Olhar Jornalístico

O favor de Trump a Lula

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Publicado em 11 julho 2025
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Ao ameaçar impor tarifas contra o Brasil em favor da impunidade de Bolsonaro, o presidente americano deu ao petista o que ele mais precisava neste momento de impopularidade: um inimigo

 

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, prestou um enorme favor ao presidente Lula da Silva com a ameaça de impor tarifas comerciais ao Brasil para obrigar o País a se render a suas absurdas exigências, entre as quais livrar Jair Bolsonaro pela tentativa de golpe de Estado. Deu ao demiurgo petista tudo o que um populista como ele mais deseja num momento de impopularidade: um inimigo para brigar. De preferência, um inimigo que faça ameaças de tal ordem que possam, se efetivadas, causar prejuízos reais à economia, abalar setores e negócios estratégicos como o agronegócio e o aço, encarecer a vida dos brasileiros e, de quebra, enfraquecer as forças políticas aliadas de Trump no Brasil.

Ainda é cedo para decretar que o tiro do presidente americano saiu pela culatra, mas é evidente que boa parte da conta de seu eventual tarifaço recairá sobre os ombros de quem supostamente moveu mundos e fundos para a ação de Trump contra o Brasil. Nesse pacote, inclui-se, em primeiro lugar, o clã Bolsonaro. Como se sabe, o ex-presidente e seus associados liberticidas viram na volta de Trump à Casa Branca uma boia de salvação para si e para o bolsonarismo. Alguns aliados, mais cautelosos, trataram Trump como símbolo do nacionalismo triunfante que sonhavam em aplicar no Brasil. Outros, mais delirantes, chegaram a clamar por uma invasão americana. Entre um passeio e outro na Disneylândia, Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, se apresenta como exilado político nos Estados Unidos e fez lobby na Casa Branca para que Trump liderasse a campanha bolsonarista contra o Supremo Tribunal Federal (STF), instituição tida como algoz de seu pai e de aliados golpistas.

O efeito prático está aí: o risco de o nacionalismo patriótico do bolsonarismo se converter numa oposição aos interesses do Brasil. Pode ser de pouca serventia a tentativa dos Bolsonaros e dos principais nomes da direita brasileira – como o governador Tarcísio de Freitas, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, e outros de menor musculatura política – de atribuírem culpa a Lula, ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, ao Itamaraty ou ao PT. Assim como ocorreu em países como Canadá, Austrália, México e, em certa medida, Alemanha, a interferência política de Trump em assuntos nacionais produziu resultados contrários: desmoralizou o americano e enfraqueceu o potencial eleitoral de seus aliados.

Para um governo e um presidente com imagem combalida pela incompetência e pela inépcia, nada mais útil do que ter um inimigo externo e assim, em tese, tentar “unir” o País contra os prejuízos da medida – incluindo o setor produtivo, que majoritariamente enxerga o lulopetismo com desconfiança. Bastou a publicação da carta de Trump para que Lula, seus exegetas no Palácio do Planalto e os habituais porta-vozes do lulopetismo nas redes decretassem uma espécie de estado de defesa da soberania nacional. E assim o enredo está urdido: um governo ruim, um presidente perdendo aliados e uma base desanimada se veem ávidos para galvanizar apoios Brasil afora contra a ameaça trumpista. A essa agenda se soma a campanha do “nós contra eles”, deflagrada recentemente após a crise do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), e assim se completa a receita populista do lulopetismo com um só objetivo: a reeleição de Lula.

Mas que Lula e a companheirada não se enganem. Apesar do favor político oferecido por Trump, o tarifaço, se vier, resultará em prejuízos econômicos consideráveis – ao agronegócio, à indústria e aos consumidores –, e com o tempo é provável que parte de tais efeitos seja debitada também da conta de Lula, sobretudo porque este não atuou para reduzir as tensões com os Estados Unidos de Trump. Recorde-se que Lula, ao contrário, investiu na aproximação com a China, advogou pela substituição do dólar como moeda do comércio global e fez campanha contra companhias americanas de internet. Por ora, o jogo favorece Lula, mas a eleição ainda está muito longe. Fonte: https://www.estadao.com.br

Como se formam os golpistas?

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Publicado em 26 junho 2025
  • O Supremo Tribunal Federal,
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  • os golpistas

O enredo que nos trouxe até aqui, misturando degradação institucional, escárnio escrachado e realismo fantástico, tem se mostrado imprevisível

 

Por Eugênio Bucci

Pela primeira vez na História do Brasil, militares de alta patente, acompanhados de um ex-presidente da República, tomam assento no banco dos réus. Eles são acusados de organização criminosa armada e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, entre outros crimes. A notícia é tão inusitada que parece boa, mas, na verdade, é apenas um começo.

Por certo, o processo que corre no Supremo Tribunal Federal (STF) reluz pelo ineditismo. Diferentemente do que se via no passado, o Brasil não deixa mais por isso mesmo. Agora, há um esforço para responsabilizar os que atentaram contra a normalidade democrática. As coisas avançam semana a semana. Os integrantes do “núcleo crucial” da trama, conforme o nomeou a Procuradoria-Geral da República, tiveram de comparecer aos interrogatórios. Agora, houve uma acareação momentosa entre o tenente-coronel Mauro Cid e o general Walter Braga Netto.

O andamento, contudo, é difícil. Para atrapalhar os ritos, surgiram lances de clamoroso cinismo. O réu Jair Bolsonaro, enquanto era interrogado, deu de convidar o ministro Alexandre de Moraes, que conduzia a sessão, para figurar como vice em sua chapa para a Presidência da República em 2026. O tom foi jocoso: piada à queima-roupa. O magistrado apenas sorriu, num clima de quase descontração judicial, e, no seu linguajar característico, declinou. Pilhéria indeferida.

O que nos aguarda? O processo vai transcorrer em risadas? Vai transitar em julgado amaciado? Vai dar cadeia? Virá uma anistia? Uma pizza? Não há como saber. O enredo que nos trouxe até aqui, misturando degradação institucional, escárnio escrachado e realismo fantástico, tem se mostrado imprevisível. Primeiro, tentou-se derrubar a República numa tramoia que incluiu acampamentos à frente de quartéis, fake news torrenciais sobre as urnas eletrônicas, depredação dos palácios dos Três Poderes e um plano para assassinar o chefe de Estado, seu vice e um ministro do Supremo. Depois, no julgamento, veio o espetáculo acintoso. Os acusados não se envergonham do que é vergonhoso. Desdenham da autoridade judiciária. Agem como se estivessem acima das leis dos comuns.

O historiador Carlos Fico estuda há décadas “o desprezo dos militares pela política, seu autoentendimento como superiores aos civis”. O retrato que ele nos entrega dessa história, no livro Utopia autoritária brasileira: Como os militares ameaçam a democracia brasileira desde o nascimento da República até hoje (Editora Planeta do Brasil), é desalentador. A virada de mesa tem sido uma constante das Forças Armadas. Trata-se de um vício que se reproduz impunemente.

“Todas as crises políticas brasileiras caracterizadas por ruptura da legalidade constitucional (vou denominá-las ‘crises institucionais’) foram causadas por militares”, afirma Carlos Fico. “As Forças Armadas violaram todas as constituições da República. (...) Indisciplina e subversão marcam a trajetória dos militares no Brasil. Eles foram responsáveis por todas as crises institucionais do País desde a Proclamação da República e jamais foram efetivamente punidos.”

O livro demonstra que, neste país, o golpe compensa – mesmo quando fracassa. Com a palavra, o historiador: “Quando afirmo que nunca houve, no Brasil, a efetiva punição de militares golpistas, me refiro às anistias que foram aprovadas pelo Congresso Nacional beneficiando os oficiais envolvidos nas tentativas fracassadas de 1904, 1922, 1924, 1956, 1959 e 1961. É claro que não cabe falar em punição no caso dos golpes bem-sucedidos (1889, 1930, 1937, 1945, 1954, 1955 e 1964).”

Por que “não cabe falar em punição no caso dos golpes bem-sucedidos”? Muito simples: quando o golpe dá certo, o ordenamento jurídico que poderia puni-lo não fica de pé para aplicar a lei. Passa a valer o inverso. Por exemplo: com a tomada do poder pelas tropas em 1964, quem fixou residência na prisão não foram os golpistas, mas os que se opunham à quartelada. Eis por que a legislação atual, com acerto, estabelece como crime a tentativa de golpe, não o golpe consumado. A tentativa basta para configurar o tipo penal.

Fora o acerto da lei, o que vemos hoje na Corte não é bom. Algo na voz dos réus, na sua maneira de olhar ou de desviar o olhar, deixa ver que, para eles, o golpismo é um ato de bravura. A fixação maníaca na ideia de assalto ao poder constitui um traço cultural que se mantém intacto no ideário das tropas. O que explica essa permanência? De onde vem isso?

A resposta lógica aponta para as escolas em que se formam os oficiais. Se a formação fosse outra, a mentalidade da farda já seria diferente. Será razoável que o currículo das academias das Forças Armadas e das Polícias Militares fique inteiramente a cargo da caserna? Ou será que isso deveria ser da competência da sociedade e do Estado Democrático de Direito? De forma respeitosa, dialogada e serena, é preciso enfrentar a questão. Ou o Brasil encara essa agenda espinhosa ou talvez não tenhamos como sair dessa espiral em que o populismo de coturnos, quando vai ao banco dos réus, vai em trajes de galhofa. Fonte: https://www.estadao.com.br

Esquerda deve celebrar pastor conservador atacando bolsonarismo?

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Publicado em 23 junho 2025
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  • dados sobre religião do Censo de 2022
  • declaração do pastor Aluízio sobre o Censo

Para ex-líder de Pablo Marçal, envolvimento de igrejas com a política é 'distração do Maligno'

 

Tarcísio de Freitas, entre sua mulher, Cristiane (esq.), e a bispa Sônia, no palco da Marcha para Jesus - Eduardo Knapp - 19.jun.25/Folhapress

 

*Juliano Spyer

A política esteve presente na Marcha para Jesus na quinta-feira passada (19). Em nota, Lula descreveu seus organizadores como "verdadeiros pastores do seu povo". E o governador —talvez presidenciável — Tarcísio de Freitas foi tietado e desfilou com uma bandeira de Israel. Mas cresce, entre evangélicos, o sentimento de que a relação entre política e púlpito se tornou tóxica.

