Com mais de 2 mil integrantes espalhados pelo exterior, facção criminosa expande atuação e presença em prisões mundo afora e evidencia necessidade de atuação internacional para enfrentá-la
Por Notas & Informações
O Primeiro Comando da Capital (PCC) já está presente em ao menos 28 países, segundo um recente mapeamento do Ministério Público de São Paulo (MP-SP). São mais de 2 mil integrantes da maior facção criminosa brasileira espalhados pelo mundo. Esses bandidos atuam dentro e fora dos presídios em nações das Américas, da Europa e da Ásia. Quase metade deles está nas ruas, e o restante, detido no sistema carcerário.
A novidade, agora, é que o PCC tem realizado “batizados”, uma espécie de ritual de iniciação, também no exterior. Segundo o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, esses processos de adesão já foram registrados em prisões de países como Argentina, Chile, Paraguai e Bolívia. E em países onde já tem forte atuação, como Portugal, Espanha, Holanda e Estados Unidos, a organização já estaria “batizando”, inclusive, cidadãos locais, e não só brasileiros residentes.
O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MP-SP, descobriu ainda que a presença internacional da organização repete o modelo brasileiro. Isso inclui a “sintonia”, composta por integrantes do alto escalão; o “progresso”, responsável pelo tráfico; e o “disciplina”, um árbitro de disputas do mundo do crime e fiscal do cumprimento das ordens dos líderes. Para o constrangimento do Brasil, é esse modelo criminoso que está em exportação.
É por meio de ordens emitidas de dentro das prisões a seus batizados que os líderes do PCC estabelecem uma rígida cadeia de comando, dominam territórios, diversificam seus negócios ilícitos e levam terror às ruas. Agora, a facção poderá reproduzir lá fora esse ciclo de violência. E, quanto mais forte o PCC estiver, seja lá onde for, pior para o Brasil.
Desvendado por meio do monitoramento de integrantes do PCC pelo Gaeco, o processo de expansão territorial mostra a ousadia da facção, que agora finca suas raízes mundo afora – e o Brasil sabe muito bem como elas crescem. Basta lembrar que esse bando nasceu nos anos 1990 num presídio de Taubaté, no interior de São Paulo, com meia dúzia de faccionados, e hoje reúne cerca de 40 mil bandidos em todas as regiões do País e agora também pelo mundo.
Para crescer dessa forma exponencial, o PCC contou com a ineficácia do Estado brasileiro em combatê-lo desde os primórdios, quando era um organismo insignificante. Diante da inépcia e não raro omissão do poder público, o bando encontrou condições ideais para se alastrar pelo sistema carcerário, de onde seus líderes impõem a fidelidade ao grupo como um elemento central da sua estruturação de poder, nas celas e nas ruas.
Não é de hoje que o tráfico internacional de drogas, sobretudo o de cocaína, impulsiona o PCC. O objetivo da facção sempre foi encontrar rotas e parceiros, como a máfia italiana ‘Ndrangheta, para enviar a cocaína produzida nos vizinhos Bolívia, Peru e Colômbia aos lucrativos mercados de países europeus e asiáticos. É por isso que há integrantes da organização também na França, na Irlanda, na Suíça, na Turquia e até no Japão.
O impressionante faturamento anual de US$ 1 bilhão, ou mais de R$ 5 bilhões, conforme estimado pelo MP-SP, ajuda a entender a ambição dos criminosos brasileiros na busca por mais territórios. Não só o tráfico, com a venda final da cocaína, interessa ao PCC, mas também a prática do crime de lavagem de dinheiro, pelo qual tenta, e consegue, movimentar quantias vultosas, driblando as autoridades.
Esse poderio geográfico e financeiro do PCC exige do poder público brasileiro, e agora também do estrangeiro, a capacidade de se antecipar aos movimentos da facção e o uso de inteligência para combater o tráfico de drogas e a lavagem de dinheiro. Torna-se cada vez mais necessária a cooperação internacional para a troca de informações e a atuação conjunta para asfixiar esse bando.
Os achados sobre o PCC já começaram a ser compartilhados pelo MP-SP com embaixadas e consulados. Que os países alertados não repitam os erros cometidos no passado pelo Brasil, e que o Brasil firme parcerias com esses países para lutar contra o crime transnacional e corrigir o equívoco de ter subestimado o PCC desde o início. Fonte: https://www.estadao.com.br