semanas de preparação para a celebração do nascimento de Jesus. É um tempo de espera e esperança, de vigilância e conversão. O Natal, por sua vez, celebra o mistério da encarnação, quando Deus se fez homem e habitou entre nós (Jo 1,14).
2.Tempo da Quaresma e Páscoa:
Após o Tempo Comum inicial, a Quaresma é um período de preparação para o ponto culminante do Ano Litúrgico: a Páscoa. Este tempo nos convida à penitência, oração e caridade, conduzindo-nos à celebração da paixão, morte e ressurreição de Cristo, o coração da nossa fé.
3.Tempo Comum:
O Tempo Comum é dividido em duas partes e ocupa a maior parte do Ano Litúrgico. É o tempo de aprofundar o seguimento de Jesus no cotidiano, refletindo sobre sua vida, suas palavras e seus ensinamentos, especialmente por meio dos Evangelhos dominicais.
O Evangelista do Ano C
No Ano Litúrgico C, que se inicia, somos conduzidos pelo Evangelho de São Lucas. Este evangelista destaca a misericórdia de Deus, a universalidade da salvação e a alegria de viver o Evangelho. Lucas nos apresenta um Jesus compassivo, que acolhe os marginalizados, exalta os humildes e revela o amor infinito de Deus por toda a humanidade.
Um Caminho de Conversão e Esperança
Cada Ano Litúrgico é um convite à conversão. Ele nos recorda que a nossa vida é uma peregrinação rumo à casa do Pai, onde Cristo nos espera. A repetição dos ciclos litúrgicos não é uma simples rotina, mas uma oportunidade de aprofundar nossa fé e caminhar com mais firmeza no discipulado.
Além disso, o Ano Litúrgico nos insere na comunhão com toda a Igreja, que celebra os mesmos mistérios em todos os cantos do mundo. Por meio da liturgia, somos chamados a viver a unidade do Corpo de Cristo e a testemunhar a fé em nosso dia a dia.
Como Viver Bem o Novo Ano Litúrgico
Para aproveitar ao máximo a riqueza espiritual do Ano Litúrgico, algumas atitudes podem ser cultivadas:
- Participação ativa na liturgia: A Missa dominical é o centro da vida cristã. Participar com atenção e devoção nos conecta profundamente com o mistério de Cristo.
- Leitura e meditação das Escrituras: Os textos litúrgicos são uma fonte rica de espiritualidade. Reservar tempo para meditar sobre as leituras dominicais ajuda a vivê-las mais intensamente.
- Compromisso com a oração e a caridade: O Ano Litúrgico nos chama a intensificar nossa vida de oração e a praticar o amor ao próximo, seguindo o exemplo de Cristo.
Conclusão
O início de um novo Ano Litúrgico é uma oportunidade para renovarmos nosso compromisso de viver como discípulos de Jesus. Cada tempo e celebração nos oferece um caminho de encontro com o Senhor, permitindo que sua graça transforme nossas vidas.
Que este novo ano seja, para cada um de nós, um tempo de crescimento na fé, de perseverança na esperança e na vivência concreta da caridade. Que, ao longo deste ciclo, possamos dizer com alegria: “Fica conosco, Senhor” (Lc 24,29), e caminhar com Ele rumo à plenitude do Reino de Deus. Fonte: https://www.cnbb.org.br
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