Após a divulgação dos dados sobre religião do Censo de 2022, pastores como Silas Malafaia expressaram desconfiança: "Onde a esquerda mete a mão, tenho dúvida". Mas uma liderança conhecida, o pastor Aluízio Silva, da Igreja Videira, atribuiu a queda no crescimento evangélico ao envolvimento de líderes religiosos com a política.

No culto realizado após o anúncio dos dados do Censo, Aluízio lembrou que, se os evangélicos continuassem crescendo no ritmo registrado na contagem anterior, ultrapassariam os católicos em 2032. E cravou o motivo da desaceleração em uma só palavra: bolsonarismo.

"Quando os pastores no púlpito resolveram assumir politicamente algo, eles fecharam a porta da igreja para um montão de gente", disse. E alertou: "Isso é distração do Maligno. Nós estamos aqui para trabalhar pela expansão do Reino de Deus".

Devemos celebrar que uma liderança evangélica conservadora, à frente de uma igreja conhecida, esteja criticando o uso político da fé? Antes de responder, vale examinar como e por que esse vídeo viralizou.

A fala vem do ex-pastor de Pablo Marçal, que o recebeu no aniversário de 25 anos de sua igreja —realizado no estádio Serra Dourada, com transmissão pela TV aberta, pela Rede Globo de Goiânia. O evento ocorreu na véspera do primeiro turno das eleições municipais, e Marçal foi acolhido como o filho pródigo que, como na parábola bíblica, retorna à sua casa.

Marçal apresentou-se para o eleitor paulistano como herdeiro legítimo do bolsonarismo. Denunciou os arranjos políticos que levaram Bolsonaro a apoiar um candidato "do sistema" e, por isso, bateu boca publicamente com Silas Malafaia, que tenta se manter relevante como interlocutor entre evangélicos e o ex-presidente.

A fala do pastor Aluízio, atacando o bolsonarismo, se alinha ao posicionamento de Marçal como representante do discurso antiestablishment? Durante a campanha de 2024, Marçal denunciou pastores por supostamente receberem favores do prefeito Ricardo Nunes em troca de apoio.

Há outros dados a considerar. A declaração do pastor Aluízio sobre o Censo foi publicada e depois apagada pelo site O Fuxico Gospel, um canal popular de notícias e fofocas. O vídeo viralizou a partir do post de Andrade, um influenciador cristão e de esquerda, cujo perfil no X é @AndradeRNegro2. O site Brasil 247, próximo ao PT, repercutiu a fala.

Guilherme Boulos não mudou os rumos do segundo turno ao aceitar ser entrevistado pelo candidato derrotado Pablo Marçal para os milhões de seguidores online dele. Mas eu recebi o vídeo com a fala do pastor Aluízio de interlocutores de direita e o fato de ele estar circulando expõe um sentimento crescente, no segmento evangélico, de que pastores ricos querem enriquecer a qualquer custo —e que a política se tornou um meio para isso. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

* Antropólogo e historiador, autor de 'Crentes' (Record) e 'Povo de Deus' (Geração), pesquisa cristianismo, mundo popular, mídias digitais e esportes de combate

Até quando Marina vai resistir em um governo refém do Senado? Em 2008, ela saiu por muito menos

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Publicado em 28 maio 2025
  • Marina Silva
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  • Ministra do Meio Ambiente
  • senador Plínio Valério

Ministra do Meio Ambiente enfrenta teste de resistência em gestão que não tem maioria no Legislativo e precisa de presidente do Congresso, favorável à exploração de petróleo na foz do Amazonas

 

A ministra Marina Silva na Comissão de Serviços de Infraestrutura (CI) do Senado Foto: Rogerio Cassimiro/MMA

 

Por Vera Rosa

“Me respeite, ministra! Se ponha no teu lugar!” Foi assim que o senador Marcos Rogério (PL-RO) se dirigiu à titular do Meio Ambiente, Marina Silva, nesta terça-feira, 27, em sessão marcada por intenso bate-boca, na Comissão de Infraestrutura do Senado. Foram horas de desrespeito transmitidas ao vivo, sem que a base do governo defendesse Marina à altura dos ataques contra ela.

Marcos Rogério presidia a sessão em que a ministra foi convidada para explicar o motivo da criação de uma unidade de conservação ambiental marinha na chamada Margem Equatorial da foz do Amazonas. A Petrobras reivindica autorização do Ibama para prospectar petróleo naquela área e os senadores avaliam que Marina é quem cria obstáculos para dificultar a exploração.

"Fui convidada como ministra, você tem que me respeitar", diz Marina a senador

Líder do PSDB, senador Plínio Valério (AM), afirmou que “a mulher Marina merecia respeito, a ministra não”.

Sem um pedido de desculpas do líder do PSDB, Plínio Valério (AM), que em março já havia dito ter vontade de enforcá-la, Marina acabou se retirando da sessão.

Pouco antes, o mesmo Plínio Valério tinha feito o seguinte comentário: “Ministra Marina, que bom reencontrá-la! E, ao olhar para a senhora, eu estou vendo uma ministra, eu não estou falando com uma mulher. Porque a mulher merece respeito; a ministra, não”.

Soube-se, horas depois, que o presidente Lula, a primeira-dama Janja da Silva e outros ministros telefonaram para Marina e se solidarizaram com ela. Não basta.

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Não é de hoje que a situação de Marina, uma ex-petista, passa por um teste de resistência no governo. De um lado, ela enfrenta a oposição de uma ala da Esplanada e do Congresso que, por trás do discurso em defesa da exploração mineral, respalda interesses empresariais.

De outro, vê Lula adotar retórica dúbia a respeito de temas sobre os quais não deveriam pairar incertezas, como a necessidade de assegurar precauções para que a Petrobras faça a prospecção de petróleo na Margem Equatorial, fronteira da costa que se estende do Amapá ao Rio Grande do Norte.

“Eu não faço o meu trabalho pensando nas próximas eleições”, disse a ministra no Senado, deixando no ar quem seria o destinatário da frase.

Lula já reclamou do “lenga-lenga do Ibama” e chegou a dizer que o instituto parece ser contra o governo. Nos últimos tempos, foi além, fazendo tudo para atender o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil), que é do Amapá, favorável à exploração de petróleo na Margem Equatorial e quer ver o imbróglio entre a Petrobras e o Ibama resolvido antes de novembro, quando os holofotes mundiais estarão voltados para a Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP-30), em Belém. Sem maioria no Congresso, Lula depende de Alcolumbre para aprovar projetos de interesse do Palácio do Planalto.

Aliado do senador, o líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues, ex-Rede e hoje no PT, não compareceu à sessão na qual seus colegas tentaram emparedar Marina. Jaques Wagner (PT-BA), líder no Senado, estava lá, mas saiu antes, sob a alegação de que precisava acertar a votação de projetos.

No show de horrores, outro que se destacou foi Omar Aziz (PSD-AM). Embora integrando a base aliada de Lula, Aziz protagonizou uma ríspida discussão com a ministra.

“A senhora atrapalha o desenvolvimento do nosso País”, gritou ele. “Tem mais de 5 mil obras paradas por causa dessa conversinha. Quero resolutividade, não é conversa fiada”, emendou.

Marina avalia que saiu fortalecida do embate por não se intimidar. Resta saber, no entanto, até quando ela aguentará essa prova de obstáculos com um Congresso que puxa o seu tapete dia sim, outro também, diante de um governo enfraquecido.

Em 2008, após vários confrontos com a então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, Marina entregou sua carta de demissão a Lula alegando ter enfrentado “crescentes resistências” em “setores importantes do governo e da sociedade”. Dezessete anos depois, o que mudou? Fonte: https://www.estadao.com.br

Bastava tão somente…

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Publicado em 19 maio 2025
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  • general Walter Braga Netto,
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  • policial federal Wladimir Matos Soares
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Novos detalhes do planejamento do golpe de Bolsonaro revelam que o país esteve a um triz de uma nova tragédia autoritária

 

8 de janeiro de 2023 — Foto: Cristiano Mariz/O Globo

 

Por Míriam Leitão  

O triz que estivemos de uma nova tragédia autoritária se vê nas conversas do policial federal Wladimir Matos Soares com o advogado Luciano Diniz. O advogado diz: “Bastava tão somente para dar um susto, dissolver o STF… Puf, acabou meu irmão. Como faz falta um Figueiredo. O Médici, o Médici.” O agente responde que o plano estava pronto, mas Bolsonaro foi “traído” pelo Exército. “A gente ia empurrar meio mundo de gente, pô. Matar meio mundo. Estava nem aí cara.” E acrescenta, “o Alexandre de Moraes realmente tinha que ter tido a cabeça cortada”.

A certeza da impunidade de Wladimir Matos se vê num detalhe revelado. Ele guardava todas essas informações tórridas, mensagens escritas e em áudio, provas de crime, no notebook da Polícia Federal. As provas estavam com ele quando foi preso, em novembro de 2024, no Rio. Wladimir Matos havia sido deslocado para a cidade porque 80% do efetivo da PF participava da segurança do G20, mas foi deixado em uma posição periférica, pois já estava sendo monitorado.

A importância do que foi divulgado agora se vê através do tempo. A Polícia Federal investigou e reconstituiu os fatos que haviam acontecido em 2022. Quando Wladimir Matos Soares foi preso, seus diálogos confirmaram tudo: houve uma tentativa de golpe; a Marinha apoiava; o Exército recuou. E o então presidente desistiu na última hora por falta de respaldo do Exército. Em 2022, ele enviou mensagens a um assessor do então presidente Jair Bolsonaro, Sérgio Rocha Cordeiro, fornecendo os dados e as coordenadas de duas pessoas que estavam na segurança do presidente Lula. O agente havia trabalhado com Alexandre Ramagem, em 2018, na segurança de Jair Bolsonaro. Tudo se encaixa tão perfeitamente.

— Nesta interlocução dele com o capitão da reserva Sérgio Cordeiro, assessor especial do então presidente, ele valida o que a investigação havia visto. Seus diálogos são da época dos fatos em dezembro de 2022 e demonstram o que a investigação concluiu. Que houve uma mobilização para tentar uma virada institucional. Os áudios chancelam as conclusões a que a equipe de investigação chegou — diz um investigador.

Nem todo o material apreendido pela Polícia Federal foi analisado. Há muita coisa ainda sendo vista. Quando o coronel Flávio Peregrino, assessor de Braga Netto, foi preso, a Polícia Federal pegou pen drives, HDs, computadores, “mídias”, como os policiais dizem. Muito do conteúdo ainda nem foi analisado. Há telefones celulares cujas senhas ainda não foram quebradas. Isso muda alguma coisa? A avaliação que ouvi é que a cada novo material avaliado está se confirmando a mesma conclusão, de que havia um golpe de Estado em andamento no Brasil, com a intenção de impedir a posse do presidente eleito e com planos de assassinatos políticos.

Essas evidências que ainda estão sendo analisadas podem ser objeto de relatórios da Polícia Federal. Não cabem mais indiciamentos, mas a PF pode agregar novas provas, enviar para o ministro relator, que envia à Procuradoria Geral da República, para fazer aditamentos à denúncia. Os novos elementos de prova reforçam a acusação contra este núcleo golpista, cuja denúncia deve ser julgada essa semana. Confirmam a linha da acusação que já foi recebida pelo STF.

Luciano Diniz, um dos interlocutores de Wladimir Matos Soares, é advogado em Salvador e não está indiciado. O valor do diálogo é que nele o agente da PF revela todos os detalhes do que se preparava. “Nós fazíamos parte de uma equipe de operações especiais que estava pronta para defender o presidente (Bolsonaro), armada e com poder de fogo elevado para empurrar quem viesse à frente. Esperávamos uma canetada para agir. Na véspera que a gente ia agir, o presidente foi traído dentro do Exército. Os generais foram lá e deram a última forma e disseram que não iam mais apoiar ele”, relata o policial. Ele diz que Alexandre de Moraes deveria ter sido eliminado quando impediu que o delegado Alexandre Ramagem assumisse a Polícia Federal. “Tinha que ter cortado a cabeça dele ali”.

Que estivemos muito perto de um golpe sangrento se vê na maneira aberta como se conversava no governo Bolsonaro sobre o atentado à democracia. Os documentos mostram que o policial frequentava o acampamento em frente ao Exército. “Não ia ter posse, cara, nós não íamos deixar”. Foi por um triz.

(Com Ana Carolina Diniz). Fonte: https://oglobo.globo.com

Trump vestido de papa? Presidente e Casa Branca publicam imagem do americano como pontífice

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Publicado em 03 maio 2025
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  • Donald Trump aparece vestido como papa,
  • presidente dos Estados Unidos

Cena, que aparenta ter sido produzida por Inteligência Artificial, foi publicada sem texto nas redes do presidente americano e no perfil oficial da Casa Branca

 

Por Redação

O presidente dos Estados Unidos e o perfil oficial da Casa Branca no X (antigo Twitter) publicaram na sexta-feira, 2, nas redes sociais, uma imagem em que Donald Trump aparece vestido como papa, sentado em uma cadeira de estrutura dourada.

A imagem foi divulgada na plataforma TruthSocial, de propriedade do presidente, e mostra Trump em trajes papais, incluindo uma mitra e um cordão dourado com uma cruz, sentado em uma cadeira de estrutura dourada e com o dedo indicador direito apontando para o céu.

Na última terça-feira, Trump afirmou, em tom de brincadeira, que gostaria de ser o próximo papa. “Eu seria minha escolha número 1″, disse Trump a repórteres.

Apesar da piada, ele disse que não tem uma preferência. “Temos um cardeal de um lugar chamado Nova York que é muito bom. Vamos ver o que acontece”, afirmou.

O cardeal Timothy Dolan, arcebispo de Nova York, não está entre os principais cotados, mas outro americano aparece na lista: o cardeal Joseph Tobin, arcebispo de Newark, em Nova Jersey. Nunca houve um papa dos Estados Unidos.

O caixão do papa Francisco é carregado à frente de dignitários, incluindo o presidente Donald Trump, ao centro, e a primeira-dama, Melania Trump, durante funeral na Praça de São Pedro, no Vaticano, em 26 de abril  Foto: Cecilia Fabiano / LaPresse via AP

O presidente dos Estados Unidos e a primeira-dama, Melania, participaram, em Roma, do funeral do papa Francisco, em 26 de abril.

A postagem ocorre poucos dias após a morte do Papa Francisco e às vésperas do início do conclave no Vaticano, onde 133 cardeais se reunirão na Capela Sistina a partir de quarta-feira, 7, para eleger o novo pontífice. Fonte: https://www.estadao.com.br

Collor na cadeia

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Publicado em 26 abril 2025
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  • Fernando Collor de Mello preso
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A trajetória do ‘caçador de marajás’ até a prisão é uma espécie de inventário das mazelas políticas brasileiras, mas também serve para mostrar a força institucional do País

Fernando Collor de Mello, primeiro presidente eleito pelo voto direto no Brasil depois da ditadura militar, agora é um presidiário, condenado por corrupção. Seu nome já estava na História como o primeiro presidente a sofrer um processo de impeachment, também sob acusação de corrupção. Sua trajetória, portanto, é uma espécie de livro-texto para os que quiserem estudar as mazelas políticas brasileiras desde o renascimento da democracia. E serve também – porque nem tudo é tragédia, afinal – para simbolizar a capacidade institucional brasileira de punir quem conspurca a República. Não é pouca coisa.

Primeiro, às mazelas. Collor foi condenado em maio de 2023 a oito anos e dez meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no âmbito da Operação Lava Jato. Na ocasião, o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou que, entre 2010 e 2014, Collor usou sua influência sobre a presidência e a diretoria da BR Distribuidora, então subsidiária da Petrobras, para direcionar contratos de construção de bases de distribuição de combustíveis para a UTC Engenharia em troca de propina. O caso, portanto, ilustra com perfeição como as numerosas estatais do País são vulneráveis aos mercadores da política, que cavoucam cargos, oportunidades e contratos para se locupletarem.

Collor era apenas um dos tantos usufrutuários do monstruoso escândalo do petrolão, que foi a dilapidação da Petrobras pelos governos petistas de Lula da Silva e Dilma Rousseff. Com isso, acabou se associando à corrupção do PT, o partido que ele mesmo combateu com denodo ao se tornar presidente, em 1989, derrotando Lula da Silva no segundo turno.

Não é a única ironia da trajetória de Collor, que foi afastado da Presidência em meio a um escândalo de corrupção depois de ter chegado ao poder prometendo moralizar a vida pública e caçar os “marajás” do Estado. Como este jornal sublinhou à época, Collor traiu os brasileiros que acreditaram em suas promessas de prosperidade e honestidade no trato da coisa pública, e “renunciou não em aras da Pátria, mas pensando no seu futuro político pessoal”, desejando que, “em breve ou a médio prazo, seus malfeitos sejam esquecidos e ele possa voltar ao cenário político”.

O vaticínio do Estadão foi certeiro: o alívio viria dois anos depois, quando o STF o inocentou da acusação de corrupção passiva, e logo o ex-presidente voltaria à ribalta política. Não se encerraram ali, entretanto, os problemas de Collor com a Justiça. Durante as três décadas seguintes, ele continuamente enfrentou processos criminais – e saiu-se livre de todos eles, elegendo-se senador em 2006. Foi nessa condição, e fazendo parte da base de “aliados” de Lula e Dilma, que Collor manteve seus tentáculos políticos destinados à obtenção de dividendos, vamos chamar assim, singulares. Segundo a denúncia que o levou à condenação, o ex-presidente recebeu R$ 20 milhões em propina, dinheiro que supostamente “apareceu” do nada em sua conta, enquanto ele dizia não fazer “a menor ideia” de sua origem, de acordo com entrevistas que concedeu durante o processo.

Mas nem tudo nessa história são mazelas. Collor, afinal, está preso, depois de um processo em que teve amplo direito de defesa. Isso significa que as barreiras republicanas erguidas pela Constituição de 1988 estão em vigor e, bem ou mal, funcionam. No caso de Collor, aliás, isso já havia ficado claro logo no primeiro teste da Constituição recém-promulgada, com seu processo de impeachment. O Congresso, estimulado pelas manifestações de cidadãos indignados nas ruas, abreviou o mandato de quem estava transformando a Presidência em balcão de negócios escusos. Tudo dentro da lei.

Ademais, as reinações lulopetistas (e colloridas) levaram o Congresso a aprovar, em 2016, uma lei para pôr cobro à exploração política (e pecuniária) das empresas estatais. Trata-se de um avanço gigantesco, que se mantém mesmo diante de manobras espertas dos petistas para enfraquecê-la.

Collor estará preso até decisão definitiva do plenário do STF. Seja qual for seu destino, no entanto, o Brasil sairá melhor. Fonte: https://www.estadao.com.br

O dedo de Trump no mapa da fome

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Publicado em 12 abril 2025
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Correndo por fora da batalha das tarifas, a grande pauta global dos alimentos precisa vir à tona

 

Por Fernando Gabeira

O centro das discussões mundiais são as tarifas de Trump. Não poderia ser diferente: envolvem a economia do planeta e a sorte de bilhões. No entanto, há uma decisão de Trump que foi pouco discutida, com efeito arrasador sobre os mais pobres do mundo. Trata-se do corte de 83% dos programas norte-americanos de ajuda humanitária e ao desenvolvimento. O balanço do estrago dessa decisão foi feito nas primeiras semanas após o anúncio, mas ainda assim ele pode surpreender pela sua carga negativa.

O jornal Le Monde cita a primeira avaliação de março, divulgada na revista Nature: a suspensão da ajuda arrisca privar 1 milhão de crianças de acesso ao tratamento vital contra a desnutrição e a provocar 160 mil mortes anuais. Essas análises se apoiam no fluxo de financiamento e na mortalidade constatada quando não se combate a desnutrição.

O problema não se limita ao corte americano. Com a nova configuração política e o abalo da Otan, os principais países europeus começam a destinar mais dinheiro para armamento. A Alemanha, por exemplo, flexibilizou suas rígidas regras fiscais para destinar verbas ao setor militar. Países como a França e o Reino Unido reduzem sua ajuda ao desenvolvimento de países pobres. A França cortou 37%; a Inglaterra, 40%. Se somamos a renúncia americana com os cortes europeus, cerca de 2,3 milhões de crianças não serão tratadas e abre-se a possibilidade de mais 370 mil mortes de crianças por ano. É como se a tragédia de crianças morrendo pelas bombas em Gaza fosse multiplicada por 30.

Ao anunciar o desmantelamento da Usaid, Elon Musk afirmou que ninguém morreria por causa de um corte para controlar a ajuda estrangeira. As estimativas o desmentem.

A organização humanitária Helen Keller afirma que somente em Bangladesh, Nigéria e Nepal cerca de 21 milhões de pessoas ficaram sem ajuda nutricional, entre elas 11 milhões de crianças. A questão alimentar já era problemática, e ficou dramática a partir da retirada dos EUA, que eram responsáveis por 30% da ajuda mundial.

Nos dias 27 e 28 de março, a França organizou um encontro internacional, uma espécie de conferência da nutrição. O tema era também qual resposta deveria ser dada pela comunidade internacional a esta nova situação, em que os EUA se demitem e os europeus, antes dos americanos, já começam a deixar o campo. Os organizadores reconhecem que o debate sobre nutrição não se limita à comida, ele se estende às mudanças climáticas. Até a obesidade crescente em algumas áreas do mundo era parte da agenda. O Brasil participou desse encontro. A representante brasileira foi Janja. Lula lançou no Rio a Aliança Global contra a Fome. Abriu-se, com essa renúncia americana, não só um campo de crítica a Trump, como uma necessidade de redobrar o esforços diante de uma situação calamitosa. Lula tem não só a chance, mas também a necessidade de avaliar o novo quadro e ampliar os esforços que culminaram com o consenso no Grupo dos 20. Antes de tudo isso, eu já tinha escrito um artigo sobre a questão dos alimentos, mostrando que o alto preço momentâneo no Brasil, na França e nos Estados Unidos é apenas a ponta do iceberg.

Inspirei-me no livro do jornalista Paul Roberts The End of the Food, no qual analisa as cadeias globais de abastecimento e fez previsões sombrias sobre o futuro dos alimentos no mundo. Ele menciona três variáveis que podem definir esse futuro: energia, mudanças climáticas e crise hídrica. Muitos países já não produzem alimentos para economizar água. E os mais competitivos, como o Brasil, exportam milhões de litros de água gratuitamente, por meio da produção de carne de frango e porco. O livro de Roberts começa com as questões de saúde que a produção em grande escala traz, como a contaminação dos alimentos, mas examina também algumas das aspirações de países mais pobres, como por exemplo a de comer mais carne. Isso traria melhorias na saúde, mas é uma forma pouco eficiente de obter calorias. Em média, são necessários dois quilos de cereais para produzir um quilo de carne.

Aos poucos, a complexidade da alimentação diante do crescimento mundial vai subindo na agenda. Dois presidentes, por exemplo, falaram do preço do ovo nas últimas semanas.

Lula, no Brasil, reclamou dos aumentos causados por questões climáticas, preço de rações e conjuntura de maior consumo de ovo por causa da Quaresma. Devastada pela gripe aviária, a produção norte-americana elevou os preços de forma assustadora. Em Nova York, os ovos estavam sendo vendidos por unidade ou em caixas de três. Trump mencionou o tema no dia em que anunciava a questão das tarifas, o que mostra a importância estratégica que uma crise alimentar pode ter para os governos ao redor do mundo.

Aliás, a importância do tema da escassez é indiscutível, pois já derrubou vários governos. A questão é prever as consequências de uma crise durável, provocada pela escassez de água, ausência de energia abundante e empobrecimento irreversível dos rios e oceanos.

Correndo por fora da batalha das tarifas, a grande pauta global dos alimentos precisa vir à tona. Naturalmente, temos de começar pela emergência da fome e pela realidade assustadora de existirem 80 milhões de crianças necessitando de tratamento contra a desnutrição. Mas há amplo caminho pela frente, um pouco ofuscado pelas tarifas, em que os alimentos são uma espécie de coadjuvantes no debate que envolve preço de carros, máquinas de lavar e iPhones. Fonte: https://www.estadao.com.br

A arapuca bolsonarista

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Publicado em 31 março 2025
  • Lula,
  • Luiz Inácio Lula da Silva,
  • Jair Bolsonaro,
  • governador Tarcísio de Freitas
  • Ratinho Júnior

Após virar réu no STF, Jair Bolsonaro inflacionou o preço a cobrar dos possíveis candidatos da direita em 2026, que precisam optar entre a moderação ou o apoio a um evidente golpista

No discurso de 50 minutos que fez após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de torná-lo réu por tentativa de golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito, o ex-presidente Jair Bolsonaro deixou ainda mais difícil a tarefa dos líderes da direita brasileira que tentam se credenciar como candidatos à Presidência em 2026. Ao dobrar a aposta no tom político de sua defesa, atacando a legitimidade do STF para julgá-lo, retomando a sua ofensiva contra o sistema eleitoral e as urnas eletrônicas e creditando seu julgamento a uma suposta tentativa de tirá-lo do jogo no ano que vem, Bolsonaro deixou claro ao País: qualquer liderança que pretenda herdar seus votos precisará estar umbilicalmente ligada a ele e afinada com o mais puro tom do bolsonarismo raiz.

Não foi apenas um discurso de defesa de si mesmo ou um exercício do sagrado direito de espernear permitido pelas boas democracias, mas a montagem definitiva da armadura bolsonarista para a disputa presidencial. “Parece que tem algo pessoal contra mim”, disse Bolsonaro, mais uma vez disposto a se apresentar como vítima de perseguição política. Afirmou não haver “crime nenhum não passar a faixa” ao presidente Lula da Silva, como se seu golpismo e reconhecido desapreço à democracia se restringissem à ausência na posse do sucessor. Negou ter havido uma trama golpista. Declarou que o Tribunal Superior Eleitoral “influenciou, jogou pesado contra eu (sic) e a favor do candidato Lula”. E voltou a sugerir, sem provas, fraudes nas urnas eletrônicas, afirmando que não é obrigado a “confiar em um programador”.

Foram 50 minutos de improviso – mas espertamente calculado – em que Bolsonaro pôde inflacionar o preço cobrado dos governadores Tarcísio de Freitas (São Paulo), Ronaldo Caiado (Goiás), Romeu Zema (Minas Gerais) e Ratinho Júnior (Paraná), listados como seus possíveis herdeiros. Até mesmo Caiado, o único do grupo que é mais crítico ao ex-presidente, moderou sua fala sobre a decisão do STF, deplorando, como Ratinho Júnior, o fato de a decisão ter ficado restrita à Primeira Turma, e não ao plenário, e pregou o óbvio, isto é, a garantia do direito à ampla defesa. Zema derramou-se em elogios (“o maior líder da oposição ao governo do PT”) e desejou-lhe a recuperação dos direitos políticos.

Mas o maior desafio recai mesmo sobre Tarcísio de Freitas, não só por ser o favorito, como também por ser o mais dedicado e enfático defensor de Bolsonaro, enquanto tenta se apresentar como moderado e democrata – o exato oposto do que o padrinho é. Nas últimas semanas, Tarcísio esteve ao lado do ex-presidente em entrevistas e no ato de defesa da anistia aos golpistas, reafirmou apoio ao ex-presidente tanto em relação ao julgamento do STF quanto à eleição de 2026 e declarou que o padrinho provará inocência, enquanto o ouviu dizer que há três opções da direita para a candidatura de 2026: “Jair, Messias ou Bolsonaro”. Em contrapartida, fez elogios à Justiça Eleitoral, definindo-a como “garantidora da democracia”, tipo de discurso que costuma ser tratado como heresia pelos bolsonaristas mais empedernidos.

Tarcísio parece ter feito o cálculo de que estar com Bolsonaro não tira necessariamente votos do eleitorado anti-Lula e anti-PT, mas se afastar do ex-presidente o inviabiliza entre os eleitores mais fiéis do bolsonarismo. Como Bolsonaro já está inelegível e provavelmente será condenado e possivelmente preso, é muito remota a hipótese de ser ele mesmo o candidato. Desse modo, Tarcísio se apresenta como leal a Bolsonaro num momento de agonia política e se candidata a ser o ungido do bolsonarismo. Trata-se de um cálculo de lógica eleitoralmente razoável.

Há momentos na História, entretanto, que exigem coragem de lideranças para escapar do mero oportunismo eleitoral. É este o caso. Para o bem do Brasil, qualquer candidato da direita deveria cumprir uma obrigação moral: não só se afastar do golpismo, como condená-lo nos mais duros termos, censurando o extremismo que Bolsonaro representa. Sem meios-termos. Sujeitar-se à arapuca que Bolsonaro montou é negar ao País a possibilidade de recobrar a moderação, a qualidade do debate público, a pacificação e a esperança de uma política exercida com lentes liberais e republicanas. Fonte: https://www.estadao.com.br

Lula descobre que existem bandidos

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Publicado em 24 março 2025
  • ministro do STF Ricardo Lewandowski
  • Ricardo Lewandowski
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  • Roubo e furto de celulares
  • ministro da Justiça e Segurança Pública,

Presidente percebe que a segurança é tema que dá e tira votos e resolve finalmente endurecer o discurso contra bandidos – aqueles que o PT sempre considerou vítimas de ‘injustiça social’

 

Tisnado pela impopularidade, com índices de aprovação empurrados ladeira abaixo e lá permanecendo, o presidente Lula da Silva parece que finalmente descobriu o quão grande é a sensação de insegurança na população brasileira – e que esse não é um problema restrito apenas ao eleitorado mais conservador. A segurança pública, como se sabe, é uma área na qual nem o governo nem a esquerda nem muito menos o PT têm o que mostrar. Recentemente, porém, durante evento no Ceará, em que protagonizou uma de suas muitas inaugurações palanqueiras, Lula afirmou que não permitirá que a “república de ladrões de celular comece a assustar as pessoas nas ruas deste país”.

A retórica de vingador mascarado, própria de gibis de super-heróis, não orna bem nem com um presidente da República, que não tem entre suas atribuições cuidar da segurança dos cidadãos, nem com um integrante do PT, partido que jamais se preocupou de verdade com isso. Ademais, a “república de ladrões de celular” já é conhecida de todos os brasileiros que vivem nas grandes metrópoles. Logo, Lula chegou tarde ao debate.

Roubo e furto de celulares são hoje os crimes que mais preocupam os cidadãos quando questionados sobre violência urbana, crimes esses que ocorrem de forma democrática, afetando todas as classes sociais. Em alguns casos, como o de São Paulo, há também um notável crescimento nos índices de latrocínio (roubo seguido de morte).

Já faz tempo que o roubo e o furto de celulares resultavam apenas em prejuízo financeiro. Especialistas lembram que os aparelhos viraram fonte de devassa na vida da vítima. Enquanto esta perde um patrimônio de valor e o seu sigilo bancário, bandidos acessam dados pessoais e podem realizar movimentações financeiras e realizar compras com cartões cadastrados. Tudo isso amplifica a sensação de insegurança. Além de São Paulo, números crescentes são registrados em capitais como Salvador e Rio de Janeiro.

Lula descobriu o que sucessivas pesquisas já apontavam desde o ano passado: a maioria dos brasileiros vê piora na segurança pública. Em março de 2024, 79% dos entrevistados em enquete da Quaest sentiam que a violência no Brasil havia piorado nos 12 meses anteriores. O Datafolha também registrou, ao longo daquele ano, a volta da segurança pública ao topo das preocupações nas capitais. Não se viu reação governamental significativa, apenas uma tentativa tímida do ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, de transmitir algum movimento na área. Até aqui, deu no que deu: em nada.

Agora há registros na imprensa descrevendo o esforço de auxiliares do presidente para convencer o chefe de que, assim como a inflação, a segurança pública é um problema que também prejudica a imagem do seu governo, ainda que seja atribuição dos Estados. Como o único problema que Lula de fato conhece é a sua popularidade (e a próxima eleição à vista), ele resolveu agir – ao seu estilo: com bravatas e campanha publicitária. No mesmo palanque no Ceará, o presidente disse que “lugar de bandido não é na rua assaltando, assustando e matando as pessoas”, numa fala calculada para tentar convencer o eleitorado de que pode enfrentar a direita nesse terreno. Além do discurso, o governo também promete, ora vejam, mais uma campanha, provisoriamente focada no “Celular Seguro”, aplicativo do Ministério da Justiça que ajuda a bloquear e localizar celulares perdidos ou roubados.

Ao jornal O Globo, o deputado Jilmar Tatto, secretário nacional de Comunicação do PT, escancarou a estratégia: “O PT até agora não achou embocadura para esse tema, mas o governo, depois de muitos debates, não está mais tendo essa confusão. Bandido tem que ser julgado e ir para cadeia, cara que rouba tem que ser julgado e pagar pelo que fez, sendo pobre ou rico. Essa é a mudança conceitual e de comportamento do ponto de vista de como tratar o tema e a linguagem”. Bem, antes tarde do que nunca: para um partido que sempre atribuiu o crime às “injustiças sociais”, chamar bandido de bandido é um progresso e tanto. Fonte: https://www.estadao.com.br 

Filho de Lira ganha cargo em AL aos 18 anos e é preparado para suceder pai na política

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Publicado em 11 fevereiro 2025
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  • Filho de Lira ganha cargo em AL aos 18 anos
  • Barra de São Miguel
  • Alvinho,
  • filho de Arthur Lira
  • Álvaro Filho,
  • Álvaro Lins Pereira de Lira,
  • Política Alagoana,

Álvaro Lins Pereira de Lira, o Alvinho, ocupa cargo de gestor administrativo em Barra de São Miguel, com salário de R$ 8.000

 

Álvaro Filho, o Alvinho, é filho de Arthur Lira e competiu em vaquejada no ano passado com sua égua Jocarta Two - Itawi Albuquerque - 30.nov.24/Folhapress

 

Josué Seixas

Maceió

Aos 18 anos, Álvaro Lins Pereira de Lira, conhecido como Alvinho, foi nomeado para o cargo de gestor administrativo em Barra de São Miguel (AL) no início deste mês, com salário de R$ 8.000. Filho do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), ele é apontado como o herdeiro político da família.

Questionada, a prefeitura informou que a atribuição do cargo é prestar assessoria do gabinete do prefeito junto aos secretários e debater as demandas da administração.

Ao assumir o cargo, Álvaro disse que esta era "uma forma de retribuir, com trabalho e dedicação, a confiança que a população depositou em seu avô" nas últimas eleições municipais.

Benedito de Lira, que morreu em janeiro deste ano, havia sido reeleito prefeito do município. Agora, o gestor é seu vice, Luiz Henrique Lima Alves Pinto (PP), que tem salário de R$ 12 mil. Durante a campanha, Álvaro foi ponto-chave ao preencher lacunas que o avô, à época com 82 anos, não conseguia.

Ele discursava em eventos, acompanhava as passeatas e agia como suporte de Benedito, como visto pela Folha em comício em setembro do ano passado.

No "Arrastão do Biu", foi elogiado durante o discurso do avô, que também brincou ao chamá-lo de "um menino" e "um bebê", e por meio dele agradeceu a Arthur Lira, que estava em agenda política em outra cidade.

Em Alagoas, Álvaro é visto como o sucessor natural do ex-presidente da Câmara dos Deputados. Embora seja o caçula, ele é o filho que escolheu participar das atividades políticas da família. Já estavam no seu dia a dia compromissos como conversas com moradores, visitas a obras e participações em agendas políticas.

Filiado ao PP, ele é visto como um candidato em preparação. Por causa da idade, o jovem poderia ter concorrido ao cargo de vereador no pleito do ano passado.

Álvaro completa 21 anos somente em 17 de março de 2027. Essa é a idade em que poderia concorrer para deputado federal, estadual, prefeito ou vice-prefeito.

Por isso, o planejamento inicial era que assumisse a Prefeitura de Barra de São Miguel após o segundo mandato de seu avô. O anúncio da reeleição, por exemplo, tinha Álvaro e Henrique Alves Pinto gesticulando o 11, com Benedito ao centro.

Com Alves Pinto no comando do município, a tendência é que a presença de Álvaro na administração continue constante. Eles estiveram juntos no dia 30 de janeiro, data que marcou o início do ano letivo da rede pública de ensino de Barra de São Miguel, com direito a discurso do filho de Arthur Lira.

O jovem também é a face do Parque Arthur Filho, que promove vaquejadas e homenageia o filho mais velho do deputado federal alagoano. Álvaro, inclusive, competiu na 17ª vaquejada do Parque Arthur Filho em novembro do ano passado.

O evento teve a presença de diversos políticos de Alagoas e de estados vizinhos. Lira, o atual presidente da Câmara dos Deputados Hugo Motta (Republicanos) e o senador Ciro Nogueira (PP) estiveram juntos em uma das noites.

No dia 1º de janeiro deste ano, quando Benedito já estava hospitalizado e não conseguiu comparecer à posse como prefeito, Arthur Lira o representou e discursou, citando a importância do filho na eleição.

"Eu dizia a ele [Álvaro] que ele era meus olhos e meus ouvidos e as pernas do meu pai durante a campanha. Junto a todos vocês, fez um papel muito importante", afirmou.

Com o atual salário, o filho de Arthur Lira supera os vencimentos dos secretários municipais e também do procurador-geral do município —para eles, o valor é de R$ 6.800, o maior praticado até então. O cargo foi criado no dia 31 de janeiro deste ano, conforme lei delegada.

Não há menção a esse cargo nas alterações do dia 24 de março de 2023, em que o município estava sob o comando de Benedito de Lira, nem em 15 de dezembro de 2016, quando o gestor era José Medeiros Nicolau, conhecido como Zezeco. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

Memórias da ditadura

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Publicado em 26 janeiro 2025
  • Ditadura,
  • Ditadura Militar,
  • vítimas da Ditadura Militar
  • Rubens Paiva,
  • ditadura militar de 1964
  • Ainda estou aqui
  • Rubens Beyrodt Paiva
  • regime ditatorial instaurado em 1964
  • Ministério de Direitos Humanos

Registro em certidão dos mortos pelo regime alerta para importância da preservação das instituições democráticas

 

Eunice Paiva, viúva de Rubens Paiva, durante entrevista ao lado da foto do marido em 1986 - Jorge Araujo - 4.set.86/Arquivo Folhapress

 

No dia 20 de janeiro de 1971, Rubens Beyrodt Paiva foi sequestrado em sua casa, preso, torturado e assassinado por agentes do regime militar. O corpo do ex-deputado, cujo mandato havia sido cassado em 1964, nunca foi encontrado.

Após uma luta hercúlea por informações sobre o marido, Eunice Paiva obteve, em 1996, uma certidão de óbito que registrava só o desaparecimento.

Agora, o poder público corrige esse erro. No documento passa constar que a morte de Paiva foi "não natural; violenta; causada pelo Estado brasileiro no contexto da perseguição sistemática à população identificada como dissidente política do regime ditatorial instaurado em 1964".

Mesmo tardia, a retificação tem expressivo papel simbólico. Foram muitos os desaparecidos pela brutalidade da ditadura militar, e a ausência de um documento oficial que ateste não só o óbito como as causas funestas apenas perpetua a dor de parentes.

A trágica história da família foi contada no filme "Ainda Estou Aqui", dirigido por Walter Salles. A obra foi indicada ao prêmio Oscar nas categorias de melhor filme, melhor filme em língua estrangeira e melhor atriz para Fernanda Torres, já vencedora do Globo de Ouro, que interpreta Eunice. A película se baseia no livro homônimo do escritor Marcelo Rubens Paiva, filho do político assassinado.

As outras famílias que viveram casos semelhantes, embora menos conhecidos do grande público, poderão igualmente ter as certidões de óbito de seus entes queridos retificadas.

Em dezembro, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) determinou que os cartórios do país devem atualizar os documentos de centenas de mortos e desparecidos durante a ditadura para constar que foram vítimas do regime. "É um acerto de contas legítimo com o passado", afirmou o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do CNJ e do Supremo Tribunal Federal.

Os parentes, inclusive de Paiva, deverão receber as novas certidões em sessões organizadas pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos e pelo Ministério de Direitos Humanos.

Segundo levantamento realizado pelo Operador Nacional do Registro Civil de Pessoas Naturais, há 202 casos de retificação de certidões e 232 novos registros de óbito a serem produzidos.

Documentar os crimes da ditadura militar é uma reparação histórica que evidencia a importância da preservação das instituições democráticas. Em tempos de polarização política e populismos, tal alerta torna-se ainda mais necessário. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

Lewandowski fala em desrespeito dos EUA e pede retirada de algemas de brasileiros deportados

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Publicado em 26 janeiro 2025
  • ministro Ricardo Lewandowski
  • Presidente Lula
  • brasileiros deportados
  • migrantes chegaram algemados a Manaus

Segundo PF, migrantes chegaram algemados a Manaus em voo americano; FAB fará transporte até Belo Horizonte

 

Constança Rezende Victor Lacombe

Brasília e São Paulo

O ministro Ricardo Lewandowski (Justiça e Segurança Pública) determinou às autoridades e a representantes do governo americano a imediata retirada das algemas de migrantes brasileiros deportados dos Estados Unidos que chegaram em Manaus na sexta-feira (24).

De acordo com nota divulgada neste sábado (25) pela pasta, Lewandowski informou ao presidente Lula (PT) "sobre uma tentativa de autoridades dos Estados Unidos de manter cidadãos brasileiros algemados durante o voo de deportação" até Belo Horizonte, destino final. Segundo nota da Polícia Federal, os brasileiros chegaram algemados em Manaus.

A situação foi comunicada ao ministro pelo diretor-geral da PF, Andrei Passos Rodrigues. Lewandowski disse ao presidente que houve "flagrante desrespeito" aos direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros.

"Ao tomar conhecimento da situação, o presidente Lula determinou que uma aeronave da FAB fosse mobilizada para transportar os brasileiros até o destino final, de modo a garantir que possam completar a viagem com dignidade e segurança", diz a nota. O avião americano parou em Manaus para reabastecer, mas uma falha técnica impediu a continuidade do voo até Belo Horizonte.

O Ministério da Justiça e Segurança Pública afirmou ainda que a dignidade da pessoa humana é um princípio basilar da Constituição Federal e um dos pilares do Estado Democrático de Direito, configurando valores inegociáveis.

Já a PF afirmou que os brasileiros que chegaram algemados foram recebidos e imediatamente liberados das algemas, na garantia da soberania brasileira em território nacional e dos protocolos de segurança no país. O órgão também proibiu que os brasileiros fossem novamente detidos pelas autoridades americanas.

Procurada pela Folha, a embaixada dos EUA em Brasília limitou-se a dizer que "os cidadãos brasileiros do voo de repatriação estão sob custódia das autoridades brasileiras" e que a representação diplomática está em contato com as autoridades do país.

Segundo a polícia, os passageiros foram acolhidos e acomodados na área restrita do aeroporto. No local, receberam bebida, comida, colchões e foram disponibilizados banheiros com chuveiros. "Os brasileiros serão acompanhados e protegidos pelos militares da FAB e policiais federais brasileiros", disse.

O grupo de 158 migrantes deportados desembarcou em Manaus após o avião americano que os levaria até Belo Horizonte apresentar um problema técnico. O voo com o deportados, dos quais 88 são brasileiros, decolou na sexta-feira (24) da cidade de Alexandria, no estado da Virgínia, e pousou em Manaus para reabastecer.

A FAB (Força Aérea Brasileira) informou que fará o transporte dos migrantes deportados. Segundo a Força, o avião saiu de Brasília às 13 horas e tinha chegada prevista em Manaus às 15h30 (14h30 no horário local). Profissionais de saúde acompanharão os deportados durante o trajeto até Belo Horizonte. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

Trump chama de 'desagradável' e 'desinteligente' bispa de Washington e exige pedido de desculpas

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Publicado em 22 janeiro 2025
  • presidente Donald Trump
  • presidente dos Estados Unidos, Donald Trump,
  • pessoas LGBTQIA+
  • bispa de Washington
  • Mariann Edgar Budde,
  • Diocese Episcopal de Washington
  • população LGBT e estrangeiros

Líder religiosa apelou ao presidente para que fosse mais brando com população LGBT e estrangeiros

 

AFP

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, qualificou, nesta quarta-feira (22) como "desagradável" uma bispa de Washington e exigiu desculpas dela por ter dito que o republicano estava semeando o medo entre os migrantes e as pessoas LGBTQ.

"A chamada bispa que falou na terça-feira no Serviço Nacional de Oração é uma esquerdista radical que odeia Trump. Ela teve um tom desagradável, não foi convincente nem inteligente", escreveu o mandatário em sua rede, a Truth Social.

O presidente compareceu na terça a uma missa na Catedral Nacional de Washington dirigida pela bispa Mariann Edgar Budde, da Diocese Episcopal de Washington.

Em seu discurso, a religiosa sermoneou o novo líder pelos decretos assinados contra as pessoas LGBTQ e os migrantes após assumir seu segundo mandato presidencial.

"Peço que tenha piedade, senhor presidente", disse a bispa, que falou do "medo" que, segundo ela, se sente em todo o país.

"Há crianças gays, lésbicas e transgênero em famílias democratas, republicanas e independentes", afirmou.

Também defendeu os trabalhadores estrangeiros que "podem não ser cidadãos ou não ter a documentação adequada, mas a grande maioria dos migrantes não são criminosos."

O presidente, que anteriormente se limitou a dizer que a missa "não foi muito emocionante", atacou duramente a bispa em sua rede social.

"Além de seus comentários inapropriados, o sermão foi muito chato e pouco inspirador. Ela não é muito boa em seu trabalho. Ela e sua igreja devem desculpas ao público", publicou.

Entre as dezenas de ordens executivas assinadas na última hora de segunda-feira por Trump estão medidas para suspender a chegada de solicitantes de asilo e expulsar os migrantes que estão no país ilegalmente.

Trump também decretou que apenas serão reconhecidos dois sexos: masculino e feminino, mas não o transgênero. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

Nova ordem no Planeta Vermelho

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Publicado em 22 janeiro 2025
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  • bilionário Elon Musk
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Marte é o deus da Guerra. Portanto, é Marte acima de tudo e Trump, seu marechal, acima de todos

 

Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Donald Trump tomou posse como presidente de Marte. Elon Musk, o homem mais rico do Universo e com grandes interesses no Planeta Vermelho, será o seu mentor, o cérebro por trás do trono, quase um presidente putativo. Com isso, podemos ter certeza de que Trump cumprirá suas promessas de campanha: "Vamos fazer Marte grande de novo!", "Marte em primeiro lugar!", "Vamos nos orgulhar, vamos ser fortes, vamos vencer como nunca!" Perguntado sobre a sua relação com a Lua, foi taxativo: "Não precisamos dela!"
Com Trump no comando, Marte pode esperar por um governo marcial. Trump vai taxar todo o Sistema Solar. Planetas estéreis, como Saturno, Urano e Netuno, com suas organizações inúteis e parasitárias que vivem às custas de Marte, não perdem por esperar. Trump vai ocupar pela força os vizinhos Mercúrio e Vênus, retomar o Canal de Júpiter —afinal, foram os marcianos que o construíram— e, principalmente, construir um muro para isolar a Terra. Chega de terráqueos bigodudos, traficantes de drogas e cheios de filhos barrigudinhos e de nariz sujo continuando a passar pela fronteira e empesteando Marte. Os que já tiverem entrado serão deportados. Filhos de terráqueos ilegais terão sua cidadania revogada. O slogan oculto é: "Vamos fazer Marte louro de novo!"
Trump promete acabar de furar a Terra por todos os lados em busca de combustíveis fósseis. Se isso provocar mais secas, chuva, tsunamis, incêndios ou terremotos, a culpa será do Partido Democrata, que não trabalhou direito nos últimos quatro anos.
Em Marte só haverá homens ou mulheres, uns ou outros, sem opções extra ou intermediárias. As mulheres serão obrigadas a usar o chapéu do Zorro. As fake news serão a nova verdade, e acredite quem quiser. Com o indulto aos condenados pela invasão do Capitólio em 2021, o Poder Judiciário se tornará mero subscritor das decisões imperiais. Fica liberado dar calços em policiais, roubar-lhes o quepe e passar a mão em suas bundas e sair correndo.

Como todos sabem, Marte, na mitologia, é o deus da Guerra. Portanto, é Marte acima de tudo e Trump, seu marechal, acima de todos. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

Trump autoriza agentes de imigração a prenderem pessoas em igrejas e escolas

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Publicado em 21 janeiro 2025
  • governo Trump,
  • agência de Imigração e Fiscalização Aduaneira dos EUA
  • ex-presidente Joe Biden,
  • Partido Republicano
  • ICE
  • governo de Donald Trump

Medida altera uma política de longa data que vetava batidas de fiscalização em locais designados como 'áreas sensíveis'

 

Por O Globo

Autoridades da agência de Imigração e Fiscalização Aduaneira dos EUA (ICE, em inglês) serão autorizados a realizar batidas de fiscalização em locais como igrejas e escolas, anunciou o governo de Donald Trump nesta terça-feira, um dia após a posse do republicano. A medida altera uma política de longa data que evitava ações do tipo em locais considerados "'áreas sensíveis".

Em comunicado emitido nesta terça, o secretário interino de Segurança Interna, Benjamine Huffman, anunciou o fim de duas diretrizes, dando aos agentes mais autoridade para fiscalizações e acabando com um caminho de regularização para migrantes que buscam entrar nos Estados Unidos.

“Os criminosos não poderão mais se esconder nas escolas e igrejas dos Estados Unidos para evitar a prisão. O governo Trump não vai amarrar as mãos de nossos corajosos agentes da lei e, em vez disso, confia que eles usarão o bom senso”, diz a declaração.

Em 2011, o ICE estabeleceu uma política que impedia os agentes de efetuar prisões em locais sensíveis. Grupos defensores dos direitos dos imigrantes manifestaram seu temor diante da retirada da política, afirmando que isso alimentaria o medo nas comunidades. Como efeito, imigrantes podem tirar seus filhos da escola e muitos ficarão com receio de buscar atendimento médico em hospitais.

A segunda medida anunciada elimina de forma gradual os programas de liberdade condicional que permitiam que determinados imigrantes vivessem e trabalhassem temporariamente nos Estados Unidos enquanto aguardassem audiência no tribunal de imigração, o que pode levar meses ou até anos.

Partidários do Partido Republicano têm acusado o governo anterior, do ex-presidente Joe Biden, de ter abusado do programa, estendendo a autorização a várias nacionalidades — pessoas de países em crise, como Venezuela, El Salvador e Ucrânia, por exemplo, foram beneficiados com a política nos últimos anos. A declaração não esclarece quais programas serão eliminados, mas diz que as avaliações voltarão a ser feitas caso a caso.

“O governo Biden-Harris abusou do programa de liberdade condicional humanitária para permitir indiscriminadamente que 1,5 milhão de migrantes entrassem em nosso país. Tudo isso foi interrompido no primeiro dia do governo Trump", disse o texto. "Essa ação fará com que o programa de liberdade condicional humanitária retorne ao seu propósito original de analisar os imigrantes caso a caso." Fonte: https://oglobo.globo.com

De preso substituído pelo filho a eleito que citou voto 'caro demais': os prefeitos impedidos de tomar posse pelo Brasil

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Publicado em 02 janeiro 2025
  • os prefeitos impedidos de tomar posse pelo Brasil
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Há ainda candidatos eleitos que, no entendimento da Justiça Eleitoral, estariam prestes a assumir um terceiro mandato, o que é proibido pela legislação

Por O Globo — Rio de Janeiro

 

Prefeitos eleitos no Ceará ficaram impedidos de assumirem cargos por investigações policiais — Foto: Reprodução

 

Nesta quarta-feira, aconteceu a cerimônia de posse dos prefeitos eleitos nas eleições municipais de 2024. Nem todos, no entanto, puderam assumir os cargos por força de decisões judiciais. Dois desses casos aconteceram no Ceará e envolvem políticos suspeito de ligações com facções criminosas e compra de votos.

Reeleito prefeito de Santa Quitéria (CE), José Braga Barrozo (PSB) foi preso pela Polícia Federal e a Polícia Civil instantes antes da cerimônia de posse. Barrozo é investigado por suspeita de envolvimento com a facção Comando Vermelho. Investigado no mesmo processo, o vice Francisco Gardel Mesquita Ribeiro (PSB) também foi impedido de assumir, apesar de não ter sido preso. A função de interino coube a Joel Barroso, filho de José Braga e presidente da Câmara de Vereadores.

O Ministério Público Eleitoral (MPE) alega que Barrozo foi favorecido por membros do Comando Vermelho durante as eleições municipais de 2024, segundo a TV Verdes Mares. Eleitores do candidato adversário teriam sido ameaçados e coagidos a votar no prefeito. O MPE pediu a cassação da chapa de Barrozo e Ribeiro.

"Destacamos que toda essa discussão na mídia reflete ações orquestradas por grupos que não aceitaram sua derrota nas últimas eleições. Alegações semelhantes têm sido apresentadas desde 2020, sempre sem qualquer comprovação", disse o prefeito reeleito em nota divulgada no início desta semana.

A Justiça Eleitoral também suspendeu a posse do prefeito de Choró (CE), Carlos Alberto Queiroz Pereira, o Bebeto Queiroz (PSB), e do vice Bruno Jucá Bandeira (PRD). Alvo de um mandado de prisão preventiva, Bebeto já se encontrava foragido das autoridades quando a suspensão foi determinada.

Bebeto Queiroz foi alvo de duas operações. Uma delas é a "Ad Manaus", deflagrada pelo Ministério Público do Ceará em novembro deste ano. O MP investiga a suspeita de fraude em contratos envolvendo o abastecimento de veículos da prefeitura do município, segundo a TV Verdes Mares.

Outra é a Operação 'Vis Occulta', da Polícia Federal, que investiga a compra de votos em dezenas de municípios do Ceará, entre eles Choró. Em uma das mensagens obtidas pelos invesetigadores, o prefeito reeleito reclama do preço de um voto. "Mas só para votar... ele é doido, é caro demais, mano... ele consegue quantos votos?", diz Bebeto a um interlocutor, segundo o jornal Estado de São Paulo.

 

'Terceiro mandato'

Em Itaguaí, o prefeito eleito Dr. Rubão (Podemos) ficou impedido de assumir o cargo após uma decisão da Justiça Eleitoral. O Tribunal Regional Eleitoral entendeu que, caso o político ocupasse o cargo, estaria configurado um terceiro mandato consecutivo. Em 2020, quando era presidente da Câmara de Vereadores, ele assumiu o cargo após o impeachment de Carlo Busatto Júnior, o Charlinho, e do vice. O caso será julgado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 4 de fevereiro.

A situação semelhante aconteceu Presidente Kennedy, no Espírito Santo. No final de dezembro, o TSE manteve o entendimento do Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo (TRE-ES) de que Dorlei Fontão (PSB) buscava o terceiro mandato consecutivo, o que é proibido por lei. Ele assumiu o cargo em 2019 quando era vice-prefeito. A prefeita Amanda Quinta Rangel foi afastada por suspeita de envolvimento com esquema de fraude em licitações e pagamento de propina. Em 2020, ele se reelegeu para o cargo.

Em Bandeirantes, no Mato Grosso do Sul, o prefeito Álvaro Urt (PSDB) também foi impedido de tomar posse no cargo. Em 2020, enquanto era prefeito do município, Urt foi cassado pela Câmara de Vereadores e ficou inelegível por oito anos. Ele recorre da cassação e tenta assumir o mandato. Um novo julgamento deve ocorrer em 2025. Fonte: https://oglobo.globo.com

A polícia do Jerônimo

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Publicado em 20 dezembro 2024
  • Violência na Bahia,
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  • Governador Jerônimo,

A polícia do Jerônimo

A polícia da Bahia, estado governado pelo PT, tem uma política de genocídio

 

Aline Bispo/Folhapress

 

Djamila Ribeiro

Mestre em filosofia política pela Unifesp e coordenadora da coleção de livros Feminismos Plurais.

 

Os números do feminicídio e a violência generalizada que acomete o Brasil são desesperadores e é triste não ver uma saída realmente satisfatória para essa situação. Porém, neste texto, gostaria de abordar a violência em série cometida pela polícia do estado da Bahia: um verdadeiro descalabro, uma política de genocídio. E é uma vergonha ainda maior considerando que, há quase duas décadas, o governo da Bahia é liderado pelo Partido dos Trabalhadores (PT), um fato que não deveria impedir a crítica necessária e urgente.

Afinal, quando a polícia de São Paulo joga um jovem de uma ponte, apontamos com razão que se trata da polícia do Tarcísio —inclusive escrevi sobre isto recentemente na Folha, sobre as necessárias responsabilizações do governador e de seu secretário de segurança. Mas o que pergunto é: por que não devemos apontar que a polícia baiana, que mata mais do que toda a polícia dos Estados Unidos, é a polícia do Jerônimo, do Rui Costa, do Jaques Wagner?

Sou uma das poucas escritoras a enfrentar esse tema de forma franca. Em agosto de 2023, quando do assassinato brutal e inaceitável de Mãe Bernardete, liderança de terreiro morta no interior de sua própria casa em circunstâncias longe de serem devidamente esclarecidas, escrevi o seguinte nesta Folha:

"Somente nesse estado da Bahia, em um ano, a polícia matou mais do que toda a polícia dos Estados Unidos, segundo dados do Anuário de Segurança Pública. Em qualquer governo estadual e federal isso é uma vergonha. Em um governo progressista, então, me faltam palavras para definir. A polícia de governos estaduais de direita matam, as de esquerda também. Se um ex-governador do Rio de Janeiro afirma que é para 'mirar na cabecinha', um outro na Bahia diz que policiais são artilheiros na frente do gol. Partidarizar essas mortes endêmicas no país por proselitismo político deveria envergonhar quem se diz intelectualmente honesto".

Destaco a citação pois, ainda que seja atual e pertinente, penso também que é necessário ter coragem e, sobretudo, memória num país de gente covarde, que não só partidariza esse proselitismo como ainda mente a meu respeito. Eu me orgulho de ser uma intelectual negra independente, no sentido descrito por bell hooks, que, entre muitas coisas, afirma que, como vivemos numa sociedade fundamentalmente anti-intelectual e difícil para os intelectuais comprometidos e preocupados com mudanças sociais radicais, é preciso afirmar sempre que o trabalho que fazemos tem impacto significativo.

Nesse sentido, fico pensando em como um tema tão grave e urgente como o genocídio cometido pela polícia baiana pode concorrer com a indignação seletiva diante da substituição do nome de Iemanjá pelo de Rei Yeshua por uma cantora em uma letra de música. Foi com essa indignação que me vi bombardeada de notícias e textões pseudorrevolucionários a respeito. Ora, que fique claro: o que Claudia Leitte fez é um desrespeito inegável. Mas, convenhamos, há algo mais óbvio que isso?

O problema não está na troca dos nomes; o problema é que Claudia Leitte tenha sido validada como cantora de axé em primeiro lugar. A troca foi apenas a cereja do bolo de uma narrativa que já estava fora do eixo havia muito tempo. Bolo esse sobre o qual muitos de seus confeiteiros se dizem agora surpresos com o resultado.

Pessoas que adularam, incensaram, financiaram, quando não fizeram a mesma coisa e cantaram músicas e/ou bajularam autores de "hinos racistas" em um ritmo negro, agora se dizem revoltadas. Para além de muita indignação, há uma indústria que se reorganiza e deixa seus bois de piranha de tempos em tempos. Lucram com o axé e o gospel e, ainda assim, como os governadores, se livram de responder por seus crimes.

Feita esta breve digressão, pois o Brasil não é para iniciantes, mas sim para iniciados, por que não voltamos ao que realmente importa?

Há uma urgência em apontar os crimes de uma política pública que tem acumulado taxas estratosféricas de homicídios sob governos que deveriam ser responsabilizados. Sim, é necessário que governadores e seus antecessores sejam levados ao banco dos réus. Que um promotor, como um artilheiro diante do gol –a infeliz analogia emprestada por um ex-governador baiano–, os acuse pelos crimes contra sua própria população e marque seu golaço.

Os dados falam por si. Segundo o Anuário de Segurança Pública (sempre importante citar), a polícia da Bahia é a que mais mata no Brasil. Trata-se de um dado insuperável e que, por si só, exige perguntas, respostas, mudanças e consequências aos agentes responsáveis na máquina estatal. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br

Fundamentalismo islamita trocou terrorismo por estratégias mais brandas

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Publicado em 16 dezembro 2024
  • evangélicos
  • fundamentalismo
  • Notas sobre a Esperança e o Desespero" e “A Era do Niilismo

Mundo secular, com seus valores líquidos e oportunistas, não parece páreo para comunidades religiosas coesas férteis

 

Luiz Felipe Pondé

Escritor e ensaísta, autor de "Notas sobre a Esperança e o Desespero" e “A Era do Niilismo”. É doutor em filosofia pela USP.

 

Fundamentalismo religioso é uma expressão que na passagem do século era muito usada pela mídia e pelas universidades. Livros e artigos foram escritos fazendo uso dela para chamar a atenção para o fenômeno identitário que ameaçaria o modo secular de sociedade.

Mas a expressão saiu de moda. O mundo das ideias, como tudo no século 21, é coisa arrastada pelas modas de comportamento e pelo oportunismo. Um fenômeno que atravessou a discussão das identidades antimodernas foi a crítica decolonial e a afirmação de que algumas identidades vítimas poderiam matar por que seriam "resistentes ao colonialismo" —caso emblemático é a carta branca dada ao Hamas pela ONU.

Essa virada teórica da esquerda implicou o abandono do uso da expressão "fundamentalismo religioso" porque ela carregava consigo um valor negativo, do ponto de vista ideológico, quando aplicado a populações "subalternizadas". No caso do Brasil, o termo era utilizado em grande parte para se referir aos evangélicos.

Vale salientar que, no início do século 20, nos Estados Unidos, evangélicos usavam o termo para si mesmos com valor positivo —viver segundo os fundamentos do cristianismo e recusar a secularização, o feminismo e o darwinismo.

Quase três décadas depois, os evangélicos despontam como o maior grupo religioso do país e, portanto, como um mercado imenso de votos e influência lobista. Há que se tratar bem deles, afinal de contas a democracia é um regime de competição por votos.

Aqueles "ainda" mal comportados recebem o nome de "extrema direita" e ficam ainda na berlinda, por conta de seu mau comportamento eleitoral. No entanto, os grupos descolados entre os evangélicos, e portanto de esquerda, são recebidos com honras pela elite da mídia. Sua missão: convencer os evangélicos a votar na esquerda em 2026. Pois bem.

Recentemente, na Bélgica, um livro sobre o fundamentalismo islâmico teve seu lançamento cancelado sob acusação de difamar o islamismo —esses fundamentalistas são chamados pelo termo "islamiste" em francês, para designar o movimento de teor político ideológico que visa colonizar a Europa secular e impor um islamismo radicalizado à sua população, a começar pelos jovens de fé muçulmana.

A obra dos jornalistas Laurence D’Hondt e Jean-Pierre Martin se constitui numa série de entrevistas com professores francófonos de escolas entre França e Bélgica. "Allah n’a Rien à Faire dans Ma Classe" é o título — "Alá nada tem a fazer na minha aula", com um sentido de que Alá não deve se meter na minha aula.

Os autores citam um professor de história de um "collège" francês, Iannis Roder, que afirma algo essencial: "Se entregarmos à extrema direita a exclusividade do real, deixamos para eles o real". É o que muitos de nós têm feito —negando o fenômeno descrito pelos autores na sua obra a fim de passar uma imagem de "cool".

Os autores não são de forma nenhuma reacionários, mas jornalistas que fazem sua lição de casa e dão voz a professores que sofrem com a pressão de alunos fundamentalistas e que não encontram nem na direção da escola, nem nas instâncias superiores responsáveis do governo, espaço ou apoio mínimo para seus impasses dentro da sala de aula.

Todos têm medo de ser acusados de serem de extrema direita ou de sofrer violências cotidianas. Enquanto isso, os fundamentalistas colonizam o ensino francófono. O árabe vai se tornando a língua franca em algumas escolas. A estratégia do fundamentalismo islamita mudou —o terrorismo pode ser substituído por formas mais brandas de impor sua visão religiosa de mundo, fazendo o uso da educação, cuja entrada está aberta para eles.

Uma professora, Adeline — os nomes são fictícios— narra que, logo após o evento da Charlie Hebdo em 2015, um professor muçulmano afirmou que os cartunistas mereceram e ninguém teve coragem de criticá-lo.

Ela o fez e sofreu inúmeras represálias. Em uma delas, um colega, quando era obrigado a sentar no lugar que ela havia sentado, cobria o assento com um plástico, para mostrar todo o nojo que sentia por ela. Os valores da República —como se fala na França— se tornaram insalubres, quando grande parte dos alunos são profundamente refratários.

Estado laico, secularismo, igualdade de gêneros, crítica das tradições, ciência, Darwin. Os alunos se ofendem com esses assuntos. Professoras mulheres são desrespeitadas. Mas o tema vai além da colonização islamita. O que se revela é algo anterior e grave. O mundo secular, com seus valores líquidos e oportunistas, seu egoísmo, sua infertilidade, não parece páreo para comunidades religiosas coesas férteis. O Sapiens é religioso, antes de republicano. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br 

Um general quatro estrelas na cadeia

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Publicado em 15 dezembro 2024
  • Supremo Tribunal Federal,
  • 8 de janeiro
  • golpe
  • general da reserva Walter Braga Netto
  • Mauro Cid
  • tentativa de golpe
  • prisão preventiva de Braga Netto,
  • ministro da Casa Civil

Seja qual for o destino penal do general Braga Netto, sua prisão preventiva mostra a extensão da vergonha que o bolsonarismo causou às Forças Armadas

 

O País acordou ontem com a notícia da prisão de um general quatro estrelas da reserva, um desdobramento dramático do caso da suposta trama golpista contra o presidente Lula da Silva, investigada pela Polícia Federal (PF). É evidente que tudo ainda carece de maiores esclarecimentos, mas o episódio em si mesmo ilustra com clareza meridiana a dimensão da vergonha causada pelo bolsonarismo às Forças Armadas.

Por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), após consulta à Procuradoria-Geral da República (PGR), a Polícia Federal (PF) prendeu preventivamente o general de Exército da reserva Walter Braga Netto. O militar, segundo a PF, é suspeito de ser um dos líderes da tentativa de golpe de Estado urdida nos estertores do governo de Jair Bolsonaro para impedir a posse de Lula da Silva, plano que teria envolvido até o assassinato do atual mandatário, entre outras autoridades.

Moraes decretou a prisão preventiva de Braga Netto porque, ainda de acordo com a PF, ele estaria destruindo provas e, principalmente, coagindo testemunhas para tomar conhecimento do teor sigiloso do acordo de colaboração premiada firmado pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.

A serem verdadeiras essas acusações, haja vista que a prisão de Braga Netto foi ordenada por Moraes em grande medida pelos supostos novos elementos de prova que Mauro Cid teria fornecido ao STF em seu depoimento mais recente, prestado no dia 21 de novembro, está-se diante, de fato, de condutas típicas para a decretação da prisão preventiva. Por essa razão, Braga Netto foi mantido no cárcere após ser submetido à audiência de custódia, ocasião em que são verificadas as eventuais ilegalidades de uma prisão.

De todos os suspeitos de participar da intentona, Braga Netto, sem dúvida alguma, é o mais graduado a ser preso até agora. Acima dele só haveria o golpista maior, Jair Bolsonaro, o grande beneficiário do eventual sucesso daquele plano nefasto que teria sido colocado em marcha após sua derrota nas urnas em 2022, como aponta a PF. A regra no Brasil, como o passado demonstra, sempre foi o acobertamento de militares, da ativa e da reserva, suspeitos de terem cometido crimes comuns – à exceção, por óbvio, daqueles delitos cobertos pela Lei da Anistia, de 1979.

A prisão preventiva de Braga Netto, portanto, quebra essa rotina de leniência, para dizer o mínimo, com a apuração de crimes comuns envolvendo militares, fardados ou não, em que pese se tratar – e é fundamental frisar isso – de uma prisão cautelar, ou seja, decretada em sede de investigação, e não de antecipação de culpa nem muito menos de cumprimento de pena. Mas só isso, porém, já é algo inédito ao menos desde a redemocratização do País.

Se a prisão de outros militares de alta patente suspeitos de envolvimento na tentativa de golpe já não foram triviais, a de Braga Netto é histórica, na mais estrita acepção do vocábulo. Afinal, além de ele ser um general com quatro estrelas nos ombros a ir para a cadeia, sobretudo por suspeita de ter liderado uma tentativa de golpe de Estado, Braga Netto foi chefe do Estado-Maior do Exército, ministro da Casa Civil e da Defesa no governo Bolsonaro, candidato a vice na chapa do ex-presidente e, ademais, interventor na Segurança Pública do Rio de Janeiro, uma elevada posição de poder, malgrado o fiasco operacional da intervenção militar.

A prisão de um personagem como Braga Netto, alguém que, além de possuir o currículo acima, foi uma figura central na política brasileira nos últimos anos, é reveladora do desassombro com que membros do alto escalão do governo anterior parecem ter agido para se manter no poder a despeito da derrota eleitoral. Como sublinhamos nesta página há algumas semanas, o Brasil só terá paz quando todos os suspeitos de ter urdido o golpe de Estado forem julgados de acordo com as leis do mesmo Estado Democrático de Direito que tentaram abolir (ver Traidores da Pátria, 20/11/2024).

Desde a manhã de ontem, o general da reserva Walter Braga Netto viu consideravelmente reduzida a distância que o separa desse inevitável acerto de contas com a Justiça. Fonte: https://www.estadao.com.br 

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